Читать книгу Nunca Desafie Uma Raposa - Dawn Brower - Страница 7
Prologue
ОглавлениеOs raios rachavam e iluminavam o céu noturno, clareando o cômodo mais do que a luz das velas. O som de um trovão ecoou através do silêncio que permeava o quarto. Era final de março, mas poderia ser pleno inverno que mesmo assim, Lady Wilhelmina Neverhartt, ou Billie, como era chamada por sua família e amigos, não se importaria. Ela tinha coisas mais importantes com que se preocupar. Ela engoliu em seco e deu mais um passo em direção à sua mãe que estava enferma na cama. Seu pai, Richard Neverhartt, Conde de Sevilha, não tinha sobrevivido, a doença o levou horas mais cedo. Sua mãe, Augusta, Condessa de Sevilha, parecia que perderia a batalha e que logo se juntaria ao seu marido na outra vida.
— Billie — sussurrou sua irmã, Theodora, ou Teddy, como era chamada. — Não entre.
— Eu tenho que entrar… — respondeu Billie, mas até mesmo ela podia ouvir o medo em sua voz. Nenhuma delas queria testemunhar o último suspiro da sua mãe. Seja lá qual fosse a doença que os pais delas haviam trazido com eles de sua viagem, parecia mortal, e temiam que elas poderiam ficar doentes também… Billie engoliu em seco mais uma vez. Ela tinha que ser forte. Logo ela seria responsável por si mesma e seus quatro irmãos.
Damon, o mais novo de todos com apenas três e dez anos, herdou o título de seu pai. Não que isso fosse algo bom, pois eles haviam sido destituídos da propriedade. Foi por isso que o pai deles havia viajado para outro país. Ele tinha se envolvido em algum investimento que lhe prometera uma virada de sorte. Billie estava quase certa de que seu pai esperava um resultado muito diferente que as mortes de sua esposa e de si mesmo. Ele acabou por condenar todos eles. Ela se virou para sua irmã e disse em um tom firme: — Teddy, vá e certifique-se de que Carly e Chris não venham aqui. Não podemos pôr elas em risco de contrair esta doença. Damon está dormindo, graças aos céus.
As gêmeas, Carolina e Christiana, eram ambas teimosas e tinham dificuldades em seguir instruções. Teddy era tímida e introvertida. Ela provavelmente não seria capaz de convencê-las a permanecerem em seus quartos. Chris era mais propensa a fazer o que quisesse. Já Carly poderia ouvir a voz da razão.
— Eu tentarei — disse Teddy em voz baixa. — Mas você sabe como elas são… — A voz dela falhou. Ela mordiscou seu lábio inferior, apreensão quase transbordando dela enquanto olhava em direção ao quarto em que sua mãe estava. — Você realmente precisa entrar lá?
— Preciso — insistiu ela. — Agora vá lidar com nossas irmãs impetuosas. — Billie não conseguiria lidar com todos eles e a morte certa de sua mãe. Ela precisava que Teddy a ajudasse com isso.
Teddy assentiu e afastou-se de Billie. Ela deu outro passo cauteloso em direção ao quarto, ao mesmo tempo em que um raio iluminou o caminho que ela deveria fazer. O som de trovão que veio em seguida a fez pular, mesmo que aquilo fosse esperado. Lentamente, ela se forçou a avançar até que se aproximou da cabeceira de sua mãe. Seu cabelo loiro parecia quase tão branco quanto o travesseiro debaixo de sua cabeça. Sua pele tinha perdido toda a cor e seus lábios estavam secos e rachados. Ela tomou um fôlego raso que quase parecia crepitar e chiar cada vez que o ar comprimia em seus pulmões. Suas bochechas tinham afundado e se tornaram mais pronunciadas com sua perda de peso. A mulher deitada na cama era sua mãe, mas ela parou de se parecer com a mulher que a havia criado dias… não, semanas atrás.
— Mamãe — disse ela. A palavra mal foi audível quando passou por seus lábios. Billie engoliu e tentou de novo, mais alto desta vez. — Mamãe, estou aqui com a senhora.
A pálpebra da condessa se abriu e ela se virou para Billie. Os olhos de sua mãe estavam vidrados, quase desfocados, enquanto ela a olhava. — Billie?
— Sim, mamãe — respondeu ela. Ela deveria tocá-la? Colocar a mão sobre a dela? Billie não tinha ideia de como agir em torno desta criatura frágil que era a sua mãe. Ela não tinha experiência com morte ou doença. Billie estava com medo de fazer o movimento errado ou piorar as coisas, se é que fosse possível piorar mais. — O que… — Billie respirou fundo. — Diga-me o que a senhora precisa.
— Aproxime-se um pouco mais.
Billie cuidadosamente deu outro passo. Não havia muita distância entre ela e a condessa agora. Talvez se ela de alguma forma se dessensibilizasse daquela visão, pudesse suportar isso. Pelo menos por um tempo… já que não havia mais criados para ajudar. Todos tinham ido embora assim que perceberam o quão doentes estavam o conde e a condessa. Nenhum deles queria correr o risco de adoecer, e bem, também não havia mais fundos para pagá-los. A tarefa de cuidar dos dois passou a ser responsabilidade de Billie, e acabou por drenar cada gota de energia que ela possuía.
Ela estava pronta para desistir, pois já havia perdido o pai, mas ainda tinha esperanças que houvesse uma chance de salvar sua mãe. Por algum milagre, nem ela, nem seus irmãos adoeceram, mas isso não significa que isso não aconteceria. Eles ainda podiam e ela orou para que esse destino não recaísse sobre eles.
Sua mãe moveu a mão em direção a Billie. — Sinto muito por tornar as coisas tão difíceis para você. — Billie preferiu não mencionar a morte do seu pai. Aquilo poderia ser um golpe muito forte para sua mãe no momento. Ela já estava lutando com todas as forças que possuía e não precisava saber que o conde tinha perdido sua batalha. — Mas receio que ficará ainda mais difícil com o passar dos dias. — Sua respiração chiou. — Eu não quero morrer… — Sua voz tremeu um pouco ao dizer isso.
Lágrimas ameaçaram cair, mas Billie as controlou. Ela poderia chorar mais tarde na privacidade de seu quarto.
— Mas a morte está aqui para me reivindicar. Eu sinto muito, muito mesmo — disse a condessa. — Eu não tenho como expressar o quanto lamento, e nada que eu diga tornará isso melhor. Ele foi um tolo, o seu pai, e eu fui ainda mais por segui-lo até aquele país abandonado. Nós dois estamos pagando esse preço agora.
Billie teve ainda mais dificuldade em lutar contra as lágrimas. — Está tudo bem, mamãe.
— Não está — disse ela. — Mas você é um amor por dizer isso. Gostaria que pudéssemos ter deixado algo, qualquer coisa, para ajudá-la nos tempos difíceis que virão. Não precisa me dizer que seu pai não está mais neste mundo. Eu senti quando ele partiu, e logo me juntarei a ele.
— Sinto muito — sussurrou Billie, que nunca esperaria que sua mãe confessasse tal coisa. Ela nem sabia que algo assim era possível… — Eu não queria sobrecarregá-la com a verdade.
Os lábios de sua mãe se ergueram em um minúsculo sorriso. Ela mal conseguia mantê-los inclinados para cima e doía testemunhar essa falta de força. — Você é uma garota resiliente e corajosa. Precisará ser mais forte do que eu jamais fui e lutar por você, e seu irmão e irmãs. Eles dependerão de você. Queria que tivesse sido diferente. Procure o Duque de Graystone, ele é padrinho de seu pai e vai ajudá-la.
Pouco depois dessas palavras, sua mãe deu seu último suspiro. Uma lágrima solitária rolou pelo rosto de Billie. Ela tinha a sensação de que não gostaria de como o Duque de Graystone os ajudaria em suas dificuldades, mas tinha que reunir toda a força que podia e lidar com isso. Era o que a mãe dela esperava que ela fizesse e o que os irmãos precisavam. Ela não podia mais viver sua vida por si mesma, e uma parte dela odiou os pais por deixá-la com tantas complicações para superar. Eles eram egoístas e deixaram ela sem outra escolha a não ser o papel de irmã mais velha de quem todos dependiam. A sua vida não era mais dela, se é que alguma vez tivesse sido…