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Capítulo 3

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Lacey suspirou quando a água quente respingou sobre seu corpo e adorou a sensação de finalmente estar completamente livre das ataduras que ela tinha enrolado em volta dos seios para ficar parecida como um adolescente. Ela teve uma boa noção para queimar as roupas roubadas que estivera usando.

Ela tirou o esfoliante de onde estava pendurado na torneira da banheira e esquentou a água um pouco mais. Para ela, relaxar era uma regalia da qual não tinha sido capaz de usufruir desde quando fugiu de Vincent e da horda de demônios que estavam atrás dela.

Vincent… até o nome evocava sentimentos de culpa e ela franziu a testa, com tristeza. Ela o havia conhecido alguns dias depois de haver recebido um layout do enorme museu enviado pelo avô. Simplesmente aconteceu que os dois tinham sido enviados por pessoas diferentes para roubar o mesmo artefato.

Seus lábios se contraíram com a recordação engraçada… o olhar no rosto bonito de Vincent quando ele a pegou na mesma sala secreta que ele foi arrombar. Se eles tivessem tentado discutir sobre qual deles tinha chegado lá primeiro e que merecia o espólio, teriam alertado os guardas fortemente armados, que estavam logo no fim do corredor, e teriam sido dominados ou, pior… mortos a tiros.

Olhando um para o outro, eles levaram cerca de trinta segundos para chegar à decisão comum de trabalharem juntos a fim de conseguirem a peça. Contudo, repensando sobre isso agora, ela percebeu que Vincent teria concordado de uma forma ou de outra… ele só havia aceitado a parceria porque também queria a peça.

Uma vez que tinham conseguido sair do museu em segurança, de repente foram rodeados por cinco demônios da escuridão de olhos negros que haviam se incorporado em algumas autoridades locais, possuindo-as.

Ali parada, diante das luzes intermitentes dos carros dos policiais, com as mãos levantadas e cinco conjuntos de armas apontadas diretamente para eles, ela pensara com certeza que eles não iam conseguir escapar dali com vida. Isso foi até Vincent entregar a um deles o artefato roubado e receber em troca uma enorme mala de dinheiro.

Depois disso, Vincent tinha se oferecido para dividir o dinheiro com ela e pedido que ela entrasse no negócio com ele. Sem pensar nas consequências, ela concordara com a parceria, decidindo que poderia conseguir ainda mais coisas para seu avô através dos vínculos de Vincent com esses novos colecionadores agressivos.

Ela ficara empolgada com o fato de finalmente ter um parceiro e tinha visto que ele poderia ser tão dissimulado quanto era. Também não era nada mau que ele fosse extremamente sexy e tivesse um sotaque britânico que dava a impressão de que ele estava flertando com cada frase.

Lacey balançou a cabeça pelo pensamento ingênuo enquanto ensaboava o cabelo com shampoo. Ela aceitara o acordo por ganância e, como ele era sexy para caramba… suas duas únicas fraquezas.

Depois de uma noite e a maior parte do dia seguinte de sexo animalesco e sem compromisso, Vincent lhe havia contado um pouco sobre o círculo secreto ao qual pertencia. Não tinha demorado muito para que ela percebesse que fazer uma parceria com ele significava que ela estava se aliando, também, com toda uma rede de poderosos demônios.

Graças ao avô, ela não tinha ficado completamente desinformada sobre demônios, mas isso não significava que ela algum dia iria compactuar com um deles. Embora a consciência de saber aonde ela estava se metendo a tivesse deixado nervosa, ela havia ignorado o sexto sentido e ficara ansiosa pela emoção que Vincent estava lhe oferecendo.

Naquela noite, ele tinha levado a moça para conhecer o demônio líder do círculo secreto… um velho que, em todos os aspectos, parecia ter uns cento e dez anos de idade e atendia pelo nome de Masters, que ela achara engraçado na época.

Quando o velho demônio rejeitara friamente o convite dela para entrar no círculo secreto do roubo e tentara matá-la no local, ela havia perdido todo o senso de humor. Se não fosse Vincent ter passado na frente dela e levado a bala que era direcionada à cabeça dela, agora ela estaria morta. Ela pensara que Vincent estava morto quando ele se virou e gemeu, ao sentir penetração da bala, lançando um jato de sangue no rosto dela.

Essa era a primeira vez que ela tinha percebido que Vincent não poderia estar morto… não importa o que tinham feito com ele. Ele arrancou a bala do ombro enquanto discutia com o demônio de olhos negros em nome dela, dizendo que há anos que ele queria um parceiro e que ele a havia escolhido.

Vendo como Vincent era seu ladrão favorito, Masters concordara relutantemente, mas só se ele pudesse marcá-la como uma de suas subordinadas, concedendo-lhe o direito de matá-la, caso ela algum dia saísse da linha ou tentasse abandonar o grupo.

Vincent calmamente olhara para ela por sobre o ombro ensanguentado dizendo: “Ou é desse jeito ou ele jamais deixará que você saia viva desta sala. Aceita o pacto?"

Ela fora orientada pelo avô a nunca fazer pacto com um demônio, mas não era estúpida o bastante para discordar daquele que estava na frente dela. Quando ela olhara dentro de seus frios olhos negros, já soubera que ele realmente deveria matá-la e abandoná-la ali mesmo, sem pestanejar.

Uma vez que tinham saído do imenso imóvel de Masters, ela havia se voltado para Vincent e o encarava, pensando que ele também fosse um demônio… ou, pelo menos, um híbrido de algum tipo de raça, e que não tinha sido avisada. Ela rapidamente disse ao idiota de boa aparência que estava grata porque ele salvara sua vida ali, mas que ela mantinha a regra de não dormir com demônios.

Vincent tinha, então, segurado tranquilamente os ombros dela, pedindo-lhe que olhasse de perto a manchas de sangue em sua camisa... era vermelha. Caso ele fosse um demônio, a mancha teria sido preta. Quando ela havia se acalmado, ele continuou a explicar suas… circunstâncias incomuns. Ele lhe informara que era completamente humano, em todos os sentidos da palavra, mas, em um determinado ponto do processo, ele fora amaldiçoado pelos anjos.

Ela não tinha certeza do que ele queria dizer com “anjos”, pois ele não chegou a detalhar, mas a conclusão era que Vincent simplesmente não poderia morrer. Correção… ele até poderia morrer, mas parecia que jamais permaneceria morto por muito tempo. Ele mesmo desabotoou a camisa, deixando-a ver que o ferimento da bala já havia parado de sangrar e estava cicatrizando em ritmo acelerado.

Lacey solidarizou-se com a situação dele quando passou a conhecê-lo melhor, entendendo que ele vivera por tanto tempo que tinha ficado entediado, destemido, solitário… e muito irritado porque ainda estava vivo, enquanto todo mundo de quem ele havia cuidado já estava morto.

Ela e Vincent fizeram vários acordos relativos à sua parceria e amizade. O primeiro foi que ela não tentaria fugir, pois, embora não pudesse morrer, Vincent tinha total certeza de que ela poderia e seria morta, uma vez que Masters a alcançasse. O outro acordo era que eles continuariam com seu relacionamento sem compromisso, que ela tinha curtido imensamente.

Não que ela não o amasse... ela o amava. Mas era mais como um melhor amigo, o que era uma coisa boa, já que ele alegava ter perdido a capacidade de entregar seu coração há muitas e muitas eras. Para ele, apaixonar-se por alguém só poderia trazer-lhe mágoa, pois ele observava essa pessoa envelhecer e morrer… deixando-o para trás. Ela entendia isso completamente.

Foi durante a parceria com Vincent que ela conheceu algumas verdades sobre o maior ladrão de sua época… seu avô. Ele recebera o nome de Camaleão e jamais adotou qualquer outro nome. Ele também havia sido tão bom na arte da trapaça que jamais falhara em nenhuma das tarefas que ele havia sido contratado para realizar… e, sem dúvida, em nenhuma das que realizou em segredo.

Pela forma como eles o haviam descrito como mestre do disfarce e o fato de que ele era chamado de Camaleão, ela soubera logo de cara que era seu vovô, embora nunca tivesse compartilhado essa informação com ninguém, nem mesmo com Vincent. A teoria mais aceita era a de que ele havia sido um mutante, hipótese essa que, segundo ela, era a mais próxima da verdade, pois ninguém sabia que seu avô tinha o dispositivo de disfarce.

O mundo dos demônios ainda estava tentando encontrá-lo, mas muitos acreditavam que ele estava morto. Depois de sua última tarefa, que era roubar uma esfera espiritual a partir de uma original, ele desaparecera rapidamente, levando consigo a esfera. Ninguém fora capaz de encontrá-lo desde então… e eles haviam procurado, disso Lacey que não tinha nenhuma dúvida. Mal sabiam que a esfera espiritual em questão estava depositada em um cofre de concreto no meio de L.A., cercada por uma ala de demônios.

Por conta disso, Lacey sabia que teria sido perigoso entrar em contato com algum membro de sua família, com medo que os demônios encontrassem seu avô. Ela sabia uma forma melhor do que entrar em contato com ele pessoalmente. Ele não teria entendido e, provavelmente, viria encontrar-se com ela, certamente sendo morto nesse processo.

Ela mantivera o silêncio por mais de um ano, jamais pronunciando uma palavra sequer sobre seu paradeiro, à medida que ela ficava cada vez mais envolvida com o sofisticado círculo do roubo. Assim que ela percebeu que não estava mais sendo observada tão de perto, começou a planejar sua grande fuga. Ela ainda avisara Vincent que ia fazer isso na primeira oportunidade que tivesse.

Ele a havia lembrado sobre o símbolo que Masters colocara em seu ombro, mas ela já havia imaginado o que fazer quanto a isso. Ela lhe havia assegurado que sua próxima etapa seria arrombar um determinado cofre que ela sabia que guardava um livro de magia que iria ajudá-la com o símbolo do demônio... ela simplesmente não lhe disse que se tratava do cofre de seu avô. Até onde Vincent sabia, ela nem sequer tinha mais avô.

As duas últimas missões para as quais eles haviam sido enviados foram tão perigosas que ela quase tinha sido morta nas duas vezes e teria sido, caso Vincent não estivesse lá para receber as lesões no lugar dela. Ele se entregara para que ela pudesse fugir. Nas duas vezes, ele foi brutalmente assassinado e seu corpo padeceu apenas enquanto ele se recuperava, reerguendo-se, curado.

Finalmente concordando que estava ficando perigoso demais para ela ficar ali, Vincent tinha-se oferecido para ajudá-la na fuga. Só houve a coincidência de que a missão seguinte os levou de volta exatamente ao mesmo museu onde haviam se conhecido. A tarefa os incumbia de roubar um dispositivo que supostamente incapacitava todos os demônios que estivessem em um raio de centenas de metros dele quando era ativado. Perfeito.

O plano era que apenas um deles voltaria desse trabalho. A esperança deles era que, quando Vincent entregasse o dispositivo a Masters, o demônio estaria concentrado no dispositivo que, obviamente, era uma arma contra sua espécie, e não viria atrás dela de imediato, dando-lhe tempo de obter o feitiço de que ela precisava para neutralizar o símbolo que Masters havia colocado nela.

Eles haviam roubado facilmente o objeto que, para ela, lembrava muito um Cubo de Rubik metálico de dez lados que era coberto de símbolos dourados em vez de cores. Enquanto estavam lá, eles abateram os guardas e roubaram suas armas. Vincent tinha, então, se virado e feito um pequeno discurso de "adeus, querida amiga", dando-lhe um rápido beijo na bochecha.

O problema surgiu quando eles fizeram o trajeto até a saída do museu, apenas para darem de cara com Masters e uma horda de demônios esperando por eles. Masters dera uma risada, dizendo que o símbolo que ele deixara nela tinha lhe servido como aviso sobre o que ela estava planejando… remetendo diretamente ao fato de que ela era neta do Camaleão e estava correndo de volta para ele, onde havia toda uma série de fatores nos quais ele agora estava interessado… inclusive na esfera espiritual.

Masters havia, então, concordado com Vincent, agradecendo-lhe por mantê-la distraída e alheia ao verdadeiro poder do símbolo.

Ela levantara os olhos para Vincent acusatoriamente, depois, arrancou o dispositivo da mão dele e torceu para ter certeza do que ela estava fazendo, quando começou a girá-lo rapidamente. Ela ficara obcecada por uma imagem do cubo antes de chegar ao museu para roubá-lo e utilizou essa memória para vincular rapidamente os dois símbolos.

Um por um, os demônios começaram a cair agonizantes, menos o Masters… não, esse filho da mãe começou a caminhar bem na direção dela com um brilho furioso nos olhos.

Foi nesse instante que Vincent tinha se movido. Ela não percebera que ele havia retirado uma antiga lâmina do mesmo cofre secreto onde estivera o cubo, mas lá estava a lâmina na mão dele, que a comprimia contra a garganta do demônio. Em um movimento rápido, o demônio esticou completamente a mão para envolver o peito e as costas de Vincent.

"Corra", Vincent rosnou para ela, logo antes que ele fechasse os olhos e a cabeça do demônio caísse no chão ao lado dele.

Todos os outros demônios estavam olhando furiosamente em suas posições de decúbito ventral; então, ela pôs o cubo no chão perto dos pés e fez exatamente o que Vincent tinha mandado… ela correu feito louca.

Ela não tinha como saber se Masters tinha contado a ninguém o que ele sabia sobre ela e rezou para que o ganancioso filho da mãe não tivesse compartilhado seus segredos, temendo que outro demônio o atacasse por conta da lendária esfera espiritual. Seus pensamentos continuavam desviando-se novamente para Vincent, imaginando se ele estava bem ou se estava sendo torturado por sua participação quando a ajudou fugir.

Eles não poderiam matá-lo permanentemente, mas ela estava bem ciente de que havia muitas coisas piores do que permanecer morto… ser brutalmente assassinado por várias e várias vezes seria uma delas.

Ela olhou novamente para o próprio ombro, sabendo que precisava conseguir aquela magia e neutralizar o símbolo para que o sacrifício de Vincent não fosse em vão. Ela deixou que a água quente do chuveiro lavasse as lágrimas silenciosas de seu rosto enquanto ela renovava sua determinação.

No andar de cima, Ren parou de andar subitamente e olhou diretamente para baixo, ouvindo o bombeamento de água através do sistema. Um sorriso malicioso apareceu em seu rosto, quando ele percebeu que estava em pé bem acima do banheiro do térreo, onde Lacey estava. Seu olhar seguiu o som através da parede onde as tubulações que conduziam a água por todo o local desciam até o piso e entravam no abrigo antiaéreo.

Ela já ficara naquele banho por tempo suficiente e ele estava pronto para tentar novamente o interrogatório.

Caminhando sobre as tubulações, ele colocou a mão sobre a que ele queria e fechou os olhos, concentrando-se no medidor de temperatura do aquecedor de água. Seus lábios se descontraíram em um sorriso satisfeito quando a camada de gelo apareceu sob seus dedos na tubulação de cobre. O grito que soou através do abrigo antiaéreo fez com que todos pulassem surpresos, exceto Ren.

No vapor do chuveiro, a temperatura da água tinha passado de escaldante para fria congelante em menos de um segundo, fazendo com que Lacey se encolhesse sob os jatos de água. No processo, ela deslizou pelo fundo escorregadio da banheira e tropeçou para fora, quase levando consigo a cortina do chuveiro.

"Lacey!", gritou Gypsy, apreensivamente.

Lacey desvencilhou-se da cortina de chuveiro e empurrou-a para o lado, grata porque ela não havia sido derrubada.

"Estou bem", gritou Lacey olhando para o chuveiro. "Você precisa de um novo aquecedor de água… a maldita temperatura simplesmente passou de escaldante para um frio congelante em menos de um segundo”.

Gypsy franziu a testa do outro lado da porta, imaginando o que tinha causado esse efeito na água. Ela havia tomado um banho de hora logo cedo e a água quente estivera perfeita.

"Vou pedir ao Ren para verificar isso”, replicou Gypsy através da porta fechada. "Ele tem um jeito de manipular as máquinas e fazê-las funcionar, mesmo depois que apresentaram algum defeito".

Lacey virou a cabeça e arregalou os olhos em direção à porta, ouvindo a explicação de Gypsy e soube imediatamente o que tinha acontecido.

"Isto significa guerra”, sussurrou ela baixinho e, não tendo outra escolha, deu um passo para trás para sentir o jato d’água congelante enxaguando do cabelo o restante do sabão.

Ren estava no andar de cima sentado no chão encostado na parede e com um largo sorriso no rosto. Momentos depois, ele ouviu passos na escada e não se preocupou em esconder o sorriso quando viu que era Nick.

"Eu sabia”, exclamou Nick em um sussurro forte. "Mas tenho que admitir… isso foi muito bom”.

Ren deu um leve toque na tubulação fria ao lado dele: “Eu realmente tenho meus momentos”.

Nick deslizou a mão pelo cabelo: “Eu devo tomar cuidado com dela… Gypsy acabou de dizer a ela que você leva jeito com as máquinas”.

O sorriso de Ren ficou ainda mais largo: “Bem, isso não é nenhuma vergonha”.

"Você está se divertindo demais", acusou Nick.

"Claro que estou", concordou Ren. "Agora vamos voltar a descer e ver se eu posso descobrir o que há de errado com o aquecedor de água irregular de Gypsy”.

Nick irritou-se e balançou a cabeça quando Ren dirigiu-se novamente para o abrigo. Ele estava curtindo tanto o fato de que toda a atenção de Ren parecia estar concentrada agora em Lacey em vez de Gypsy.

Ren entrou na sala a tempo de ouvir o chuveiro parar de funcionar. Ele olhou para Gypsy, vendo que ela estava sentada no sofá com a testa franzida.

"O que há de errado?" perguntou Ren com uma expressão inocente.

"De repente, meu aquecedor de água parou de funcionar", explicou Gypsy e olhou para a porta do banheiro. "Lacey disse que ele ficou congelante em questão de segundos”, e estalou os dedos.

"Deve ter enguiçado", disse Ren, fazendo com que Nick se virasse para evitar que Gypsy visse o sorriso largo no rosto.

Lacey estava tremendo quando saiu do chuveiro e enxugou-se rapidamente. Enrolando-se na toalha, ela caminhou até o espelho acima da pia e percebeu que estava com um aspecto bem melhor agora que não estava mais se escondendo sob uma camada de sujeira e roupas que eram grandes demais para ela.

Pegando a escova de cabelo de Gypsy, ela começou a passá-la pelos longos cabelos escuros. Virando-se, ela continuou a escovar o cabelo enquanto abria o grande baú… sorrindo quando viu todas as roupas que ela tinha deixado para trás. Ela lutou contra a vontade de tirar tudo lá de dentro e jogar no ar para depois poder rolar pelo chão sobre elas. Suas roupas… quanta falta lhe haviam feito.

Esticando o braço, ela tirou um vestido de cor lilás reluzente e um par de sandálias pretas e colocou-as sobre o tórax, juntamente com um conjunto de sutiã e calcinha da mesma cor. Virando-se para o espelho, ela terminou de escovar os cabelos e pôs a escova de volta sobre a pia. Sua cabeça inclinou-se para o lado admirando a pequena coleção de cosméticos que Gypsy tinha e aplicou um deles rapidamente, além de secar o cabelo.

Ela voltou a olhar para o espelho apenas para dar um suspiro ofegante, ao ver o mesmo símbolo que estava em seu ombro, agora rabiscado junto com uma imagem preta acetinada, olhando para ela em vez de seu próprio reflexo. Um verdadeiro grito de terror escapou-lhe dos lábios quando a escuridão intensa atravessou o espelho em direção a ela.

Lacey cambaleou para trás e quase tropeçou no baú, na pressa para ficar fora do alcance da criatura. Suas costas bateram na parede do banheiro enquanto aqueles braços excessivamente longos continuavam a se aproximar dela e os lábios de aspecto sinistro se moviam em um ritmo que ela poderia dizer que se tratava de algum tipo de cântico.

Ela deu um pulo quando a porta do banheiro de repente abriu para dentro e Ren apareceu de pé na porta, com Gypsy logo atrás dele. Lacey ficou de olhos arregalados ao vê-los atrás pelo espelho e quis gritar novamente, frustrada, quando viu que a imagem em 3D do demônio havia desaparecido e uma fina camada de cristais de gelo agora cobria o espelho.

A respiração de Ren congelou em seu peito quando ele observou que ela se transformara de um menino de rua sujo para alguém de pele macia, cabelos limpos e sedosos e um corpo que o fez desejar estar no lugar do sabonete. Ele ouvira dizer que ela era bonita, mas novamente ele a havia subestimado. Sua visão instantaneamente focalizou na toalha que estava parcialmente aberta e expondo o lado de Lacey que estava voltado para ele, parando a uma curta distância do mamilo e do suave montículo.

Ele rapidamente forçou-se a desviar os olhos, seguindo o olhar dela no espelho e franziu a testa ao ver a camada de gelo que havia se formado ali. O espelho escolheu esse exato momento para rachar por conta da baixa temperatura, o som ecoando de forma sinistra no súbito silêncio.

Lacey arregalou os olhos ao ver o olhar desconfiado no rosto de Ren e rapidamente pensou em uma maneira de distraí-lo do espelho.

"Que diabos você pensa que está fazendo ao entrar assim pela porta do banheiro enquanto estou aqui dentro, seu pervertido?" ela gritou com ele, enquanto se arrumava e tentava consertar a posição da toalha.

"Pensávamos que você estava em apuros", ofereceu Gypsy suavemente por trás dele.

Lacey suspirou dramaticamente: “Bem, como você pode ver, eu estou bem. Achei que tinha visto algo no espelho e foi só isso. Agora, se não se importam", ela bateu a porta na cara de Ren novamente. "Eu disse que você não conseguiria ficar sem me espionar", ela zombou dele através da porta.

"Se é isso que você diz”, retrucou Ren estreitando o olhar. "Eu não fui o único que gritou com o próprio reflexo”.

"Ren", Gypsy advertiu-lhe e, em seguida, fechou a boca quando observou o olhar bastante determinado no rosto dele.

Lacey abriu a boca para gritar algo em resposta, mas fora forçada a conter-se totalmente. Ela declarara uma guerra pessoal sobre ele, mas jamais poderia achar qualquer coisa que valesse a pena dizer para conseguir superá-lo.

"Droga, ele é bom", sussurrou ela e, depois, voltou a olhar para o espelho nervosamente. Não mais se sentindo segura, ela começou a se vestir rapidamente.

Ren sorriu quando ouviu o elogio dela, mas isso não durou muito tempo, pois seus pensamentos se voltaram para o espelho e a estranha formação de gelo. Ele havia resfriado a água nos tubos, mas isso não teria afetado o espelho ou qualquer outro objeto do banheiro. Não... o grito dela tinha sido tão real quanto o medo que ele tinha visto no próprio rosto quando ele abrira a porta pela primeira vez.

Querendo dar mais tempo a Ren para ficar a sós com Lacey e esperançosamente acender a chama que ele poderia dizer que surgiu ali, Nick olhou a hora em seu celular e, em seguida, novamente para Gypsy: “Você está pronta? São quase nove horas".

Os olhos de Gypsy iluminaram-se e ela sorriu para ele, ansiosa pelo seu primeiro dia de volta à atividade. Ela estava um pouco mais do que curiosa sobre como conseguiria convidar para sua loja seus clientes não-humanos, um de cada vez, quando entrassem em contato com a barreira criada por ela. Também ia ser divertido quando alguém que ela conhecera durante anos tentasse entrar e não conseguisse… revelando-se como um paranormal. Seja como for… o dia de hoje seria muito esclarecedor.

"Bem, isso deve revelar-se interessante. Estou feliz pelo fato de que os humanos normais podem entrar sem serem convidados ou então eu teria que ficar de pé na porta o dia todo como um anfitrião em Wal-Mart. "Bom dia! Por favor, você não quer entrar?" ela deu uma risada enquanto fazia um gesto de convite com a mão, fazendo brotar em Nick um sorriso malicioso.

Gypsy olhou para Ren por cima do ombro: “Vocês dois combinam bem agora”. Ela subiu rapidamente as escadas antes que Ren pudesse dizer qualquer coisa para impedi-la.

Os lábios de Nick se contraíram, mas ele também não disse nada, visto que Ren agora estava franzindo a testa de forma inquietante. Enfiando ainda mais as mãos no bolso, ele seguiu Gypsy no andar de cima para que ele pudesse pendurar a placa de Halloween que havia preparado. A maior parte pensaria que era apenas uma decoração de Halloween, mas simplesmente estava escrito: “Todos os Paranormais Devem Pedir Permissão antes de Entrar". Ele pretendia colocá-la na porta bem na altura dos olhos para que ela não passasse despercebida.

Ren esfregou o queixo enquanto olhava cuidadosamente para a porta do banheiro. Ele estivera certo em achar que Lacey tinha usado um spritzer de máscara aromatizada quando ela invadira o local na noite anterior. Agora que ela tinha lavado tudo aquilo durante o banho, ele poderia cheirá-la. A utilidade desse pequeno poder estava se revelando nele provavelmente a partir do jovem apaixonado que acabara de seguir Gypsy no andar de cima.

Ele podia sentir o cheiro do medo que tomava conta dela agora, juntamente com o som de sua respiração rápida, enquanto ela se apressava para se vestir. Ela havia mentido para ele novamente. Tudo o que ela tinha visto naquele espelho realmente a havia assustado e ele estava bem consciente de que não adiantaria nada perguntar a ela. Foi quando ele decidiu que isso já era o suficiente.

Tirando o telefone móvel, Ren discou mentalmente o número de Storm e aguardou, sorrindo quando ele ficou preso no meio do primeiro algarismo.

"Vou ver se consigo impedir Zachary por você", disse Storm e desligou abruptamente, antes de Ren pudesse ouvir uma palavra distorcida. Nem se sentiu intimidado quando os outros dois homens imediatamente apareceram com ele na sala de estar de Gypsy.

"Que diabos, Storm", queixou-se de Zachary enquanto ensacava a camisa desabotoada novamente nas calças. Ele ia ter uma conversa com o Time Walker sobre ficar entrando e saindo de seu quarto daquele jeito. Já era ruim o suficiente que Nighthawk tinha o hábito de promover essa pequena façanha. "Eu estava no meio de algo muito importante como você podia ver perfeitamente bem”.

"Isso não vai demorar mais que um minuto", disse Ren e sorriu maliciosamente, sabendo exatamente em que Zachary estivera metido. Ele conhecia o senso de humor de Storm bem o bastante para saber que, da forma como Time Walker via isso… o tempo era tudo.

Ele tirou os óculos escuros e enfiou-os no bolso, sabendo que, por um momento, ele teria que olhar Lacey diretamente nos olhos enquanto estivesse usando o poder da Fênix.

Desejo Mortal

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