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Capítulo 1

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Quinn Tyler atravessou as portas da prestigiada revista Chic e deteve-se no hall para se arranjar. Sabia que se a pessoa que procurava soubesse da sua presença expulsavam-no num abrir e fechar de olhos, mas a sua decisão era tão clara como a sua imprudência e estava disposto a cumprir a sua missão.

Devido ao seu aspecto alto e musculoso, Quinn chamava sempre a atenção, mas, naquele dia, a firmeza reflectida nos seus penetrantes olhos verdes, marcados no seu rosto forte e másculo, tornou o seu olhar mais branco do que de costume.

Apesar do poder que emanava, especialmente diante das mulheres, Quinn não se preocupava muito com o efeito que causava, excepto quando podia ter algum proveito. Como naquele momento…

Estava decidido a não se ir embora sem ver Rowena Parrish e, se isso significava ter que enfrentar os seguranças ou todo o pessoal do edifício, era o que faria. Endureceu a mandíbula e avançou até ao balcão em forma de meia-lua.

– Vim para ver a menina…

– Oh, sim, vai ficar muito contente de o ver – disse-lhe a recepcionista, lançando-lhe um olhar de aprovação. Ela e as colegas estavam a cochichar desde que o tinham visto entrar e, rapidamente, concluíam que era o mais atraente de todos os aspirantes ao emprego.

Quinn tinha-se preparado tanto para o facto de lhe oferecerem resistência, que aquele comentário lhe baralhou os planos. Será que era outra artimanha de Rowena para se livrar dele?

– Bem, nesse caso, vou…

– Se me disser o seu nome, poderei comunicar-lhe a sua chegada.

– Quinn Tyler – não lhe pareceu que conhecessem o seu nome. Bem, ao menos, Rowena não tinha deixado instruções precisas contra ele.

– Não aparece na lista… – disse a jovem, olhando para o monitor do computador. – Deve tratar-se de algum erro. Mas não se preocupe – acrescentou, com tom alegre. – Aponto-o aqui.

Quinn supôs que ali se estava a cometer mais do que um erro, mas não ia ser ele a revelá-lo. Tudo o que o pudesse aproximar de Rowena era válido, embora preferisse saber de antemão que papel tinha que interpretar.

Não havia lugar para os prejuízos, pensou, encolhendo os ombros. Nada podia ser pior do que uma luta com o pessoal da segurança, não era?

– Isso é muito amável da sua parte… – apoiou-se no balcão e dedicou-lhe um dos seus sorrisos arrebatadores enquanto lia a identificação que a jovem tinha ao peito. – Stephanie.

Dois minutos depois, estava no elevador, enrugando um pedaço de papel com um número de telefone apontado, obséquio da bonita recepcionista.

Seguindo as instruções de Stephanie, chegou a uma sala com uma longa fila de cadeiras. Ao entrar, parou, assombrado. Todas as cadeiras estavam ocupadas por jovens de vinte e poucos anos que, como ele, estavam completamente vestidos de cabedal negro.

Enquanto observava aquela curiosa congregação de motoristas, abriu-se uma porta à sua esquerda e apareceu uma mulher pequena, vestida com uma berrante combinação de vermelho e verde. Trazia uma pasta na mão e perguntou com voz cansada quem era o primeiro. Todos se levantaram ao mesmo tempo, obviamente ansiosos por serem os eleitos.

A mulher passou o olhar pelos candidatos.

– Você! – disse ao homem mais próximo dela, o único que não tinha tentado chamar-lhe a atenção. Quando ele olhou para ela com os seus penetrantes olhos verdes, ela não conseguiu reprimir um suspiro de aprovação feminina. Sophie estava habituada a ver de tudo, mas não pôde evitar o espanto, ao contemplar aquele homem musculoso de um metro noventa com os lábios mais sensuais que já tinha visto na sua vida.

– Acho que o vai fazer muito bem – disse-lhe com um sorriso.

Quinn seguiu-a até ao compartimento contíguo, consciente do receio que deixava nas suas costas.

A mulher que estava sentada atrás da secretária estava completamente vestida de negro. Olhou para Quinn durante meio minuto e colocou-se de pé, esboçando um sorriso.

– Anna Semple – apresentou-se, mas, em vez de lhe estender a mão, contornou a mesa e aproximou-se dele. – Como se chama? – Anna ficou surpreendida por aquele candidato estar a olhar para as horas em vez de estar ansioso por agradar.

– Quinn Tyler – respondeu, sem saber se tudo aquilo o divertia ou o irritava.

– Não tenho nenhum Quinn Tyler – disse a mulher, enquanto consultava a lista.

– Não interessa – Anna passou uma mão pela manga do casaco de Quinn e voltou a sorrir. – Tem muita experiência na área, Quinn Tyler?

– Acho que houve um… – começou ele a dizer.

– Quem o enviou?

– Ninguém.

– Iniciativa! Agrada-me, não é, Sophie? Mas… tem algum agente? – se não tivesse, abria-se diante dela uma atraente gama de possibilidades, como um contrato de exclusividade…

Aquele homem perfeito estava a ponto de se converter no novo modelo da temporada.

Quinn era um homem paciente, mas até ele tinha os seus limites. Tinha visto agricultores a examinar o gado com mais delicadeza do que aquela mulher. Será que, de seguida, lhe ia pedir que abrisse a boca para lhe ver os dentes?

– Tire o casaco e a camisa, está bem? – pediu-lhe Anna, voltando a sentar-se.

Quinn, surpreendido, olhou para ela e viu que estava a falar a sério.

– Só isso?

A mulher pequena pareceu sobressaltar-se com a resposta, mas a chefe dirigiu a Quinn um olhar irónico.

– Sim, acho que será suficiente – Quinn permaneceu imóvel. – Não é tímido, pois não?

– Não, claro que não – respondeu ele com sinceridade, mas a ideia de se despir ali recordou-lhe o seu principal e único objectivo: Rowena.

Precisamente quando ia dizer que não estava disponível, abriu-se a porta nas suas costas e ouviu um par de vozes. Reconheceu logo uma delas.

– Tenho a tua permissão para a campanha «Tenha-o todo», Rowena? – perguntou Sylvia Morrow à sua editora.

Rowena era uma mulher alta e bonita, com a tez rosada e o cabelo louro acinzentado. Tinha noção do impacto que o seu corpo esbelto e sinuoso produzia nos homens, mas tinha chegado à conclusão de que essa beleza tinha sido mais um obstáculo do que uma ajuda na luta para atingir os seus objectivos. Desde que se licenciara com distinção, sem dinheiro e sem experiência, a sua inquebrável ambição tinha-a levado até àquele escritório luxuoso e ao cargo de editora, que ainda lhe parecia irreal. O caminho até ao êxito não era fácil e, com frequência, tinha de demonstrar aos outros que a sua juventude não a impedia de triunfar. E, sem dúvida, não conseguia entusiasmar-se com os seus êxitos e por culpa de uma pessoa… Quinn Tyler. Ignorou, convenientemente, que ela era igualmente responsável pelo seu problema.

– Estás bem, Rowena? – perguntou-lhe Sylvia, ao observar que a sua chefe levava uma mão ao ventre, invejavelmente liso.

Na noite anterior, tinham assistido à apresentação de um novo perfume e, enquanto que Sylvia se mostrou incapaz de resistir à comida e à bebida, Rowena apenas provou um pouco.

– Estou bem – disse com um sorriso e afastou a mão. Se não tivesse cuidado, as pessoas iam começar a conjecturar.

Para quem nunca se cansava de repetir que a maternidade não era compatível com o trabalho, um bebé era uma situação embaraçosa…

– O anúncio «Ter tudo» – recordou Sylvia.

Rowena fez um esforço para afastar os problemas pessoais, mas, pela primeira vez na sua carreira profissional, não lhe foi fácil concentrar-se no trabalho.

– Já sabes o que penso disso, Sylvia.

Sylvia assentiu. Não era nenhum segredo que a sua nova editora chefe via como ingénuas as mulheres que achavam que podiam combinar uma carreira de êxito com uma família feliz.

Rowena não se preocupava em ser politicamente correcta e Sylvia perguntava-se se a sua rejeição a filhos e casamento não teria algo a ver com a obsessão que tinha em fazer o trabalho com escrupulosa perfeição.

– Bem, conheço várias pessoas muito ambiciosas que não partilham a mesma opinião e algumas ideias deviam ser escritas. Não podes falar – predisse Sylvia. – Um olhar ao interior dos lares dos famosos, com fotografias dos animais, dos filhos ou do que quer que seja… Já sabes, o lado humano e tudo isso.

A ideia de expor os filhos aos meios de comunicação fez com que Rowena fizesse uma careta de desagrado.

– Pode funcionar – insistiu Sylvia, ao ver a negativa da sua chefe.

– Pode ser que tenhas razão, Sylvia – aceitou Rowena. – Em quem estás a pensar?

– Em Maggie Allen.

– Uma escolha de actualidade – disse Rowena, arqueando uma sobrancelha. Maggie Allen, a nova cara de uma firma farmacêutica, era a típica mulher que parecia ter tudo: um marido carinhoso, os filhos bem-educados e um trabalho com êxito. Mas quanto tempo passaria essa Maggie com os filhos?, perguntou-se Rowena. E quanto tempo mais seria necessário para que o seu marido procurasse outra mulher que lhe interessasse mais?

– És a melhor – disse Sylvia. – Mas espera um segundo. Tenho que dar esta apresentação à Anna – entrou no gabinete de Anna, seguida de Rowena. – Anna, podias…? Oh, meu Deus! – exclamou, ao ver o enorme homem que ocupava metade da sala.

– Acho que podes mandar os outros embora, Sophie – disse Anna, ao ver a expressão de prazer da sua colega. – Temos o nosso homem.

Rowena lançou um olhar rápido ao impressionante corpo que tinha maravilhado Sylvia e afastou o olhar. Os homens fortes e grandes não eram propriamente do seu agrado. E sem dúvida… o novo modelo de Anna, que estava sem camisa, tinha uma certa semelhança muscular com Quinn. Não pôde evitar sentir uma certa compaixão em relação àquele pobre homem desnudado da cintura para cima.

– Bem, deixo-vos – disse às outras mulheres. – Sylvia, às três e meia no meu gabinete…

Naquele momento, o homem voltou-se e olhou para ela.

Rowena ficou sem respiração e pensou que estava alucinada. Era impossível achar que o estava a ver diante dela. Aquele torso, aqueles olhos verdes, aqueles lábios curvados num sorriso sensual… Era ainda pior do que uma alucinação. Era real! Só havia um homem no mundo capaz de combinar num sorriso tanto desprezo e desafio sexual.

O débil gemido que emitiu bastou para que as outras mulheres se fixassem nela. Eram mulheres cujo respeito necessitava, pelo que tinha de fazer algo rapidamente. Algo diferente de sair a correr, a única coisa que lhe passava pela cabeça. Porquê ali? Porquê naquele momento? Porquê a ela?…

Inspirou profundamente. Não era a situação ideal, mas tinha de a solucionar. Sabia que o reencontro era inevitável, mas tinha acalentado a esperança de estar preparada para tal e ser capaz de replicar com razões de peso qualquer protesto que ele formulasse.

– Que diabo fazes aqui? – perguntou num tom acusador, quase sem voz.

– Este é Quinn Tyler, Rowena – explicou Anna. – O nosso modelo para…

– Ele não é modelo! – exclamou ela, apanhando do chão a camisa e o casaco de Quinn. Como é que se podia exibir diante daquelas mulheres que o comiam com os olhos?

– Então, quem é?

– Isso, Rowena, quem sou? – perguntou Quinn.

Rowena sentiu que corava diante daquele olhar.

– Não me tentes! – disse ela. Não conseguia suportar aquele sorriso. – Para tua informação, Anna, informo-te que o Quinn é médico.

– Não se parece nada com um médico – respondeu Anna com algum cepticismo. Apoiou as mãos na cadeira e observou Quinn de cima para baixo.

– Sabe parecer um médico, quando quer – disse ela com um grunhido.

– Vá, obrigado, Rowena – murmurou Quinn provocadoramente.

– Não pretendia lisonjear-te. Até Jack, o Estripador, pareceria um homem respeitável se vestisse um fato Armani – voltou-se para as outras mulheres. – Andámos juntos na universidade.

– Ah, é um antigo namorado.

– Não tão antigo – precisou Quinn com uma cara fingida de dor.

– Não é um antigo namorado! – replicou Rowena. – Só estávamos no mesmo grupo – olhou para Quinn em busca de um improvável apoio. – Um grupo com as mesmas ideias…

– Um grupo de «betos» elitistas que não fazia mais nada a não ser bajularem-se, dizendo quão superiores eram em relação ao resto dos mortais. Não sei dizer quanto tempo passámos a idealizar os nossos futuros brilhantes.

– Quinn! – exclamou Rowena, indignada

– Vais dizer que não tenho razão? – Quinn olhou-a com regozijo.

Rowena suavizou a expressão e esteve quase a sorrir, mas lembrou-se que não podia descontrair-se diante de Quinn.

– Não, tens razão – reconheceu com um suspiro. – Éramos insuportavelmente presunçosos.

– Em nossa defesa, devo alegar que éramos muito jovens – disse Quinn, olhando para as outras três mulheres. – E quase todos perdemos essa arrogância, com a idade.

– Se isso é uma indirecta… – começou Rowena a dizer, vermelha de fúria.

– Não, não és arrogante – disse ele, com um sorriso.

– É mesmo teu! Vês nos outros os teus próprios defeitos – disse ela. – Não sei como chegaste até aqui, mas estou a pensar chamar os seguranças – ele respondeu-lhe com um sorriso atrevido. – Achas que estou a brincar, Quinn? Põe-me à prova…

– Não, não creio que estejas a brincar. Para isso necessitavas de sentido de humor e de habilidade para te rires de ti própria.

Quinn pensou que ela merecia que a estrangulasse, por todas as semanas de angústia que o tinha feito passar. Olhou para a curva do seu colo e o contorno daqueles lábios tão suaves… Quiçá fosse melhor beijá-la.

– Não me parece que este seja o momento para falar da minha incapacidade – disse ela, apertando a mandíbula, e, sem querer, apreciou a pele bronzeada de Quinn. – Por amor de Deus, veste-te!

Não estava segura do que seria pior, se ter de superar a excitação que aquela imagem lhe produzia ou o facto de as outras mulheres também se estarem a babar ante semelhantes músculos.

Sem parar para pensar no que estava a fazer, pressionou a camisa contra o seu peito.

– Isto diverte-te? Não sei como é que entraste aqui, nem porque é que vieste – as lágrimas começaram a surgir nos seus olhos, enquanto Quinn permanecia impassível. – Vieste para me humilhar? – perguntou-lhe com voz furiosa.

Quinn arqueou uma sobrancelha e sorriu cinicamente.

– Sabes muito bem porque vim, Rowena – afirmou com uma voz ameaçadora.

Tirou-lhe a camisa das mãos trémulas e enfiou-a pela cabeça. Ao metê-la para dentro da cintura, ela fixou-se na fivela de prata do cinto. Era a mesma que ela tinha desapertado naquela noite… Rowena tentou não se deixar levar pelas recordações, mas foi inútil. A sua cabeça encheu-se de imagens eróticas. A sua pele bronzeada coberta de suor, a aspereza da sua voz, reduzindo-a a um grito sufocado de necessidade, a expressão de triunfo no seu rosto, enquanto a tomava com a sua força…

Levou uma mão ao ventre e tentou recuperar o fôlego e a compostura. O desejo tinha-a atingido com tanta força que era como ter-se estampado contra um muro de pedra ardente.

– Estás contente? – perguntou-lhe ele, quando acabou de vestir a camisa.

Ao vestir-se, ficou despenteado e, então, Rowena, sem pensar, esticou a sua mão e alisou-lhe os cabelos escuros. O bom senso abandonou-a, quando os seus dedos tocaram no couro cabeludo.

Apercebeu-se da intimidade que aquele gesto implicava, quando Quinn afastou a cabeça. A recusa violenta fez com que olhasse para ele com uma expressão dorida. Os seus olhares encontraram-se durante um segundo repleto de tensão, antes de ele ocultar a sua expressão com as pálpebras.

Um gesto tão inocente jamais tinha sido tão mal interpretado. Era óbvio que as coisas tinham mudado…

Mas quando tinham começado a mudar?

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