Читать книгу A noiva escolhida pelo xeque - Дженни Лукас - Страница 5

Capítulo 1

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– Estás a falar a sério?

Omar bin Saab al Maktoun, rei de Samarqara, respondeu friamente ao seu vizir:

– Falo sempre a sério.

– Não duvido, mas um mercado de noivas… – começou por dizer o vizir, cuja cara de espanto brilhava sob a luz que trespassava os vitrais do palácio. – A última vez que se fez tal coisa foi há um século!

– Mais uma razão para que se volte a fazer.

– Nunca teria imaginado que Sua Majestade sentiria falta dos velhos costumes – replicou o vizir, abanando a cabeça.

Omar levantou-se bruscamente do trono e contemplou a cidade através de uma das janelas. Tinha-a modernizado muito nos seus quinze anos de reinado. Agora, os antigos edifícios de pedra e argila misturavam-se com brilhantes arranha-céus de aço e cristal.

– Vai sacrificar a sua felicidade só para apaziguar uns poucos críticos? – prosseguiu Khalid. – Por que não se casa com a filha de Hassan al Abayyi, como toda a gente espera?

– Só metade dos nobres esperam tal casamento – corrigiu-o Omar. – A outra metade rebelar-se-ia porque pensam que o Hassan acumularia demasiado poder se a sua filha se tornasse rainha.

– Já lhes passará… A Laila al Abayyi é a sua melhor opção, Majestade. É uma mulher bela e responsável e, além disso, o casamento solucionaria a trágica brecha que se abriu entre as duas famílias.

Omar ficou tenso, porque tinha muito presente essa tragédia. Andava há quinze anos a tentar esquecê-la e não estava disposto a casar com uma mulher que lhe recordaria isso todos os dias.

– Não insista. Compreendo que Samarqara precisa de uma rainha e que o reino precisa de um herdeiro; mas o mercado de noivas é a solução mais eficaz.

– A solução mais eficaz? A mais sórdida, quererá dizer. Rogo-lhe que reconsidere, Majestade. Pense bem.

– Tenho trinta e seis anos e sou o último da minha estirpe. Já esperei demasiado tempo.

– Tem a certeza de que se quer casar com uma desconhecida? – perguntou Khalid, ainda pasmado. – Lembre-se que, caso tenha um filho com ela, não se poderá divorciar. As nossas leis proíbem-no.

– Sei isso perfeitamente.

O vizir, que conhecia Omar desde a infância, mudou de tom e dirigiu-se a ele pelo nome próprio, apelando à relação próxima entre eles.

– Omar, se se casar com uma desconhecida, vai condenar-se a toda a uma vida de arrependimento. E para quê? Não faz sentido.

Omar não pretendia partilhar com ele os seus sentimentos, mesmo tratando-se do seu mais leal e querido conselheiro. Nenhum homem queria abrir o seu coração até tal extremo e, muito menos, um homem que acima de tudo era rei, por isso respondeu:

– Já lhe dei as minhas razões.

Khalid semicerrou os olhos.

– Tomaria essa decisão se toda a nobreza lhe pedisse que se casasse com a Laila? Avançaria com isso em qualquer caso?

– Claro que sim – respondeu Omar, convencido de que isso não iria acontecer. – Tudo o que me importa são os meus súbditos.

O vizir pôs a cabeça de lado.

– Tanto que arriscaria tudo com uma tradição bárbara?

– Com uma tradição bárbara e com o que for preciso – disse o rei, perdendo a paciência. – Não permitirei que Samarqara volte a cair no caos.

– Mas…

– Basta. Tomei a minha decisão. Procure vinte mulheres que sejam inteligentes e belas o suficiente para uma delas ser a minha esposa – ordenou-lhe, saindo da sala do trono. – Comece de imediato.

Como era possível que se tivesse prestado a algo assim?

Beth Farraday deu uma vista de olhos ao elegante salão de baile da mansão parisiense onde se encontrava. Era um hôtel particulier, um palácio do século XVIII que pertencia ao xeque Omar bin Saab al Maktoun, rei de Samarqara e que, aparentemente, estava avaliado em cem milhões de euros.

Beth sabia-o pelos criados com quem tinha estado a conversar, as únicas pessoas com quem se sentia à vontade. E não era de estranhar, porque o seu mundo não podia estar mais longe do daquelas elegantes mulheres que estavam ali, com os seus vestidos festivos e os seus impressionantes currículos.

Até agora, tinha reconhecido a vencedora de um prémio Nobel, outra de um prémio Pulitzer e uma com um Óscar. Também havia uma famosa artista japonesa, uma conhecida empresária de Alemanha, uma desportista profissional do Brasil e a senadora mais jovem de toda a história da Califórnia.

E depois estava ela, que não era ninguém.

Mas todas estavam ali pelo mesmo: porque o xeque em questão estava à procura de noiva.

Nervosa, provou o extraordinário champanhe que lhe tinham servido e voltou a perguntar-se que raio fazia naquela espécie de harém. Não tinham o mesmo estatuto. Não pertencia àquele lugar.

Beth sabia-o desde o princípio, desde que entraram num avião em Houston para voar para Nova Iorque, onde as esperava um jato privado. Mas não tinha tido escolha. A sua irmã gémea implorara-lhe que a substituísse e não tinha sido capaz de recusar.

– Por favor, Beth – tinha-lhe ela dito. – Tens de ir.

– Esperas que me faça passar por ti? Mas tu enlouqueceste?

– Iria se pudesse, mas acabo de receber o convite, e já sabes que não posso deixar o laboratório. Estou prestes a descobrir algo importante!

– Estás sempre prestes a descobrir algo importante!

– Oh, vá lá, tu tens mais jeito para estas coisas – disse a irmã, que era um crânio. – Eu não sei lidar com as pessoas. Não sou como tu.

– Dizes isso como se fosse uma modelo ou algo assim – ironizou Beth, varrendo o chão da loja onde trabalhava.

– Só tens de apresentar-te em Paris para que me deem o milhão de dólares que oferecem. Imagina-te o que poderia fazer com esse dinheiro! Faria toda a diferença na minha investigação!

– Estás sempre pressionar-me com essa utopia de que conseguirás curar milhares de doentes de cancro – protestou ela. – Acreditas mesmo que basta dizeres isso para que eu faça tudo o que tu queres?

– E não é verdade?

Beth suspirou.

– Sim, suponho que sim.

E era por isso que estava em Paris, com um vestido vermelho que lhe ficava demasiado justo, porque era a única das candidatas que não tinha o tamanho exigido na convocatória. Sentia-se tão mal no vestido como em tudo o resto.

Ao chegar à capital francesa, tinham-nas levado para um hotel de luxo da avenida Montaigne e, a seguir, para o hôtel particulier, que era como os criados se referiam à mansão. Desde então, não tinha feito outra coisa senão observar as suas belas colegas enquanto falavam uma a uma com um homem de olhos escuros que usava uma túnica. E já se tinham passado várias horas.

Aparentemente, os empregados do xeque estavam a deixá-la para o final porque não sabiam o que fazer com ela. Era como se tivessem decidido que não encaixava nos gostos do seu chefe.

No entanto, isso não a incomodava nada, porque ardia de vontade de ser recusada; o que a incomodava era a atitude das outras mulheres, que se mostravam tão submissas quanto sedutoras com aquele homem que apontava para elas com um dedo e lhes fazia um gesto para que se aproximassem dele.

Por que se comportavam assim? Eram pessoas com sucesso, grandes profissionais. Até tinha reconhecido Sia Lane, uma das atrizes mais famosas do mundo!

Beth estava ali para fazer um favor à sua irmã e por uma razão menos altruísta: a de aproveitar a viagem para conhecer Paris. Mas por que estariam elas ali? Nem sequer precisavam do dinheiro. Eram tão belas e famosas quanto ricas.

Além disso, o rei não era nenhuma maravilha. À distância, parecia demasiado magro para ser atraente, e os seus modos deixavam muito a desejar; pelo menos, para alguém do Texas. Na sua terra, qualquer anfitrião decente teria começado por cumprimentar adequadamente as suas convidadas.

Beth entregou o seu copo vazio a um empregado e abanou a cabeça. Que tipo de homem pedia vinte mulheres como se fossem pizzas? Que tipo de homem podia usar um sistema assim para encontrar esposa?

Do seu ponto de vista, era um cretino, por muito dinheiro e poder que tivesse. Mas, felizmente, não a achava atraente.

Ninguém a achava atraente.

Por isso continuava a ser virgem aos vinte e seis anos.

Beth lembrou-se subitamente das deprimentes palavras que Wyatt lhe tinha dedicado, o homem que lhe partira o coração. Depois de pedir-lhe desculpa por não sentir nada por ela, acrescentara algo que não conseguia tirar da cabeça: que a achava demasiado vulgar.

A recordação alterou-a de tal maneira que saiu do salão porque não conseguia respirar. E, momentos depois, deu por si num jardim com o luar como única luz.

Então, fechou os olhos, respirou fundo e tentou esquecer, repetindo-se que não precisava que ninguém a desejasse. Além disso, estava a ajudar a irmã. Graças a ela, teria dinheiro para a sua investigação. E à tarde, sairia para ir à Torre Eiffel e ao Arco do Triunfo, sentar-se-ia num terraço e tomaria um café e um croissant enquanto o mundo lhe passava ao lado.

Infelizmente, esse era precisamente o seu problema: o mundo passava-lhe sempre ao lado enquanto ela se limitava a olhar. Mesmo ali, naquela mansão de conto de fadas, rodeada de celebridades.

Ficava sempre sozinha.

Mas naquela noite não estava tão sozinha quanto pensava. Soube-o segundos depois, ao ver a silhueta de um homem entre as árvores do jardim.

Que estaria a fazer? Beth não conseguia ver-lhe a cara, mas distinguiu a elegância dos seus passos e a retitude dos seus ombros, típica do casaco de um fato. E, apesar da escuridão, também reparou que estava chateado, ou talvez deprimido.

Esquecendo os seus próprios problemas, caminhou para ele e disse:

– Excusez-moi, monsieur, est-ce que je peux vous aider?

O homem olhou para ela e Beth pensou que não era estranho que o visse tão mal por entre as sombras. Os seus olhos eram tão negros como o seu cabelo e, como se isso fosse pouco, vestia um fato da mesma cor.

– Quem é você? – replicou com frieza.

Beth quase que lhe disse o seu nome, mas lembrou-se de que estava a substituir a irmã e respondeu:

– Edith Farraday. Doutora Edith Farraday. Ele sorriu.

– Ah, a menina prodígio que investiga o cancro em Houston.

– Efetivamente. E suponho que você será um empregado do xeque, certo?

Ele voltou a sorrir.

– Sim, algo assim – respondeu com humor. – Por que não está no salão?

– Porque estava aborrecida e estava um calor horrível.

O homem baixou o olhar e observou-a demoradamente. Beth corou e subiu um pouco o decote, que não conseguia esconder os seus generosos seios.

– Já sei que o vestido me fica pequeno – prosseguiu. – Não tinham nenhum para o meu tamanho.

– Ah, não? – perguntou ele, surpreendido. – Deviam tê-los de todos os tamanhos.

– E tinham, mas só para mulheres com corpo de modelo – explicou Beth. – Era vestir este vestido ou apresentar-me com as calças de ganga e camisola desportiva que tinha esta manhã. Infelizmente, molharam-se quando saí para passear, porque começou a chover.

– Não ficou no hotel, como as outras?

– Para quê? Para arranjar-me e pôr-me mais bonita quando me apresentassem ao xeque? – disse, trocista. – Sei que não sou o tipo de mulher que ele gosta. Só vim porque queria conhecer Paris.

– Por que tem tanta certeza assim de não ser o tipo de mulher de que ele gosta?

– Porque os empregados não sabem o que fazer comigo. Estou há várias horas no salão e o xeque não se dignou a apontar-me com o seu dedo.

Ele franziu o sobrolho.

– Foi mal-educado para si?

– Não, não diria tanto. Mas, de qualquer modo, ele também não me agrada.

– Como sabe? É evidente que não o investigou antes.

Desta vez foi Beth quem franziu o sobrolho. Como sabia que não se tinha dado a tal trabalho?

– Sim, sou consciente de que deveria tê-lo pesquisado na Internet – admitiu. – Mas recebi o convite há dois dias, e estava tão ocupada que…

– Ocupada? – interrompeu-a ele. – Com o quê?

Beth tossicou. Tinha estado a trabalhar sem descanso porque, caso contrário, o dono da loja se teria recusado a conceder-lhe uns dias livres. Mas não podia dizer-lhe a verdade.

– Com a minha investigação, claro – respondeu.

– Compreendo. O seu trabalho é certamente importante.

Ele olhou para ela com intensidade, como se esperasse que aprofundasse um pouco o suposto trabalho. Mas Beth, que não se lembrava de nenhum dos detalhes técnicos que a sua irmã lhe tinha dado, só conseguiu dizer:

– Sim, claro. O cancro é uma coisa muito má.

– Pois é – disse ele, arqueando uma sobrancelha.

Beth apressou-se a mudar de conversa.

– Então, trabalha para o rei? – interessou-se. – Que está aqui a fazer? Por que não está no salão?

– Porque não quero estar lá.

Beth estranhou que respondesse com uma evidência que não explicava nada. Mas não foi a sua estranheza nem a súbita brisa que lhe acariciou os braços nus que causaram o seu estremecimento posterior, mas o poderoso e perfeito corpo do homem que estava à sua frente.

Nunca se tinha sentido tão atraída por alguém em toda a sua vida. O simples facto de estar ao seu lado era avassalador. Era tão alto e forte que exalava poder por cada poro. E, se o seu corpo a entontecia, que dizer daqueles olhos negros que refletiam a escassa luz do jardim e a incitavam a mergulhar neles como que num mar escuro, profundo e traiçoeiro.

As suas emoções eram tão intensas que teve de fazer um esforço para desviar o olhar.

– Bom, vou voltar para dentro e esperarei que o rei me aponte com o dedo – disse, soltando um suspiro. – Afinal, pagam-me para isso.

– Pagam-lhe?

Ela olhou para ele com surpresa.

– Sim, claro. Todas recebemos um milhão de dólares pelo simples facto de virmos cá e, se nos convidarem a ficar, outro milhão por cada dia.

– Isso é completamente inadmissível – replicou ele, irritado. – A possibilidade de ser rainha de Samarqara deveria ser pagamento suficiente.

– Se o diz… Embora eu tenha a impressão de que o dinheiro tem algo a ver com o facto de elas cá estarem – ironizou Beth. – Até as celebridades precisam de dinheiro.

– E você? Também veio por causa disso?

– Claro – respondeu ela baixinho.

Beth não saía do seu assombro. Era a primeira vez que um homem lhe prestava tanta atenção, e não se tratava de um homem normal e corrente, mas de um que parecia saído de um conto de fadas.

Quando olhava para ela, o seu coração batia mais depressa. Quando se aproximava um pouco, a respiração acelerava-lhe de tal maneira que os seus seios subiam e baixavam perigosamente sob o corpete do justo vestido vermelho, ameaçando saírem pelo decote.

Que teria acontecido se se tivesse aproximado mais?

– Portanto, está aqui apenas pelo dinheiro… – disse ele.

– A investigação sobre o cancro é muito cara.

– Sim, imagino. Mas não sabia que pagavam milhões a essas mulheres pelo simples facto de virem.

– Ah, não?

A ignorância do impressionante desconhecido levou-a à conclusão de que não devia ter uma relação próxima com o xeque. Sentiu-se imensamente aliviada. Estava tão deslocado quanto ela, por isso não diria ao seu chefe que se tinha cruzado com Edith Farraday e que lhe tinha parecido uma tonta trémula e ofegante.

– Que relação tem com o rei? – perguntou com curiosidade. – É um dos seus secretários? Um guarda-costas talvez?

Ele abanou a cabeça.

– Não, nada disso.

– Oh, vá, é um familiar? Nesse caso, rogo-lhe que me desculpe. Como já disse, tenho tido tanto trabalho que não pude pesquisar. Poderia ter-me ligado à net no avião, mas estava esgotada. E como fui passear por Paris…

Beth odiou-se a si mesma por estar a balbuciar, mas ele arqueou uma sobrancelha e olhou para ela com verdadeiro interesse, como se estivesse à frente de um enigma que não conseguia resolver.

Ela? Um enigma? Mas se era um livro aberto!

Perplexa, teve de recordar-se que não se tinha apresentado como Beth Farraday, mas como Edith. E não podia arriscar que aquele homem descobrisse o seu segredo.

Até então, não lhe tinha parecido que estivesse a fazer nada de mal. A sua irmã precisava daquele favor e ela tinha a oportunidade de conhecer Paris. Mas o rei de Samarqara não ia pagar uma fortuna por conhecer a empregada de uma loja de Houston, mas por uma investigadora famosa. E o que estavam a fazer tinha um nome: fraude.

Nervosa, voltou a subir o decote do vestido, porque ele se tinha aproximado mais e os seus seios continuavam empenhados em tentarem escapar ao confinamento. Não era estranho que os seus olhos se fixassem uma e outra vez naquela parte do seu corpo.

– Enfim, será melhor ir-me embora – conseguiu dizer, envergonhada consigo mesma.

Beth deu meia volta e dirigiu-se à mansão, mas ele seguiu-a rapidamente e perguntou:

– Que lhe parecem?

– De que me está a falar?

– Das outras mulheres.

Beth franziu o sobrolho.

– Por que pergunta?

– Porque me interessa a opinião de uma pessoa que, segundo diz, não tem nenhuma possibilidade com o rei – respondeu ele. – Se não a tem, quem a tem?

Ela semicerrou os olhos.

– Promete-me que não conta ao xeque?

– Isso importaria muito?

– É que não quero prejudicar as possibilidades de ninguém.

Ele levou uma mão ao peito e disse:

– Então, prometo-lhe que ficará entre nós.

Beth assentiu.

– Não sei, suponho que ele optará pela estrela de cinema. Afinal, é a mais famosa de todas.

– Refere-se à Sia Lane?

– Sim, claro. Além disso, é tão bela quanto encantadora, embora consiga chegar a ser muito desagradável. Quando estávamos no avião, discutiu com uma pobre hospedeira porque não tinham a água mineral de que ela gosta e, ao chegar a do hotel, ameaçou os paquetes que se a sua bagagem sofresse o mais leve dano que seriam despedidos.

– A sério?

– Sim. É o tipo de pessoa capaz de dar pontapés a um cão. A não ser que o cão seja útil para a sua carreira.

Ele soltou uma gargalhada.

– Lamento, não deveria ter falado – prosseguiu ela, abanando a cabeça. – De certeza que é uma pessoa maravilhosa. Terá tido um mau dia.

– É possível. Mas e você, quem escolheria?

– Escolhia a Laila al Abayyi. Toda a gente gosta dela. E é de Samarqara, por isso conhece os costumes e a cultura do país.

Ele franziu o sobrolho e disse com brusquidão:

– Não, escolha outra.

Beth ficou momentaneamente confundida.

– Outra? Bom, Bere Akinwande é amável, inteligente e tão bela quanto a Sia Lane. Seria uma rainha fantástica. Embora, para dizer a verdade, nem perceba por que querem estas mulheres casar com o rei Omar.

– E porquê?

– Parece-lhe normal escolher uma esposa desta maneira? Que tipo de homem faz algo assim? Parece um reality show.

– Não seja tão dura com ele. Encontrar esposa é difícil para um homem da sua posição, embora imagine que tudo isto será igualmente duro para si. Não em vão, viu-se obrigada a deixar um trabalho importante para encontrar marido à maneira antiga.

Beth voltou a suspirar.

– Sim, tem razão. Não tenho o direito de julgar. Ele paga-nos para virmos, mas nós não lhe pagamos a ele – admitiu. – Pensando bem, deveria agradecer-lhe… se é que tenho oportunidade de conhecê-lo, claro.

Nesse exato momento, ouviu-se a voz de outro homem.

– Que está a fazer aqui, menina Farraday? Entre agora mesmo! Precisam de si no salão.

O recém-chegado, que era um dos empregados do rei, ficou atónito ao ver o acompanhante de Beth.

– Perdoe-me, menina – prosseguiu, súbita e estranhamente amável. – Se tivesse a amabilidade de regressar ao salão, ficaríamos muito agradecidos.

– Ena, parece que por fim vou conhecer Sua Majestade – disse Beth ao seu atraente desconhecido. – Deseje-me sorte.

Ele pôs-lhe uma mão no ombro e disse:

– Boa sorte.

Beth estremeceu de novo ao sentir o seu contacto.

– De qualquer modo, tenho a certeza de que fracassarei. É o meu destino. Sou uma profissional do falhanço.

Ele olhou para ela com surpresa, e Beth amaldiçoou-se a si mesma por ter dito isso. A fracassada era ela, não Edith. E supunha-se que era Edith.

– Enfim, não me ligue – acrescentou. – Até logo…

Quando voltou ao salão, Beth percebeu que já não estava nervosa. O incómodo de conhecer um rei e de encontrar-se entre algumas das mulheres mais famosas do mundo tinha desaparecido por completo.

Por outro lado, não deixava de pensar no fascinante moreno com quem tinha estado a conversar ao luar num jardim de Paris.

Omar ficou onde estava, perplexo.

Seria verdade que a doutora Edith Farraday não o tinha reconhecido? Era difícil de acreditar, mas era uma experiência completamente nova para ele. Nunca uma mulher fingira não o conhecer.

Em circunstâncias normais, teria desconfiado dela; afinal, era um homem muito famoso e estava sempre a aparecer nos média. No entanto, o seu instinto dizia-lhe que ela não o estava a enganar. Não sabia quem ele era. E, por outro lado, ele também não sabia que Khalid se comprometera a pagar um milhão de dólares a cada candidata.

Por um lado, era uma decisão lógica, porque não podiam esperar que vinte mulheres tão famosas quanto ocupadas se apresentassem em Paris sem outro motivo senão a possibilidade de serem a sua rainha; mas, por outro lado, sentiu-se insultado. Era esse o seu valor?

Em qualquer caso, a culpa era sua. Pedira a Khalid que se encarregasse de tudo e ele assim fizera. Era ele quem estava no salão, a entrevistar as mulheres; era ele quem devia escolher dez para lhas apresentar no dia seguinte e, claro, também era ele que tinha estabelecido os critérios da lista inicial.

Omar só tinha posto a condição de que fossem inteligentes e brilhantes, condição que cumprira. Mas teria ficado muito surpreendido se Khalid não tivesse incluído o nome de certa princesa na lista.

– Por que convidou a Laila? – perguntou-lhe então. – Disse-lhe que não quero casar com ela.

– Não disse exatamente isso. Disse que só se casaria com ela se todos os seus nobres concordassem.

– E eles não concordam.

– Mas podem mudar de opinião.

– Não mudarão – replicou Omar, incomodado. – Mas surpreende-me que a Laila se tenha rebaixado a vir.

– Tal como Sua Majestade, a rapariga põe as necessidades de Samarqara à frente das suas – afirmou o vizir. – O pai dela chateou-se muito quando soube do mercado de noivas, mas Laila tranquilizou-o dizendo-lhe que lhe parecia bem e que ela também apoia as velhas tradições. Veio por motivos diplomáticos, pelo bem da nação.

Omar pensou que o milhão de dólares também não lhe cairia mal; sobretudo, tendo em conta que ganharia mais um a cada dia que ficasse. Mas, naturalmente, calou-se.

Afinal, a sorte estava lançada. Tinha trinta e seis anos e, se lhe acontecesse algo, não teria nenhum herdeiro ao trono. A sua família reduzia-se ao próprio Khalid e a um primo longínquo que nem sequer era um Al Maktoun, mas um Al Bayn. Precisava de filhos. Não conseguia arriscar-se a que Samarqara voltasse a sofrer uma guerra civil como a que tinha sofrido nos tempos do avô.

Mas também não podia arriscar-se a casar-se por amor.

Não, não voltaria a cair na armadilha da paixão. Já não era um jovenzinho inexperiente, mas um homem adulto; e, quando era assaltado por dúvidas, concentrava-se no seu trabalho e esquecia-as. Não era difícil. Os assuntos de Estado tomavam muito tempo.

Em qualquer caso, estava condenado a tomar uma decisão sobre o processo que ele mesmo pusera em marcha, o mercado de noivas. Teoricamente, os membros do Conselho tinham a última palavra a esse respeito; mas a mulher que escolhessem seria mais que uma rainha: também seria a sua esposa, a sua amante e a mãe dos seus filhos.

Omar tentou não pensar no aviso do seu vizir, que estava convencido de que casar com uma desconhecida era condenar-se a uma vida de pesares. Além disso, a opinião dos seus conselheiros não o preocupava; no pior dos casos, não escolheriam pior do que ele tinha feito quinze anos antes.

Tenso, ficou a caminhar de um lado para o outro. O protocolo ditava que não poderia ver as pretendentes até que passassem a primeira seleção. A espera estava a dar-lhe cabo da cabeça. Por isso tinha ido ao jardim, em busca de sossego. Mas, em lugar de encontrar a paz que procurava, encontrou uma mulher tão sensual quanto desconcertante.

Omar sentiu-se violentamente atraído pela beleza daquele corpo exuberante, cujas curvas desafiavam a resistência de um vestido demasiado pequeno. E, se para o caso da sua aparência física não ser tentação suficiente, a sua franqueza e naturalidade tinham feito o resto.

Durante uns minutos, tinha-se esquecido de todos os seus problemas. Estava a divertir-se. Até ela mencionar a Laila, a meia-irmã da sua falecida noiva.

Será que não conseguia escapar ao seu passado?

Omar olhou para a lua, abalado. Na altura, a ideia de organizar um mercado de noivas parecera-lhe uma forma segura de começar do zero; mas o destino empenhava-se em recordar-lhe a sua primeira tentativa de casar-se.

Tinha sido desastroso. Uma tragédia.

Por fim, cansou-se de caminhar e dirigiu-se para o salão, seguindo os passos da suposta Edith Farraday. Ao chegar, deteve-se nas sombras para que não o vissem e dedicou-se a olhar para o objeto do seu desejo, que estava a conversar com Khalid.

Os seus olhares encontraram-se ao fim de uns segundos e ele soube que tinha descoberto a sua identidade porque os seus olhos brilhavam com fúria.

Longe de incomodar-se, Omar admirou o seu sinuoso corpo com redobrado interesse. As suas últimas relações amorosas tinham sido de carácter estritamente sexual; mas quase sempre com mulheres ambiciosas e frias que não o satisfaziam plenamente. Não se pareciam nada com Ferida al Abayyi, a morena de olhos negros que morrera antes de ele poder casar com ela.

E agora, a sorte levava-o a cruzar-se no caminho de outra mulher apaixonante.

Omar observou-a demoradamente. Tinha uma cara linda, de lábios grandes, sardas no nariz e cabelo entre o castanho claro e loiro. Desgraçadamente, a escuridão do jardim impedira-o de descobrir a cor dos seus olhos e, como ela estava no extremo oposto da sala, também não conseguia decidir-se agora; mas aqueles olhos olhavam-no de tal maneira que se sentiu excitado.

Enquanto admirava as suas curvas, pensou que o vestido que levava deveria ser proibido. Não se admiraria se a peça se rompesse pelas costuras e ela ficasse nua à frente do vizir. Era uma bomba, uma verdadeira provocação. Vestida assim, conseguia fazer o que quisesse de qualquer homem; ou, pelo menos, dele.

Não conseguia pensar noutra coisa que não fosse levá-la para a cama. Só lhe tocara uma vez, no jardim, quando lhe pôs uma mão no ombro; mas a sua pele parecera-lhe suave como seda, e ardia de desejo de comprovar se o resto do corpo era igual.

Lamentavelmente, não a conseguiria seduzir. Um mercado de noivas não era um lugar adequado para isso, por muito que a ela lhe parecesse uma espécie de reality show. Era uma tradição tão antiga quanto séria.

Se queria que ela fosse dele, teria de pedi-la em casamento; mas não por poderia fazê-lo por ela ter um corpo pecaminoso, mas pelas suas habilidades. E, nesse sentido, também se destacava das outras. Afinal, a doutora Farraday estava a tentar curar o mesmo tipo de leucemia infantil que matara o seu irmão mais velho.

No entanto, a mulher com quem tinha estado a conversar não encaixava com a descrição do seu currículo. Não parecia a pessoa que se licenciara em Harvard aos dezanove anos e que, aos vinte e seis, já estava a dirigir uma equipa de investigadores em Houston. Não parecia a profissional que, segundo lhe tinham contado, nunca saía do seu laboratório.

Comportava-se como se fosse outra pessoa. Era divertida, amável e calorosa. Era-o de tal maneira que a desejava com toda a sua alma. Ou talvez a desejasse pela simples e pura razão de que não tinha nada a ver com as mulheres a que estava habituado.

De repente, ouviu-se um rumor de cochichos, o que só podia significar uma coisa: que o resto das candidatas o tinha visto e reconhecido. Omar deu meia volta então e, sem dizer uma palavra, voltou ao jardim e foi para os seus aposentos.

Já entrada a noite, Khalid bateu à porta e entrou. Omar estava à janela, a olhar para as vinte mulheres que, nesse preciso momento, entravam nas suas limusinas para regressarem ao luxuoso hotel Campania, da avenida Montaigne.

– As coisas que tenho de fazer por si, Majestade – disse o recém-chegado. – Já tomou a decisão certa? Casar-se-á com a Laila?

Omar ignorou a pergunta e respondeu com outra.

– Já escolheu as dez?

– Sim, mas não foi fácil – respondeu o vizir. – Todas são igualmente perfeitas. Todas menos a última que entrevistei, a menina Farraday. Não acho que seja o seu tipo de mulher.

– O meu tipo de mulher? – perguntou Omar, incomodado. – Por que toda a gente acha que tenho um tipo de mulher?

– Porque tem.

– E a menina Farraday não encaixa nele?

– Bom, é uma jovem linda, mas demasiado banal para si. Além disso, é óbvio que ganhou algum peso desde que nos enviou as suas fotografias. O vestido ficava-lhe ridiculamente justo, não lhe parece?

Omar virou-se para a janela no preciso instante em que a doutora Farraday abria a janela da sua limusina e lançava um olhar triste à mansão, como se pensasse que não voltaria a vê-la.

Enquanto olhava para ela, ele recordou-se do que tinha dito no jardim sobre o falhanço. Tinha-lhe parecido um comentário estranho, vindo de uma cientista mundialmente famosa. Por que se sentia uma fracassada? Seria por ainda não ter encontrado a cura que estava a procurar?

Fosse como fosse, Omar pensou que tinham algo importante em comum. Os dois conheciam o peso da responsabilidade. Ela, pelas consequências da sua investigação médica e ele, pelo dever de dirigir uma nação.

No entanto, Khalid estava certo ao afirmar que era demasiado banal. Não tinha nem o carácter dominante nem a formalidade nem a arrogância que seria de esperar de uma rainha. Era pouco ortodoxa e nada solene. Era demasiado sincera, demasiado direta, demasiado sensual. Era a única das vinte candidatas pela qual um homem como ele se poderia apaixonar.

Mas não podia correr esse risco. A experiência dizia-lhe que o preço de amar era inadmissivelmente alto, e não só para ele, mas para muitas pessoas inocentes.

Apesar disso, recordou a sua voluptuosa figura e os seus grandes seios, que ameaçavam saltar do decote e destroçar qualquer traço de recato. Como não se iria lembrar, se teria dado qualquer coisa por beijar os seus grandes e vermelhos lábios?

Aquela mulher era como um raio de sol depois de um longo e escuro inverno.

– Majestade? Que faço então? – perguntou o vizir. – Devolvo a menina Farraday ao seu país?

Omar olhou para Khalid e disse:

– Não. Ela que fique outra noite.

A noiva escolhida pelo xeque

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