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II
Alexandre

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Alexandre, filho de Philippe, rei da Macedonia, foi um dos maiores capitães da antiguidade. Desde a mais tenra edade que foi sempre animado d'uma nobre ambição. Quando lhe perguntavam se concorria aos jogos olympicos, respondia:

—«Iria, se tivesse a certeza de encontrar reis como rivaes!»

Chorava de cólera, vendo os successos multiplicados de Philippe, lamentando-se, d'este modo:

—«Meu pai nada nos deixará que fazer!»

Alexandre ficou em todas as linguas como o typo do heroe e do conquistador. As differentes circumstancias da vida de Alexandre, que originaram locuções proverbiaes são as seguintes e por ordem chronologica:

1.º—Se eu não fosse Alexandre, desejaria ser Diogenes.

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Alexandre acabava de ser nomeado generalissimo dos gregos, e achava-se em Corintho, aonde os principaes cidadãos se apressavam em dirigir-lhe as suas felicitações. Admirado de não receber a visita de Diogenes, foi elle proprio procurar o celebre cynico, cuja conversação facil e picante o encheu de assombro. Alexandre tendo perguntado ao philosopho se desejava alguma coisa, elle respondeu:

—«Tira-te do meu sol.»

Foi então que o grande conquistador, assombrado com tanto desinteresse, exclamou:

—«Se eu não fosse Alexandre, desejaria ser Diogenes.»

2.º—Meu filho, nada póde resistir-te.

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Antes de partir para a expedição que projectava na Asia, Alexandre quiz consultar o oraculo de Delphos. Como a pythia recusasse subir ao tripé, o moço heroe arrastou-a violentamente. Ella exclamou então:

—«Ah!, meu filho, nada te póde resistir.»

—«Esse oraculo me basta—respondeu Alexandre—não quero outro.»

3.º—Reserva da Esperança.

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Na primavera do anno 334, Alexandre, tendo apenas vinte e dois annos d'edade, dispunha-se a invadir a Asia, á frente d'um exercito de trinta mil infantes e cinco mil cavallos. Como se já estivesse de posse dos thesouros do grande rei, distribuiu aos amigos tudo quanto tinha. Perdiccas perguntou-lhe então:

—«Que reservaes para vós?»

—«A Esperança»—respondeu Alexandre.

4.º—Nó gordio.

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Gordio, simples lavrador phrygio, tornou-se rei, por ter cumprido um oraculo, que promettia a corôa ao que primeiro entrasse, n'um determinado dia, na capital. Midas, seu filho, consagrou, no templo de Jupiter o carro sobre o qual seu pai fôra transportado. O nó que ligava o jugo ao timão estava tão artisticamente dado, que não se lhe descobriam as pontas. Chamavam-no o nó gordio ou de Gordio, e um antigo oraculo promettia o imperio da Asia a quem conseguisse desatal-o.

Alexandre, tendo-se apoderado da cidade, resolveu cumprir o oraculo e actuar fortemente sobre a imaginação dos seus soldados. Depois de varias tentativas infructiferas, desembainhou a espada e cortou o nó mysterioso, illudindo mais, que realisando, d'este modo, o oraculo.

5.º—O medico de Alexandre.

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Pouco tempo depois da passagem do Granico, Alexandre, tendo-se banhado, a suar, nas aguas geladas do Cydnus, foi subitamente atacado d'um tremor mortal, e os soldados levaram-n'o, sem movimento, para a tenda. Todo o exercito se consternou, porque o seu estado parecia desesperado. Ao mesmo tempo, Dario avançava com forças immensas para lhe barrar as sahidas do Taurus. Os medicos não ousavam experimentar remedio algum; um só, Philippe, Acarniano de nação, e amigo d'infancia d'Alexandre, compoz uma poção, cujo effeito poderoso e salutar devia ser immediato. Durante estes preparativos, Alexandre recebeu uma carta de Parmenion, que o advertia de que desconfiasse de Philippe, secretamente comprado por Dario, para attentar contra os dias de seu monarcha. O heroe tinha ainda a carta nas mãos, quando o medico lhe levou a poção. Alexandre, sem manifestar a menor emoção, tomou a taça com uma das mãos, apresentou com a outra a carta a Philippe, e bebeu tudo d'uma só vez. O medico indignado, mas dominando as suas impressões, exhortou o rei a seguir fielmente as suas prescripções: a cura estava n'aquelle premio. Em verdade, apoz uma crise terrivel que gelou d'espanto todo o exercito, e de que um só homem não sabia a sahida, o doente melhorou e restabeleceu-se.

O que ha de admiravel n'este traço da vida de Alexandre é a sua profunda fé na amizade.

6.º—Este tambem é Alexandre

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Ephestion é menos citado na Historia pela parte que tomou nas conquistas d'Alexandre, que pela grande amizade que o unira áquelle heroe. Os dois amigos tinham sido educados juntos, e só a morte os separou. Depois da sangrenta batalha d'Issus, em que a mãe, a mulher e as duas filhas de Dario, cahiram em poder do vencedor, Alexandre, acompanhado d'Ephestion, foi visitar, á sua tenda, as infelizes princezas. Sysigambis, mãe de Dario, dirigiu a saudação a Ephestion, que tomou por Alexandre, pela superioridade da estatura e esplendor do traje. Advertida do engano, lançou-se aos pés do heroe, que a levantou bondosamente, dizendo-lhe:

—«Não vos enganasteis, aquelle tambem é Alexandre.»

7.º—E eu tambem, se fosse Parmenion

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Depois da batalha d'Issus, que fizera cahir nas mãos d'Alexandre toda a familia de Dario, e alguns dias antes da batalha d'Arbelles, o grande rei fez offerecer ao vencedor dez mil talentos—cincoenta e quatro milhões—a cedencia de toda a Asia até ao Euphrates, e uma das suas filhas em casamento. Alexandre tendo communicado estas brilhantes propostas aos seus generaes, Parmenion exclamou:

—«Eu acceitaria, se fosse Alexandre.»

—«E eu tambem, se fosse Parmenion!»—respondeu Alexandre.

E recusou.

8.º—Ó athenienses! quanto custa ser louvado por vós!

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Alexandre tinha, do fundo da Asia, os olhos fixos na Grecia, e, sobretudo, em Athenas. Apesar do abaixamento em que esta cidade havia cahido, ficára sempre capital do mundo civilisado, pelas obras primas dos seus artistas, pelos immortaes discursos dos seus oradores e pela eloquente verdade dos seus historiadores, e Alexandre, tão apaixonado pela gloria, aspirava, acima de tudo, aos applausos d'esses athenienses frivolos, mas que egualmente distribuiam pela posteridade, a censura como o louvor. O conquistador acabava de penetrar nas vastas regiões da India, e preparava-se para atravessar o Hydaspe, de que Porus, á frente d'um formidavel exercito, ia disputar-lhe a passagem. O rio era largo e profundo, e as suas vagas quebrando estrepitosamente, deixavam a descoberto, aqui e alli, rochedos ameaçadores. Alexandre illude a attenção dos inimigos por um falso ataque, e aproveitando-se d'uma tempestade que lhe encobre os movimentos, affronta perigos inauditos para transpor o rio. Confessou depois que tinha, emfim, encontrado alli um perigo digno da sua coragem, e foi n'esta circumstancia, diz Racine, no prefacio da sua tragedia Alexandre, que o heroe exclamou:

—«Ó athenienses! quanto custa ser louvado por vós!»

9.º—Ao mais digno.

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Estava conquistada a Asia; a terra, segundo a bella expressão da Escriptura, tinha-se callado deante de Alexandre; elle fizera a sua entrada na Babylonia, «não como um conquistador, mas como um deus» e o papel brilhante e terrivel que representára estava a terminar. Os festins e os desvarios de toda a especie tinham succedido ás batalhas. No meio d'uma ultima orgia, o conquistador foi atacado d'uma febre, que o levou em poucos dias. Só deixava herdeiros em curta idade, ou incapazes. Conta-se que, no leito da morte, perguntando-lhe os generaes a quem legava o imperio, elle respondera:

—«Ao mais digno!»

E expirou «cheio das tristes imagens da confusão que devia seguir-se á sua morte.»

10.º—Os funeraes d'Alexandre.

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«Alexandre—diz Bossuet—deixava, morrendo, capitães a quem tinha ensinado a respirar sómente ambição e guerra. Previu a que excessos se dariam, quando expirasse, e para os conter, e com receio de ser desrespeitado, não ousou nomear nem successor, nem tutor para seus filhos. Predisse sómente que os seus amigos celebrariam os seus funeraes com sanguinolentas batalhas

11.º—Desmembramento do imperio d'Alexandre.

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Apenas Alexandre exhalou o ultimo suspiro, os generaes reuniram-se para dividirem a sua immensa herança. Perdiccas, a quem Alexandre moribundo deixára o seu annel, fez-se nomear regente; e os outros generaes distribuiram entre si as provincias. Lysimaco teve a Thracia, Antipater a Macedonia e a Grecia, Ptolomeu o Egypto, Antigono e Cassandro repartiram a Asia Menor. Vinte annos depois encontravam-se nas planicies da Phrygia, e a batalha de Ipsus era o ultimo acto d'essa sangrenta tragedia.

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