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Capítulo 1

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Ellie Frazier não se importava de esperar. Sobre a sua cabeça brilhava um céu azul sem uma única nuvem e diante dela estendia-se o imenso mar azul. Ali deitada, com o sol aquecendo os seus braços e pernas, deixou-se envolver pelo ambiente bucólico do clube náutico Marina Piccola, com o seu impressionante desfile de iates, enquanto esperava por Paul.

Ficou alerta com os olhares de admiração de vários homens, mas não se dignou a responder a nenhum deles. Naquele momento não se sentia com vontade para uma aventura banal e muito menos para manter uma nova relação como as que tinha mantido ao longo dos seus vinte e seis anos. A verdade era, pensou, que os homens se sentiam atraídos por ela como os insectos pela luz. O seu cabelo ruivo agora coberto por um largo chapéu de palha chamava a atenção, assim como os enormes olhos cinzentos bordados por largas pestanas e os seus lábios carnudos. A isso teria que acrescentar a sua esbelta figura de curvas marcadas. No entanto, tudo aquilo era pura casualidade, parte de sua herança genética, o legado dos seus antepassados escandinavos, por isso nunca o tinha considerado um mérito próprio.

De facto, em certas ocasiões pensava que a mãe natureza tinha-lhe feito um fraco favor ao torná-la bonita. Aquilo ficou bem claro quando descobriu que o homem que ela pensava que a amava não tinha coração. Nunca a tinha amado de verdade. De facto, durante o curto espaço de tempo que tinham sido um casal, parecia que a palavra «fidelidade» não figurava no vocabulário dele. Depois de tentar compreendê-lo, finalmente Ellie tinha-se apercebido que não gostava dele e também não o amava, por isso terminou aquela relação unilateralmente. Ele era a razão pela qual tinha decidido boicotar a reunião familiar na casa de campo em Capri naquele ano. A última coisa que queria era ter que suportar a sua companhia durante várias semanas. Por desgraça, no entanto, Luke tinha-se comprometido e queria a sua presença.

Luke Thornton era o homem por quem tinha desperdiçado tanto tempo e energias. E pensar que na sua adolescência tinha-o idolatrado! Como pôde ter estado tão cega? Várias pessoas tentaram fazer-lhe ver que não era o homem adequado para ela, mas Ellie tinha-o colocado num pedestal.

Luke era o irmão do meio de três. Paul com trinta anos era o mais jovem, enquanto que o mais velho, de trinta e seis, era Jack. A mãe de Ellie tinha-se casado com o seu pai quando ela tinha dez anos. Desde menina que admirava Luke como um herói e na adolescência aquilo tinha-se convertido numa paixão monumental. Tinha chegado ao extremo de fazer um curso de modelo só porque ele era fotógrafo. O seu terno coração de adolescente tinha suspirado por ele, tinha-o amado incondicionalmente, mas as coisas já não eram assim. Por sorte, a ferida não tinha sido profunda, a prova de que no fundo não era amor de verdade, mas tinha sido um duro golpe para o seu orgulho. A lição tinha sido dura, mas valiosa.

O seu romance tinha durado apenas uns meses e tinha sido mantido em segredo, nas costas da família. No princípio ela pensou que não a queria partilhar com ninguém e aquilo tinha acrescentado um pouco de emoção à aventura, mas mais à frente, tinha descoberto que os seus motivos eram outros. Luke gostava de fazer coisas que a família não aprovava e, evidentemente, se soubessem teriam desaprovado a sua relação com ela. Embora a ideia de permitir brincar com os seus sentimentos e sair impune ferisse o seu amor-próprio, Ellie não tinha a intenção de revelar à sua família o que aconteceu entre eles. Não queria que ninguém soubesse a estúpida que tinha sido.

Ficava magoada só de pensar no seu comportamento infantil. Luke comportava-se como se ela nem sequer existisse, mas não se importava e continuava a amá-lo. E, apesar de na universidade ter conhecido vários rapazes e de ter saído com alguns, chegando mesmo a ter duas relações mais ou menos sérias, em segredo esperava ainda por Luke, que desfrutava da sua meteórica carreira.

Sem abandonar a esperança de que um dia repararia nela, Ellie, aproveitando a sua destreza com a agulha, converteu-se em restauradora de tapetes, um trabalho que era o seu orgulho. Luke mal visitava a família, só os via unicamente um par de vezes por ano, mas aquilo tinha chegado para manter viva a chama no interior de Ellie. Então, no Natal, os seus caminhos cruzaram-se numa festa benéfica em Londres e os seus sonhos tinham-se tornado realidade, finalmente.

Ao olhar para ele, reparou que finalmente a via como uma mulher, não como a sua irmã mais nova. Quando utilizou as suas armas de sedução, ela rendeu-se a seus pés. Converteram-se em amantes. Luke tinha-lhe dito que sempre a tinha amado, mas que tinha esperado pacientemente que crescesse. Ellie sentiu que estava no paraíso. Somente mais tarde compreendeu que ele tinha planeado aquela campanha cuidadosamente e que tinha escolhido o momento exacto.

No entanto, apesar de desde muito cedo ter comprovado que não era o que tinha esperado, tiveram que passar dois meses de infidelidades para que abrisse os olhos. Apenas a usava, jamais a tinha amado. Ela havia sido unicamente uma base segura no meio de muitas outras mulheres.

Nesse momento, Ellie tinha reconhecido, por fim, que não o amava, que apenas tinha sido uma ilusão. Foi como uma revelação, aperceber-se que não se tinha apaixonado por aquele homem. Na realidade, tinha sido o seu amor-próprio que tinha exigido que pusesse fim à relação. Já não era uma adolescente, era uma mulher que tinha tirado os óculos cor-de-rosa que a enganavam.

Quando disse a Luke que tudo tinha terminado, ele sorriu e disse-lhe que voltaria para ele porque lhe pertencia e os dois sabiam isso. Ela respondeu que não era o brinquedo de ninguém. Ele tinha ficado furioso. Não estava acostumado a que as mulheres o deixassem, era ele quem as deixavas. Desprezando-o mais que nunca, Ellie tinha-se afastado dele sem olhar para trás. E, a verdade é que, seis meses depois, não estava arrependida. Deixar Luke tinha sido a decisão mais acertada da sua vida.

Levantou a mão para agarrar a medalha de esmeralda que pendia no seu pescoço e acariciou-a como se fosse um talismã. Não ia para nenhum sítio sem ela. Tinha pertencido à sua avó e era de supor que traria sorte no amor a quem a usasse, mas, até à data, tinha falhado. Começava a duvidar que tivesse algum poder.

A notícia do compromisso de Luke deixara-a surpreendida. O Luke que ela tinha conhecido amava demasiado a liberdade para se prender a uma única mulher. Claro que, às vezes, aconteciam coisas estranhas, pensou. Talvez se apaixonasse a sério. Fosse qual fosse a razão, tinha que mudar os seus planos por culpa dele. Sabia que se não aparecesse, Luke pensaria que ainda sentia algo por ele e que estava magoada. Além disso, a família quereria saber por que não tinha comparecido a uma ocasião tão importante, por isso na noite anterior tinha telefonado para a casa de campo com a esperança que a sua mãe respondesse ao telefonema.

No entanto, Paul era o único que estava na casa, o que era preferível em vez de ser Jack a atender o telefonema. Ellie chamava a Jack «a besta negra», porque estava sempre a atormentá-la e a gozar com a sua paixão de adolescente por Luke. Enfim, disse afastando-o da sua mente, Paul tinha ficado contente ao saber que ia ter com eles e tinha prometido que a ia buscar. Chegava um pouco tarde, disse Ellie olhando para o seu relógio, mas não era de estranhar. Paul era um perito em vulcões e, sem dúvida, estaria diante do seu computador recolhendo dados e tinha-se esquecido totalmente dela. Ellie sorriu com malícia.

Não se importava de esperar. Colocou-se cómoda e passeou o olhar pelo porto. Durante as férias escolares iam para ali todos os anos e sempre tinha gostado daquele lugar.

De repente, o ruído surdo de um motor irrompeu na calma do lugar. Ellie virou a cabeça. Um Ferrari preto estava a estacionar na baía. Os olhos da rapariga abriram-se de par em par ao ver sair o seu dono; um homem de cabelo escuro, tirou os óculos de sol e atirou-os descuidadamente sobre o tablier. Era o tipo de gesto que indicava riqueza e uma exagerada confiança em si mesmo, algo que a maioria dos homens ansiava, mas poucos chegavam a conseguir. Claro que, naquele homem, parecia algo natural, o que resultava tremendamente sedutor. Curiosa, Ellie levantou-se, ficando sentada para o observar melhor, mas estava demasiado longe para o ver bem, sobretudo com a bruma levantada à distância pelo calor do sol.

Algo na sua postura, com as mãos nas ancas, olhando em todas as direcções parecia procurar algo ou alguém. Ficou com uma estranha sensação no estômago. Talvez fosse a forma como as calças ficavam ajustadas às pernas, enaltecendo os músculos, ou a camisa azul de seda que trazia, com as mangas enroladas e os primeiros botões desabotoados.

– Diabo! – exclamou em voz baixa. Indiscutivelmente, era o expoente perfeito da fisiologia masculina. Era a primeira vez que um homem, além de Luke, despertava nela tal interesse. Tinha pensado que não voltaria a sentir-se atraída por mais ninguém, mas era como se a sua sensualidade, à semelhança dos vulcões de Paul, não estivesse morta, mas sim adormecida. Foi como se uma nuvem negra se afastasse e deixasse passar a luz do sol no seu interior.

O homem, ignorando que estava a ser observado, virou-se ao ouvir que alguém o chamava, dirigiu-se a um edifício próximo e desapareceu no seu interior. Ellie voltou a recostar-se com um sorriso nos lábios. Era estranho como tinha demorado tanto em voltar a reagir daquele modo perante um homem. Devia ter a verdadeira essência da masculinidade para ter acelerado o ritmo do seu coração. Tinha aparecido no momento exacto, quando tinha totalmente a certeza que Luke já não significava nada para ela. Era uma sensação fantástica. A sua resposta tinha sido instantânea, mas a sensação de formigueiro ainda permanecia no seu corpo.

Ellie não recordava ter ficado tão atraída por alguém em toda a sua vida, nem sequer por Luke. Abanou a cabeça surpreendida. Um olhar para aquela pessoa e todo o seu corpo tinha ficado em estado de alerta. Sim, os instintos sobreviviam à civilização.

Nesse preciso momento, a causa da aceleração do ritmo cardíaco saía do edifício e, despedindo-se com um aceno de mão e com sorrisos para quem estava dentro do edifício, começou a andar em direcção a ela. Fascinada e intrigada, Ellie admirou-o. A verdade é que, mesmo que quisesse, não conseguia afastar o olhar. A sua forma felina de caminhar atraía-a. Parecia um enorme leopardo. Nunca tinha visto alguém com tanto magnetismo, nem sequer Luke. Quem seria aquele homem?

À medida que o homem se aproximava, conseguiu vê-lo com mais clareza e a incredulidade apoderou-se dela. Conhecia o rosto dele. A barba no queixo indicava a força do seu carácter e havia um certo humor nos seus olhos e nos seus lábios, mas, durante anos, a única coisa que tinham mostrado era brincadeira.

Jack Thornton? Não, o destino não podia ser tão cruel. Tinha-se sentido irresistivelmente atraída por… ele? Seguramente cedo acordaria para a realidade e iria aperceber-se de que tudo não passara de um pesadelo. No entanto, estivesse acordada ou a dormir, não conseguiu despegar os olhos dele até que o ruído de uma motocicleta, arrancando em algum lugar, assustou-a e rompeu o feitiço. Pestanejou e voltou a focar o olhar no homem, mas não estava a sonhar.

Provavelmente, não a tinha apanhado a olhar para ele, uma vez que a pala do chapéu escondia os seus olhos, mas de todas a formas baixou o olhar. Os pensamentos giravam na sua mente como um tornado. Aquilo não podia estar a acontecer com ela, era impossível. A última vez que tinha visto Jack, no Natal, não tinha acontecido nada de especial. Ela ainda estava presa pelo que pensava ser amor pelo seu irmão Luke. Por que é que tinha reagido assim?

Fosse qual fosse a causa, o resultado era terrível. Por sorte trazia um chapéu para poder ocultar o rosto, porque tinha-o devorado literalmente com o olhar. Por amor de Deus! Se a tivesse apanhado não poderia suportar a vergonha. Aquele deslize tinha que permanecer em segredo a qualquer preço. Ele sempre a deixara furiosa. A sensação que tinha sentido era totalmente descabida, não ia permitir que tudo voltasse a acontecer. Concentrou-se em dominar os seus instintos.

Observando entre as pestanas, apercebeu-se que Jack tinha parado a uma curta distância dela. O seu coração deu um salto. Estivesse ou não preparada para o enfrentar, não tinha outro remédio. Colocando uma expressão de frieza, levantou a cabeça e olhou para ele com desprezo.

– Oh, és tu – disse, tentando manifestar desagrado nas suas palavras. No entanto, ao encontrar-se com os olhos dele, de um azul intenso, teve que admitir para si que eram muito bonitos. Eram o género de olhos que convidavam qualquer mulher a perder-se.

– Também fico contente por te ver – respondeu Jack Thornton, arrastando as palavras. Percorreu o seu corpo com o olhar, de cima a baixo. Nunca o imaginava a fazer algo semelhante e ficou surpreendida ao comprovar os calores que atormentavam o seu corpo. Alarmado pela intensidade das suas reacções, o coração começou a bater com força. – Por que é que estás tão desconsolada? Esperavas outra pessoa? Sinto decepcionar-te, mas Luke está demasiado ocupado com a sua noiva para vir atrás de ti.

Aquilo tinha sido um golpe baixo, mas não se deixou afectar. A verdade é que Luke era a última pessoa que queria ver.

– Não estava à espera de Luke. Paul disse que vinha buscar-me. Por que é que vieste tu? Onde está Paul? – replicou com a voz gélida. Jack pensou erradamente que o seu comentário a afectara e sorriu com malícia.

– Está à espera de uma mensagem importante e pediu-me que viesse. Eu não tinha nada melhor para fazer, por isso aceitei – disse.

Nada melhor para fazer… Que agradável! Ellie negou-se a seguir o jogo.

– Demoraste muito a chegar – queixou-se, perguntando-se como é que três irmãos podiam ser tão diferentes. Luke, apesar de não ser sincero nos seus afectos, era encantador; Paul era impossível não simpatizar com ele; mas aquele homem… Dito de uma forma educada devia ser feito com um molde distinto. Os fascinantes olhos azuis de Jack brilhavam de forma provocatória.

– Não precisas de falar assim comigo, Eleanora, não me impressionam os teus caprichos. Não funcionaram comigo quando eras uma menina e também não funcionam agora.

Ellie rangeu os dentes com frustração. Chamava-se Eleanora porque era o nome da sua avó e Jack sabia que detestava esse nome. Tinha-o feito para a irritar. Ellie inspirou profundamente e tentou não se deixar levar pelo enfado.

– Eu não sou caprichosa, por muito que me provoquem – foi a sua resposta. Jack sorriu.

– Humm…! Tens uma memória muito selectiva. Algo típico nas mulheres. Podia recitar-te um por um todos os caprichos que tiveste desde que te conheço – assegurou. De certeza que podia, pensou Ellie. Parecia desfrutar recordando cada detalhe horrível sobre ela.

– E tu? Por que é que mudas de tema? Ainda não te desculpaste por me teres feito esperar mais de uma hora – afirmou a jovem. Para sua conveniência, tinha esquecido que tinha gostado de estar ali e que não tinha pressa.

– Por desgraça, Paul esqueceu-se de nos dizer que vinhas. Só se lembrou de me dizer há vinte minutos. Vim infringindo o limite de velocidade permitido, para não te preocupares, mas… Com o que me encontro ao chegar? Deitada sedutoramente sobre o molhe, com pouca roupa – apontou ele. Ellie olhou para ele irritada. Seria possível? Depois de passar apenas cinco minutos com ele já recordava por que é que o odiava tanto.

– O que dizes? Trago mais roupa que algumas das mulheres que estão por aqui – respondeu. Não havia nenhuma mulher a fazer topless, mas os biquínis de algumas eram certamente minúsculos. Ela, em contrapartida, trazia uns calções curtos, muito decentes, e uma camisa às riscas. Não podia estar mais recatada. Os olhos de Jack voltaram a percorrer o seu corpo e um sorriso irónico desenhou-se nos seus lábios.

– Pensei que te tinhas vestido assim para Luke. Já tentaste tudo, por isso é apenas uma questão de tempo até que recorras ao sexo – acusou-a. Ellie não pôde evitar a vergonha.

– Eu nunca faria isso! – protestou ofendida. Não gostava que Jack pensasse que ainda andava atrás de Luke e não queria que soubesse que o seu romance com ele tinha acabado há muito tempo. De facto, Jack, à semelhança dos restantes, nem sequer sabia que tinha começado. Além disso, não gostaria de saber a verdade, por isso não podia permitir que soubesse. O olhar dele suavizou-se um pouco, mas não o afastou dos olhos dela.

– A sério?

– Claro que não! – insistiu ela, incomodada. A verdade era que, na adolescência, tinha fantasiado com aquela ideia, mas nunca se tinha atrevido a fazê-lo. Não fazia parte da sua natureza rebaixar-se desse modo para conquistar um homem. Por alguma razão, queria que Jack ficasse com as coisas bem claras. Contudo, o seu irmão abanou a cabeça, incrédulo.

– Fico contente por ouvir isso, embora não saiba se devo acreditar em ti. Então, tens outra carta na manga?

Aquela visita não ia ser nada fácil, pensou Ellie. Se permitisse que todos continuassem a pensar que ainda estava apaixonada por Luke, tinha que ter cuidado para não ser apanhada na teia que ela própria tinha tecido, uma teia que já estava demasiado enredada. Tinha que encontrar uma forma de lhes mostrar que já não tinha nenhum interesse nele, mas como ia fazê-lo sem explicar o porquê? Ellie lançou um olhar fulminante sobre Jack.

– Não sei do que falas, não tenho nenhum plano.

– Vamos, vamos… Não negarás que vieste a correr assim que soubeste que Luke estava comprometido? – interrogou Jack, com um tom de voz desagradável. – Não querias fazer com que terminassem tudo?

Por que é que a atormentava daquele modo? Já não queria saber de Luke. O que gostaria de fazer era borrar da mente de todos que alguma vez tinha sido tão estúpida ao ponto de se apaixonar por ele.

– Eu jamais faria isso – negou com veemência.

– Queres dizer que o farias se pudesses, mas não sabes como? – replicou, mordaz. O comentário fez com que Ellie desejasse chorar.

– Por que é que és tão desagradável comigo? – acusou-o com a voz afogada. Jack suspirou.

– Porque és tonta, Ellie, perseguindo o que nunca poderá ser teu – respondeu com uma amabilidade inesperada. Ela sentiu um nó na garganta. Nesse momento, levantou-se uma ligeira brisa, levando o seu chapéu antes que ela pudesse segurá-lo.

– Oh, não! – disse, tentando apanhá-lo antes que acabasse no mar. Não conseguiu, mas Jack estendeu o braço e agarrou-o justamente à beira do molhe, salvando-o de ser sepultado por baixo da imensa massa de água. Divertido, Jack examinou o chapéu.

– Vês, Ellie? És tonta, deverias tê-lo deixado – disse muito sério, entregando-o.

– Porquê? Adoro este chapéu – replicou ela, colocando-o e segurando-o firmemente para evitar que voltasse a voar.

– Claro, foi num presente de Luke – disse ele secamente. Ellie estremeceu. Tinha-se esquecido. Há algum tempo, tinha sido um tesouro para ela. Levantou o queixo para o ver, lamentando que tivesse tão boa memória.

– E se assim for? – perguntou. Jack olhou-a directamente nos olhos.

– Já é hora de abandonares essas criancices, Ellie. Abandona. Luke não te ama, nunca te amou.

Se soubesse que era verdade o que dizia! Luke só a queria para ter uma amante complacente na sua cama. Claro que sabia que não a amava, mas ouvi-lo de outra pessoa de forma tão brusca fê-la ficar pálida.

– Odeio-te! – murmurou. Sem saber, tinha feito com que revivesse a humilhação que sentiu quando se apercebeu que Luke não a amava. – Sabes o que acho? Penso que te dá gozo magoares-me – disse. No entanto, o olhar dele estava desprovido de humor.

– Ellie, a verdade dói sempre. Abre os olhos e olha à tua volta. Talvez Luke não te ame, mas há outros homens.

Talvez tivesse razão, mas a ferida era demasiado recente. Ellie não tinha a intenção de voltar a expor tão cedo o seu coração às garras de outro desalmado.

– Pois, eu não amo mais ninguém! – exclamou. Apercebeu-se que o comentário oferecia distintas interpretações, mas era-lhe indiferente. Que pensasse o que quisesse. Fá-lo-ia de todas as formas.

– Então, estás a condenar-te a uma vida sozinha e amargurada – respondeu Jack, abanando a cabeça. Ellie reflectiu os joelhos e abraçou-se às pernas.

– Talvez sim ou talvez não. E é a minha vida, não a tua, por isso pára de me dizer o que tenho de fazer – advertiu-o. Ele sorriu com um certo pesar.

– Deus, jamais vi alguém tão teimosa como tu! – exclamou. Ela lançou-lhe um olhar cáustico.

– Tu és detestável! – respondeu.

Jack sorriu amplamente, fazendo com que Ellie sentisse uma espécie de queimadura no peito. Com certeza a discussão teria feito com que sofresse uma indigestão. Removeu-se inquieta. Deixava-a tão furiosa que sentia que o sangue lhe fervia nas veias. Quando aprenderia a guardar as suas opiniões para si? Jack voltou a abanar a cabeça com ironia e ofereceu-lhe a mão para a ajudar a levantar-se.

– Vamos, levo-te para casa. Espero que um pouco de descanso e uma boa comida suavizem o teu carácter.

– Já estás a começar outra vez? – protestou Ellie, irritada. Mas pegou na sua mão e deixou que a ajudasse.

No entanto, ao levantar-se, o seu pé ficou enrolado nas amarras de uma embarcação e teria caído se não fossem os rápidos reflexos de Jack. De repente, encontrou-se entre os seus braços, com o rosto apertado contra o seu peito. Sentiu-se como se tivesse recebido uma descarga eléctrica que se transmitiu por todo o seu corpo. A força como a segurava, juntamente com o seu cálido alento e o odor da sua água-de-colónia mexeram com os seus sentimentos. Parecia que num instante o seu corpo se tinha convertido em algo flexível e, no instante seguinte, em algo sólido.

– Estás bem? – perguntou Jack divertido. Ellie, ainda ausente, levantou a cabeça para ele tentando encontrar uma explicação para o que acabara de experimentar. Nunca havia sentido nada igual. Ele ficou quieto, com os olhos abertos antes que adquirisse um ar pensativo. Ellie ficou com a estranha sensação de, de repente, terem ficado isolados. Era muito estranho, algo que não sabia definir, mas, sem dúvida, tratava-se de uma força superior a qualquer sensação que tivesse experimentado anteriormente.

– Estás cómoda?

A pergunta de Jack, carregada de uma ligeira ironia, sobressaltou-a, levando-a de regresso à realidade. Ele estava a olhar para ela com um brilho nos olhos decididamente travesso. Então, apercebeu-se que continuava pegada a ele. Ellie sentiu-se inundada pela vergonha.

– O que pensas que estás a fazer? – gemeu com a voz afogada. Tentou afastar-se dele. Finalmente, conseguiu safar-se do seu abraço e ficou a observá-lo cautelosamente, respirando com dificuldade.

– Apenas evitei que tomasses um banho – respondeu Jack alegremente, metendo as mãos nos bolsos das calças. Ellie afastou o cabelo dos olhos e arranjou a roupa para ganhar algum tempo. Precisava tranquilizar-se antes de voltar a olhá-lo na cara.

– Obrigado, mas não era necessário que me abraçasses – respondeu, gemendo por dentro. Como podia deixar-se levar pelas suas emoções daquele modo? Ele teria pensado que estava encantada por estar entre os seus braços. Não podia voltar a cair numa paixão irracional com outro Thornton.

– Na realidade, tu estavas tão abraçada a mim como eu a ti – corrigiu, olhando-a nos olhos.

– Não estava a abraçar-te, Jack – negou Ellie, com calor. Mas, ele limitou-se a sorrir.

– Pois, fiquei com essa sensação – contestou ele. Ellie não conseguiu evitar por mais tempo o olhar dele e virou a cabeça para outro lado.

– Pois, estás enganado – repetiu. Abraçá-lo? Ela? Antes preferia ser atravessada por uma espada. Por amor de Deus, durante anos pareciam cão e gato! «Detestas Jack Thornton, não esqueças», disse.

– Interrogo-me se te apercebes do que revela a tua reacção.

Típico de Jack, fazer uma montanha de um grão de areia! Ellie cruzou os braços e bateu com o pé no chão, irritada!

– Imagino que revelei até que ponto és detestável – disse ela. Dirigiu-lhe um olhar gelado.

– Pois, curiosamente, isso é justamente o que não percebi – disse Jack penteando o cabelo com os dedos. Estava surpreendido por não se ter revoltado no seu abraço como um gato furioso!

– Ah, sim? Bem, da próxima vez esforçar-me-ei por demonstrá-lo com mais clareza. Podemos ir?

– Não queres saber o que me revelou? – desafiou Jack. Ellie sabia que, fosse o que fosse, não ia gostar.

– Não me interessa minimamente – assegurou, baixando-se para levantar a sua mala. Com sorte, ele esquecer-se-ia. No entanto, tratando-se de Jack, isso jamais aconteceria.

– Tu também o sentiste, vi nos teus olhos.

Aquelas simples palavras fizeram-na estremecer por dentro e sentiu um nó na garganta. Não queria falar, mas se não o negava, pensaria que estava a dar-lhe razão.

– Eu não senti nada.

– Mentirosa – acusou Jack. Ela viu-se na obrigação de olhar para ele. – Sentiste a ligação entre nós. Foi como se um milhão de pequenas faíscas percorresse a tua pele, não é verdade? Embora não queiras admitir, sentias-te bem nos meus braços. Vamos, nega-o.

Ellie sentiu o rosto a arder. Era verdade que tinha sido agradável, mas não pensava reconhecê-lo. Não queria sentir nada mais que ódio por ele. Nunca se tinham dado bem, por isso se se envolvessem sentimentalmente, aquilo podia ser uma catástrofe. Sorriu desafiante.

– Disseste muita estupidez na tua vida, Jack, mas esta supera todas as outras.

Ele sorriu com essa classe de arrogância masculina que fazia com que ela sentisse desejo de matá-lo.

– Acreditas nisso? Logo veremos.

Ellie voltou a responder-lhe com segurança:

– Não, não vamos ver nada.

– Também não precisas de te assustar, mulher – disse Jack. Ellie fulminou-o com o olhar.

– Não digas maluqueiras, não me metes medo.

– Referia-me a que não tens por quê temer os teus próprios sentimentos – respondeu ele. Ellie ficou surpreendida. Olhou para ele com os lábios entreabertos.

– O que queres dizer?

– Não há nada de mal em que desejes outro homem que não seja Luke.

– Obrigado pelo conselho – disse com sarcasmo. – Que compreensivo da tua parte!

– Não podia ser de outro modo quando é a mim que desejas – acrescentou ele sorridente. Ellie perdeu a compostura. Podia haver alguém mais arrogante?

– O quê? Não sigas por aí, Jack, nem penses. Não preciso ouvir as tuas barbaridades – respondeu. E, apertando os dentes, agarrou com força a mala e começou a caminhar, afastando-se dele.

– Aonde pensas que vais? – inquiriu Jack, alcançando-a. Ellie não voltou a olhar para ele.

– Vou apanhar um táxi – disse. Ele sorriu.

– Pois, espero que tenhas sorte. Estamos na época alta do turismo, se encontrares um vazio será um milagre.

– Vai-te embora – insistiu ela, embora soubesse que era verdade.

– Sabes? Fugir não mudará as coisas – disse Jack atrás dela. Ellie parou, deixando cair a mala no chão antes de lhe lançar um olhar hostil.

– Eu não estou a fugir, idiota. Por que é que iria fazê-lo? – perguntou. Podia dizê-lo mais alto, mas não mais claro.

– Demonstra-o. Janta comigo esta noite – convidou-a Jack. Ellie não esperava aquela mudança de táctica.

– E arriscar-me a sofrer uma indigestão fatal? Não, muito obrigado – repôs. Enquanto não conseguisse dominar aquelas estranhas reacções que ele lhe provocava, seria melhor que não passassem mais tempo sozinhos.

– Acho que deverias saber que Luke e Andrea não jantarão connosco esta noite – advertiu Jack.

Ellie encolheu os ombros. Que tonto! Se soubesse como ficava contente ao ouvir aquilo! Quanto menos tivesse que ver Luke, melhor.

– E depois? Tenho muitas coisas do que falar com o pai e a mãe.

– Sinto defraudar-te as expectativas, mas, esta noite, têm uma partida de bridge – interrompeu Jack. Ellie olhou para ele desesperada.

– Isto diverte-te muito, certo? – perguntou devido à forma como ele sorria.

– És tão engraçada… Bem, que me dizes? Queres jantar comigo ou preferes escutar Paul a falar sobre vulcões? – insistiu. Ellie fechou os olhos por um instante. No fundo tinha razão. Paul era um encanto, mas estava obcecado com as montanhas que cospem fogo.

– Está bem, irei – aceitou.

– Que gentil da tua parte, Ellie! – disse Jack, apanhado a sua mala do chão e levando-a para o carro. Ellie deixou-se cair no assento do acompanhante, enquanto ele guardava a sua mala no porta-bagagens.

– Conheço-te demasiado bem para me emocionar só porque me convidaste para jantar.

– É isso que pensas? Ficavas surpreendida com a quantidade de coisas que não sabes sobre mim – disse Jack, sentando-se ao volante, enquanto ligava o motor. – Ellie olhou para ele pelo canto do olho.

– Todos temos os nossos segredos – respondeu pensativa. Os seus fariam com que toda a família caísse para o lado se soubessem a verdade.

– Queres saber os meus? – inquiriu ele. Ellie suspirou e olhou pela janela.

– Que sentido faria se os contasses? Isso não mudaria o facto de não nos darmos bem.

– É isso que tu pensas? – inquiriu Jack. Ellie voltou-se surpreendida para o ver.

– Estás a dizer-me que te dás bem comigo? – perguntou. Ele sorriu sem afastar o olhar da estrada.

– Há muitas coisas que gosto em ti.

– Ah, sim? – perguntou ela. Então, apercebeu-se de que as suas palavras soavam a agressividade. – Quero dizer… Eu… Não esperava essa resposta, não sei o que dizer.

– Claro que o meu apreço desvanece-se perante a tua ridícula obsessão pelo meu irmão, mas espero que o ultrapasses – concluiu ele. Ellie inspirou profundamente e, por instinto, caiu no erro de defender algo que já era águas passadas para ela.

– Não há nada de ridículo no que sinto por Luke – disse, corrigindo-se rapidamente. Quase que desvendava o segredo.

– Não haveria se tivesses menos dez anos.

– A idade não tem nada a ver – replicou Ellie, virando-se para ele. – E no que te diz respeito? Com trinta e seis anos ainda não casaste. Se fosse a ti não perdia tempo. Não estás a adiar demasiado?

Jack sorriu enquanto ultrapassava um veículo.

– Não quando encontras o amor verdadeiro e sabes que não podes tê-lo.

Ellie demorou um bocado a compreender as implicações do que acabara de dizer.

– O amor verdadeiro? Queres dizer que estavas apaixonado por uma mulher e que a perdeste?

– Quero dizer que havia obstáculos que me impediam de chegar até ela. Com o tempo, decidi que o melhor seria romper com o compromisso e procurar outra pessoa, mas ainda não a encontrei – explicou, muito sério, surpreendendo-a novamente.

– Lamento, deve ter sido doloroso – disse Ellie com pena dele. Ela ficaria destroçada se tivesse renunciado a Luke… Antes de se aperceber da realidade.

– Obrigado. A verdade é que foi, e muito. Mas não ia desperdiçar a minha vida chorando por alguém que não podia ter – explicou. Ellie mordeu o lábio.

– Como me aconteceu a mim, queres dizer… – suspirou, desejando que a versão de Jack sobre o seu amor por Luke fosse a verdade em vez da dura e crua realidade. A verdade é que tinha desperdiçado muito tempo, tempo que já não podia recuperar.

– Não te sintas mal. Brevemente verás tão claro como eu o vi. E, então, todo um mundo de possibilidades abrir-se-á perante ti – assegurou. Ellie abanou a cabeça com veemência.

– Não! É demasiado tarde para isso – disse. Tinha aprendido que não devia voltar a cair na ilusão.

Jack seguiu pela pequena estrada que os conduzia para a casa de campo.

– Aposto o que quiseres que, quando terminar o Verão, terás esquecido Luke.

Não, ela não podia esquecer-se nunca, mas não pelas razões que ele pensava.

– O que é que eu ganho se tu perderes a aposta? – perguntou. Jack sorriu enquanto parava o carro junto à casa de campo, uma enorme construção com telhados de terracota, dessas que só se encontram na zona mediterrânica.

– Se ganhares, podes pedir-me o prémio que quiseres. Mas, e se ganhar eu? O que me darás? – perguntou ele com um estranho brilho nos olhos. Ela não podia ser menos generosa que ele.

– O que tu quiseres, certamente – respondeu. Estendendo a mão, Jack acariciou-lhe suavemente a cara com um dedo até chegar à ponta do queixo.

– Espero que mantenhas a tua promessa – disse, sorrindo antes de sair agilmente do carro. – Oh, por falar nisso… Há algo que deves saber… – acrescentou, abrindo a mala do carro.

Ellie, que estava a tocar na cara, maravilhada pelo formigueiro que a ligeira carícia de Jack lhe tinha produzido, baixou a mão imediatamente e saiu também do carro.

– Do que se trata? – perguntou. Não era bom sinal a forma como lhe brilhavam os olhos.

– Pois, quando disseste que não vinhas, a mãe acomodou Andrea no teu quarto, por isso acho que vais ter que dormir no quarto de hóspedes, junto ao meu.

Jack encaminhou-se para a casa sem ficar à espera de uma resposta, provavelmente porque já sabia qual seria. Ellie rangeu os dentes e olhou para ele, enquanto se afastava, com fúria. Era o que faltava… Primeiro descobria que se sentia inexplicavelmente atraída pelo homem que a tinha atormentado desde menina e, ainda por cima, para cúmulo dos cúmulos, tinham dado o seu quarto à noiva de Luke. Magnífico…

Paixão avassaladora

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