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CAPITULO TRÊS

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Mafarrico estava sentado no seu baloiço no alpendre a observar as crianças a circular nos seus fatos de Halloween. Geralmente gostava que lhe viessem bater à porta, mas naquele ano parecia-lhe uma ocasião agridoce.

Quantos destes miúdos vão estar vivos daqui a algumas semanas? Pensou.

Suspirou. Provavelmente nenhum. O prazo limite aproximava-se e ninguém prestava atenção às suas mensagens.

As correias do baloiço do alpendre chiavam. Caía uma chuva leve e quente, e Mafarrico esperava que as crianças não se constipassem. Tinha um cesto com doces no colo e estava a ser muito generoso. Fazia-se tarde e, em breve, não haveria mais crianças.

Na mente de Mafarrico ainda conseguia ouvir o avô a reclamar, apesar do velho rabugento ter morrido há vários anos. E não importava que Mafarrico já fosse adulto, nunca se libertava das tiradas do velho.

“Olha só para aquele com a capa e máscara de plástico preta,” Dissera o avô. “É suposto aquilo ser um fato?”

Mafarrico só esperava que ele e o avô não fossem ter outra discussão.

“Está vestido de Darth Vader, avô,” Disse.

“Não quero saber de que é que está vestido. É um fato barato comprado numa loja. Quando tínhamos que te vestir, fazíamos sempre os teus fatos.”

Mafarrico lembrava-se bem desses fatos. Para o transformar numa múmia, o avô embrulhava-o em lençóis rasgados. Para o transformar num cavaleiro andante, o avô cobria-o com uma pesada tabuleta para cartazes de alumínio e carregava uma lança feita do cabo de uma vassoura. Os fatos do avô eram sempre criativos.

Ainda assim, Mafarrico não recordava esses Halloweens com saudade. O avô praguejava e queixava-se sempre enquanto lhe vestia os fatos. E quando Mafarrico regressava a casa da recolha de doces… Por um instante, Mafarrico sentiu-se novamente um rapazinho. Ele sabia que o avô tinha sempre razão. Mafarrico nem sempre entendia porquê, mas isso não importava. O avô tinha razão e ele não. Era assim que as coisas eram. Era assim que as coisas sempre tinham sido.

Mafarrico ficara aliviado quando já era demasiado velho para andar de porta em porta a pedir doces. Desde então, era livre de se sentar no alpendre para dar doces às crianças. Ficava feliz por elas. Ficava feliz por desfrutarem da infância, mesmo que ele não tivesse tido essa sorte.

Três crianças subiram até ao alpendre. Um rapaz estava vestido de Homem-Aranha, uma menina de Catwoman. Aparentavam ter cerca de nove anos. O fato da terceira criança arrancou um sorriso a Mafarrico. Uma menina com cerca de sete anos envergava um fato de abelhão.

“Doçura ou travessura!” Gritaram em uníssono em frente a Mafarrico.

Mafarrico riu-se e remexeu o cesto à procura de doces. Deu-lhes alguns, eles agradeceram e foram-se embora.

“Para de lhes dar doces!” Rosnou o avô. “Quando é que vais deixar de encorajar estas pestes?”

Mafarrico desafiava silenciosamente o avô há já algumas horas. Pagaria por isso mais tarde.

Entretanto, o avô ainda rabujava. “Não te esqueças, temos trabalho a fazer amanhã à noite.”

Mafarrico não respondeu, limitou-se a ouvir o baloiço a chiar. Não, ele não esqueceria o que tinha que ser feito amanhã à noite. Era um trabalho sujo, mas tinha que ser feito.

*

Libby Clark seguiu o irmão mais velho e a prima na direção do bosque escuro nas traseiras dos quintais do bairro. Ela não queria estar ali. Ela queria estar em casa aninhada no conforto da sua cama.

O irmão, Gary, iluminava o caminho com uma lanterna. Parecia estranho no seu fato de Homem-Aranha. A prima Denise seguia Gary no seu fato de Catwoman. Libby trotava desconfortavelmente atrás dos dois.

“Venham daí,” Instigou Gary, avançando destemidamente.

Ele e Denise passaram por entre dois arbustos sem problemas, mas o fato de Libby era tufado e ficou preso em alguns ramos. Agora tinha algo mais com que se preocupar. Se o fato de abelhão ficasse estragado, a mamã passava-se. Libby conseguiu libertar-se e apressou-se para os apanhar.

“Quero ir para casa,” Disse Libby.

“Força,” Disse Gary.

Mas é claro que Libby tinha demasiado medo para voltar para trás. Já tinham andado demais. Ela não se atreveria a regressar sozinha.

“Talvez devêssemos mesmo voltar,” Aventou Denise. “A Libby está com medo.”

Gary parou e voltou-se. Libby desejava poder ver o seu rosto atrás da máscara.

“Qual é o problema, Denise?” Perguntou. “Também tens medo?”

Denise riu nervosamente.

“Não,” Disse. Libby percebeu que ela estava a mentir.

“Então venham daí,” Desafiou Gary.

O pequeno grupo continuou a caminhar. O solo estava encharcado e escorregadio, e Libby estava quase imersa em erva molhada. Pelo menos tinha parado de chover. A lua começava a mostrar-se por entre as nuvens. Mas também estava a esfriar e Libby estava toda ensopada e a tremer, e cheia, cheia de medo.

Por fim, os arbustos e árvores abriram para uma ampla clareira. Vapor elevava-se do solo molhado. Gary parou mesmo na margem do espaço. Denise e Libby imitaram-no.

“Chegámos,” Sussurrou Gary, apontando. “Vejam só – é quadrada, como se aqui tivesse havido uma casa ou algo do género. Mas não há casa. Não há nada. As árvores e os arbustos não conseguem crescer aqui. Só ervas daninhas. É porque é solo amaldiçoado. Aqui vivem fantasmas.”

Libby lembrou-se do que o papá dissera.

“Não há fantasmas.”

Ainda assim, tinha os joelhos a tremer. Estava prestes a fazer chichi. A mamã não ia gostar nada disso.

“O que é aquilo?” Perguntou Denise.

A menina apontava na direção de duas formas que se erguiam do solo. A Libby pareciam dois grandes tubos dobrados na extremidade, quase completamente cobertos de hera.

“Não sei,” Disse Gary. “Parecem periscópios de submarinos. Talvez os fantasmas nos estejam a observar. Vai dar uma espreitadela, Denise.”

Denise libertou uma risada de medo.

“Vai tu!” Exclamou Denise.

“Ok, vou mesmo,” Disse Gary.

Gary entrou corajosamente na clareira e caminhou em direção a uma das formas. Parou a cerca de um metro de distância. Depois voltou-se e regressou para junto da prima e da irmã.

“Não sei o que é,” Disse.

Denise riu. “Isso é porque nem sequer olhaste!” Disse.

“Olhei sim senhora,” Ripostou Gary.

“Não olhaste nada! Nem te aproximaste!”

“Ai isso é que me aproximei. Se estás assim tão curiosa, vai lá ver por ti mesma.”

Durante uns instantes, Denise não disse nada. Depois, caminhou para o terreno ermo. Aproximou-se um pouco mais da forma do que Gary, mas regressou rapidamente sem parar.

“Também não sei o que é,” Informou Denise.

“É a tua vez de ir lá ver, Libby,” Disse Gary.

O medo de Libby trepava por si à semelhança daquela hera.

“Não a obrigues a ir, Gary,” Disse Denise. “É muito pequena.”

“Não é muito pequena. Está a crescer. Já é altura de o mostrar.”

Gary deu um encontrão a Libby. E, de repente, já se encontrava a curta distância do local. Virou-se e tentou voltar para trás, mas Gary estendeu a mão para a impedir.

“Nem penses,” Disse. “A Denise e eu fomos. Tu também tens que ir.”

Libby engloliu a saliva a custo, virou-se e enfrentou o espaço vazio com aquelas duas coisas dobradas. Tinha o sentimento assustador de que também a estavam a observar.

Lembrou-se novamente das palavras do papá…

“Os fantasmas não existem.”

O papá nunca mentiria sobre aquilo. Por isso, de que é que ela afinal tinha medo?

Além disso, já estava a ficar zangada com o Gary por estar a aborrecê-la. Estava quase tão zangada quanto assustada.

Eu já lhe mostro, Pensou.

As pernas tremiam-lhe e dava pequenos passos em direção ao grande espaço quadrado. Ao caminhar para a coisa metálica, Libby sentiu-se mais corajosa.

Quando se aproximou da coisa – estava mais perto do que Gary ou Denise haviam estado – sentiu-se bastante orgulhosa de si mesma. Mas ainda assim, não conseguia perceber de que se tratava.

Com mais coragem do que julgara possível, Libby estendeu a mão nessa direção. Empurrou os dedos pelas folhas de hera, esperando que a mão não fosse arrebatada ou comida ou algo pior. E os dedos encontraram finalmente o tubo metálico, frio e duro.

O que será? Pensou.

De repente, sentiu uma ligeira vibração no tubo. E ouviu algo. Parecia vir do tubo.

Ajoelhou-se muito próxima do tubo. O som era débil, mas ela sabia que não era fruto da sua imaginação. O som era real e parecia uma mulher a chorar e a lamentar-se.

Libby afastou a mão do tubo. Estava demasiado assustada para falar ou mexer-se ou gritar ou fazer o que quer que fosse. Nem conseguia respirar. Era como quando caíra de uma árvore de costas e o ar dos pulmões lhe parecia ter sido sugado.

Ela sabia que tinha que fugir. Mas ficou imóvel, incapaz de reagir. Era como se tivesse de explicar ao seu corpo como é que tinha que se mexer.

Vira-te e foge, Pensou.

Mas durantes alguns segundos intermináveis, não conseguiu obedecer à sua própria ordem.

De súbito, as suas pernas pareceram ganhar vida e deu por si a sair da clareira. Assustava-a a possibilidade de algo muito mau a alcançar e agarrá-la e levá-la de volta para aquele local.

Quando saiu da clareira, dobrou-se sobre si mesma, ofegante. Naquele momento compreendeu que todo aquele tempo sustivera a respiração.

“O que é que se passa?” Perguntou Denise.

“Um fantasma!” Gritou Libby. “Ouvi um fantasma!”

E nem sequer esperou por uma resposta. Desatou a correr o mais rápido que conseguia pelo caminho que tinham percorrido. Ouviu o irmão e a prima a correrem atrás de si.

“Ei, Libby, para!” Gritava o irmão. “Espera por nós!”

Mas não havia a mínima hipótese dela parar de correr antes de estar sã e salva em casa.

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