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CAPÍTULO TRÊS

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— Tem certeza que quer ir a pé para casa? Fica há quase três quilômetros daqui. — perguntou Aislinn, erguendo o olhar de sua bolsa, com as chaves do carro na mão e uma expressão cética.

Sim, eu duvidaria da minha capacidade também se eu estivesse no meu juízo perfeito, mas não estava. E eu odiei que a pergunta dela me fizesse sentir como se eu fosse velha. — Tenho certeza. Preciso tomar pouco de ar fresco e o exercício será bom para mim. — Tudo isso era verdade, mas não era realmente o motivo.

Uma vez que eu estivesse sozinha em casa, todos o turbilhão de pensamentos que consegui manter à distância na minha mente voltariam desenfreados e eu não tinha certeza se não acabaria tendo um colapso. Minha cabeça virou sem permissão e se concentrou no interior da cafeteria que acabamos de sair. Será que Bruce, o dono do Xí Cara, era um anão sobrenatural? Ou um outro tipo de Feérico? Ele tinha que ter algum tipo de magia para fazer sanduíches tão gostosos.

— Ele é um tipo de Feérico que chamamos de anões. Muito diferente das pessoas pequeninas — disse Aislinn, como se estivesse lendo minha mente. Espere. Será que ela realmente lia mentes?

— Você pode ler minha mente? — Aquilo seria terrível. Eu teria que parar de passar tempo com ela, o que seria uma droga porque eu realmente gostava daquela mulher briguenta.

Aislinn riu. — De jeito nenhum. É bem óbvio o que está passando pela sua cabeça. Mas não te culpo. Se eu não tivesse crescido sendo ensinada sobre um mundo oculto, que existe apenas em poucos lugares fora de Cottlehill Wilds, eu já teria dado entrada em um hospital psiquiátrico.

Uma gargalhada explodiu de mim. — Confie em mim, estou perto disso. Mas minha avó sempre me contava histórias sobre Feéricos e magia. Só nunca imaginei que era tudo verdade. De qualquer forma, obrigada pelo almoço. Te vejo em breve.

Eu me forcei a começar a caminhada de volta. A cidade estava movimentada enquanto eu caminhava lentamente pela rua principal e passava pela praça no centro. À primeira vista o lugar era como qualquer outro pequeno município, no entanto, tudo parecia diferente para mim hoje.

Havia um brilho em torno de algumas lojas e nada em outras. O restaurante Ostra de Safira pulsava com energia ao passar por ele. O Hora do Chá era cercado por plantas que lhe dava uma aura verde e uma sensação vibrante. Quando cheguei ao desvio que cortava caminho para os penhascos e a minha casa, estava convencida que havia algum tipo de fenômeno presente nesses locais. Era quase como se fosse uma indicação de que o lugar era propriedade de um sobrenatural.

No meio do caminho me virei para a esquerda em vez de direita e parei na beirada de um penhasco, observando o oceano que se estendia à distância. Quando eu estava em casa, em Pymm's Pondside, era impossível dizer que o oceano estava a apenas um quilômetro e meio de distância. Parada lá, sentia como se estivesse literalmente em outro mundo.

Além disso, senti que minhas pernas estavam quase desmoronando depois da caminhada que tinha acabado de fazer. Não é como se eu estivesse fora de forma, mas as dores que eu já estava sentindo eram suficientes para me fazer arrepender de não ter aceitado a carona de Aislinn até em casa.

Balançando a cabeça, me virei e comecei a descer a estrada que me levaria para casa. A agitação da cidade de repente ficou para trás, deixando-me cercada por árvores e arbustos. As casas a essa altura eram bem mais afastadas em vez de uma ao lado da outra, ou até mesmo parede com parede.

Eu não tinha visitado ninguém por aqui e não fazia ideia de como as propriedades deles se pareciam por trás das paredes de plantas e arbustos, que agiam como sentinelas fornecendo-os privacidade. Chutando uma pedra, eu observei ela bater em uma barreira invisível à minha direita. Eu mal consegui desviar quando ela foi atirada de volta em minha direção.

Eu me perguntava onde Sebastian morava. Violet me disse que ele vivia perto da minha casa. Eu fiquei chocada quando decidi me aventurar no mundo da perseguição e perguntar a Aislinn e Violet quem era o cara misterioso. Não passou despercebido por mim que no momento em que o descrevi com seus olhos azuis penetrantes e corpo musculoso, ambas as mulheres sabiam de quem eu estava falando. Fiquei surpresa que elas o conheciam o bastante para se referirem a ele pela versão abreviada de seu nome. Ele não parecia do tipo que falava com as pessoas, com ninguém na verdade.

A imagem dele cruzando os braços e olhando feio para mim passou pela minha mente. Bas, como Violet e Aislinn se referiam a ele, fazia até uma carranca parecer sexy. Eu não conseguia imaginar que alguém fosse capaz de sorrir, mesmo assim aquilo não me impediu. Eu estava atraída por ele, de uma forma ou de outra. Eu não poderia negar que estava curiosa se o rosto dele suavizaria quando ele me beijasse. O quê? Não, nem em sonho!

Eu alcancei minha casa rapidamente e parei para olhar para o jardim. As ervas daninhas estavam começando a crescer, então atravessei o portão e peguei as luvas da mesa montada à minha direita.

— Droga — gemi ao ficar de joelhos. Aquilo provavelmente foi um erro. Eu nunca mais conseguiria me levantar. Sem mencionar que a dor nas minhas juntas me manteria acordada a noite toda. Enquanto eu ficava ajoelhada lá arrancando as ervas daninhas do chão, Sebastian invadiu os meus pensamentos, de novo.

Droga. Foi por isso que tinha vindo até aqui. Para ter uma distração.

Agarrando as teimosas ervas daninhas, puxei uma atrás da outra enquanto forçava minha mente a focar na atividade que estava fazendo. Infelizmente, fazia muito tempo desde que eu tinha sido de alguma forma beijada ou tocada. Desde que o Tim morreu, nenhum homem tinha despertado o meu interesse. E certamente nunca tinha ficado tão atraída a ponto de querer levar um para a cama.

Estava acostumada a viver com essa parte de mim morta e enterrada. Porém, ver Sebastian parado lá com sua carranca tinha mudado algo em mim. Agora meu corpo estava desperto e não me deixava ignorar minhas necessidades.

Sentando-se para trás em meus tornozelos, eu fechei meus olhos e suspirei, tentando expulsar aquele calor latejante de dentro de mim. Era algo do qual eu tinha ficado muito boa em fazer durante o período em que Tim ficou doente. O som de algo agitando a água me assustou e eu fiquei de pé com um pulo. — Merda! — gritei quando meus joelhos começaram a reclamar na mesma hora. Ficar velha era uma merda.

A visão de flores desabrochando nas vitórias-régias apagou qualquer pensamento sobre meu corpo rangendo. Manquei até o portão e passei por ele apressadamente. O que diabos eu fiz? E… como? Eu já tinha feito pequenas coisas acontecerem algumas vezes na vida, mas nada neste nível.

A lagoa era pelo menos uns nove metros de comprimento e uns sete metros e meio de largura, e coberto por vitórias-régias que agora tinham deslumbrantes flores brancas nelas. Minha mente se recusava a acreditar que eu era a responsável pelo aparecimento delas.

Eles tinham que estar à beira de florescer antes. Era um dia ensolarado e brilhante. Os raios tinham que ter persuadido os botões a abrirem. Só que não havia nenhum botão antes, ou qualquer indício deles. Parada ali, minha boca escancarada em descrença, não havia outra explicação já que elas definitivamente não existiam momentos atrás.

Tirando as luvas, eu as coloque na mesa, depois entrei e lavei minhas mãos. O que deu início a um frenesi de limpeza. Lavei as bancadas, depois me mudei para as portas do armário antes de passar para despensa. Aquele ping estúpido começou em minha cabeça novamente.

Aquilo estava drenando as minhas forças e eu já estava perdendo o gás quando finalmente terminei de limpar a cozinha e fui para a sala de estar. Antes de dar o dia por encerrado, eu tinha que rearranjar os móveis para que ficassem do jeito que eu gostava. Quando meu marido morreu há alguns anos, aprendi que não havia necessidade de manter a casa da mesma maneira para homenagear a sua memória. Eu o amava, mas ele tinha partido. Não importava se eu mudasse a posição dos móveis ou comprasse novos que ele teria odiado. Eu ainda o amaria. Nada nem ninguém, poderia mudar esse fato.

Minhas costas protestaram quando empurrei o sofá para a parede oposta e o ping ainda estava me deixando louca. Minha avó tinha arranjado tudo ao redor da lareira. Não havia nada melhor do que uma lareira acesa no inverno, mas eu planejava criar um lugar que eu pudesse assistir televisão quando a minha chegasse na próxima semana.

Não havia TV a cabo em Cottlehill Wilds, mas havia internet. Graças a Deus pelo streaming. Tinha contratado um plano família quando Emmie começou a faculdade para que ela tivesse algo para acessar sem ter que pagar por isso.

Quando mudei a namoradeira de lugar, dei um passo para trás e odiei o novo arranjo. A mesa de centro não se encaixava com a disposição dos outros móveis. Abri a porta do lado da casa e empurrei a mesinha de madeira para o lado de fora. Voltando, eu gemi para a bagunça que eu tinha feito.

As dores evoluíram para agonia e eu mal conseguia me mover. Hora de tomar banho. Pegando uma garrafa de vinho e meu e-reader, eu praticamente engatinhei pelas escadas e entrei no meu banheiro. Eu precisava de uma pausa e tinha que fazer algo para parar aquele maldito ping.

Andando até a banheira de modelo antigo, com pezinhos em formato de garras e tudo, eu liguei as torneiras e tampei o ralo. Minha avó tinha vários potes cheios de líquido em uma prateleira de madeira no banheiro. Eu tinha jogado fora os que tinha um perfume que me lembravam dela e deixei o resto. Derramando um pouco de um líquido que cheirava a jasmim e maçã, virei-me para tirar minhas roupas e congelei.

Mancando até a janela, meus olhos se arregalaram quando vi Sebastian parado perto do cemitério da família. Um segundo depois eu estava correndo escada abaixo, apesar dos meus joelhos protestando.

Mas quando cheguei lá fora, ele não estava em lugar nenhum. Eu fiquei lá e virei em um círculo e depois xinguei. O que diabos ele estava fazendo aqui de novo? Se ele queria falar comigo por que ele foi embora? A boa notícia era que o ping finalmente parou.

Eu não tinha ideia de como encontrar Sebastian, então voltei para dentro. Quando ouvi o barulho de água no andar de cima, lembrei que tinha deixado a torneira da banheira ligada. Eu tropecei na minha pressa para subir, tinha abusado muito do meu velho corpo hoje.

Cheguei ao banheiro bem na hora em que a água quente começava a transbordar. Fechando a torneira, eu puxei a tampa do ralo e permiti que vários centímetros fossem drenados. Checando a janela para ter certeza que ninguém estava me observando eu puxei a camisa sobre minha cabeça, depois tirei meus sapatos e meias, em seguida, o resto das minhas roupas.

Céus, era delicioso afundar na água perfumada. Minhas dores diminuíram e peguei meu dispositivo e abri o último livro que estava lendo. Pensando bem, não era à toa que eu gostava tanto de histórias envolvendo criaturas paranormais e fantasiosas. Era parte de quem eu sou.

Eu me perdi na história até a água esfriar. Com um suspiro, pousei minha taça de vinho no chão e me levantei. Tive o prazer de descobrir que meus joelhos e costas me suportavam sem muita reclamação. Quaisquer que fossem aqueles óleos, eles tinham que ter poderes mágicos. Um banho nunca tinha me feito sentir tão bem assim antes.

Eu estava seca e vestida quando o sol começou a se pôr. Eu estava com fome de novo depois de uma longa tarde de caminhada, arrancar ervas daninhas e limpeza. Quando cheguei lá embaixo, cheguei ao limite do impossível pela segunda vez naquele dia.

— Como é que eu fiz isso acontecer? — Perguntei para o ar enquanto observava uma sala de estar perfeitamente organizada. O sofá e a namoradeira estavam do lado oposto, com a cadeira complementando os assentos. A pintura de uma paisagem que pairava sobre a lareira tinha sumido e suportes vazios estavam em seu lugar. Precisamente onde eu planejava pendurar a TV de tela plana.

Eu realmente preciso descobrir como funciona essa merda toda. Embora, eu não me importava de fazer flores crescerem e fazer a casa se ajeitar sozinha. Eu me virei e fui para a cozinha para pegar algo para um jantar leve. Nada me apetecia e eu não tinha desejo de cozinhar.

Por uma fração de segundo eu fiquei lá desejando alguns tacos de peixe como uma tola. Parte de mim realmente esperava que eu pudesse fazer as coisas aparecerem apenas desejando-as, enquanto o resto de mim sabia que aquilo era impossível. Eventualmente fui forçada a admitir a derrota e peguei uma maçã, um pouco de manteiga de amendoim e um refrigerante. Eu estava lá comendo quando o calor eclodiu sobre o meu corpo.

O suor escorria por todos os meus poros e eu fiquei tonta. Abri o freezer e fiquei na frente dele esperando que aquilo me esfriasse. Pela janela eu notei as árvores balançando com a brisa e eu estava tentada a andar lá fora, mas o ar frio da geladeira parecia bom demais para me mover.

Um segundo depois, a porta dos fundos se abriu e os ventos sopraram pela casa. Eu me assustei, fechei a porta do freezer e fui lá fora procurar o que fez a porta se abrir assim. O sol estava apenas se pondo e o céu era uma bela mistura de rosa e laranja.

Um ruído de cascalho sendo esmagado se intrometeu na quietude do meu momento de paz e me virei para ver Sebastian andando pela estrada. — Você está me seguindo, Sebastian?

Sua cabeça virou em minha direção e seus olhos arregalaram um pouco antes de estreitarem. Minhas mãos foram para minha boca e eu desejei me enfiar em um buraco. Eu tinha acabado de provar a ele que eu era o pior tipo de perseguidora do mundo.

— Eu não estou seguindo você. Eu vim para Pymm's Pondside. — Sua voz era mais áspera do que o cascalho sob suas botas pretas e me atingia de maneiras que não deveriam acontecer.

Limpando minha garganta, cruzei meus braços sobre meu peito. — Sim, posso ver isso. Por que você continua vindo aqui? Quer alguma coisa?

Ele me observou sem dizer nada. As palavras de Aislinn sobre meu novo trabalho como Guardiã brotaram em minha mente. A mulher não tinha me dado mais nenhuma informação sobre o assunto. Talvez ele quisesse atravessar para o reino Feérico.

— Ah, hum, você quer atravessar para… — Minhas palavras vacilaram enquanto minhas bochechas aqueciam. Eu não tinha ideia de como aquilo funcionava. Não queria que esse cara pensasse que eu era uma idiota.

Ele inclinou a cabeça. — Para Eidothea? O que você sabe sobre portal para o reino Feérico?

Meus ombros levantaram e caíram. — Não sei de nada. — Doeu ter que admitir aquilo. Por alguma razão eu queria que ele visse a mulher brilhante que eu era. Aquela que aprendia as coisas mais rápido do que qualquer um ao meu redor e tinha se formado em primeiro lugar da classe na escola de enfermagem. Era por isso que eu era a única enfermeira capaz de conectar pacientes ao aparelho de ECMO no meu hospital anterior. — Nem sei se acredito em nada do que Aislinn disse sobre magia, os Feéricos, e meu suposto trabalho.

— Eu estava preocupado com isso. É por isso que eu vim para cá.

— Por quê? Você está aqui para me ajudar? — Por favor, esteja aqui para me ajudar. Minha cabeça estava uma bagunça e precisava de alguém para me ensinar sobre tudo aquilo. Certamente havia regras que eu deveria seguir. A última coisa que eu queria fazer era cometer um erro porque eu não sabia das coisas.

Oh, Deus! E se eu deixar algum Feérico serial killer passar pelo portal?

Sebastian não respondeu, apenas ficou me encarando. Vaga-lumes começaram a rodear minha cabeça. Espantei eles com uma mão enquanto mantinha meus olhos em Sebastian. O zumbido tornou-se persistente até que finalmente me virei para ver que estava enganada sobre o que estava voando ao meu redor. Na verdade, eram pessoas pequeninas voando. Assim como a Sininho!

Estas criaturas tinham asas iridescentes e cabelos e roupas coloridos vibrantes. — O que são eles? Aislinn nunca me contou o que eles eram.

Sebastian diminuiu um pouco da distância entre nós. — Eles são pixies. E esses são brownies, ou duendes amigos.

Segui o dedo dele e notei pequenas criaturas marrons rastejando sob a cerca e indo para o jardim. — O que é que eles fazem? Eles estão tentando atravessar?

— Você realmente tem que dar um jeito de aprender antes que o Rei Voron envie algo terrível para estabelecer uma base neste reino. — Depois de rosnar essas palavras, Sebastian começou a se afastar.

Minha boca comprimiu em uma linha fina para evitar xingá-lo enquanto ele ia embora. Engolir a raiva e a frustração não foi fácil, especialmente quando considerei como isso tinha acabado de cair no meu colo e ele estava esperando que eu fizesse milagres.

Com um grunhido, dei um pisão na grama. Eletricidade escaparam das minhas mãos. Gritei e agitei minhas mãos no ar. Um raio branco brilhante voou para a esquerda e atingiu uma árvore.

Chamas irromperam ao longo da casca e uma figura alta e esbelta saiu de dentro dela gritando. Corri ao redor da lagoa e a alcancei num piscar de olhos. Meu coração bateu descontroladamente no meu peito enquanto queimaduras brotavam ao longo dos braços dela.

Agindo por instinto, corri para a lagoa e peguei o máximo de água com as mãos. Quando voltei para ela com um punhado de água, o fogo já apagado, e ela estava me encarando. Derramei o líquido sobre o braço dela. — Sinto muito. Eu não queria te machucar. Eu perdi a cabeça.

Os cantos dos seus finos lábios castanhos se ergueram e seus olhos verdes brilharam. — Está tudo bem, Bas tem esse efeito nas pessoas. Eu sou Theamise. Sua avó me convidou para viver no Bordo quando ele estava morrendo por causa de um fungo.

Acenei com a cabeça como se já soubesse disso. Quando eu menos percebia, algo novo era jogado para cima de mim. Exceto que eu sabia sobre aquilo. Vovó me contou a história sobre a árvore estar à beira da morte e que ela fez um acordo com uma ninfa para salvá-la.

Parecia impossível que essas criaturas sequer existissem. Se não fossem as histórias que minha avó me contou, eu ficaria muito mais chocada. Esperava que fosse mais fácil aceitar que tudo isso fosse real porque não podia continuar tendo as mesmas discussões na minha cabeça. Sério, eu fazia esquizofrênicos parecerem sãos.

Eu não tinha mais vinte anos. Ser atingida com tudo isso estava afetando a minha mente. Mas como todos os Shakleton, eu me recusava a permitir que isso me sobrecarregasse. Com um susto, percebi que minha mãe fugiu de tudo isso. Não achei que ela negasse a existência desse mundo. Afinal, ela me mandava para ficar com a mãe dela todo verão. Mas por que ela ou meu pai nunca me contaram sobre nada disso? Não pude deixar de me perguntar o que a fez se afastar.

Nada disso importa agora! Certo. Eu precisava dar um jeito na situação antes que ela saísse do controle. Algo estava obviamente acontecendo no meu novo mundo e eu tinha que descobrir o quê, antes que acabasse com a bunda no chão, literalmente.

— Eu realmente sinto muito sobre sua árvore. Espero não ter causado nenhum dano permanente, mas preciso correr e falar com uma amiga bem rápido.

— Eu entendo. Vou curar, assim como a árvore. Não se preocupe conosco. —Theamise acenou para mim e voltou para o Bordo.

Corri para a casa, peguei minha bolsa e chaves e pulei no meu carro. Violet não morava longe, e eu precisava perguntar se ela sabia alguma coisa sobre o que estava acontecendo. Talvez ela tivesse um livro que me ajudasse. Independentemente disso, precisava da minha melhor amiga para ajudar com um bom choque de realidade. Estacionei em frente à livraria Livre-se.

O sino tocou quando abri a porta e Violet olhou por cima do caixa. — Ei, Fiona. O que houve?

Eu deveria saber que ela perceberia a minha angústia. Eu verifiquei o corredor ao meu lado e o seguinte antes de me aproximar dela. — Preciso de sua ajuda. — Expliquei o que aconteceu naquele dia e o que Aislinn me disse antes.

Violet suspirou e me lançou um olhar de simpatia que eu já tinha visto umas mil vezes antes. — Aislinn disse a verdade. Sua avó foi a última Guardiã e você é a única herdeira viva, então quando você reivindicou a casa você reivindicou a posição.

— Como eu nunca soube de tudo isso? Por que você nunca me contou que a magia existia?

Violet mordeu o lábio. — Eu presumi que você nasceu uma Mundana e é por isso que seus pais se mudaram com você. É difícil para um Mundano crescer entre os sobrenaturais. — Eu não seria a pessoa a falar sobre o mundo que existia ao seu redor, especialmente se não houvesse nada que você pudesse fazer para se proteger dele.

Peguei uma das canetas com pontas felpudas do mostruário e comecei a esfregá-la entre as minhas palmas, precisando de uma distração. — Eu não consigo acreditar que tudo isso é real. Que todas as histórias da vovó eram verdadeiras.

— É muito para assimilar. Imagino que você sinta como se um tapete fosse puxado debaixo dos seus pés — disse Violet, enquanto observava a minha agitação.

— Exatamente! Sebastian não ajudou em nada, e Aislinn me contou um pouco, mas não o que eu realmente preciso saber. Eu quero enfiar minha cabeça na areia e fingir que nunca ouvi nada disso.

— Mas você não vai — interveio Violet com um sorriso de quem sabe tudo. — Você enfrenta os problemas de frente, mesmo quando eles parecem impossíveis ou são dolorosos de lidar.

— Você me conhece bem. Não posso ignorar nada disso, por isso estou aqui. Preciso saber como devo proteger esse portal. Nem sei onde ele fica. Você tem alguma coisa que possa me ajudar?

— Eu posso ser uma bruxa, mas eu não posso dar-lhe essas respostas. Essa é uma informação que só sua família sabe — informou Violet, se encolhendo um pouco.

Meus ombros afundaram e eu senti vontade de bater em alguma coisa. — Como diabos eu vou fazer este trabalho quando eu não tenho nenhuma informação? Sebastian acabou de me dizer que o Rei Voron enviaria algo terrível através do portal e que eu seria responsável pelo fim do mundo. Você não tem um livro que pode pelo menos me dar informações sobre o que estou lidando?

Violet acenou com uma mão. — Em primeiro lugar, não dê ouvido a ele. Ele faz do mau humor uma forma de arte. Segundo, gostaria de ter algo que ajudasse. Meu melhor conselho é que você faça uma busca em sua casa. Sua avó teve que ter deixado algo que a ajudasse, ela sabia que você voltaria algum dia.

— Ela podia ter me enviado uma carta. Ou deixado uma na mesa da cozinha. Diabos, nem que fosse um e-mail. Feito qualquer coisa para me dar a informação que eu preciso. O peso do mundo está literalmente nos meus ombros de meia-idade e eles estão prestes a desistir.

Violet riu e balançou a cabeça. — Parece que você tem andado em círculos o dia inteiro. Vamos jantar, depois eu posso ajudá-la a fazer uma busca em sua casa.

Assenti, a emoção de repente tomando conta de mim. Foi como se algo tivesse encaixado com um clique dentro do meu peito.

Violet deu um pulinho com um sorriso largo erguendo os seus lábios. — Ei, nós acabamos de formar um coven de duas pessoas? — Ela deve ter sentido algo parecido com o que tinha acabado de sentir.

— Eu acho que está mais para três pessoas. Acho que Aislinn não gostaria de ficar de fora — corrigi.

— Nisso você está certa. Deixe-me fechar a loja e podemos sair daqui.

— Isso seria fantástico. Obrigada. — Eu não tinha nenhum desejo de fazer a busca sozinha. Era bom ter alguém me apoiando.

Eu poderia ter acabado de embarcar em um episódio de "Além da Imaginação", mas havia muitas pessoas ao redor para me ajudar a navegar pela escuridão. Eu não estava sozinha e isso aliviou minha preocupação mais do que qualquer coisa. Uma coisa que aprendi era que você precisa se cercar de amigos e família como apoio, ou você será comido vivo pelas reviravoltas da vida.

Novos Começos Encantados

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