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Planeta Terra Tell El-Mukayyar Iraque

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Elisa Hunter estava tentando pela enésima vez enxugar as malditas gotas de suor que, da sua testa, teimavam em cair lentamente na direção do seu nariz, e em seguida, mergulhar na areia quente aos seus pés. Já havia muitas horas que estivera de joelhos, com a sua inseparável Espátula Marshalltown6 , raspando delicadamente o solo, na tentativa de trazer à luz, sem danos, aquela que parecia ser a parte superior de uma lápide. Desde o começo, essa teoria não a tinha convencido. Estivera trabalhando por quase dois meses perto do Zigurate de Ur.7 Graças a sua fama de arqueóloga e especialista em língua sumeriana, tinham lhe dado permissão para trabalhar. Muitas sepulturas foram encontradas desde o começo das escavações no início do séc. XX, mas em nenhuma delas tinham visto um artefato como aquele. Dada a forma quadrada particular e o grande porte, maior que um sarcófago, parecia a "tampa" de uma espécie de recipiente enterrado ali milhares de anos antes, para proteger ou esconder não se sabia o quê.

Infelizmente tendo descoberto, pelo momento, apenas uma porção da parte superior, ainda não era capaz de determinar a altura do suposto recipiente. As incisões cuneiformes que cobriam toda a superfície visível da tampa não se assemelhavam a nada que já tivesse visto antes.

Para traduzir, levaria vários dias e muitas noites sem dormir.

— Doutora.

Elisa levantou a cabeça, e com a mão direita logo acima dos olhos para protegê-los do sol, viu o seu ajudante Hisham se apressando em sua direção.

— Doutora — repetiu o homem — uma chamada para você da base. Parece urgente.

— Já vou. Obrigada Hisham.

Aproveitou a pausa forçada para beber um gole de água, já quase fervendo, do cantil que ela sempre levava preso ao cinto.

Uma chamada da base… Só pode ser problema.

Levantou-se, deu uns tapas nas calças levantando várias nuvens de poeira e caminhou determinada para a tenda que servia de base de apoio para pesquisas.

Ela abriu o zíper que mantinha a tenda semifechada e entrou. Demorou um pouco para seus olhos se habituarem à mudança de luz, mas isso não a impediu de reconhecer, no monitor, o rosto do Coronel Jack Hudson, que severamente, olhava para o nada, esperando ela aparecer.

O Coronel era oficialmente responsável pela equipe estratégica antiterrorismo em Nassíria, mas a sua verdadeira tarefa era coordenar uma série de estudos científicos encomendados e controlados por um departamento enigmático: o ELSAD8 . Esse departamento era cercado pela aura de mistério que normalmente envolve esse tipo de corporação. Quase ninguém sabia exatamente os objetivos precisos e as metas dessa organização. Sabia-se apenas que o comando operacional reportava diretamente ao Presidente dos Estados Unidos.

No fundo, Elisa não se importava muito. A verdadeira razão pela qual ela tinha decidido aceitar a oferta de participar de uma das expedições era que, finalmente, poderia voltar para o lugar que mais amava no mundo, fazendo o trabalho que adorava e em que, apesar da sua idade relativamente jovem (trinta e oito), era uma das mais talentosas e importantes no setor.

— Boa noite, Coronel — disse ela, mostrando o seu melhor sorriso. — A que eu devo esta honra?

— Doutora Hunter, pare com essas pieguices. Sabe muito bem por que estou ligando. A autorização que foi concedida para completar o seu trabalho já expirou há dois dias e a senhora não pode mais ficar aí.

Sua voz era clara e firme. Desta vez, nem mesmo o seu charme inegável seria suficiente para arrancar um adiamento. Decidiu jogar sua última cartada.

Desde 23 de março de 2003, quando a coalizão liderada pelos Estados Unidos havia decidido invadir o Iraque, com o propósito expresso de depor o ditador Saddam Hussein, acusado de manter armas de destruição em massa (alegação que se revelou infundada depois) e de apoiar o terrorismo islâmico no Iraque, toda a pesquisa arqueológica, já muito difícil em tempos de paz, havia sofrido uma parada forçada. Foi apenas com o fim formal das hostilidades em 15 de Abril de 2003 que reanimou a esperança de arqueólogos de todo o mundo de poderem voltar aos lugares em que, presumivelmente, as civilizações mais antigas da história tinham se desenvolvido e em seguida, espalhado a cultura em todo o globo. A decisão das autoridades iraquianas no final de 2011 de reabrir as escavações de alguns dos locais com valor histórico inestimável, a fim de "continuar a aperfeiçoar a sua herança cultural" finalmente transformou a esperança em certeza. Sob a bandeira da ONU e com inúmeras autorizações assinadas previamente e confirmadas por um número incontável de "autoridades", vários grupos de pesquisadores, selecionados e supervisionados por funcionários competentes da comissão, poderiam operar por períodos limitados, nas áreas arqueológicas mais significativas do território iraquiano.

— Caro Coronel — disse ela, aproximando-se tanto quanto possível da webcam, de modo que seus olhos verdes-esmeralda pudessem obter o efeito que esperava: — o senhor tem toda a razão.

Sabia bem que dar razão ao interlocutor, o teria preparado de forma mais positiva.

— Mas agora que estamos tão perto.

— Perto do quê? — o Coronel gritou, levantando-se da cadeira e apoiando os punhos sobre a mesa. — Há semanas que persistiu com a mesma história. Não estou disposto a confiar mais sem ver com os meus próprios olhos algo de concreto.

— Se o senhor me der a honra da sua companhia esta noite no jantar, terei o maior prazer de lhe mostrar algo que irá fazê-lo mudar de ideia. O senhor aceita?

Os dentes brancos ostentavam um sorriso bonito e o passar de mão pelo cabelo louro e comprido fazia o resto. Ela tinha certeza que o tinha convencido.

O Coronel franziu o cenho, tentando manter um olhar furioso, mas sabia que não resistiria a essa proposta. Elisa fazia o seu tipo e um jantar tête-à-tête o intrigava muito.

Além do mais ele, apesar dos seus quarenta e oito anos, era ainda um homem atraente. Corpo atlético, traços marcantes, cabelos grisalhos curtos, olhar forte e decidido de um azul intenso, uma boa cultura geral que lhe permitia manter discussões sobre muitos temas, tudo combinado com o charme indiscutível do uniforme, fazia dele um exemplar do sexo masculino ainda muito interessante.

— Ok — bufou o Coronel — mas se esta noite realmente não me mostrar algo de extraordinário, já pode começar a recolher toda a sua bugiganga e fazer as malas — ele tentou usar o tom mais autoritário possível, mas sem muito sucesso.

— Às vinte e zero horas esteja pronta. Um carro irá buscá-la no seu hotel — e desligou, um pouco arrependido de não ter se despedido.

Raios, tenho que me apressar. Tenho poucas horas antes de escurecer.

— Hisham — gritou, espiando para fora da tenda. —Reúna toda a equipe. Preciso de toda a ajuda possível.

Ela caminhou apressadamente os poucos metros que a separavam da área de escavação, deixando para trás uma série de pequenas nuvens de poeira. Em minutos, todos se reuniram ao seu redor, esperando por suas ordens.

— Você, por favor, remova a areia daquele canto — ordenou, indicando o lado da pedra mais longe dela. — e você, ajude-o. Sugiro que tomem muito cuidado. Se é o que penso, esse objeto salvará a nossa pele.

De Volta À Terra

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