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Capítulo 2

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Diana entrou no táxi e deixou escapar um suspiro de alívio. Finalmente a salvo.

A salvo de Nikos Tramontes e do impacto poderoso e inquietante do seu olhar. Um impacto a que não estava habituada e que a perturbara profundamente. Fizera o possível para o ignorar, mas um homem tão atraente não estaria habituado a desprezos, estaria habituado a conseguir sempre o que queria das mulheres.

«Mas não de mim, porque não tenho o menor interesse nele.»

Diana abanou a cabeça, para afastar a imagem perturbadora do estranho. Tinha coisas mais importantes com que se preocupar porque agora sabia, resignada, que não podia casar-se com Toby.

Mas que outra solução havia para salvar o seu lar amado?

Durante os dias seguintes, em Londres, a situação piorou. O banco negou-lhe um empréstimo e as casas de leilões confirmaram que não restava nada que valesse a pena vender. De modo que, quando Toby lhe ligou para a convidar para a ópera, recebeu o convite com pouco entusiasmo.

A nota suplicante no tom de Toby suavizou o seu coração e, contrariada, aceitou o convite para ir a uma representação de Don Carlos de Verdi.

No entanto, quando chegou a Covent Garden, desejou tê-lo rejeitado.

– Lembras-te do Nikos Tramontes, não é? – perguntou Toby. – É o nosso anfitrião esta noite.

Diana tentou disfarçar a sua consternação. Tinha tantos problemas que conseguira esquecê-lo e a reação estranha que causara nela, mas ali estava novamente, tão perturbadoramente atraente como há alguns dias.

Estava com outro homem e depressa reconheceu o homem que os apresentara durante o jantar. Com ele, estava a sua esposa, Louise Melmott, que se afastou com ela quando os homens começaram a falar de negócios.

– Ena, ena… – disse, num tom de cumplicidade, olhando com admiração para Nikos Tramontes. – Certamente, é muito bonito. Não é de estranhar que a Nadya Serensky tenha estado com ele durante tanto tempo. Isso e o seu dinheiro, claro.

Diana olhava para ela sem entender e Louise apressou-se a explicar.

– A Nadya Serensky, a supermodelo. São um casal há muito tempo.

Essa era uma boa notícia, pensou Diana. Talvez só tivesse imaginado que Nikos Tramontes olhava para ela com desejo.

«Talvez esteja a exagerar.»

A exagerar porque era estranho que um homem a afetasse tão profundamente. Sim, devia ser isso. Enquanto bebia um gole de champanhe, tentou recordar se alguma vez na sua vida reagira assim com outro homem e não conseguia pensar em nenhum. Porque ela não se deixava afetar pelos homens. Treinara-se durante toda a sua vida para não o fazer.

Os poucos homens com quem saíra sempre a tinham deixado fria e só permitira algum beijo tímido de boas-noites. Só com um, na universidade, é que decidira experimentar se era possível ter uma relação sem paixão excessiva.

Descobrira que era assim, mas só para ela. A sua falta de entusiasmo fora desalentadora para o namorado, empurrando-o para os braços de outra mulher. Embora não a tivesse magoado, só confirmara que fazia bem em proteger o coração. Perdê-lo era muito perigoso. O celibato era muito mais sensato e seguro.

Claro que, sendo celibatária, não encontraria um marido suficientemente rico para salvar Greymont. Se realmente estivesse a pensar numa solução tão drástica.

Tentou afastar esses pensamentos. No dia seguinte, iria a Greymont para examinar novamente as suas finanças e receber os últimos orçamentos para os trabalhos mais essenciais. Mas, por enquanto, desfrutaria de uma noite sem preocupações em Covent Garden.

E também não se preocuparia com a presença perturbadora de Nikos Tramontes. Se tinha uma namorada supermodelo, não estaria interessado noutras mulheres, incluindo ela.

Dirigiram-se para o camarote enquanto a orquestra afinava os seus instrumentos. Os espetadores mais elegantes sentaram-se nos camarotes e os menos elegantes estavam apinhados como sardinhas na plateia.

Diana levantou o olhar com uma certa tristeza. O mundo via-a como uma pessoa privilegiada. E era, mas ser a dona de Greymont pressupunha muitas responsabilidades. A primeira delas, evitar que se desmoronasse por causa da humidade…

– Permita-me.

Diana assustou-se ao ouvir a voz profunda de Nikos Tramontes, que estava a afastar uma cadeira para que se sentasse antes de ficar atrás dela.

Nikos olhou para o perfil da mulher cuja presença orquestrara e que, segundo o relatório que pedira, poderia ser mais do que uma mera aventura.

Aparentemente, para além de uma beleza glacial, Diana St. Clair também possuía outros atributos que condiziam com os seus propósitos. A menina St. Clair herdara do seu pai uma mansão do século XVIII e o estatuto social que tal propriedade conferia.

Era uma família antiga, sem título nobiliário, mas com estilo, brasões e todas as coisas que vinham com esse estatuto: Terras, posses antigas e casamentos com famílias parecidas, incluindo algumas pertencentes à nobreza. Uma rede complexa de parentesco e contactos com as classes altas, impenetrável para os estranhos.

A não ser por um meio.

O casamento.

Nikos olhou para a sua expressão toldada. Diana St. Clair seria a sua esposa troféu? Era uma ideia tentadora. Tão tentadora como a própria Diana.

Continuou a observá-la, desfrutando da observação daquela mulher com quem poderia conseguir o que mais ansiava na vida.

Para alívio de Diana, a música dramática de Verdi parecia transportá-la e fazê-la esquecer que Nikos Tramontes estava sentado atrás dela. Meia hora depois, durante o intervalo, saíram do camarote e misturaram-se com os outros espetadores para beber uma taça de champanhe, como era a tradição.

– O verdadeiro dom Carlos de Espanha devia estar louco – comentou Louise Melmott, que conhecia a ópera e a sua relação duvidosa com a história verdadeira. – E não há provas de que estivesse apaixonado pela mulher do pai, o rei.

– Entendo que Verdi tenha decidido reescrever a história – comentou Diana. – Um amor trágico e desventurado parece muito mais romântico.

Estava a fazer o possível para mostrar entusiasmo, especialmente, sabendo que Toby não tinha o menor interesse pela ópera.

– A Elisabeth de Valois era a mulher de outro homem. Não há nada de romântico no adultério.

O tom de Nikos Tramontes era cortante e Diana levantou o olhar, surpreendida.

– A ópera não é realista. Além disso, é lógico sentir compaixão pelo sofrimento da pobre rainha, presa num casamento sem amor.

– Acha?

Estava a ser sarcástico? Diana sentiu que lhe ardiam as faces. A conversa continuou, mas sentia-se incomodada, como se tivesse votado a favor do adultério, ainda que, na verdade, tivesse sido apenas um comentário insubstancial.

Nikos Tramontes não parava de olhar para ela e, nos seus olhos escuros, pareceu-lhe ver um brilho de melancolia, em contradição com como se mostrara sofisticado e seguro de si próprio até ao momento.

No entanto, não tinha nada a ver com ela e, além disso, não voltaria a vê-lo depois daquela noite.

Quando a ópera acabou finalmente e se despediu de Toby, dizendo-lhe que voltava para Hampshire no dia seguinte, descobriu que Nikos Tramontes estava ao seu lado.

– Deixe-me levá-la – ofereceu-se, abrindo a porta de um carro estacionado à frente do teatro.

– Não, obrigada, posso ir de táxi.

– Não será fácil encontrar um e está prestes a chover – insistiu ele.

Seria absurdo protestar, de modo que Diana entrou no carro e, com desinteresse, deu-lhe a morada do hotel em que o pai e ela costumavam alojar-se quando estavam em Londres.

No banco traseiro, separados do motorista por um ecrã de vidro, Nikos Tramontes estava incomodamente perto.

– Alegro-me por ter gostado da ópera – começou a dizer, esticando as pernas compridas. – Talvez gostasse de vir comigo noutra ocasião. A menos que já tenha visto todas as representações da temporada.

Diana ficou tensa. Como suspeitara, estava a seduzi-la, apesar da sua relação com Nadya Serensky.

– Não, receio que não – respondeu.

– Não as viu todas?

Ela abanou a cabeça. A escuridão no interior do carro, apenas iluminado pelas luzes dos candeeiros e das montras enquanto se dirigiam para a praça de Trafalgar, escondia a sua expressão.

– Não queria dizer isso – corrigiu, tentando fazer com que a sua voz parecesse firme.

Nikos Tramontes arqueou uma sobrancelha.

– Masterson?

– Não, mas… – Diana respirou fundo. – Passo muito pouco tempo em Londres, de modo que seria absurdo aceitar um convite. De qualquer tipo.

Não disse mais nada, mas pensou que mostrar desaprovação por um caso de adultério fictício numa ópera para depois a convidar para sair com ele era uma hipocrisia. Aparentemente, o senhor Tramontes não se importava de enganar a namorada.

– E sabe de que tipo é o meu convite? – perguntou ele, com um brilho brincalhão nos olhos escuros.

– Não preciso de saber, senhor Tramontes. Só estou a deixar claro que não venho a Londres com frequência e não terei oportunidade de ir à ópera, nem consigo nem com ninguém.

– Volta para Hampshire?

– Sim, indefinidamente. Não sei quando voltarei a Londres – redarguiu ela, com intenção de deixar claro que não estava disponível.

– Entendo.

Diana sentiu-se aliviada. Estava a mudar de ideias. Apesar disso, o seu coração acelerava. Talvez porque estavam tão perto, demasiado perto.

Depois, por sorte, o motorista virou em Piccadilly e depressa chegaram ao hotel. O porteiro abriu a porta do carro e Diana despediu-se.

– Boa-noite, senhor Tramontes. Obrigada pelo convite e por me trazer ao hotel.

Saiu do carro e desapareceu no vestíbulo sem lhe dar tempo para responder. Nikos observou-a do interior do carro. Era um hotel de renome que os provincianos ricos usavam quando iam a Londres e, sem dúvida, várias gerações de St. Clair tê-lo-iam usado.

O motorista levou-o ao seu hotel, mais luxuoso do que o de Diana. Teria rejeitado o seu convite por causa de Nadya? Ouvira Louise Melmott a mencionar o nome dela. Se era assim, alegrava-se. Isso demonstrava que Diana era exigente com os homens.

Não gostara da sua tolerância aparente à trama de Don Carlos, mas não parecia ser assim na vida real. E era essencial que não fosse assim.

«A minha esposa não consentiria um adultério. Mesmo que seja da alta sociedade, não se parecerá com a minha mãe.»

Esposa? Estava mesmo a ver Diana St. Clair como a sua esposa? E, se era assim, como conseguiria convencê-la a aceitar? O que conseguiria desfazer essa reserva gelada dela?

O que a tornaria recetiva aos seus cuidados?

Fosse o que fosse, encontrá-lo-ia e usá-lo-ia.

Greymont estava tão bonita como sempre, especialmente ao sol, que ajudava a disfarçar as zonas em que a madeira estava destruída por causa da humidade. A parte do telhado que devia ser substituída era invisível por trás do parapeito e…

Diana experimentou uma onda de emoção. Greymont significava mais para ela do que qualquer outra coisa no mundo. Os St. Clair tinham vivido lá durante trezentos anos. Era o seu lar. Cada geração passara-a à seguinte, pensou, com os olhos cheios de lágrimas. O pai dera-lha, deixando de lado as suas esperanças e a sua própria felicidade para que ela a herdasse. Perdera a mãe e ele encarregara-se de que não perdia o seu lar.

Renunciar a Greymont, entregá-la a estranhos, seria uma traição imperdoável ao pai. Não, não podia vendê-la e faria o que fosse necessário para a manter.

Entrou no vestíbulo amplo e olhou para a escada de mármore, para as molduras nas paredes, para os tetos delicadamente pintados e para a lareira de mármore branco, fragmentada em algumas zonas. Tudo precisava de reformas. Nas paredes, restavam alguns retratos familiares de artistas pouco conhecidos, mas era tudo tão familiar para ela como o seu próprio corpo.

No andar de cima, no seu quarto, dirigiu-se para a janela para olhar para os jardins e para o parque. Tinha tudo um ar de abandono, mas os jardins, com a fonte ornamental de pedra que não funcionava, os caminhos e as pérgulas que separavam o jardim do parque eram tão bonitos como sempre tinham sido. Tão amados e preciosos para ela.

Diana experimentou um sentimento feroz de proteção enquanto inalava o cheiro fresco do campo, mas custou-lhe abrir a janela porque a madeira estava deformada pela humidade e a tinta começava a cair.

Enquanto o pai estava doente, nem sequer tinham feito os trabalhos rotineiros de manutenção porque o barulho e o pó o teriam perturbado demasiado. Mas a peritagem que pedira quando morrera revelara que os problemas eram mais graves do que receava.

Precisava de um telhado novo, de substituir dúzias de janelas, de mudar as madeiras podres do chão, de arranjar as lareiras e reparar os danos causados pela humidade, de uma instalação elétrica nova, de canalização, de tinta, de aquecimento…

A lista dos trabalhos mais importantes era interminável. Tal como a lista de melhorias na decoração, desde reparar as tapeçarias a mudar as cortinas e arranjar os móveis.

E, depois, havia as reformas necessárias nos estábulos e barracões. Tinta velha, telhados deteriorados e chão partido.

E não queria nem pensar nos trabalhos de jardinagem.

Diana deixou cair os ombros. Havia tanto para fazer e era tudo muito caro. Suspirou, enquanto começava a tirar as coisas da sua mala. Reduzira o número de empregados ao mínimo, só os Hudson e as empregadas da vila, assim como um jardineiro e o seu ajudante. O pai preferia uma vida tranquila, embora isso tivesse causado descontentamento à esposa, e tornara-se quase um recluso quando ela o abandonara.

Também preferia uma vida simples e adorava ajudá-lo a escrever a história da família St. Clair, corresponder-se com a rede de contactos familiares e partilhar os seus passeios diários pelo parque. Em resumo, ser a senhora de Greymont na ausência da sua mãe.

Só se davam com famílias da zona, sobretudo sir John Bartlett e a esposa, os melhores amigos do pai. Fora mais ativa e visitava velhos amigos da escola ou da universidade, encontrando-se com eles em Londres de vez em quando. Mas não gostava de festas, preferia os jantares ou ir ao teatro e à ópera com amigos cuidadosamente selecionados, os que aceitavam que não tinha nenhum interesse em romances.

Na sua mente, apareceu a imagem do homem que pusera essa doutrina à prova, mas afastou-a, zangada. A sua reação ridícula com Nikos Tramontes era irrelevante. Não voltaria a vê-lo e tinha coisas mais urgentes em que pensar.

Respirando fundo, foi à biblioteca e sentou-se à frente da secretária do pai. O correio acumulara-se durante a sua ausência e, deixando escapar um suspiro de resignação, começou a abrir cartas. Nenhuma boa notícia, é claro. Pelo contrário, havia mais orçamentos de obras que não podia pagar para restaurar Greymont.

De algum modo, tinha de encontrar o dinheiro de que precisava, pensou, com o coração apertado.

Mas não seria casando-se com Toby Masterson. Não, não conseguia passar o resto da sua vida com ele.

Diana sentiu uma pontada de vergonha. Não fora justo pensar nele apenas como uma solução para os seus problemas.

Teria de lhe escrever uma carta a agradecer-lhe pela sua amabilidade e a deixar claro que não podia haver mais nada entre eles.

Contudo, quando começou a escrever a carta, era outra cara que via, muito diferente das feições gordinhas de Toby. Um rosto de feições marcadas e uns olhos escuros que aceleravam o seu coração…

Diana tentou afastar essa imagem da sua mente. Mesmo que Nikos Tramontes não tivesse uma relação com uma supermodelo, um homem como ele só quereria uma aventura para se divertir enquanto estava em Londres.

«E de que me serviria isso?»

De nada. Absolutamente nada.

Nikos conduzia com cuidado, tentando evitar os buracos no caminho ladeado por castanheiros, até que Greymont apareceu à frente dos seus olhos.

Com uma fachada de pedra do século XVIII, um bloco central com duas alas simétricas, estava situada numa colina, com jardins grandes e terras de cultivo. Tudo emoldurado por um bosque ornamental. Era uma propriedade clássica da nobreza britânica.

Uma lembrança atingiu-o, cruel e dolorosamente. A lembrança de outra casa noutro país. Um château no coração da Normandia construído com pedra de Caen, com torres nos cantos ao estilo francês.

Entrara pela porta principal. Fora recebido.

Mas não bem-vindo.

– Tens de ir. O meu marido vai voltar em breve e não deve encontrar-te aqui.

A mulher, elegantemente vestida com um fato de alta-costura, não lhe abrira os braços. Rejeitara-o, recusando-se a olhar para ele nos olhos.

– É só isso que tens para me dizer?

Fora a sua pergunta, a sua exigência.

– Tens de ir – repetira a mãe.

Nikos olhara para a decoração imaculada da sala, para os quadros de valor inestimável, para os móveis ao estilo de Luís XV. Fora o que ela escolhera e era o que valorizava. E o preço que tivera de pagar por isso fora ele, o seu filho ilegítimo. Na verdade, fora Nikos que tivera de pagar.

Experimentou uma pontada de amargura e uma emoção ainda mais forte que não conseguia nomear e que negaria ter sentido.

Fazendo um esforço, afastou a lembrança da sua mente enquanto parava o carro para olhar em redor.

Sim, gostava do que via. Greymont, o antigo lar dos St. Clair e tudo o que vinha com ele, serviria para conseguir os seus propósitos. Mas não estava ali só por isso. Poderia ter comprado a propriedade, mas esse não era o seu objetivo.

Sabia como conseguir o que queria, o que faria com que Diana St. Clair fosse recetiva. Sabia bem o que ela desejava mais do que qualquer outra coisa, o que precisava. E estava disposto a oferecer-lho numa bandeja de prata.

De modo que voltou a pôr o carro a trabalhar e se dirigiu para a casa.

Uma esposa perfeita

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