Читать книгу Confições De Uma Endiabrada - Dawn Brower - Страница 4
CAPÍTULO UM
ОглавлениеLondres 1825
Jason Thompson, o Conde de Asthey, recostou-se na cadeira do escritório do Clube Coventry e franziu o cenho para a carta, a mais recente de várias, do advogado de seu avô, exigindo uma audiência. Ele não queria lidar com nada disso.
Seu avô materno, o Duque de Wilmington, sempre fora bom para ele. Se não fosse por seu avô, estaria pobre há muito tempo. Seu pai havia apostado a pouca fortuna do título de Conde quando Jason não tinha mais que quinze anos. Pouco tempo depois, seu pai morreu de forma questionável. Não conseguiram provar que ele se matou, mas isso não impediu os sussurros. Muitos acreditavam que ele queria evitar a ruína e escolheu o caminho mais covarde para isso.
Quando os cobradores de seu pai exigiram o pagamento, foi quando tudo deu uma guinada que ele nunca teria previsto. Jason não sabia muito sobre o mundo e logo recebeu algumas lições rápidas, há mais de uma década, que não esqueceria jamais.
Os homens haviam maltratado sua mãe, e não tiveram vergonha de dar alguns golpes na barriga de Jason. Ele pensou que ia morrer, nem queria pensar no que poderia ter acontecido com sua mãe depois que ele desse seu último suspiro. Inferno, nem precisaria da morte dele para pensarem em abusar dela das maneiras mais hediondas. Aqueles homens não eram credores adequados. Eles eram do tipo cruel, e não pagá-los certamente levaria à morte certa. Jason começou a se perguntar se seu pai havia sido assassinado depois daquela visita.
Eles sobreviveram, mas com cicatrizes invisíveis em Jason e sua mãe. O duque os salvara de mais visitas desse tipo. Jason se recusara a sair da casa, mas sua mãe fora morar com o duque. Ela se sentira mais segura sob os cuidados de seu pai. Jason havia escolhido um caminho diferente, aprendeu a atirar e se tornou um atirador hábil. Então começou a carregar uma pistola com ele o tempo todo. Depois disso, treinou com um pugilista e aprendeu a se defender com os punhos, e no que conseguisse colocar em suas mãos, no caso de perder o controle de sua arma. Ele não ficaria indefeso novamente.
Agora, o duque estava morto. Tinha falecido por quase seis meses. Era surpresa que Jason não quisesse enfrentar isso? Ele não gostava do tio, o novo duque. Então, ele se recusou a viajar para o castelo de Wilmington. Não via nenhum motivo para visitar esse advogado. A maior parte do ducado estava comprometida; portanto, a pouca herança que receberia não seria muito.
Jason havia conseguido economizar com os poucos fundos que a propriedade Asthey conseguia lucrar. No entanto, teria que descobrir outra coisa em breve, porque a propriedade não era auto sustentável e se as coisas continuassem em sua trajetória atual, ficaria sem fundos para manter tudo funcionando em um ano, no máximo dois.
A propriedade precisava de reparos e muitos dos inquilinos estavam trabalhando com um maquinário antigo. Jason não sabia o que deveria fazer sobre isso. O casamento sempre foi uma opção. Uma herdeira com um dote robusto resolveria todos os seus problemas financeiros, mas deixava um gosto amargo na boca. Ele odiava a ideia de se casar apenas por dinheiro. Honestamente, odiava completamente a ideia de casamento, considerando o quão horrível havia sido o de seus pais. Ele preferia ficar desimpedido em vez de tornar miserável uma pobre mulher.
– O que você está fazendo sentado aqui, meditando? – Shelby se demorou enquanto entrava preguiçosamente na sala.
Jason olhou para cima e franziu a testa. Os cabelos escuros de Shelby estavam despenteados, talvez pelo vento lá fora, Jason duvidava que ele voltasse aos velhos hábitos de seduzir qualquer mulher disposta e permitisse que elas passassem os dedos por suas mechas negras. Afinal, Shelby amava a esposa. O resto dele estava imaculado, o que sugeria que ele definitivamente respeitava seus votos de casamento. Seu traje era quase todo preto. O colete era verde esmeralda, e a gravata e a camisa eram brancas.
Jason bateu o dedo no braço da cadeira. – O que você está fazendo aqui? – Ele levantou uma sobrancelha. – O clube não é para homens que sucumbiram aos males do casamento.
Seu amigo riu e foi se sentar ao lado dele. Ao se instalar no sofá, ele disse: – Harrington decidiu fazer algumas exceções. Algo sobre precisar de alguns homens em quem possa confiar para lidar com as coisas quando ele não está aqui. Ele recrutou Darcy e eu para atuar como seus tenentes, por falta de uma palavra melhor.
– Ele tem saído de Londres com frequência ultimamente. – Jason encolheu os ombros. Harrington poderia ter lhe pedido para cuidar das coisas. Ele não se importaria. – Ser pai tornou o clube menos atraente.
– Ele tem novas prioridades – concordou Shelby. – Isso aconteceria quando ele se apaixonasse. Marian o mudou e para melhor. – Ele olhou em direção ao bar. – Eu preciso de uma bebida. Você quer uma?
– Vejo que o casamento não o mudou muito – Jason o incitou. – Kaitlin não sente sua falta?
Ele sempre gostou de Lady Kaitlin. Ela podia ser tímida, mas tinha uma inteligência aguçada. Shelby não poderia ter escolhido uma mulher melhor para se apaixonar. Eles se completavam bem. Kaitlin ajudava a impedir Shelby de agir… imprudentemente. Ele parecia mais centrado desde o casamento deles. Jason nunca imaginou que os dois se apaixonariam, mas estava feliz por eles. Ele pode não acreditar em amor para si mesmo, mas estava feliz que seus amigos foram capazes de encontrá-lo.
Ele acenou com a mão em desdém. – Ela está tomando chá com Samantha e Marian. – Shelby serviu conhaque em dois copos e os levou até Jason. Ele segurou um copo na frente de Jason e disse: – Ela praticamente me empurrou para fora da porta. Elas não gostam de companhia masculina quando estão prestes a fofocar.
– Sim – Jason respondeu distraidamente. – Isso tornaria difícil discutir situações delicadas.
Jason deveria deixar o clube. Ir visitar o advogado do avô e, finalmente, ver o motivo de toda essa confusão, mas não faria nada disso. Em vez disso, ele se sentaria no Clube Coventry com Shelby e beberia conhaque, provavelmente vários copos. Depois, tropeçaria nas escadas para o quarto que mantinha no clube e dormiria até o dia seguinte. Ignorar seus problemas estava se tornando um talento particular dele.
– Então você sabe por que estou aqui. – Ele tomou um gole de conhaque. – Agora explique por que você está aqui. Você não deveria estar no meio da natureza em Surrey ou algo assim?
– Não há nada lá para mim. – Com a ausência do avô, a propriedade ducal não oferecia nenhum conforto.
– Sua mãe não está lá? – Shelby inclinou a cabeça para o lado.
– Considerando que ela nunca sai do castelo, presumo que sim. – Jason engoliu um pouco de conhaque. Queimou enquanto descia pela garganta. Ele gostava da queimação, o fazia sentir algo quando normalmente não sentia nada além do vazio rolando através dele. – Ela está confortável lá. Quem sou eu para perturbar isso?
Talvez estivesse sendo duro demais com ela. Ela passara muito tempo vivendo com o pai dele. Sua mãe merecia uma sensação de segurança depois de tudo aquilo, e ele queria que ela a tivesse. Uma parte dele se sentia um pouco traído. Ela nunca quis vê-lo e não suportava olhar para ele quando estava por perto. Ele parecia muito com o pai, o mesmo cabelo loiro e olhos azuis, as mesmas maçãs do rosto esculpidas e físico. Mesmo tudo. O que tornava impossível para ela se sentir segura perto dele. Como se Jason algum dia fosse colocar um dedo nela tomado pela raiva. Ele nunca machucaria sua mãe, emocional ou fisicamente. Então, pelo bem dela, ele ficava longe.
Ele estava uma bagunça.
– Não é um pouco mais complicado que isso? E os últimos desejos do seu avô? Você não deveria descobrir quais são?
Ele girou o conhaque restante em seu copo. – Não preciso viajar para Surrey para descobrir o que meu avô queria.
– O que você precisa fazer então? – Shelby perguntou.
Jason levantou a carta do colo e a jogou para Shelby. Depois engoliu o conhaque restante em um gole. Ele se levantou e foi encher o copo enquanto Shelby examinava a mensagem do advogado.
Ele sentou-se e esperou. Não demorou muito para Shelby levantar o olhar para encontrar o dele. – Por que você está ignorando isso?
– Eu não sei. – Ele passou a mão pelos cabelos. – Isso tornaria decisivo. Então eu teria que aceitar que ele realmente se foi, e não estou pronto para fazer isso.
– Acho que já passou da hora – disse Shelby suavemente. Ele estendeu a mão e colocou a mão no braço de Jason. – Vá ver o advogado. Você não pode mais ignorar isso.
Ele sentia muita falta do avô, mas Shelby estava certo. Ele precisava ver o advogado. Ignorá-lo por tanto tempo era tolice.
– Eu ouço o que você está dizendo e até concordo com isso, mas agir de acordo… É aí que eu sempre falho.
– Você gostaria que eu fosse com você? – Shelby perguntou. – Isso ajudaria a finalmente fazer a coisa certa?
Faria? Ele realmente precisava de alguém segurando sua mão para que parasse de agir como uma criança e fizesse a coisa certa? Seria muito mais fácil se ele acabasse logo com isso, não importando o quanto não queira. Tinha que ser feito.
– Talvez eu precise de alguém para chutar minha bunda por todo o caminho. Você está disposto a lidar com essa tarefa?
– Seria um prazer. – Shelby sorriu. – Mas eu tenho um pedido primeiro.
Jason franziu a testa. Ele estava quase com medo de perguntar. – O que você precisa?
– É uma coisa pequena. Tenho certeza que você pode lidar com isso. – Ele estendeu a mão. – Me dê sua pistola.
Jason não ia a lugar nenhum sem a pistola. Era uma das coisas que sempre o fazia se sentir seguro. Ele não tinha certeza de que conseguiria sair do clube sem que estivesse com isso.
– Por quê?
– Porque é hora de você soltar algumas de suas redes de segurança. – Shelby sorriu. – E se eu chutar sua bunda por todo o caminho, prefiro não levar um tiro por meus esforços.
– Eu nunca…
– Sim, você faria – Shelby o interrompeu. – Você não atiraria para matar, mas não duvido que puxaria o gatilho só porque eu o irritei.
Jason inclinou a cabeça para o lado e considerou. Houve muitas vezes que Shelby teria merecido. O amigo nem sempre era a melhor pessoa na sala. Inferno, na maioria das vezes, ele nem chegava perto do topo.
– Se eu prometer não atirar em você, posso ficar com ela?
– Não – disse Shelby com firmeza. – Vai ficar aqui. – Ele levantou a mão para gesticular para Jason deixá-lo terminar de falar. – Antes que você diga mais… embora prometa me deixar ileso, não confio que você não faça nada desagradável ao advogado se ele tiver notícias difíceis para transmitir a você. Então deixe a pistola aqui.
– Tudo bem – Jason concordou. Ele não disse nada sobre deixar sua lâmina para trás. Pelo menos, ele ainda tinha isso em uma luta. Embora preferisse a pistola. – Se você insiste, deixarei na mesa de Harrington. Dessa forma, um dos iniciantes que entrar não brincará com isso e acidentalmente atirará em alguém.
– Você não precisa me explicar isso. Ninguém é tão ruim quanto o Conde de Barton. Eu juro que ele está ficando mais estupido a cada dia. – Shelby revirou os olhos. – Harrington poderá ter que restringir seus privilégios em breve, se ele continuar sendo um tolo.
Tendo tido alguns encontros com Barton no passado, Jason estava bem ciente da falta de senso do jovem conde. Dizer que ele era um idiota não dava toda a abrangência de sua inaptidão.
– Essa é uma das razões pelas quais Harrington tem você e Darcy. – Seus lábios se inclinaram para cima em um sorriso perverso. – Você começa a reconhecer os idiotas que não conseguem diferenciar a própria cabeça de suas bundas.
– Não me lembre. – Shelby estremeceu. – Agora, coloque a pistola na mesa para que possamos sair. Detestaria chegar lá e o advogado ter encerrado os serviços para o dia.
Jason resmungou um pouco, mas fez o que Shelby exigiu. Então voltou para onde seu amigo ainda estava descansando. Shelby terminou o conhaque e colocou o copo sobre a mesa para que um criado recolhesse mais tarde.
– Vamos lá – disse ele.
Jason assentiu e o seguiu para fora da sala. Eles saíram do clube e foram para o escritório do advogado. Ele não sabia o que encontraria quando chegasse lá, mas lidaria com isso. Jason não era um covarde, e era hora de parar de agir como um. Ele respirou fundo e se preparou para o que estava prestes a fazer. Seria difícil, mas tinha Shelby com ele. Isso tinha que contar para alguma coisa.