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CAPÍTULO UM
ОглавлениеDez anos depois…
Scarlett olhou pela janela da carruagem enquanto percorriam o longo caminho que levava à Weston Manor. De certa forma, era algo surreal. Durante a sua última visita, teve uma experiência bizarra, que esperava nunca repetir, com Christian Kendall, o marquês de Blackthorn. Ela o esteve evitando tanto quanto possível desde aquele dia.
Depois de sua visão compartilhada, ela o evitara a todo custo. O que vira naquele espelho fora o mais próximo de um pesadelo que poderia imaginar. Ela não acreditava no amor e esperava que fosse isso que o espelho estava refletindo para eles.
Ela deveria amar Christian, mas não podia. O amor era algo para outras pessoas, não para uma garota que via mais do que deveria. Suas premonições lhe mostraram muito e ao mesmo tempo tão pouco. Em suma, lhe mostravam tudo, exceto o que ela queria ver. Um futuro que não envolvia lorde Blackthorn.
Ele não poderia ser seu futuro, mesmo que, às vezes, ela desejasse que pudesse e doía mais do que gostaria de aceitar isso como um fato. Eles eram opostos completos. Ela não queria amá-lo ou desejá-lo. Scarlett acreditava, bem no fundo, que nunca se casaria e estava determinada a permanecer firme nessa convicção.
Ela havia conseguido de alguma forma manter distância de lorde Blackthorn e continuaria fazendo isso pelo tempo que pudesse. Às vezes, o destino tinha outros planos, e ela temia que o dela finalmente decidiu forçá-la a seguir o caminho que ela estava destinada.
Não gostaria de ter ido a essa festa. Sua prima, lady Hyacinth Barrington, queria perseguir algum príncipe estrangeiro ali. Ela desejava ser uma princesa. Claro que ela não seria, mas dizer isso a sua teimosa prima era como falar com uma pedra muito grande. Ela estava impassível, mas assim que percebesse o erro que estava cometendo, se sentiria incrivelmente estúpida. Havia um homem para Hyacinth, e era o Conde de Carrick. Eles estavam destinados a ficar juntos.
— Eu sei que já disse isso — sua tia, lady Havenwood, disse enquanto falava com Hyacinth. — Mas eu realmente estou feliz que você decidiu vir à festa. Será sua última chance de garantir um partido antes de nos retirarmos para o interior.
— Talvez eu esteja condenada a permanecer uma solteirona — disse Hyacinth. Seu tom se encheu de amargura enquanto falava. — Pode ser o melhor. Eu prefiro Havenwood de qualquer maneira. Tenho certeza de que, quando chegar a hora, Elijah me permitirá permanecer na residência.
— Não seja dramática — Lady Havenwood disse e então suspirou. — Você está longe de se tornar uma solteirona. Tente ser um pouco mais... amável. Permita-se gostar de alguém e veja onde isso leva.
Scarlett teve vontade de bufar. Sua tia tinha boas intenções, mas não se importava com as necessidades e desejos da filha. De certa forma, Scarlett teve sorte. A empatia de sua mãe permitiu que ela visse mais do que a maioria das mães veria. Ela entendia Scarlett como ninguém jamais o faria. Talvez um dia, sua querida tia se conectasse com Hyacinth, e elas teriam um relacionamento melhor. Scarlett esperava que sim. Ambas significavam muito para ela.
Acima de tudo, Hyacinth queria amor, mas havia possibilidade de ela fazer uma escolha da qual poderia se arrepender. O futuro não era definido em pedra. O homem que amava era lorde Carrick, mas ela acreditava que queria algo tão frio quanto o título de princesa.
Hyacinth encontrou o olhar de lady Havenwood e disse:
— Mãe, você encontrou o amor e espera que todos consigam também. A maioria dos indivíduos não tem tanta sorte. Deixe-me encontrar meu próprio caminho e, por favor, pare com os conselhos indesejáveis.
— Não há necessidade de ser rude — sua mãe bufou as palavras.
— Não se preocupe, prima — disse Scarlett. Ela tinha que tentar guiar sua prima para uma direção diferente. Uma que ela mesma deveria estar seguindo, se pudesse deixar de lado suas próprias ambições. — O amor já está com você. Logo será inegável. — Isso soou um pouco vago para seus próprios ouvidos e Scarlett duvidou que Hyacinth fosse acreditar.
Hyacinth torceu o nariz.
— Acho que não quero tentar discernir o significado disso. — Ela olhou para Scarlett. — E quanto a você? Você tem amor em sua vida?
Ela franziu o cenho.
— Meu futuro nunca está claro para mim. Quanto mais perto estou de algo, mais difícil é de ver. Eu gostaria de acreditar que terei o amor, mas não posso ter certeza.
Scarlett encolheu os ombros. Ela não podia contar a ninguém que uma vez se viu em um espelho com Christian e parecia estar loucamente apaixonada por ele. Essa visão tinha que ser uma mentira. Ela se recusava a aceitar isso.
— Tenho certeza de que o amor vai encontrar você. Como não poderia? — Seu tom parecia sincero. Não havia razão para duvidar dos sinceros desejos de sua prima para ela.
— Obrigada. — Os lábios de Scarlett se curvaram para cima em um sorriso caloroso. — Agradeço sua crença na minha felicidade. — Pelo menos alguém o fazia.
A carruagem parou em frente à mansão. Hyacinth escorregou para a frente ao pararem, mas se segurou na lateral da carruagem para se manter no lugar. Scarlett inclinou-se para o lado para se preparar.
— Estou feliz que finalmente chegamos.
Scarlett fechou os olhos e suspirou. Sua prima realmente odiava viajar. Provavelmente era por isso que ela inicialmente não queria comparecer a esta festa. Ela provavelmente preferiria voltar para Havenwood. Seu objetivo de se tornar uma princesa sem dúvida alterara seus planos.
— Eu não poderia concordar mais — Scarlett respondeu e soltou um suspiro. — Houve momentos em que pensei que nunca chegaríamos.
— Agora você parece o Elijah. — Hyacinth sorriu. — Ele reclamou de toda a viagem que fizemos para cá uma década antes.
Seu primo, Elijah, odiava viajar mais do que qualquer um deles. Ela esperava não ser tão irritante quanto ele às vezes. Scarlett não se importava de viajar de vez em quando. Ela apenas odiava esta jornada em particular, porque levava ao único lugar que realmente não queria ir...Weston Manor. Não importava quantas vezes se lembrasse mentalmente disso, não conseguia se livrar do medo que a envolvia. Lorde Blackthorn estaria lá. Eles se cruzariam e ela teria que enfrentá-lo novamente. Talvez ele tenha esquecido aquela visão amorosa? Scarlett poderia apenas desejar que sim.
Lady Havenwood deu uma risadinha.
— Ele não tolera bem longos períodos em uma carruagem. Aquele meu filho os evita a todo custo e agora prefere andar a cavalo. — Ela balançou a cabeça. — É provavelmente melhor. Houve momentos naquela viagem em que pensei em matá-lo, e eu o amo.
— Tenho certeza de que ninguém culparia você — Hyacinth disse a ela. — Ele fora insuportável.
Scarlett estava um pouco surpresa que a tia considerasse qualquer coisa que Elijah fizesse insuportável. Por mais que ela expusesse apenas seus traços mais desejáveis, parecia que Lady Havenwood acreditava que seu querido filho não poderia fazer nada errado.
Um lacaio abriu a porta da carruagem. Ele estendeu a mão e ajudou as mulheres a saírem. Hyacinth se espreguiçou, provavelmente grata por estar fora do cabriolé. Elas haviam chegado. Agora, Scarlett tinha que fazer o possível para evitar Lorde Blackthorn o tempo todo em que estivesse lá. Essa tarefa poderia revelar-se improvável.
— Bem, mãe — Hyacinth começou — não sei sobre você e Scarlett, mas estou ansiosa para descansar em meus aposentos. Fora uma jornada tediosa para chegar aqui.
— Eu entendo completamente — Lady Havenwood disse. — Vamos cumprimentar a dona da casa e depois poderemos descansar.
Scarlett acenou com a cabeça.
— Você não precisa me convencer. Estou pronta e disposta a dormir o resto do dia. — Ela esfregou a barriga. — Ou pelo menos até o jantar. Meu estômago poderia discordar de dormir até o dia seguinte.
Hyacinth riu levemente. Scarlett estava contente em ver sua prima feliz. Ela provavelmente tinha planos de fugir e perseguir o príncipe. Scarlett silenciosamente desejou uma feliz caçada. O príncipe poderia não ser o futuro de Hyacinth, mas ele poderia conduzi-la para onde ela pertencia: nos braços de Lorde Carrick.
Scarlett não disse mais nada. Ela queria se esconder em seus aposentos por enquanto. Mais tarde, descobriria a melhor maneira de evitar Lorde Blackthorn. Poderia ser impossível, mas tinha que tentar.
Christian Kendall, o marquês de Blackthorn olhou para a carruagem em frente à entrada de Weston Manor. Uma mecha de seu cabelo castanho claro caiu sobre a testa enquanto o vento soprava ao redor dele. Christian ergueu a mão e afastou-a dos olhos. Ele estava bem ciente de quem estava dentro da carruagem. Estava esperando por elas. Lady Scarlett vinha fazendo o possível para evitar passar algum tempo em sua presença. Agora que ela estava aqui, isso seria impossível de realizar. Ela nunca deveria ter vindo para Weston Manor se não quisesse que ele a perseguisse.
Aquela visão no espelho o apavorou quando era muito jovem para entender seu significado. Por anos, ele esteve fugindo de seu futuro, mas agora estava pronto para enfrentá-lo. Seu irmão correu direto para aquele espelho e para o seu destino. Se Nicholas podia ser tão corajoso, por Deus, ele também podia.
— O que você está olhando? — Rhys Rossington, o Conde de Carrick, perguntou. Uma mecha de seu cabelo loiro escapou do laço de couro que o segurava no lugar.
— Alguns convidados chegando — respondeu ele. Seu primo podia discernir por si mesmo suas identidades. Havia uma dama na qual Rhys estaria interessado.
Rhys olhou para a frente da mansão. Eles estavam caminhando ao longo do penhasco, em silêncio. Seu primo pensava em algo e Christian suspeitou que tinha muito a ver com Lady Hyacinth Barrington. Eles pareciam estar atraídos um pelo outro, e Christian acreditava que logo encontrariam o caminho para ficar juntos. Ele não tinha dúvidas de que seu primo iria pedir a moça em casamento em algum momento... era uma questão de tempo.
— Você sabe quantos convidados são esperados? — Rhys perguntou enquanto mantinha sua atenção na casa.
— Eu não sei — Christian respondeu. — Mamãe não me consulta sobre esses assuntos. Não mais do que o normal, eu espero. — Havia apenas uma convidada com quem Christian se importava e, como acabara de chegar, o resto não importava para ele. — Mais do que provavelmente gostaríamos, para ser honesto.
— Verdade — disse Rhys evasivamente. — Suponho que devamos voltar para casa. Tia Alys espera que a ajudemos a entreter os convidados.
— Minha mãe terá de algum tipo de expectativa para nós — ele concordou. — Mas provavelmente estamos livres para o primeiro dia. Amanhã, por outro lado, acho que não.
— Não se preocupe — respondeu Rhys. — Eu sei meu dever. — Ele sorriu maliciosamente. — Haverá muitas mulheres que requerem um pouco de diversão. Entre meu charme e sua natureza indescritível, tenho certeza de que ajudaremos a causa de sua mãe.
Christian tinha suas dúvidas. Com seu interesse por Scarlett, e o de Rhys por Lady Hyacinth, haveria várias damas desapontadas presentes no local. Ele não diria isso ao seu primo. Rhys poderia ainda estar em negação sobre seus sentimentos por Lady Hyacinth.
— Talvez — ele respondeu com cautela. — Vou segurar meu julgamento até amanhã. Por enquanto, devemos entrar. Podemos jogar bilhar e talvez beber muito conhaque. Eu gostaria de pular o jantar hoje à noite, e esta poderá ser nossa única chance de ter um tempo tranquilo.
Ele tinha a sensação de que Scarlett pretendia fazer o mesmo. A pergunta era: Ela se esconderia em seu quarto ou encontraria outro lugar para escapar? Ele esperava que o último fosse o que ela escolheria. Embora, de qualquer forma, Christian pretendesse ter um encontro privado com ela. Ela poderia pensar que conseguiria se esconder, mas era hora de desiludi-la dessa ideia.
— Um copo ou dois, inferno, vários, soa como um pedaço do céu — disse Rhys. Ele inclinou os lábios para cima em um sorriso malicioso. — Espero que você planeje perder no bilhar porque pretendo vencer todas as partidas.
— Você pode tentar — respondeu Christian com entusiasmo, e bateu levemente no ombro de Rhys com a palma da mão. — Mas nós dois sabemos que é improvável.
— Talvez — Rhys concordou. — Mas isso não nega o fato de que pretendo tentar.
Christian riu.
— Você sempre tenta.
Eles caminharam lado a lado até a mansão. Christian realmente não tinha nenhuma vontade de jogar bilhar ou beber qualquer conhaque, mas tinha que fazer algo para ocupar as horas até que pudesse passar algum tempo na companhia de Scarlett. Passar aquelas horas com seu primo seria, pelo menos, divertido.