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SONETOS

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Soneto I

De Amor escrevo, de Amor falo e canto;

E se minha voz fosse igual ao que amo,

Esperara eu sentir na que em vão chamo

Piedade, e na gente dor e espanto.


Mas não há pena, ou língua, ou voz, ou canto

Que mostre o amor por que eu tudo desamo,

Nem o vivo fogo em que me sempre inflamo,

Nem de meus olhos o contino pranto.


Assi me vou morrendo, sem ser crida

A causa por que em vão mouro contente,

Nem sei se isto que passo é vida ou morte.


Mas inda da que eu amo fosse ouvida

E crida minha voz, e da vã gente

Nunca entendida fosse minha sorte!


Soneto II

Quanto cuido, senhora, quanto escrevo,

Tudo em vossos fermosos olhos leio,

Neles, ante quem tudo é escuro e feio,

Aprendo e vejo como amar-vos devo.


Vejo que ao vosso amor todo me devo,

Mas não vos sei amar, e assi me enleio

Que não sei se vos amo ou se o receio,

E a julgar em mim isto não me atrevo.


Em vós cuido, em vós falo o dia e ora,

Mouro por ver-vos, ir-vos ver não ouso,

Por não ver quanto mais devo do que amo;


Ó sol e ó. sombra o vosso nome chamo,


Poesias Inéditas

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