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Capítulo 5

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Num momento, estou entre os restos queimados e destruídos do clã de ogres, cheio de dores e a lutar contra a onda de tonturas e parvoíces. A seguir, estou completamente saudável, numa Loja de alta tecnologia com demasiado amarelo. Levanto uma sobrancelha à escolha de cor. Pensava que seria tudo azul, mas cá está o amarelo, desde as paredes às cadeiras, ao balcão, onde um homem-lagarto amarelo nos espera.

— Estás grande! — grito assim que vejo o Ali. Em vez dos seus normais 30 cm, o Ali tem uns incríveis dois metros. Felizmente, ainda está com o seu fato laranja, o que, tenho de admitir, combina muito bem com o seu tom de pele acastanhado.

— Este é o meu tamanho real — refila o Ali, a apontar para mim. — Tu é que não consegues aguentar a minha “fabulosidade”.

— “Fabulosidade”? — o meu queixo quase cai com a escolha de palavras dele.

— Eu aborreço-me. O teu mundo tem muitas formas de entretenimento interessantes — diz o Ali desdenhosamente e encaminha-se para o lagarto que nos espera. — Malik, seu velho malandro! Tenho uma proposta para ti!

Olho para o homem-lagarto e para o meu Companheiro, quando este começa a tirar coisas do meu inventário, já a começar uma discussão sobre o preço. Antes ele do que eu, mas que raio devo fazer? Já agora, porque raio estou saudável?

— Talvez o mestre queira dar uma vista de olhos às nossas mercadorias? — sugere uma voz suave ao nível do meu cotovelo, o que me faz virar e tentar acertar-lhe. Vejo de relance quem falou, uma raposa em duas patas, antes de esta se desviar do meu golpe sem qualquer problema.

— Desculpe. Peço imensa desculpa. É só que... Apocalipse! — peço desculpa várias vezes.

— Ora essa, mestre, é completamente normal. A culpa é deste servo por o ter assustado — o sorriso da jovem raposa aumenta e esta faz um gesto para uma porta que eu ainda não tinha visto. — A mercadoria, mestre?

— Sim, suponho que posso... — começo a segui-lo. Afinal de contas, sou rico ou, pelo menos, acho que sou. — Já agora, eu estava ferido, mas agora sinto-me bem.

— Faz parte do processo de transferência. A política do Conselho Galáctico diz que todas as transações devem ser feitas por indivíduos com a Vida intacta. Será devolvido na mesma forma em que estava — explicou a raposa com facilidade, enquanto me guiava para a porta. A sala onde entramos é de um amarelo-claro, tão grande que não consigo ver o fundo. Lá dentro, a sala é ocupada por uma nave espacial flutuante, que me relembra aquela em que o Super-Homem veio à Terra, no filme clássico. À frente dela, está um único ecrã, a flutuar.

Regulus Fase VIII (200 000 créditos)

Nave espacial de apenas um passageiro, originalmente capaz de realizar viagens hiperespaciais. Vem equipada com um Laser de Ligação de 3.ª Geração e duas Docas de Lançamento de Ares. Mais...

Gostaria de comprar? (S/N)

A minha mão contorce-se inconscientemente e faz um movimento para cima. Uma nave para me tirar daqui para fora, como o Sistema sugeriu. Uma fuga do sangue e da loucura que é a minha vida agora, uma forma de me libertar do medo. É tudo aquilo que eu poderia querer. Uma ligeira mudança de postura chama-me a atenção para a raposa e os meus olhos semicerram-se. Há alguma coisa na atitude dele, algo nos seus olhos.

Filho da mãe. Está a tentar enganar-me. Mais uma vez, a raiva vem ao de cima e tenho de me esforçar para relaxar, para suprimir as minhas emoções. Rodo a cabeça para descontrair o pescoço e carrego no “não” decididamente. A raposa não diz nada, que é o melhor para ele. Depois de um breve momento, aparece uma lista gigante de produtos.

Os cantos da minha boca formam um sorriso antes de eu dizer, olhando para a raposa:

— Sê um lindo menino. Traz-me uma cadeira, café e qualquer chocolate que tenhas à mão. Vou demorar um bocado.

A raposa retira-se e eu começo a pesquisar. Está na altura de tornar isto mais acessível.

— Remover todos os artigos que custam mais de 200 000 créditos — a lista encolhe durante uns momentos, antes de se voltar a formar. Resmungo, não surpreendido. Vamos ver o que há...

— Mostrar apenas artigos específicos para humanos — desta vez, a lista desaparece quase completamente, sobrando apenas três artigos. Suponho que somos demasiado recentes para termos um monte de produtos específicos.

Tratamentos de Genoma Humano

Os tratamentos de genoma são adaptados a cada cliente. O objetivo de cada tratamento é reparar e otimizar o código genético base do cliente, removendo erros gerados pela idade e radiação. Melhorias opcionais no tratamento incluem a remoção de código genético que seja inferior ao ideal e a adição de genes das melhores práticas.

Custo Base: 10 000 créditos

Remoção de Genes: 2500 créditos

Introdução de Genes: 2500 créditos

— Isto não me vai deixar assexuado ou qualquer coisa estranha, pois não? —pergunto à raposa, que regressou, depois de ficar um pouco confuso com a palavra “ideal”. Afinal, a definição de ideal de uma raça alienígena pode incluir tornar-nos hermafroditas ou pôr-nos uma cauda.

— Não. O tratamento de genoma é destinado especificamente à humanidade, incluindo os problemas sociais da vossa raça — responde a raposa, de volta ao seu profissionalismo calmo. Resmungo e seguro a janela, puxando-a para o lado para a manter aberta. Vou comprar aquilo, definitivamente.

O Básico de Manipulação de Mana para Humanos

Utilizando tecnologia patenteada pelo Sistema, o conhecimento básico de manipulação de mana será descarregado diretamente na sua mente. Manipulação de Mana é um requisito para habilidades de magia básicas.

Custo: 5000 créditos

Interessante. Seguindo o instinto, faço uma comparação.

O Básico de Manipulação de Mana

Utilizando tecnologia patenteada pelo Sistema, o conhecimento básico de manipulação de Mana será descarregado diretamente na sua unidade de armazenamento mental. Manipulação de mana é um requisito para habilidades de magia básicas.

Custo: 1000 créditos

— Podes explicar? — viro-me para a raposa que me parece completamente descontraída com esta informação. Ela aponta primeiro para a opção mais barata.

— Esta é a opção criada pelo Sistema que pode ser adquirida por qualquer ser que faça parte do mesmo. Contudo, como foi desenvolvida para ser utilizada por todos os habitantes do Sistema, não há garantia da assimilação do conhecimento e, em casos extremos, pode causar danos. Em todos os casos, exceto nos mais extremos, apenas a informação mais básica é transmitida.

— A segunda opção foi desenvolvida especificamente por um dos nossos artesãos para garantir que ocorrerá a assimilação completa do conhecimento. Defendemos o produto a 100% e este tem sido particularmente bem-sucedido no seu mundo. Alguns indivíduos dotados têm sido capazes de obter um nível base de habilidades mais elevado ao comprarem este produto.

— Qual é a probabilidade de um humano normal obter a habilidade? — aponto para a habilidade do Sistema.

— 32%.

— E eu?

— 98%.

— Foi o que pensei — digo e deslizo a janela da habilidade do Sistema para esta se juntar à do tratamento de genoma. A Nível 7, a minha inteligência é muito superior à da média humana, apesar de nunca ter sido considerado burro. Volto para as janelas de compra para analisar o último artigo específico.

Guia do Thrasher para Sobreviver ao Apocalipse na Terra

Este guia implementa informações básicas sobre o Sistema, o apocalipse atual e planos futuros. Estão incluídas explicações de habilidades comuns, magia, tecnologia, pontos de segurança, a Loja e mais.

Custo: 50 créditos

Olho desconfiado para isto e crio uma segunda secção para os “talvez”. Tenho a sensação de que o Ali tem mais informações do que um guia de 50 créditos, mas não custa nada perguntar. A seguir, a minha classe:

— Lista de informação disponível sobre a Guarda de Honra de Erethran.

Aparece uma lista gigante a detalhar o treino, a história, os costumes, as táticas de batalha, o equipamento, a atual estrutura organizacional e mais da Guarda de Honra, a maioria dentro dos 20/50 créditos, por isso, compro tudo. Curiosamente, até há informações sobre missões secretas e escondidas disponíveis, mas evito comprar essas. Calculo que a Guarda fique furiosa comigo de qualquer maneira, não preciso que se armem em arrogantes só porque comprei informações internas ao Sistema.

Passo às habilidades Básicas. Observo a vasta variedade de habilidades por momentos e, depois, reduzo-as apenas a habilidades de combate, por agora. Estão lá as mais vulgares como Desarmado, Lâminas, Armas, Armas de Haste, Arco e Flecha, Espingardas, Pistolas e outras. Podia aprender a conduzir um tanque, se quisesse! Uma parte de mim ri-se da ideia, mas ponho-a de lado logo a seguir. Para começar, acho que não havia um único tanque em Yukon, nem antes do apocalipse. Agora, seria apenas uma carcaça de metal.

Não, é melhor focar-me naquilo de que preciso. Agarro nas habilidades de combate desarmado, adicionando-as ao monte “comprar” e, depois, adiciono as de espingardas e pistolas, juntamente com as de lâminas, ao monte “talvez”. Tenho de saber que tipo de armas vou comprar antes de decidir isto.

Puxo a seleção de habilidades de classe e estremeço. Até a habilidade de classe mais barata começa nas dezenas de milhares de créditos e não me parecem ser assim tão boas. Tenho mesmo de equilibrar o meu desejo de ter uma habilidade fixe com o facto de precisar de armas, transporte e habilidades. Ainda assim, destaco algumas e atiro-as para a coluna de “comprar”.

Faço um sorriso forçado, acabo o café e, depois, abano o copo vazio à raposa, enquanto abro as barras de chocolate. Pois... Uma pesquisa rápida revela uma série de opções de barras de chocolate e delicio-me, pegando numa pilha de chocolates suíços. Pronto, próximo! Ter uma arma seria fantástico, mas tenho de me lembrar de que preciso de dinheiro para uma armadura e um modo de transporte. São apenas mais ou menos 160 quilómetros até Whitehorse mas, a pé, demoraria umas quantas semanas. Isto sem contar com os vários monstros que devem aparecer pelo caminho.

É melhor descobrir primeiro os custos do transporte. A lista que surge faz-me retrair. Até a mota mais básica custa umas centenas de créditos e um automóvel é mais de 10 000 créditos, com requisitos de abastecimento de gasolina. Qualquer coisa mais avançada e os preços dão um salto ainda maior, mas, olhando de relance para os detalhes, percebo o motivo. Muitos dos veículos mais avançados abastecem-se diretamente do Mana recolhido. A armadura também deve ser cara. Na verdade, deve ser mais cara do que qualquer arma que compre, se a própria história da humanidade servir de exemplo.

Franzo a testa, chateado, a olhar para os veículos. Deve haver alguma maneira de fazer isto.

***

— Onde raio te meteste? É bom que não tenhas comprado nada! — O Ali dá um encontrão na porta, desesperado, à minha procura, finalmente lembrando-se de que não estava sozinho. Ele apressa-se a vir ter comigo e aponta-me um dedo chateado: —Distraí-me durante um segundo!

Reviro os olhos, com os pés no ar, e olho para as janelas que flutuam à minha frente, em toda a sua glória azul. Um pensamento e elas minimizam-se antes de o Ali as conseguir ler e puxo uma janela nova.

— Para com isso. Já arranjei algo melhor — aponto para a janela e ele olha para ela de forma acusadora.

Companheiro IA Classe Lambda de Sexta Geração

Resultado da combinação de uma classe de IA Delta e Épsilon, este Companheiro Classe Lambda de Sexta Geração ainda está na sua infância. Contudo, com o seu código base, espera-se que processe níveis significativos de dados e que consiga operar até três máquinas de classificação D ou uma máquina de classificação C.

Classificação: C

Requer: Hardware mínimo de classificação D para instalação

A ler furiosamente, os olhos do Ali arregalaram-se e ele diz logo a seguir: — Tu, tu... Tu ias substituir-me por um monte de código! — ele grita a última parte e a sua cara fica completamente vermelha. — Sua bola de carne ingrata, seu verme inútil comedor de carne e amante de ovelhas...

Ele para de falar quando eu me dobro de tanto rir. Primeiro, tento controlar-me, mas quando ele para de refilar, caio da cadeira e continuo a rir. Sempre que penso que tenho as emoções controladas, volto a olhar para a cara de sofrimento do Ali e volto a desmanchar-me a rir. Até a raposa está ligeiramente divertida, pela forma como a sua cauda se mexe.

Não sei quanto tempo demoro a controlar as emoções, mas é um bom bocado. Quando o faço, aponto um dedo ao Ali:

— Que belo Companheiro me saíste, estes aldrabões quase me engaram.

O Ali semicerra os olhos e suspira, invocando a nave espacial. Quando olha para ela, a janela pisca conforme ele lê mais detalhes e resmunga:

— Sim, é uma porcaria. Está três gerações desatualizada, os mísseis não estão incluídos, não tem armadura e trocaram o disco espacial original por um monte de porcaria que pode ou não levar-te para o hiperespaço e, certamente, terias de a reabastecer a cada salto. Eles nem sequer a abasteceram.

A raposa está quieta, com um sorriso que não convence ninguém, enquanto falamos. Estes tipos não têm vergonha. É por isso que tenho todo o gosto em deixar o Ali regatear e deixá-los na penúria.

— Muito bem, já chega de brincadeiras. Como te saíste? — faço um gesto para o sítio de onde ele veio.

—Vim buscar-te — murmura o Ali, antes de me responder. — Bastante bem. A bolsa da salamandra foi a primeira a vir da Terra, por isso, recebeste um bónus e deram-nos 23 187 créditos. O couro de ogre foi bastante barato, exceto o das crianças. Essas são especiais por serem mais moles.

Ele cala-se quando eu levanto uma mão, não preciso da lista detalhada dos seus feitos. Ele resmunga durante um bocado sobre crianças ingratas, antes de responder:

— 38 632 créditos por tudo.

— Isso dá 250 632 créditos, certo? E, corrige-me se estiver errado, mas podemos comprar e aplicá-los conforme precisemos, certo?

— Sim…

— Boa. Eis o que estou a pensar — gesticulo para as janelas acabadas de abrir, preparando-me para discutir com o Espírito.

***

— Podes parar a qualquer altura, jeitoso — diz o Ali, enquanto olho para o meu reflexo. Faço-lhe um sorriso maldoso, toco no capacete novamente e faço-o voltar a ser um aro de metal à volta do meu pescoço. O fato de apenas uma peça que tenho vestido é todo preto e não deixa nada à imaginação. Mas não faz mal, porque também é uma armadura.

Para variar, sou mesmo jeitoso. O tratamento de genoma parece ter-me feito, entre outras coisas, mais bonito. O meu queixo está mais definido, os meus traços mais simétricos e alongados, misturando as minhas origens chinesas com outras raças. Pareço mais o Keanu Reeves do que eu mesmo, em alguns aspetos. Mantive algumas coisas, como o meu cabelo e olhos pretos, mas houve pequenas mudanças adicionais pelo meu corpo todo, incluindo uns dez centímetros extra na minha altura e uma quantidade significante de músculo. Linhas que se começaram a notar nos últimos anos, pequenas o suficiente para eu ser o único a reparar, desapareceram, o que me rejuvenesceu uma década e me fez voltar a parecer ter 20 e poucos anos. As modificações faciais são particularmente desconcertantes, mas, felizmente, pareço ter-me adaptado relativamente bem, subconscientemente, a todas as alterações. Creio que o treino de resistência mental incluído na minha classe me está a ajudar. Isso ou o Sistema está a alterar a minha mente para eu poder seguir com a minha vida.

Surpreendentemente, além das alterações à superfície, não sinto uma grande diferença no desempenho do meu corpo. Quando o mencionei ao Ali, ele explicou que é um efeito secundário do meu nível e da minha classe. Como já atingi o pico da genética humana há muito tempo, o tratamento de genoma só pode fazer pequenos ajustes adicionais. Algo sobre criar fibras musculares mais densas, um nível mais elevado de glóbulos vermelhos, um aumento da matéria cinzenta, entre outros. Desliguei durante grande parte da explicação.

Basicamente, foquei-me nas modificações a nível psicológico. Como parte do tratamento de genoma, parece que era necessário um fluxo de químicos que me deixou mais estável, com as emoções um pouco mais sob controlo. Ainda há restos de raiva e culpa por ter sobrevivido, mas, por agora, estou outra vez funcional, sem o profundo desequilíbrio químico neurológico que tinha. Ao ver que a minha resistência mental estava a lidar com as minhas alterações físicas exteriores com compostura, questiono-me o quão perto estaria de perder a cabeça, se não tivesse a minha classe. Para um antigo funcionário de escritório, já me tinha escondido, corrido e matado bastante, durante a última semana.

Não interessa, ainda aqui estou e os “se” são infinitos. As coisas são como são. Ainda assim, estou curioso por ver o que mudou no meu quadro de estatísticas.

Quadro de Estatísticas
Nome John Lee Classe Guarda de Honra de Erethran
Raça Humano (Masculino) Nível 7
Títulos
Ruína dos Monstros
Vida 390 Resistência 390
Mana 360
Estado
Normal
Atributos
Força 27 (50) Agilidade 38 (70)
Constituição 39 (75) Perceção 14
Inteligência 36 (60) Determinação 36 (60)
Carisma 14 Sorte 10
Habilidades
Furtivo 6 Sobrevivência na Natureza 3
Combate Desarmado 2 Proficiência com Facas 5
Atletismo 5 Observação 5
Cozinhar 1 Perceção de Perigo 4
Improviso 2 Explosivos 1
Habilidades de Classe
Nenhuma (4 Bloqueadas)
Feitiços
Nenhum
Regalias
Espírito Companheiro Nível 3 Prodígio (Furtivo) N/A

Atributos não atribuídos:

12 Pontos de estatística

Gostarias de atribuir estes atributos? (S/N)

— A tua mãe não te disse para não lhe mexeres tanto? — protesta o Ali e eu volto ao presente, parando de coçar a cabeça. Nem sequer fiquei com uma cicatriz. Mas, se me concentrar, consigo sentir a ligação neurológica instalada na minha mente a ativar-se. Era quase capaz de jurar que o sinto no cérebro, mas sei que isso é puramente psicossomático. Volto a invocar a janela com os detalhes da ligação.

Ligação Neurológica Nível IV

A ligação neurológica consegue suportar até cinco conexões.

Conexões atuais: Veículo Blindado Pessoal Omnitron III Categoria II

Software Instalado: Firewall Rich’lki Categoria IV, Controlador Omnitron III Categoria IV

Faço a janela desaparecer e aproximo-me do meu Veículo Blindado Pessoal (VBP), tocando no guiador. O VBP parece uma mota de estrada com esteroides na sua configuração, completamente preta com placas blindadas revestidas e elegantes. Mas isso não é tudo. Com apenas um pensamento, o VBP pode desmontar-se e unir-se a mim, funcionando como uma armadura. Isso mesmo, tenho uma mota mecha. Quase compensa todas as porcarias estúpidas e de loucos pelas quais passei. Quase.

Não consigo evitar voltar a invocar os detalhes da mecha, só para me vangloriar um bocadinho.

Veículo Blindado Pessoal Omnitron III Categoria II (Sabre)

Núcleo: Motor Mana Omnitron Categoria II

Processador: Processador Categoria D com Núcleo Xylik

Classificação da Armadura: Nível IV

Pontos Fortes: 4 (1 utilizado em integrador do Manipulador de Física Quântica)

Pontos Fracos: 3 (1 utilizado em ligação neurológica)

Requer: Ligação neurológica para configuração avançada

Capacidade da Bateria: 120/120

Atributos Extra: + 20 Força; + 7 Agilidade; + 10 Perceção

O Ali chegou a ser útil. Trabalhou comigo para ajustarmos a minha escolha inicial da versão Ares deste produto para o Omnitron. O Omnitron tem mais armamento e é blindado, mas tem um motor a Mana mais pequeno. Portanto, seguindo a sugestão do Ali, sacrificámos o armamento instalado e a armadura mais eficaz por um motor a Mana melhorado. Como resultado, ficou apenas a base do produto, sem nenhum apetrecho, mas este pode ser bastante melhorado e tem uma recarga muito mais rápida.

Para diminuir os custos, também escolhemos uma armadura ablativa. Segundo o funcionamento das armaduras neste novo mundo, podia escolher entre uma armadura super resistente que partiria se fosse atingida ou uma armadura ablativa que vai ficando amolgada, mas que pode ser usada mesmo depois de sofrer danos. Claro que a armadura de Nível IV continuava a ser extremamente forte para os padrões pré-Terra. Aliás, a maioria dos monstros que enfrentei diretamente mal lhe conseguiriam fazer um arranhão. Obviamente, não estou a contar com a salamandra, pois nunca lutei contra ela, apenas corri bastante.

A única melhoria que comprámos para a mota foi o integrador para o MFQ, que, por si só, tinha custado um quarto do preço da Sabre. Sim, dei-lhe um nome. Julguem-me. Diria que fiquei surpreendido com o quão dispendiosa a melhoria foi, mas, tendo em conta que o MFQ foi ridiculamente útil, estava disposto a pagar.

No entanto, ficámos com fundos bastante reduzidos para a minha arma pessoal. Acabámos por nos contentar com duas armas diferentes. A primeira estava presa à Sabre através de um coldre acessível, com algumas modificações pequenas. À primeira vista, parecia uma espingarda de caça semiautomática normal, com uma coronha de madeira falsa, apenas tinha uma coronha um pouco mais volumosa do que o normal. Claro que não era bem assim:

Espingarda Ferlix de Raio Tipo II (Modificada)

Danos Base: 38

Capacidade da Bateria: 21/21

Velocidade de Recarga: 1 por hora por UMG (atualmente 12)

Tive de chatear o Ali para que me explicasse a velocidade de recarga e ele acabou por mencionar demasiados detalhes, até usou gráficos e tabelas com mapas do sistema solar e da galáxia. Verdade seja dita, desliguei passados cinco minutos. Resume-se tudo a isto: o Conselho Galáctico instituiu uma série de medidas tendo em conta a “base” de Mana disponível no ambiente que rodeia a capital. Este é uma única Unidade de Mana Galáctico ou UMG. Todos os motores a Mana eram classificados com base na sua capacidade de absorver e carregar uma bateria de Mana com apenas uma UMG. Contudo, nos Mundos Masmorra e em zonas com níveis mais elevados, a velocidade de recarga aumenta, uma vez que há mais UMG. As baterias de Mana podem ser recarregadas diretamente, mas é preciso ter um conjunto de competências especializadas, pois uma bateria de Mana mal recarregada pode explodir.

A minha arma de curto alcance deu azo a um aceso debate. O Ali queria que eu comprasse uma pistola (ele é maluco por armas de fogo), mas eu queria uma espada. Ele só cedeu quando salientei que precisava de uma arma que não ficasse sem recargas a meio de um combate, caso contrário, seria completamente dizimado. Ele ainda está amuado por ter perdido a discussão.

Comecei com uma simples espada de mão e meia e vi-a modificar-se assim que a tornei a minha arma pessoal. De início, tinha um padrão luminoso, mais visível na lâmina, com um embutido verde no punho e uma guarda brilhante. Era simples e bonita para uma arma, mas escolhê-la como arma pessoal eliminou todos os ornamentos. Agora, a arma está mais polida, sem qualquer traço de ornamentação. A única beleza que tem está na simplicidade do seu propósito: é uma arma criada para matar e matar bem.

Espada Nível II (Arma Pessoal Vinculada à Alma de um Guarda de Honra de Erethran)

Danos Base: 48

Durabilidade: N/A (Arma Pessoal)

Habilidades Especiais: Nenhuma

A lâmina ficou ainda mais afiada e apesar de ainda se poder partir, só tinha de a largar e voltar a invocá-la para esta reaparecer no seu estado original.

Com os preparativos terminados e o conhecimento básico absorvido, só restavam as habilidades. Finalmente, afastei-me e acenei à raposa, pronta para esta começar. Assim que acenei, senti a diferença. Isto era ainda mais intenso do que as compras de conhecimento anteriores, como se o mundo tivesse parado e recomeçado de repente. Janelas começaram a surgir pouco depois.

Habilidade de Combate Desarmado Ganha (Nível 6)

Habilidade de Mestria de Lâminas Ganha (Nível 6)

Habilidade de Combate com VBP Ganha (Nível 4)

Habilidade de Espingarda de Energia Ganha (Nível 3)

Habilidade de Meditação Ganha (Nível 5)

Habilidade de Manipulação de Mana Ganha (Nível 1)

Feitiço de Regeneração Básica Ganho

Assim que acabo de fechar as janelas, aparece outra notificação.

Atualização da Demanda do Sistema

A jornada para a compreensão das origens do Sistema e do Mana tem muitos pontos de partida, mas todas as ruas nos aproximam da compreensão do Mana. Deste o teu primeiro passo para a compreensão do Sistema.

Requisito: Aprender Manipulação de Mana

Recompensa: 500 XP

— Hum — murmuro e faço desaparecer a atualização da demanda. Com tudo tratado e os meus fundos na penúria, dei por mim de volta ao mundo real.

O cheiro a carne queimada e entranhas regressa, juntamente com a dor. Como já não estou ao cuidado do Sistema, os danos que tinha recebido voltaram de uma vez. Saber o que me espera não impede que caia de joelhos com dores, a cabeça a andar à roda. Só com muito esforço invoco o Feitiço de Regeneração Básica, que cura os danos à medida que o repito. O Ali fica em silêncio, à espera que me torne funcional, antes de dizer:

— Muito bem, vamos fazer-nos à estrada!

— Não — abano a cabeça, agarrado aos ombros, enquanto me aproximo da minha mota. Sento-me nela, aciono a mudança na minha mente e sinto a armadura a trepar-me e a unir-se a mim.

— Vamos atacar alguma coisa?

— Não exatamente — encaminho-me para o centro da cidade, à procura de possíveis ameaças.

— Para com isso! Não vamos brincar às adivinhas. Que raio estás a fazer, miúdo? — retorque o Ali, a voar atrás de mim.

— Estou a ser humano.

***

Disparo contra o último coiote que apareceu, para servir de jantar e faço o saque antes de me voltar para a pira que fiz. Devia ter feito algo em relação aos cadáveres dos monstros, mas não queria saber deles. Os cidadãos da cidade, por outro lado, mereciam melhor. Mesmo com a armadura de energia, passei horas a cortar e arrastar, principalmente porque tive de parar de vez em quando para matar alguns monstros que vagueavam por ali.

Não tenho palavras quando termino, apesar de ter tentado pensar em alguma coisa nas últimas. No final, tudo o que tenho a dizer é:

— Lamento.

Quando me viro, deixando a Sabre voltar à forma de mota, oiço uma voz rouca atrás de mim.

Deus jazia morto no Céu;

Anjos cantam o hino do fim;

Ventos roxos lamentaram,

As suas asas a pingar

Com sangue

Que caiu sobre a terra.

Isso, uma coisa que geme,

Tornou-se preta e enterrou-se.

Depois, das cavernas longínquas

Dos pecados mortos

Vieram monstros, lívidos de desejo.

Eles lutaram,

Disputaram o mundo,

Um pedaço.

Mas de toda a tristeza isto era triste:

Os braços de uma mulher tentaram proteger

A cabeça de um homem adormecido

Das mandíbulas da besta final. 1

Viro-me e olho para o Ali, que encolhe os ombros.

— Parecia-me apropriado.

Sim, parecia.

Demanda Oculta Completada!

Enterraste os corpos dos que pereceram e vingaste as suas mortes, contra todas probabilidades. O Sistema pode ser insensível, mas tu não és.

Recompensa: 5000 XP

Título Obtido: Redentor dos Mortos.

A reputação muda com determinadas fações.

— Vai-te lixar, Sistema! — sussurro e faço a notificação desaparecer. Está na altura de ir para casa.

A Vida No Norte

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