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CAPÍTULO CINCO

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— Vocês deveriam comer. O assassino gesticulou para uma caixa de comida chinesa na mesa de cabeceira ao lado da cama.

Maya negou com a cabeça. A comida já tinha esfriado há muito tempo e ela não estava com fome. Em vez disso, ela se sentou na cama com os joelhos dobrados, Sara encostada nela com a cabeça no colo da irmã mais velha. As meninas foram algemadas juntas, o pulso esquerdo de Maya com o direito de Sara. Onde ele havia conseguido as algemas, ela não sabia, mas o assassino as avisara várias vezes que, se uma delas tentasse alguma coisa para escapar ou fizesse barulho, a outra sofreria como consequência.

Rais estava sentado em uma poltrona perto da porta do quarto sujo do motel, com carpete laranja e paredes amarelas. O quarto cheirava a mofo e o banheiro cheirava a água sanitária. Eles estavam lá há horas; o antigo despertador de cabeceira informava, em números vermelhos de LED, que eram duas e meia da manhã. A televisão estava ligada, sintonizada em um canal de notícias com o volume baixo.

Uma caminhonete branca estava estacionada do lado de fora, a poucos metros da porta; depois de escurecer, o assassino a roubou de um estacionamento de carros usados. Foi a terceira vez que eles trocaram de carro naquele dia, da caminhonete de Thompson para o sedan azul e agora para o SUV branco. Cada vez que mudavam, Rais mudava de direção, seguindo primeiro para o sul, depois para o norte e depois para o nordeste em direção à costa.

Maya entendeu o que ele estava fazendo; um jogo de gato e rato, deixando os veículos roubados em locais diferentes, para que as autoridades não tivessem ideia de para onde estavam indo. O quarto de motel ficava a menos de dezesseis quilômetros de Bayonne, não muito longe da fronteira de Nova Jersey e Nova York. O próprio motel era uma faixa de prédios tão degradada e, francamente, nojenta que dirigir por ele dava a impressão de estar fechado há anos.

Nenhuma das meninas dormiu muito. Sara cochilou nos braços de Maya, por vinte ou trinta minutos de cada vez antes de despertar com um sobressalto e um gemido enquanto acordava de qualquer sonho que estivesse tendo e lembrava onde estava.

Maya lutou contra o cansaço, tentando ficar acordada o máximo que podia - Rais tinha que dormir uma hora, ela sabia, e isso poderia lhes proporcionar alguns preciosos minutos que precisavam para fugir. Porém, o motel estava localizado em um parque industrial. Ela viu quando eles chegaram que não havia casas por perto nem outros negócios que estariam abertos a essa hora da noite. Ela nem tinha certeza de que alguém estaria no escritório do motel. Elas não teriam para onde ir a não ser vagar durante a noite, e as algemas as atrasariam.

Por fim, Maya sucumbiu ao cansaço e, a contragosto, cochilou. Ela tinha dormido por menos de uma hora quando acordou com um ligeiro suspiro e depois suspirou novamente quando, surpresa, viu Rais sentado na poltrona a apenas um metro de distância.

Ele estava olhando diretamente para ela, os olhos bem abertos. Apenas assistindo.

Isso fez a pele dela arrepiar... Até que um minuto inteiro passou, depois outro. Ela o observou, encarando de volta, seu medo se misturando com curiosidade. E então ela percebeu.

Ele dorme de olhos abertos.

Ela não tinha certeza se isso era mais perturbador do que acordar e encontrá-lo olhando para ela ou não.

Então ele piscou, e ela deu mais outro suspiro assustado, o coração pulando em sua garganta.

— Nervos faciais danificados — ele disse baixinho, quase um sussurro. — Eu ouvi dizer que pode ser bastante perturbador. — Ele gesticulou para a caixa de sobras de comida chinesa que havia sido entregue no quarto, horas antes. — Vocês deveriam comer.

Ela negou com a cabeça, embalando Sara em seu colo.

O canal de notícias em baixo volume repetia as principais manchetes do dia anterior. Uma organização terrorista foi considerada responsável pela liberação de um vírus mortal de varíola na Espanha e em outras partes da Europa; seu líder, assim como o vírus, tinha sido apreendido e vários outros membros estavam sob custódia das autoridades. Naquela tarde, os Estados Unidos tinham retirado oficialmente sua proibição internacional de viagem a todos os países, com exceção de Portugal, Espanha e França, onde havia ainda alguns incidentes isolados de varíola alterada. Mas todos pareciam confiantes de que a Organização Mundial da Saúde tinha a situação sob controle.

Maya suspeitava que seu pai tivesse sido enviado para ajudar nesse caso. Ela se perguntou se ele tinha sido o responsável por derrubar o líder. Ela se perguntou se ele já estava de volta ao país.

Se ele havia encontrado o corpo do Sr. Thompson. Se ele tinha percebido que estavam desaparecidas - ou se qualquer pessoa tivesse percebido que estavam desaparecidas.

Rais sentou-se na cadeira amarela com um celular descansando no apoio de braço. Era um telefone de estilo antigo, praticamente pré-histórico pelos padrões de hoje - não era bom para nada além de ligações e mensagens. Um telefone descartável, Maya ouvira essas coisas na TV. Ele não se conectava à internet e não tinha GPS, que ela sabia, por programas policiais - o que significava que só poderia ser rastreado pelo número de telefone, que alguém teria que ter.

Rais, ao que parecia, estava esperando por algo. Uma chamada ou uma mensagem. Maya queria, desesperadamente, saber para onde estavam indo, se havia um destino. Ela suspeitava que Rais quisesse que o pai delas os encontrasse, os localizasse, mas o assassino não parecia estar com pressa de chegar a lugar nenhum. Era este o seu jogo? Ela se perguntou, roubar carros e mudar de direção, iludindo as autoridades, na esperança de que seu pai fosse o único a encontrá-los primeiro? Eles apenas continuariam saltando de um lugar para outro até que houvesse uma disputa?

De repente, um toque monofônico soou no telefone ao lado de Rais. Sara saltou ligeiramente em seus braços com a intrusão aguda.

— Alô — Rais atendeu ao telefone sem rodeios. — Ano. — Ele se levantou da cadeira pela primeira vez em três horas enquanto trocava o inglês por uma língua estrangeira. Maya sabia apenas inglês e francês, e ela podia reconhecer um punhado de outras línguas de palavras e sotaques únicos, mas ela não conhecia essa. Era uma língua gutural, mas não totalmente desagradável.

Russo? Ela pensou. Não. Polonês, talvez. Não adianta adivinhar; ela não podia ter certeza, e saber não a ajudaria a entender nada do que estava sendo dito.

Ainda assim, ela ouviu, notando o uso frequente de sons de “z” e “ski”, tentando identificar cognatos, o que pareceu não haver nenhum.

Havia uma palavra que ela conseguiu distinguir, e isso fez seu sangue gelar.

— Dubrovnik — disse o assassino, como se fosse confirmado.

Dubrovnik? A geografia era um das suas melhores matérias; Dubrovnik era uma cidade no sudoeste da Croácia, um famoso porto e destino turístico popular. Contudo, muito mais importante do que isso foi a implicação da palavra mencionada.

Isso significava que Rais planejava tirá-las do país.

— Ano — disse ele (o que parecia ser uma afirmação; ela supôs que significa “sim”). E então:

— Porto de Nova Jersey.

Eram as únicas duas palavras inglesas em toda a conversa, além do “olá”, e ela as compreendeu facilmente. O motel deles já estava perto de Bayonne, a uma curta distância do porto industrial de Nova Jersey. Ela já o tinha visto muitas vezes antes, atravessando a ponte de Jersey para Nova York ou voltando, pilhas sobre pilhas de contêineres multicoloridos sendo carregados por guindastes em enormes navios escuros que os levariam para o exterior.

O ritmo de seu batimento cardíaco triplicou. Rais iria tirá-las dos Estados Unidos pelo Porto de Nova Jersey em direção à Croácia. E de lá... Ela não tinha ideia, e ninguém mais teria. Haveria pouca esperança de serem encontradas novamente.

Maya não podia permitir isso. Sua decisão de lutar se fortaleceu; sua determinação em fazer algo sobre essa situação voltou à vida.

O trauma de ver Rais cortando a garganta da mulher no banheiro da parada de descanso, mais cedo naquele dia, ainda permanecia; ela viu quando a mulher fechou os olhos. O olhar vago e morto. A poça de sangue quase tocando seus pés. Então ela tocou o cabelo de sua irmã e sabia que aceitaria absolutamente o mesmo destino se isso significasse que Sara estaria segura e longe deste homem.

Rais continuou sua conversa na língua estrangeira, usando frases curtas e pontuadas. Ele se virou e separou as grossas cortinas ligeiramente, apenas alguns centímetros ou mais, para espiar o estacionamento.

Ele estava de costas para ela, provavelmente pela primeira vez desde que chegaram ao motel decadente.

Maya estendeu a mão e cuidadosamente abriu a gaveta da mesa de cabeceira. Era tudo o que ela conseguia alcançar, algemada a sua irmã e sem se mexer da cama. Seu olhar passou nervosamente pelas costas de Rais e depois para a gaveta.

Havia uma Bíblia nela, muito antiga, com a lombada descascada e lascada. Ao lado havia uma simples caneta esferográfica azul.

Ela a pegou e fechou a gaveta novamente. Quase no mesmo instante, Rais se virou. Maya congelou, a caneta apertada em seu punho fechado.

Mas ele não lhe deu nenhuma atenção. Ele parecia entediado com a ligação agora, ansioso para desligar o telefone. Algo na televisão chamou sua atenção por alguns segundos e Maya escondeu a caneta na cintura elástica da calça de pijama de flanela.

O assassino grunhiu um adeus indiferente e terminou a ligação, jogando o telefone na poltrona. Ele se virou para eles, examinando cada uma. Maya olhou para frente, seu olhar tão vazio quanto ela conseguia, fingindo assistir ao noticiário. Aparentemente satisfeito, ele voltou a seu posto na cadeira novamente.

Maya gentilmente acariciou as costas de Sara com a mão livre enquanto sua irmã mais nova olhava para a televisão, ou talvez para o nada, seus olhos semicerrados. Depois que o incidente no banheiro da parada de descanso, demorou horas para que Sara parasse de chorar, mas agora ela simplesmente estava ali, com o olhar vazio e vidrado. Parecia que ela não tinha mais nada.

Maya passou os dedos para cima e para baixo na espinha de sua irmã na tentativa de confortá-la. Não havia como elas se comunicarem entre si; Rais deixara claro que não lhes era permitido falar a menos que lhes fizesse uma pergunta. Não havia como Maya enviar uma mensagem, criar um plano.

Embora... Talvez não tenha que ser verbal, ela pensou.

Maya parou de tocar as costas da irmã por um momento. Quando ela recomeçou, ela pegou seu dedo indicador e, sorrateiramente, desenhou a forma de uma letra entre as omoplatas de Sara - um grande A.

Sara ergueu a cabeça curiosamente por um momento, mas ela não olhou para Maya nem disse nada. Maya esperava desesperadamente que ela entendesse.

P, ela desenhou em seguida.

Então E.

Rais sentou-se na cadeira, na visão periférica de Maya. Ela não ousou olhar para ele por medo de parecer suspeita. Em vez disso, ela olhou para frente, como sempre, e desenhou as letras.

R. T. E.

Ela moveu o dedo de forma lenta, deliberada, parando por dois segundos entre cada letra e cinco segundos entre cada palavra até que ela soletrasse sua mensagem.

Aperte minha mão se você entender.

Maya nem viu Sara se mexer. Mas suas mãos estavam próximas, por estarem algemadas juntas, e ela sentiu dedos frios e úmidos fecharem-se ao redor dos seus por um momento.

Ela entendeu. Sara entendeu a mensagem.

Maya começou de novo, movendo-se o mais lentamente possível. Não havia pressa, e ela precisava ter certeza de que Sara entendesse cada palavra.

Se você tiver uma chance, ela escreveu, corra.

Não olhe para trás.

Não espere por mim.

Encontre ajuda. Encontre o papai.

Sara ficou ali, quieta e perfeitamente imóvel, durante toda a mensagem. Eram três e quinze antes de Maya terminar. Finalmente, ela sentiu o toque frio de um dedo fino na palma da mão esquerda, aninhada parcialmente sob a bochecha de Sara. O dedo traçou um padrão na palma da mão dela, a letra N.

Não sem você, a mensagem de Sara dizia.

Maya fechou os olhos e suspirou.

Você tem que fazer, ela escreveu de volta. Ou não haverá chance para nenhuma de nós.

Ela não deu a Sara a oportunidade de responder. Assim que terminou a mensagem, ela limpou a garganta e disse baixinho:

— Eu tenho que ir ao banheiro.

Rais arqueou uma sobrancelha e apontou para a porta aberta do banheiro, no outro extremo da sala.

— Claro.

— Mas... — Maya levantou o pulso algemado.

— E daí? O assassino perguntou.

— Leve ela com você. Você tem uma mão livre.

Maya mordeu o lábio. Ela sabia o que ele estava fazendo; a única janela no banheiro era pequena, mal tinha tamanho o suficiente para Maya passar completamente e seria totalmente impossível enquanto estava algemada à irmã.

Ela deslizou para fora da cama lentamente, cutucando sua irmã para ir com ela. Sara se moveu mecanicamente, como se tivesse esquecido como usar corretamente seus membros.

— Vocês têm um minuto. Não tranque a porta — alertou Rais. — Se trancar eu vou derrubá-la no chute.

Maya liderou o caminho e fechou a porta do pequeno banheiro, era apertado com as duas lá dentro. Acendeu a luz - quase certa de ter visto uma barata se arrastando para um esconderijo seguro embaixo da pia - e depois ligou o ventilador do banheiro, que zumbia ruidosamente no alto.

— Eu não vou — Sara sussurrou quase imediatamente. — Eu não vou sem...

Maya rapidamente ergueu um dedo a frente dos próprios lábios para sinalizar silêncio. Pelo que ela sabia, Rais estava bem do outro lado da porta com os ouvidos colados nela. Ele não se arriscava.

Ela rapidamente puxou a caneta da bainha de suas calças. Precisava de algo para escrever, e a única coisa disponível era papel higiênico. Maya arrancou alguns pedaços e espalhou-os na pequena pia, mas toda vez que pressionava a caneta, o papel rasgava com facilidade. Ela tentou novamente com alguns pedaços novos, porém, novamente o papel rasgou.

Isso não funciona, ela pensou amargamente. A cortina de chuveiro não ajudaria; era apenas uma folha de plástico pendurada na banheira. Não havia cortinas sobre a pequena janela.

Contudo, havia algo que ela poderia usar.

— Fique parada — ela sussurrou no ouvido da irmã. As calças do pijama de Sara eram brancas com estampa de abacaxi - e elas tinham bolsos. Maya virou um dos bolsos ao avesso e, com o máximo de cuidado, rasgou-o até que ela tirou um pedaço de tecido triangular de bordas ásperas com a estampa de fruta de um lado, porém, era todo branco do outro.

Ela rapidamente achatou-o na pia e escreveu com cuidado enquanto sua irmã observava. A caneta se enroscou várias vezes no tecido, mas Maya mordeu a língua para evitar grunhir em frustração irritada enquanto escrevia uma nota.

Porto de Nova Jersey.

Dubrovnik.

Havia mais que ela queria escrever, mas estava quase sem tempo. Maya guardou a caneta embaixo da pia e enrolou a nota de tecido no formato de um cilindro. Então ela olhou em volta desesperadamente para um lugar para esconder a nota. Não podia simplesmente colocá-lo embaixo da pia com a caneta; isso seria muito evidente, e Rais era minucioso. O chuveiro estava fora de questão. Molhar a nota borraria a tinta.

Uma batida abrupta na porta do banheiro assustou as duas.

— Já passou um minuto — disse Rais claramente do outro lado.

— Estou quase terminando — ela disse apressadamente. Ela prendeu a respiração enquanto levantava a tampa da caixa de descarga da privada, esperando que o ventilador do banheiro abafasse qualquer ruído. Enfiou a nota enrolada pela corrente no mecanismo de descarga, alto o suficiente para não tocar na água.

— Eu disse que você tem um minuto. Estou abrindo a porta.

— Só me dê alguns segundos, por favor! — Maya implorou quando ela rapidamente recolocou a tampa. Por fim, ela puxou alguns cabelos da cabeça e os jogou sobre a caixa fechada. Com alguma sorte - com muita sorte - qualquer um que seguisse o rastro delas reconheceria a pista.

Ela só podia esperar.

A maçaneta da porta do banheiro girou. Maya deu descarga e se agachou em um gesto para sugerir que estava levantando a calça do pijama.

Rais enfiou a cabeça pela porta aberta e dirigiu o olhar para o chão. Lentamente, ele se aproximou das duas garotas, inspecionando cada uma delas.

Maya prendeu a respiração. Sara pegou a mão algemada da irmã e os dedos entrelaçados.

— Terminou? — ele perguntou devagar.

Ela assentiu.

Ele olhou para a esquerda e para a direita com desgosto.

— Lave as mãos. Este lugar é nojento.

Maya o fez, lavando com um sabonete laranja arenoso enquanto o pulso de Sara pendia fracamente ao lado do dela. Ela secou as mãos na toalha marrom e o assassino assentiu.

— De volta para cama. Vão.

Ela levou Sara de volta para a cama. Rais permaneceu por um momento, olhando ao redor do pequeno banheiro. Então ele desligou o ventilador e a luz e voltou para sua cadeira.

Maya colocou o braço em torno de Sara e a segurou perto de si.

Papai vai achar, ela pensou desesperadamente. Ele encontrará a nota. Eu sei que vai

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Caçador Zero

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