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Capítulo 2

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Era uma bela mulher, com o cabelo da cor do Outono e com uns profundos olhos verdes, da cor do mar. Demetrios reparara nela ao entrar.

Era a imagem da feminilidade envolta em seda verde, num tom mais claro do que o dos seus olhos. Vestia uma blusa curta e justa nos seios e umas calças largas. Normalmente, não gostava de mulheres que usavam calças, mas naquele caso…

Preguiçosamente, fitou-a de cima abaixo.

Aquelas calças eram diferentes, chegavam-lhe por debaixo do umbigo. As sandálias, que também eram verdes, eram feitas de tiras finas e tinham saltos de agulha.

Só um santo é que não a teria imaginado vestida só com as sandálias e talvez com um pouco de renda. E claro que ninguém o consideraria para a canonização.

Não se surpreendera ao imaginá-la daquela maneira, o que o surpreendera, no entanto, fora a rápida reacção do seu corpo.

Porque é que estava tão afastada de todos? A música tocava e as pessoas conversavam e riam. A festa de Rafe era um sucesso e, no entanto, ela mantinha-se à margem. Estava no terraço, perto da porta, como se não soubesse se queria ficar ou ir-se embora, com um copo na mão e uma expressão indecifrável. Estaria aborrecida? Indiferente ao que acontecia à sua volta? Fosse o que fosse, todos os homens teriam olhado para ela se não fosse a sua postura.

«Não te aproximes», parecia querer dizer. «Não estou interessada».

No entanto, Demetrios não acreditava que tivesse ido sozinha à festa. Não teria acompanhante? Cada vez que olhava na direcção do terraço, via-a sozinha.

A única maneira de obter resposta àquela pergunta seria perguntar-lhe directamente.

Demetrios desculpou-se com quem estava a falar e começou a dirigir-se para ela, mas não conseguiu ir muito longe, conhecia muitos dos convidados…

A ruiva do terraço não parecia o género de mulher que permanecesse com um homem quando a paixão já tivesse acabado… mas talvez isso fosse uma ilusão. A experiência ensinara-o que as mulheres eram incapazes de desfrutar o momento sem tentar transformá-lo em algo duradouro.

No entanto, agradava-lhe imaginar aquela possibilidade. A mulher perfeita, tão bela e especial como uma orquídea e tão auto-suficiente como um cacto.

Infelizmente, aquele género de mulher não existia. As mulheres ou eram belas ou eram fortes. Não parecia haver maneira de combinar aquelas duas qualidades e, dado que ele era um homem que preferia a beleza à durabilidade, as suas relações acabavam sempre mal.

Embora fosse só por uma vez, Demetrios pensou que gostaria de conhecer uma mulher independente, uma mulher que admitisse os seus desejos com honestidade e sem manipulações.

De repente, sentiu um formigueiro no estômago. Ao levantar o olhar, viu que ela o fitava com uma intensidade que o fez desejar empurrar a mulher que falava com ele naquele momento para se aproximar da ruiva, tomá-la ao colo e levá-la dali para fora.

Claro que não fez nada disso. Os homens civilizados não faziam aquelas coisas.

Portanto, esperou para poder pôr fim à conversa e começou a dirigir-se para ela novamente. Quando Rafe o chamou, não pôde deixar de o cumprimentar. Há anos que eram amigos. No entanto, assim que acabaram de se cumprimentar, ele decidiu ser directo. Poderia sê-lo com ele.

– Rafe, porque é que não falamos depois? Talvez amanhã, o que é que achas?

Rafe sorriu com ironia e deu-lhe uma palmada no ombro.

– Parece que fisgaste uma mulher. Quem é?

Demetrios também sorriu.

– Ainda não sei como se chama, só a vi.

– Mostra-me. Que género de amigo seria se não te ajudasse?

– Está ali… – mas ela já não estava ali. A mulher misteriosa penetrara nas sombras do terraço. – Não te preocupes que um homem tem que saber desenvencilhar-se sozinho.

– Não duvido que o vais conseguir – declarou Rafe, a sorrir. – Nick diz que costumavas deixá-lo envergonhado.

– Fico contente por ele o admitir. Enfim, agora é casado.

– Muito bem casado – Rafe aclarou a garganta. – Tal como eu. Tenho a certeza de que a ti também te acontecerá o mesmo quando conheceres a mulher dos teus sonhos.

Demetrios assustou-se. A expressão do seu amigo tornara-se séria. Não, um amigo não poderia tentar…

– Bom, já conheceste a família da minha esposa? – inquiriu Rafe.

– O casamento derreteu-te o cérebro – Demetrios sorriu. – Fiz um negócio com Jonas, não te lembras? Em Espada, onde conheci a sua esposa e os seus filhos, e claro que conheço Amanda e a tua bela Carin.

– Nesse caso, a única pessoa que te falta conhecer é Sam.

– Sam? – Demetrios franziu o sobrolho. – Não me lembro de que Jonas tivesse um filho chamado Sam.

– Não, Sam é a abreviatura de Samantha.

– Ah, sabia que Jonas tinha filhas, mas…

– Sam não é filha de Jonas – Rafe voltou a aclarar a garganta. – Samantha não é uma Baron, mas uma Brewster. É a irmã mais nova da minha esposa.

– Ah! – Demetrios olhou na direcção do terraço mais uma vez. – Bom, Rafe, velho amigo…

– Sam está por aqui. Porque é que não vens comigo para que vos apresente?

Nem pensar! Agora já sabia o que o seu amigo queria. Era patético o que acontecia a um homem quando uma mulher lhe punha o anel no dedo. Logo Rafael Alvares, que criava cavalos e que geria um império financeiro no Brasil, e agora também fazia de casamenteiro.

– Agradeço-te, mas deixa para mais tarde – pediu Demetrios, apalpando o bolso do casaco. – Tenho que fazer um telefonema para Nova Iorque e aqui na sala faz muito barulho…

– Vais gostar dela. Sei disso.

– Sim, não duvido, mas…

– É do teu género.

– Não me digas – Demetrios arqueou as sobrancelhas.

– A sério, Sam é um desafio!

O que deveria querer dizer que tinha mau génio.

– Tem muito carácter.

O que queria dizer que nenhum homem a conseguiria aguentar. Demetrios percebia muito bem a linguagem daqueles que queriam ver o fim do seu feliz estado de solteiro.

– Deve ser… fascinante – replicou Demetrios, educadamente. – E não duvido que deve ser tão bonita como a tua esposa.

Rafe ficou pensativo uns momentos.

– Não, tenho que admitir que Sam não é nada parecida com Carin, nem com Amanda.

A situação piorava a olhos vistos. Pelos vistos, o seu amigo queria carregá-lo com uma mulher insuportável que tinha nome de homem e que nem sequer era bonita como as suas irmãs.

– Bom, não duvido que deve ser encantadora, mas agora tenho que fazer um telefonema. Depois apresentas-me à tua cunhada.

Rafe suspirou.

– Não, compreendo que não a queiras conhecer e estás a desculpar-te. Não estás disposto a perder a tua liberdade – o suspiro de Rafe tornou-se num sorriso. – Não te preocupes, Demetrios. Já o disse a Carin, mas ela insiste em que tu e Sam são feitos um para o outro. O que é que queres que te diga? Já sabes como é a minha mulher…

– Sim, eu sei – replicou Demetrios, com um suspiro de alívio. – Por isso é que fico muito contente em permanecer solteiro.

Rafe afastou-se dele. Demetrios dirigiu-se para o terraço, mas voltaram a interceptar os seus passos. Desta vez foi uma loira com a qual tivera uma aventura passageira.

– Querido – cumprimentou ela, e beijou-o no rosto.

– Desculpa, mas tenho que…

Naquele momento, uma fragrância inundou os seus sentidos. Jasmim? Lilás?

– Olá.

A voz era suave e rouca. Só uma mulher naquela festa tinha o poder de o fazer virar-se com uma palavra. Sabia que era ela. Devagar, virou-se, enquanto se perguntava se aquela mulher na realidade poderia comparar-se às suas fantasias.

Sim, era mais bonita do que pensara. Era magnífica, com olhos onde um homem poderia perder-se. Boca feita para beijar, cabelos da cor do fogo.

– És muito bonita – elogiou Demetrios, suavemente.

Ela riu.

– E tu és muito directo.

– Tenho estado a observar-te e tu tens estado a olhar para mim. De que é que vale fingir? – Demetrios aproximou-se dela. – Desde que estou aqui, que tenho estado a tentar chegar ao pé de ti.

Ela sorriu e ofereceu-lhe um copo. Até àquele momento, Demetrios não tinha reparado que trazia um copo em cada mão, os dois cheios de gelo e com um líquido pálido.

– Para o caso de teres sede.

Demetrios sorriu.

– Caipirinha?

Os dedos dele tocaram nos dela quando agarrou no copo que lhe oferecera e, imediatamente, sentiu uma corrente eléctrica a percorrer-lhe o corpo. A ela aconteceu-lhe o mesmo e viu-o nos seus olhos e na maneira como escureceram.

– Não gosta do que lhe ofereci, senhor Karas?

– Gosto – replicou ele, em voz baixa, com os olhos cravados nos dela e consciente de que ela não se referia à caipirinha. – Muito.

– Muito bem – ela sorriu, levou o copo aos lábios e bebeu um gole.

Era uma namoradeira, mas sabia o que queria e não dissimulava. Demetrios desejou abraçá-la e levá-la para a cama…

– Demetrios – disse uma voz, atrás dele.

– Um momento – desculpou-se Demetrios, enquanto se virava para a loira. – Desculpa, mas estou ocupado.

Tinha sido mal-educado e sabia-o, mas não se importou. A única coisa que lhe importava era estar com aquela mulher…

Tinha desaparecido. Onde é que estava? No terraço. Viu um movimento de seda verde na escuridão.

Demetrios pousou o copo numa mesa e dirigiu-se para o terraço.

Ali estava, sob as escadas que davam para a relva do jardim.

– Espera!

Ela acelerou o passo até que quase correu. Demetrios, praguejou e seguiu-a, alcançando-a num miradouro. Agarrou-a pelos ombros e fê-la virar-se. O luar iluminou o rosto da mulher.

– Porque é que fugiste? Tens medo de mim? – com ternura, agarrou no rosto da mulher entre as suas mãos e com os dedos acariciou as suas faces. – Não precisas ter medo, não te vou magoar.

Sam ficou a olhar para ele. Não lhe podia explicar. O que é que ia dizer? Que tinha começado como uma brincadeira, mas que agora queria ir para a cama com ele? Nem sequer ela ia para cama com um homem com tanta rapidez.

Sam humedeceu os lábios.

– Desculpa se te dei uma impressão errada a meu respeito. A verdade é que estou muito cansada e…

– E não me conheces. É esse o problema, não é? – ele fitou-a nos lábios. – Poderias conhecer-me. Um beijo, é só isso que é preciso para saber tudo o que é preciso saber.

– Penso que não…

– Não penses… pelo menos esta noite.

Devagar, ele baixou a cabeça. Apesar das suas últimas palavras, Sam sabia que lhe daria tempo antes que fosse demasiado tarde.

Os olhos dele eram dois poços azuis, meio ocultos sob pestanas negras e espessas.

«Poderia afogar-me nos seus olhos», pensou Sam. Então, a boca dele acariciou a sua, como um murmúrio à luz da lua até que, com um suspiro, Sam deixou de pensar, fechou os olhos e abriu os lábios.

Ele sabia a vinho e a luar. A milhares de sonhos esquecidos e a uma procura que ainda não acabara. Enquanto a beijava, Sam percebeu que queria mais.

– Mais… – murmurou Sam.

Demetrios gemeu. Sim, dar-lhe-ia mais. Dar-lhe-ia tudo e aceitaria tudo dela. Apertou-a contra si, colocou as mãos na sua garganta e levantou-lhe o rosto.

Samantha inclinou-se sobre ele, querendo sentir o corpo dele contra o dela. Ele acariciou-lhe os ombros e ela tremeu.

Rodeou o pescoço dele com os braços e Demetrios percebeu que, ela acabara de se render à noite, à paixão, a ele. Mordiscou o lábio inferior dela e depois lambeu-o, sabia a caipirinha e a açúcar, sabia a desejo. Demetrios gemeu e apoiou-se contra a parede, arrastando a mulher consigo antes de lhe acariciar o corpo possessivamente, absorvendo o seu gemido quando o mamilo dela se ergueu contra a mão dele.

– Matya mou – declarou ele, com voz grossa, ao mesmo tempo que se virava para a colocar contra a parede do miradouro.

Ela esfregou-se contra ele e Demetrios percebeu que estava quase a perder o controlo.

– Espera – murmurou ele.

Mas aquela mulher estava a acariciar-lhe o peito e desabotoar-lhe a camisa. Conteve a respiração ao sentir os dedos frios dela na sua pele. Sentiu o desejo dela. Ele também o sentia, precisava de a tocar e saborear, mas não se permitiria perder o controlo até àquele ponto. Esperaria. Iria levá-la para algum lugar íntimo onde houvesse uma cama e pudessem ficar sozinhos sem o perigo de serem interrompidos.

Demetrios beijou-a nos lábios e entrelaçou os dedos nos dela.

– Vamos para o meu quarto – pediu Demetrios.

Mas ela abanou a cabeça.

– Não, em casa não posso…

Ela não queria correr o risco de ser vista e ele também não queria.

– Vamos para os estábulos – declarou Demetrios.

Antes dela conseguir responder, ele puxou por ela e começou a andar.

– Espera – pediu ela, parando para descalçar os sapatos.

Demetrios agarrou nos sapatos dela e os dois correram pela relva húmida. Ela ria e ele parou para a abraçar e beijar.

Uma nuvem cobriu a lua, deixando o céu só com o fogo das estrelas, mas Demetrios conhecia o caminho. Havia um pequeno gabinete num dos estábulos, onde ele e Rafe tinham feito um acordo. Não era um gabinete sofisticado, só tinha uma mesa, uma cadeira e um velho sofá de pele. O sofá não era grande, mas era suficiente para que um homem e uma mulher pudessem fazer amor.

Ia levá-la para lá, ia despi-la e perder-se na voluptuosidade da sua boca e enterrar-se no calor do seu corpo. Depois de se saciar, apertá-la-ia contra os seus braços e acariciá-la-ia. E, quando a festa tivesse acabado, iria levá-la para casa, para o seu quarto, e ali perder-se-iam novamente nos braços um do outro, envoltos pela cálida noite brasileira.

Os estábulos estavam às escuras e cheiravam a cavalo e ao couro das selas e arreios. Um animal relinchou quando a porta se abriu.

Demetrios levou-a para o gabinete do fundo.

– Demetrios… – murmurou ela.

– Sim? – replicou ele, com voz rouca.

Sabia como ele se chamava? Mas ele não dissera o seu nome àquela mulher. Pensou perguntar-lhe, mas… que importância tinha aquilo naquele momento? Em vez disso, agarrou na mão dela e colocou-a sobre o seu membro erecto.

– Sente o que estás a fazer, o kalóz mou.

Demetrios ouviu-a ofegar quando lhe rodeou o membro com a mão.

O mamilo coberto pela seda, duro como uma pérola, ergueu-se contra a mão dele. Ele rosnou, beijou-a profundamente e, enquanto saboreava a doçura da sua boca, deitou-a no sofá e abraçou-a. Ela gemeu, beijou o queixo dele com ardor e rodeou-lhe o pescoço com os braços e, durante um instante, Demetrios sentiu que o seu frenesim diminuía. De repente, precisou de a abraçar e explorar os doces segredos daquele corpo antes de aliviar o seu desejo.

– Diz-me como te chamas – pediu ele, numa voz suave. – Quero saber…

Com impaciência, ela esfregou-se contra ele e Demetrios voltou a entregar-se à paixão. Acariciou-lhe os seios, o ventre… e deslizou a mão sob a cintura das calças de seda… abaixo, mais abaixo… e lançou um gemido de prazer antes de cobrir a boca dela com a dele.

O estábulo iluminou-se. A mulher que tinha nos braços ficou imóvel.

– Oh, meu Deus! – exclamou ela, num murmúrio angustiado. – Solta-me! Não vês as luzes? Entrou alguém…

– Shhh! – pediu-lhe, ao ouvido. – Não fales. Quem quer que seja vai-se já embora.

Ir embora? Sam fechou as pálpebras com força. Sim, tinha que se ir embora…

– Fico contente por teres tomado uma decisão sobre o cavalo, Nick – declarou Rafe Alvares, antes de soltar uma gargalhada. – Já me tinham feito uma oferta muito boa e estou tentado a aceitá-la.

– Nem penses – replicou Nicholas al Rashid, com bom humor. – Não te esqueças de que sou o teu cunhado e isso conta para alguma coisa.

Os dois homens riram. Os seus passos soaram no chão de madeira e Sam ocultou o rosto na garganta de Demetrios.

– Aí está um animal magnífico.

Nick suspirou.

– Mais magnífico do que nunca. Está bem, envia-mo para a minha herdade de Greenwich.

– Vou fazer isso.

– Já se vão embora – murmurou Demetrios.

Porém enganou-se, os seus dois amigos não se foram embora, mas aproximaram-se deles.

Demetrios sentou-se imediatamente, despiu o casaco e colocou-o por cima dos ombros dela. Depois, levantou-se do sofá e colocou-se de maneira a que não pudessem ver a mulher que estava com ele.

A luz do gabinete acendeu-se.

– Vamos brindar com um cognac – declarou Rafe. – Ou se preferires… Demetrios!

– Demetrios! – exclamou Nick, fazendo eco da exclamação de Rafe. Depois, aclarou a garganta. – Oh, não sabia…

«Não, não sabe», pensou Sam, desejando que a terra a engolisse.

– Interrompemos alguma coisa?

Sam fechou os olhos como se ao não vê-los, eles também não a pudessem ver. E não podiam.

Demetrios não se mexera e continuava a tapá-la. Era como um muro protector.

– Querem sair um momento? – pediu Demetrios.

Ouviram-se uns passos e uma porta a fechar-se, depois Sam ouviu a voz de Demetrios.

– Sim, interromperam-me.

Mas disse-o como se fosse uma brincadeira e Sam cerrou os punhos.

– Lamento, Karas – murmurou Nick.

«Vão-se embora, vão-se embora!», desejou Sam.

Rafe aclarou a garganta.

– Não sabíamos que estavas… – voltou a aclarar a garganta. – Bom, agora compreendo porque é que não querias conhecer a irmã da minha mulher. Bom, tanto faz.

– Sim, tanto faz – repetiu Nick, rapidamente. – Até logo, Demetrios. Vamos, Rafe.

Sam conteve a respiração até ouvir que os passos se afastavam. As luzes apagaram-se. Ela levantou-se quando Demetrios entrou no gabinete.

– Kalóz mou – declarou Demetrios.

Sam bateu-lhe no peito com um punho.

– Não me voltes a dizer «kalóz mou»! E não me voltes a tocar!

– Ah, desculpa. Lamento que nos tenham interrompido, mas…

– Sim, não duvido.

Sam fitou-o com fúria. Ele estava a tentar acalmá-la, a tentar convencê-la a voltar a deitar-se no sofá, mas ela não estava disposta a isso. Como pudera fazer aquilo? Quase que fora para a cama com um desconhecido, um desconhecido que não a quisera conhecer. Não tinha sido isso que Rafe dissera, que Demetrios não queria conhecer a irmã da sua mulher?

O homem com quem estivera quase para ir para a cama não tinha querido conhecê-la porque ele não sabia quem ela era. Mas sentira-se humilhada e envergonhada… e aquele homem arrogante continuava a falar com ela.

– Cala-te – declarou Sam, passando por ele.

Tentou ir-se embora, mas ele interceptou-a com um braço.

– Não me ouviste?

– A culpa do que aconteceu é tua. Se fosses um cavalheiro…

– Estou a ver. Preferes acreditar que tu não tomaste parte nisto.

– Eu não me arrastei sozinha para este estábulo.

– Se não fosse um cavalheiro poderia discutir a questão de quem arrastou a quem. Mas estamos aqui porque tu não quiseste ir para a casa.

– Pois, porque eu, pelo menos, tenho uma boa educação e sentido de decência.

– Deve ser por isso que no miradouro me acossaste.

Aquele homem não só era arrogante, mas também insuportável. Sam pensou em dar-lhe uma bofetada, mas não valia a pena e dirigiu-se para a saída dos estábulos.

– Tens o meu casaco vestido – lembrou-lhe ele, numa voz fria. – Ou tens o costume de ficar com alguma lembrança?

Sam virou-se para ele e praguejou em egípcio.

Os olhos de Demetrios deitaram faíscas.

– O que foi que disseste?

Sam, com um sorriso radiante, replicou:

– Disse que espero que os teus descendentes comam carne podre e que tu percas todos os dentes e fiques careca aos trinta e cinco anos. Boa noite. Diria que foi um prazer conhecer-te, mas não é verdade.

– Tens razão, não é verdade.

– E, sobre o teu casaco… – Sam despiu-o e ofereceu-lho.

Demetrios olhou para o casaco e olhou para ela.

– Não! – gritou ele, mas já era demasiado tarde. O casaco estava no chão.

– Boa noite – repetiu Sam, antes de abrir a porta do estábulo.

Trabalho e prazer

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