Читать книгу Poder e sedução - Michelle Smart - Страница 7

Capítulo 2

Оглавление

Ficou atónita quando viu o hotel luxuoso a que o motorista de Daniele a levava. Era o mesmo hotel em que jantara com ele quando a enganara para sair com ela. O Hotel Éden era o mais luxuoso de Aguadilla e era lá que os ricos se hospedavam. Tinha as únicas calças de ganga limpas e uma camisa preta por engomar porque houvera um corte de eletricidade no acampamento.

Da primeira vez, quando Daniele a levara ao hotel, porque se dignara a conduzir o carro, ficara imediatamente furiosa.

– Disseste que era uma conversa informal sobre o hospital.

Achara que jantariam em algum dos muitos restaurantes que havia à beira do mar e que eram famosos porque serviam uma comida excelente e barata, porque tocavam música alegre e porque tinham um ambiente muito acolhedor.

– Efetivamente, vai ser assim – replicara ele.

Isso enfurecera-a ainda mais. Tinham passado junto de clientes vestidos de gala e sentira-se deslocada.

Jantar naquele restaurante fora humilhante da primeira vez, mas já estava pronta e atravessou o vestíbulo do hotel com a cabeça muito erguida. Não se sentiria inferior, mesmo que parecesse uma mendiga.

Um empregado do hotel dirigiu-se para ela e pôde ver que, segundo a chapa que tinha na lapela, era o diretor-geral.

– Senhora Bergen…? – perguntou ele, com cortesia.

Assentiu. Supôs que teria sido muito fácil descrevê-la, que bastava dizer que era uma mulher com o cabelo vermelho que não encaixava ali.

– Acompanhe-me, por favor.

Seguiu-o e passaram junto de uma cascata enorme, junto do restaurante onde tinham jantado da outra vez, junto de lojas de roupas e de mais restaurantes e chegaram a um elevador com o seu próprio empregado. Então, quando o diretor carregou no botão do último andar; ela alarmou-se.

– Para onde me leva?

– Para a suíte do senhor Pellegrini.

Chegaram ao andar antes de ele acabar de responder e o empregado abriu a porta.

Eva hesitou.

Jantar na suíte privada de um hotel tinha conotações muito diferentes de jantar em público. Era uma insensatez, segundo qualquer critério, entrar sozinha na suíte de um homem rico.

O diretor observou-a como se esperasse que abandonasse a segurança do elevador e entrasse na guarida do leão. Só tinha de se recusar e seria o mais sensato. Se Daniele Pellegrini tinha de a ver com tanta urgência que viajara até às Caraíbas só para falar com ela, então, também podia jantar com ela em público. Podia exigi-lo e ele não teria outro remédio senão aceitá-lo.

No entanto, apesar dos seus defeitos inumeráveis, a intuição dizia-lhe que Daniele não era o tipo de homem que obrigaria uma mulher a fazer algo que não quisesse.

Saiu do elevador e seguiu o diretor por um corredor amplo até uma porta. Bateu com firmeza e, imediatamente, um homem vestido de mordomo abriu.

– Boa-noite, senhora Bergen – cumprimentou, num inglês impecável. – O senhor Pellegrini está à espera no terraço. Quer beber alguma coisa?

– Um copo de água, por favor – replicou, fazendo um esforço para não ficar boquiaberta com a grandiosidade da suíte.

Aliviou-a um pouco que houvesse um mordomo para os acompanhar.

O diretor despediu-se e foi-se embora. Levaram-na para um divisão espaçosa de onde saíram para um terraço com uma vista incrível do mar das Caraíbas e das estrelas que o iluminavam. À esquerda, havia uma piscina ovalada e, à direita, uma mesa onde podiam sentar-se confortavelmente doze pessoas, mas que estava posta para dois. Daniele Pellegrini estava sentado. Levantou-se e dirigiu-se para ela com a mão estendida.

– Eva, fico contente por te ver.

Cumprimentou-a com um sorriso que contrastava com o ar de fúria que tivera no seu rosto há três dias, quando exigira que o ajudasse.

Como não tinha muitas alternativas, apertou-lhe a mão. Não a sacudiu com energia, como ela esperara, mas apertou-a com uma certa delicadeza, puxou um pouco e deu-lhe um beijo em cada face.

Sentiu um aperto no coração ao voltar a inalar o seu cheiro que, absurdamente, despertava todos os seus sentidos.

Embora se odiasse pela vaidade, alegrou-se por ter tomado banho há tão pouco tempo. Daniele cheirava muito bem e voltava a esboçar esse sorriso que a derretia por dentro. Além disso, as calças cinzentas-escuras e a camisa branca estavam impecavelmente engomadas. Era tudo imaculado naquele hotel, até os hóspedes. À frente daquele homem tão incrivelmente atraente, voltava a sentir-se uma maltrapilha. Vivia num acampamento onde reinavam a lama e o pó e era impossível estar apresentável, por muito que tentasse.

Alegrou-se ainda mais quando a soltou e teve de fazer um esforço para não esfregar a mão nas calças.

– Parece que o nariz está a sarar – comentou ela.

O inchaço diminuíra consideravelmente e voltou a sentir um arrebatamento de vaidade ao ver que os pensos continuavam no seu sítio. Tinha o olho esquerdo ligeiramente arroxeado, mas era a única coisa que indicava que se metera numa luta. Continuava curiosa por saber quem fora o adversário. Alguma autoridade corrupta de Caballeros? Um namorado ciumento?

– Fizeste-o muito bem…

– Foste ao médico? – perguntou ela.

– Não é preciso – respondeu ele.

O mordomo, que saíra do terraço sem que ela se apercebesse, voltou com uma bandeja com dois copos e duas garrafas de água.

– Não sabia se queria com ou sem gás e trouxe as duas – indicou. – Quer mais alguma coisa antes de servir o jantar?

– Não, obrigada.

– Outro uísque para mim – pediu Daniele. – Traz a garrafa.

– Como queira…

Uma vez sozinhos, Daniele apontou para a mesa.

– Senta-te. Para poupar tempo, pedi pelos dois. Se houver alguma coisa de que não gostes, o cozinheiro pode fazer outra coisa.

Eva indignou-se. Não se importava de comer de tudo, mas a presunção dele era outra afronta.

– O que pediste?

– Sopa de brócolos e queijo e lombo Wellington depois. Pensei que terias saudades da comida inglesa.

Atónita, sentou-se à frente dele.

– Ter saudades da comida inglesa? Sou dos Países Baixos…

– És holandesa?

Quase sorriu com a surpresa dele, mas não porque achava graça, por lhe parecer irónico. Passara uma noite a seduzi-la descaradamente, mas não se preocupara com fazer perguntas. Fora apenas uma mulher que o atraíra e com quem quisera ir para a cama. Presumira que se sentiria tão honrada por a ter escolhido que o seguiria até à sua suíte e se deitaria na sua cama.

– Nasci e cresci em Roterdão.

– Achava que eras inglesa – replicou ele.

– Acontece com muita gente.

– Não tens sotaque.

– Os ingleses notam, mas tu és italiano.

O mordomo trouxe a garrafa de uísque e perguntou a Eva se queria algo mais forte para acompanhar a comida. Ela abanou a cabeça e fixou os olhos em Daniele.

– Acho que é melhor manter a cabeça limpa esta noite.

Daniele esboçou um sorriso sombrio. Também deveria manter limpa a cabeça, mas, depois dos últimos dias, gostava da ideia de se intumescer. Além disso, o uísque ajudaria a aguentar a conversa.

– Que mais línguas falas?

Eva falava tão bem em inglês que não pensara que não fosse dessa nacionalidade. Quando a conhecera, fizera de tradutora para ele e para o seu desprezado primo Matteo. Sabia pouco de espanhol, mas a tradução entre eles e as autoridades de Caballeros parecera-lhe irrepreensível.

– Falo inglês, francês e espanhol com desenvoltura e o italiano aceitavelmente.

– Demonstra-me – desafiou-a, em italiano.

– Porquê? – perguntou ela, também em italiano. – Estás a tentar pôr-me à prova?

– Chamas a isso aceitável? Disseste-o com uma pronúncia quase perfeita.

– Não considero que tenha desenvoltura até conseguir ver um filme na versão original e sem perder nada – replicou ela, outra vez em inglês. – Falta-me muito para fazer isso em italiano.

– Então, podemos falar em italiano agora, vai fazer-te bem.

Ela abanou a cabeça.

– Disseste que tinhas de falar de algo importante comigo. Falas inglês tão bem como eu e prefiro não perder nada na tradução, o que te daria vantagem.

– Não confias em mim?

– Não.

– Admiro a tua sinceridade.

Era algo muito raro no seu mundo. A família era implacavelmente sincera com ele, mas, desde que se tornara uma autoridade do mundo da arquitetura e ganhara os seus primeiros mil milhões, graças ao seu trabalho e a uns investimentos acertados, não conhecera uma só pessoa que o contrariasse ou lhe negasse alguma coisa.

O mordomo voltou ao terraço com o primeiro prato. Pousou as tigelas e um cesto com pãezinhos entre eles. Eva inclinou a cabeça para os cheirar e assentiu com a cabeça.

– Cheiram muito bem.

– Acabaram de sair do forno, mas também os temos sem glúten, se preferir – comentou o mordomo.

– Não sou intolerante ao glúten, mas agradeço a oferta.

Eva era a primeira mulher com quem saíra nos últimos três anos que não era intolerante ao glúten ou não seguia alguma dieta desatinada. Era estimulante e outra das muitas diferenças entre ela e as mulheres com quem saíra. Além disso, notava-se fisicamente. Para começar, tinha curvas e uns seios abundantes. Eva Bergen era sensual e desejava vê-la com roupa… feminina.

Quando ficaram sozinhos outra vez, ela pegou num pãozinho e partiu-o com as mãos.

– De que querias falar?

– Vamos comer primeiro, falaremos depois.

Ela pousou o pãozinho.

– Não. Vamos falar enquanto comemos ou acharei que tentaste enganar-me outra vez.

– Não te enganei no nosso último encontro – defendeu-se ele.

– Deixei muito claro que não ia ser um encontro e transformaste-o nisso. As perguntas que me fizeste sobre o hospital podiam ter sido feitas em cinco minutos a beber um café.

– E qual é a diversão disso?

– O meu trabalho não é divertido… senhor Pellegrini – acrescentou ela.

– Daniele.

Dissera uma dúzia de vezes, durante o primeiro encontro, para não lhe chamar assim. Não pensara que não gostaria dos seus cuidados. O seu apelido e o seu físico sempre tinham sido como um íman para as mulheres. Desde que começara a receber elogios como arquiteto e a ganhar dinheiro, todas as mulheres tinham olhado para ele com um brilho de admiração nos olhos, até conhecer Eva. Embora tivesse havido um brilho de interesse quando os seus olhares se tinham encontrado pela primeira vez. Fora o primeiro arrebatamento de desejo desde a morte do irmão. Perdera todo o interesse pelas mulheres durante os dois meses que tinham passado desde a morte de Pietro. O sexo contrário ficara tão à margem que essa descarga de eletricidade entre Eva e ele fora como uma lembrança de que continuava vivo.

Depois desse primeiro brilho, o comportamento dela fora sereno e profissional e presumira que se devia ao ambiente em que estavam. Também presumira que, se a tirasse desse buraco infernal que era Caballeros e a levasse a um sítio tão pitoresco como Aguadilla, ela relaxaria, mas enganara-se.

Apesar das descargas de eletricidade que sentira nessa noite, ela permanecera fria e inexpressiva e as suas tentativas de a lisonjear não tinham servido de nada. Rejeitara a sua oferta de ir para a suíte com desprezo.

Era inegável, Eva Bergen olhara para ele por cima do ombro. Para ele!

Nunca ninguém olhara assim para ele. Sentira-se mal e descartara-a sem pensar duas vezes. Conseguia aguentar a rejeição, mas o desprezo…

Parecera-se muito com a expressão do pai quando algum meio de comunicação social falava das suas aventuras com o sexo contrário. Os pais tinham querido que se casasse. Pietro encontrara uma mulher com quem assentar, embora tivesse demorado seis anos a casar-se com ela, e isso significara que era a vez dele.

A sua vida era diversão sem dar explicações a ninguém. Se quisesse passar o fim de semana em Las Vegas, só tinha de entrar no seu avião privado e ir buscar alguns amigos pelo caminho. O seu irmão perfeito sempre se comportara lindamente e fora como um exemplo a seguir para ele. Tinham-no dado como exemplo quando ainda usava fraldas.

Embora tivesse sido o último a rir-se. Fizera uma fortuna maior do que a pessoal de Pietro e a que herdaria juntas.

Até ser o último a rir-se deixar de ser divertido.

Pietro morrera num acidente de helicóptero e o homem que amara e desdenhara em igual medida, o irmão e rival, desaparecera. Estava morto.

– Levo o meu trabalho a sério, senhor Pellegrini. Não estou aqui para me divertir – dissera Eva, como se fosse repugnante. – A sua sedução foi inadequada e a sua oferta de ir para a suíte, muito mais.

Naturalmente, a irmã diria que era um masoquista por escolher uma mulher que o desprezava. Francesca não entenderia como era estimulante estar com uma mulher tão desafiante como Eva.

O único perigo que Eva tinha era para a sua vaidade e até ele conseguia reconhecer que alguns desafios eram bons para a sua vaidade. Desprezava os homens suscetíveis e, se pensasse na sua reação quando Eva o rejeitara, poderia dizer-se que fora tão suscetível como o pior deles.

– Pareceu-me que um jantar íntimo para dois num restaurante com estrelas Michelin era o lugar mais indicado para seduzir uma mulher bonita.

Ela corou ligeiramente.

– Vou-me embora se voltar a seduzir-me.

– Sem ouvir o que tenho para te dizer…?

– Isso depende de ti. Não será um inconveniente se não conseguires dominar a tua tendência natural de seduzir e não fores direto à questão.

– Então, vou direto à questão. Preciso de uma esposa e quero que faças esse papel.

– Isso não tem graça. O que queres realmente?

– O que quero realmente é entrar no meu avião e sair daqui, mas preciso de uma esposa e tu, querida, és a mulher perfeita para esse emprego.

Fez-se um silêncio de espanto tenso antes de ela se levantar.

– És desprezível, sabias? Não quero saber dos teus joguinhos retorcidos e, para que saibas, não sou a tua querida.

Eva agarrou na mala de lona e virou-se para sair do terraço e afastar-se daquele homem arrogante. Não dera dois passos quando ouviu que Daniele falava.

– Antes de te ires embora, quero que vejas uma coisa.

– Não tens nada que queira ver.

– Nem sequer um milhão de dólares em dinheiro?

Eva olhou para trás. Na mesa, ao lado da sua tigela de sopa, havia uma mala aberta. Pestanejou. Como se mexera tão depressa?

A mala estava repleta de maços de notas. Olhou para ele nos olhos.

– Chamei a tua atenção?

Abandonara todo o bom humor, que lhe parecera uma fachada.

Eva assentiu. Tinha a sua atenção, mas, em certo sentido, achava que estava a sonhar. Uma mala cheia de dinheiro só existia num sonho ou em filmes, não na vida real.

Daniele Pellegrini também não existia na vida real. Era um multimilionário de uma família nobre e ancestral. A sua vida era tão irreal como se tivesse chegado da lua.

– Se aceitares casar-te comigo, este dinheiro, um milhão de dólares, irá para as mãos da Blue Train Agency amanhã de manhã e é apenas o princípio.

– O princípio…? – perguntou ela, em voz baixa, olhando para aquele dinheiro maravilhoso.

– Se te sentares outra vez, explico-te.

Eva voltou a sentar-se sem parar de olhar para Daniele.

Ele acabou o copo de uísque, serviu outros três dedos e passou-o a Eva. Bebeu-o de um gole sem hesitar e sem se importar que os lábios dele tivessem estado no mesmo sítio há apenas um instante.

– Se aceitares casar-te comigo, este dinheiro irá diretamente para a tua organização humanitária. No dia do nosso casamento, farei uma transferência de outros dois milhões para a conta deles e doarei três milhões por cada ano de casamento. Vou dar-te uma pensão de um quarto de milhão de dólares por mês para que faças o que quiseres, também vou dar-te um cartão de crédito ilimitado para que viajes ou te vistas enquanto estivermos casados.

A cabeça dava voltas. Estava numa espécie de redemoinho que distorcia a realidade?

– Posso beber um pouco mais de uísque? – sussurrou.

Ele bebeu um gole e deu-lhe o copo.

– Queres pagar-me para ser a tua esposa?

– Sim.

– Porque haverias de querer casar-te comigo?

– Não quero, mas preciso de uma esposa.

– Já o disseste, mas porque haverias de me escolher quando há centenas de mulheres que o fariam sem teres de as subornar? Porque haverias de te casar com alguém que nem sequer gosta de ti?

– Esse é, precisamente, o motivo por que quero que aceites esse papel.

– Perdi-me.

– Não quero casar-me com alguém que vá apaixonar-se por mim.

Poder e sedução

Подняться наверх