Читать книгу Morte e um Cão - Fiona Grace, Фиона Грейс - Страница 7

CAPÍTULO QUATRO

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Após o encontro com Buck e Daisy, Lacey não via a hora de fechar a loja e ir para casa. Tom iria cozinhar naquela noite, e ela estava ansiosa para se aconchegar nele no sofá com uma taça de vinho, enquanto assistiam a um filme. Mas ela ainda tinha que fazer o balanço da máquina registradora, arrumar alguns itens do estoque, varrer o chão e limpar a cafeteira… Não que Lacey estivesse reclamando. Ela adorava sua loja e tudo o que envolvia cuidar dela.

Quando finalmente terminou, ela se dirigiu para a saída com Chester a reboque, notando que os ponteiros do relógio de ferro haviam chegado às 19h e lá fora estava escuro. Era primavera e, apesar dos dias estarem mais longos, Lacey ainda não havia desfrutado de nenhum deles. Mas ela podia sentir a mudança no ar; a cidade parecia mais vibrante e muitos dos cafés e pubs permaneciam abertos por mais tempo, com as pessoas sentadas nas mesas do lado de fora, bebendo café e cerveja. Dava ao local uma atmosfera festiva.

Lacey trancou sua loja. Ela se tornou extra cuidadosa desde o arrombamento, mas mesmo que aquilo nunca tivesse acontecido, ela agiria assim, porque a loja parecia sua filha agora. Era uma coisa que precisava ser nutrida, protegida e bem cuidada. Em tão pouco espaço de tempo, ela se apaixonou completamente pelo lugar.

"Quem diria que você poderia se apaixonar por uma loja?" ela pensou em voz alta, suspirando profundamente, satisfeita pelo rumo que sua vida havia tomado.

Ao lado dela, Chester choramingou.

Lacey deu uma batidinha na cabeça dele. "Sim, eu também amo você, não se preocupe!"

À menção da palavra amor, ela se lembrou dos planos que tinha com Tom para aquela noite e olhou para a confeitaria.

Para sua surpresa, ela viu que todas as luzes estavam acesas. Era muito estranho. Tom tinha que abrir sua loja num horário desumano: às cinco da manhã, para garantir que tudo estivesse pronto para o grande número de clientes que vinham tomar café da manhã às sete, o que significava que ele geralmente fechava às cinco da tarde em ponto. Mas eram 19h, e ele claramente ainda estava lá dentro. A placa-sanduíche ainda estava na rua. O aviso na porta ainda estava virado para aberto.

"Vamos lá, Chester", disse Lacey ao seu companheiro peludo. "Vamos ver o que está acontecendo".

Atravessaram a rua juntos e entraram na confeitaria.

Imediatamente, ela ouviu uma espécie de comoção vindo da cozinha. Pareciam os sons habituais de panelas e frigideiras, mas em ritmo muito acelerado.

"Tom?" ela chamou, um pouco nervosa.

"Ei!" apenas a voz dele veio da cozinha, nos fundos. Ele usou seu tom normal, bem-humorado.

Agora que Lacey sabia que ele não estava sendo assaltado por um ladrão de macarons, ela relaxou e sentou no banquinho de sempre, enquanto o barulho continuava.

"Está tudo bem aí atrás?" ela perguntou.

"Tudo!" Tom gritou em resposta.

Um momento depois, ele finalmente apareceu pelo arco na entrada da cozinha. Estava usando o avental, que, assim como suas roupas por baixo e seus cabelos, estava coberto de farinha de trigo. "Houve um pequeno desastre".

"Pequeno?" Lacey zombou. Agora que sabia que Tom não estava lutando contra um intruso na cozinha, ela podia apreciar o humor da situação.

"Foi Paul, na verdade", começou Tom.

"O que ele fez agora?" perguntou Lacey, lembrando-se da vez em que o estagiário de Tom havia usado acidentalmente bicarbonato de sódio em vez de farinha de trigo em um lote de massa, inutilizando-a totalmente.

Tom levantou dois pacotes brancos quase idênticos. À esquerda, a etiqueta impressa desbotada dizia: açúcar. À direita: sal.

"Ah", disse Lacey.

Tom assentiu. "Sim. É a fornada de doces para o café de amanhã. Vou ter que refazer tudo ou enfrentar a ira dos clientes quando eles chegarem para o desjejum e descobrirem que não tenho nada para vender".

"Isso significa que nossos planos para esta noite estão cancelados?" perguntou Lacey. O humor que ela sentira momentos antes foi subitamente frustrado, substituído por uma pesada decepção.

Tom lançou-lhe um olhar de desculpas. "Eu sinto muito. Vamos reagendar. Pode ficar para amanhã? Eu vou até sua casa cozinhar para você".

"Amanhã eu não posso", respondeu Lacey. "Vou ter uma reunião com Ivan".

"A reunião sobre a venda do Chalé do Penhasco", disse Tom, estalando os dedos. "Claro. Eu lembro. Que tal quarta à noite?"

"Você não vai para aquele curso de focaccia na quarta-feira?"

Tom pareceu perturbado. Ele checou o calendário na parede e suspirou. "Ok, esse é na quarta-feira que vem". Ele riu. "Você me deu um susto. Ah, mas estou ocupado quarta-feira à noite, de toda forma. E quinta-feira…"

"…é o treino de badminton", Lacey terminou para ele.

"O que significa que estou livre na próxima sexta-feira. Pode ser sexta?"

Seu tom estava tão animado como sempre, observou Lacey, mas a atitude blasé dele ao cancelar seus planos juntos a magoou. Ele não parecia se importar com o fato de que talvez não tivessem um encontro romântico até o final de semana.

Embora Lacey soubesse muito bem que ela não tinha planos na sexta-feira, ainda se ouviu dizendo: "Vou ter que checar minha agenda e te aviso".

E, assim que as palavras saíram de seus lábios, uma nova emoção surgiu em seu estômago, misturando-se à decepção. Para surpresa de Lacey, a emoção era de alívio.

Alívio por ela não poder ter um encontro romântico com Tom por uma semana? Ela não conseguia entender de onde vinha o alívio, e isso a fez se sentir subitamente culpada.

"Claro", disse Tom, aparentemente sem notar. "Podemos deixar em aberto por enquanto e fazer algo especial da próxima vez, quando estivermos menos ocupados". Ele fez uma pausa aguardando a resposta dela e, como não veio, acrescentou: "Lacey?"

Ela voltou ao momento. "Sim, certo. Parece bom".

Tom se aproximou e apoiou os cotovelos no balcão, para que seus rostos ficassem nivelados. "Agora. Pergunta séria. Você tem algo para comer hoje à noite? Porque obviamente você estava esperando uma refeição saborosa e nutritiva. Tenho algumas tortas de carne que não vendi hoje, quer levar uma para casa?"

Lacey riu e bateu no braço dele. "Não preciso de suas doações, muito obrigada! Vou te mostrar que eu sei cozinhar de verdade!"

"Sério?" Tom provocou.

"Sou conhecida por fazer um ou dois pratos muito bem", disse Lacey. "Risoto de cogumelos. Paella de frutos do mar". Ela vasculhou a memória para achar mais uma coisa a acrescentar, porque todo mundo sabe que é preciso pelo menos três itens para fazer uma lista! "Hum… hum…"

Tom levantou as sobrancelhas. "E…?"

"Macarrão com queijo!" Lacey exclamou.

Tom riu com gosto. "É um repertório impressionante. No entanto, nunca vi nenhuma evidência para apoiar suas declarações".

Ele tinha razão. Até agora, Tom havia feito todas as refeições para os dois. Isso fazia sentido. Ele adorava cozinhar e tinha as habilidades necessárias para fazê-lo. As habilidades culinárias de Lacey não iam muito além de perfurar o filme plástico de uma refeição para o micro-ondas.

Ela cruzou os braços. "Na verdade, eu ainda não tive a chance", respondeu, usando o mesmo tom brincalhão e argumentativo de Tom, na esperança de esconder a irritação genuína que o comentário dele despertou nela. "O Excelentíssimo Chef de Confeitaria Estrela Michelin não confia em mim perto de um fogão".

"Devo aceitar isso como uma oferta?" Tom perguntou, mexendo as sobrancelhas.

Maldito orgulho, pensou Lacey. Ela havia caído como um patinho. Ótima forma de se enrolar.

"Pode apostar", disse ela, fingindo confiança. Em seguida, estendeu a mão para ele apertar. "Desafio aceito".

Tom olhou para a mão dela sem se mexer, torcendo os lábios para o lado. "Mas com uma condição".

"Ah? E qual é?"

"Tem que ser algo tradicional. Típico de Nova York".

"Nesse caso, você acabou de tornar meu trabalho dez vezes mais fácil", exclamou Lacey. "Porque isso significa que eu vou fazer pizza e cheesecake".

"Nada pode ser comprado pronto", acrescentou Tom. "Tudo tem que ser feito do zero. E sem receber nenhuma ajuda. Nada de pedir a massa a Paul".

"Ah, por favor", disse Lacey, apontando para o saco de sal descartado no balcão. "Paul é a última pessoa que eu chamaria para me ajudar a trapacear".

Tom riu. Lacey esticou sua mão estendida para mais perto dele. Ele assentiu, indicando que estava satisfeito por ela atender às condições, e então pegou a mão dela. Mas, em vez de apertá-la, ele lhe deu um pequeno puxão, aproximando-a e beijando-a sobre o balcão.

"Vejo você amanhã", murmurou Lacey, com o beijo dele ainda ecoando em seus lábios. "Pela vitrine, quer dizer. A menos que você tenha tempo para ir ao leilão".

"É claro que vou ao leilão", disse Tom. "Eu perdi o último. Preciso estar lá para apoiar você".

Ela sorriu. "Ótimo".

Lacey se virou e foi para a saída, deixando Tom com a bagunça em sua cozinha.

Assim que a porta da confeitaria se fechou atrás dela, Lacey olhou para Chester.

"Me meti em apuros", disse ela a seu cachorro perspicaz. "Realmente, você deveria ter me impedido. Puxado minha manga. Me cutucado com seu nariz. Qualquer coisa. Mas agora eu tenho que fazer pizza do zero. E um cheesecake! Droga". Ela arrastou os sapatos na calçada, fingindo frustração. "Vamos lá, teremos que fazer compras antes de ir para casa".

Lacey virou na direção oposta de sua casa e caminhou apressadamente pela rua principal em direção ao mercado (ou loja da esquina, como Gina insistia em chamá-lo). Enquanto seguia, ela escreveu uma mensagem no grupo Garotas da Família Doyle.

Alguém sabe como fazer cheesecake?

Certamente era o tipo de coisa que a mãe dela saberia fazer, certo?

Não demorou muito e ela ouviu o celular emitir um som com a resposta, verificando quem havia respondido. Infelizmente, foi sua sarcástica irmã caçula, Naomi.

Ninguém sabe, a irmã dela brincou. É por isso que todo mundo já compra pronto e evita o trabalho.

Lacey respondeu rapidamente . Isso não ajuda, mana.

A resposta de Naomi veio em velocidade extremamente rápida. Se você fizer perguntas estúpidas, espere respostas estúpidas.

Lacey revirou os olhos e se apressou.

Felizmente, quando ela chegou ao mercado, sua mãe respondeu com uma receita.

É da Martha Stewart, ela escreveu. Você pode confiar nela.

Confiar nela? Naomi rebateu. Ela não foi presa?

Sim, a mãe delas respondeu. Mas isso não teve nada a ver com a receita de cheesecake.

Touché, respondeu Naomi.

Lacey riu. Mamãe realmente superou Naomi!

Ela guardou o celular, amarrou a coleira de Chester ao redor do poste e seguiu para o interior do mercado, muito bem iluminado. Percorreu as prateleiras o mais rápido que pôde, enchendo sua cesta com tudo o que Martha Stewart disse que precisava, e então pegou um pacote de linguine pré-cozido, um pote de molho pronto (convenientemente localizado na geladeira ao lado), e um pouco de queijo parmesão ralado (localizado ao lado do molho), antes de finalmente pegar a garrafa de vinho sob a qual estava escrito: Vai muito bem com linguine!

Não admira eu nunca ter realmente aprendido a cozinhar, Lacey pensou. Olha só como eles tornam tudo fácil.

Ela foi até o caixa, pagou pelas mercadorias e depois saiu, pegando Chester na saída. Eles passaram por sua loja – ela notou que Tom estava exatamente onde ela o havia deixado – e pegaram o carro na rua lateral onde Lacey havia estacionado.

Foi uma curta viagem até o Chalé do Penhasco, ao longo da orla marítima e depois ao longo do penhasco. Chester ficou em alerta no banco do passageiro ao seu lado e, quando o carro subiu a colina, o chalé apareceu. Uma sensação de prazer surgiu dentro de Lacey. No chalé, ela realmente se sentia em casa. E, depois da reunião de amanhã com Ivan, ela provavelmente estaria um passo mais perto de se tornar sua dona oficial.

Naquele momento, ela notou o brilho de uma fogueira vindo da direção do chalé de Gina e decidiu passar direto pela sua casa e seguir pelo caminho esburacado de uma trilha até sua vizinha.

Enquanto parava o carro, pôde ver a mulher de pé com suas galochas ao lado do fogo, ao qual estava adicionando folhagem. A fogueira estava muito bonita sob a luz daquele crepúsculo primaveril.

Lacey tocou a buzina do carro e baixou o vidro.

Gina se virou e acenou. "Oiê, Lacey. Você precisa queimar alguma coisa?"

Lacey se inclinou pela janela sobre os cotovelos. "Não. Só queria saber se você precisa de alguma ajuda".

"Você não tem um encontro com Tom hoje à noite?" Gina perguntou.

"Eu tinha", Lacey disse a ela, sentindo aquela estranha mistura de decepção e alívio agitando seu estômago novamente. "Mas ele cancelou. Teve uma emergência na confeitaria".

"Ah", disse Gina. Ela jogou outro galho de árvore na fogueira, levantando faíscas vermelhas, alaranjadas e douradas no ar. "Bem, aqui está tudo sob controle, obrigada. A menos que você tenha alguns marshmallows que queira assar?"

"Droga, não, não tenho. Isso seria legal! E eu acabei de fazer compras no mercado!"

Ela decidiu culpar Martha Stewart e sua receita de cheesecake de baunilha extremamente sensata pela falta de marshmallows.

Lacey estava prestes a desejar boa noite a Gina e voltar com o carro pelo caminho que tinha vindo, quando sentiu Chester cutucando-a com o nariz. Ela se virou e olhou para ele. As sacolas que havia colocado no espaço para os pés dos passageiros se abriram e alguns dos itens haviam caído.

"Isso é uma boa ideia…" disse Lacey. Ela olhou pela janela novamente. "Ei, Gina. Que tal jantarmos juntas? Eu tenho vinho e macarrão. E todos os ingredientes para fazer o autêntico cheesecake nova-iorquino de Martha Stewart, se ficarmos entediadas e precisarmos de uma atividade".

Gina ficou animada. "Só o vinho já me convenceu!" ela exclamou.

Lacey riu. Ela se abaixou para pegar as sacolas de compras e ganhou outra cutucada do nariz úmido de Chester.

"O que é agora?" ela perguntou a ele.

Ele inclinou a cabeça para o lado, seus tufos macios de sobrancelha voando para cima.

"Ah. Entendi", disse Lacey. "Você está provando um argumento, não é, dizendo que deu tudo certo no final? Bem, vou te dar esse crédito".

Ele choramingou.

Ela riu e acariciou a cabeça dele. "Garoto esperto".

Lacey saiu do carro, Chester veio saltando atrás, e seguiram até a casa de Gina, desviando das ovelhas e galinhas espalhadas pelo lugar.

Elas entraram.

"Então, o que aconteceu com Tom?" Gina perguntou enquanto caminhavam ao longo do corredor de teto baixo em direção a sua cozinha rústica.

"Na verdade, foi Paul", explicou Lacey. "Ele misturou as farinhas ou algo assim".

Elas entraram na cozinha bem iluminada e Lacey colocou as sacolas no balcão.

"Já é hora dele despedir esse rapaz, Paul", disse Gina, estalando a língua.

"Ele é um estagiário", disse Lacey. "É normal que cometa erros!"

"Certo. Mas ele deveria aprender com eles. Quantas fornadas de massa ele arruinou até agora? E para impactar nos seus planos, realmente é a gota d’água".

Lacey sorriu com a frase divertida de Gina.

"Sinceramente, está tudo bem", disse ela, tirando todos os itens da sacola. "Eu sou uma mulher independente. Não preciso ver Tom todo dia".

Gina pegou duas taças de vinho e serviu uma para cada, depois começaram a fazer o jantar.

"Você não vai acreditar em quem entrou hoje na minha loja pouco antes da hora de fechar", disse Lacey, enquanto dava uma rápida mexida no macarrão, na panela de água fervente. As instruções diziam que não era necessário mexer durante os quatro minutos de cozimento, mas isso parecia preguiça demais, mesmo para Lacey!

"Não foram os americanos, né?" Gina perguntou, em um tom de repugnância, enquanto colocava o molho de tomate no microondas por dois minutos, para aquecer.

"Sim. Os americanos".

Gina estremeceu. "Oh, céus. O que eles queriam? Deixe-me adivinhar, Daisy queria que Buck lhe comprasse uma joia muito cara?"

Lacey despejou o macarrão em um escorredor e depois o dividiu entre duas tigelas. "Essa é a questão. Daisy realmente queria que Buck lhe comprasse algo. O sextante".

"O sextante?" Gina perguntou, enquanto jogava o molho de tomate em cima do macarrão, sem nenhuma elegância. "Aquele instrumento naval? Para que uma mulher como Daisy ia querer um sextante?"

"Não é? Foi exatamente o que eu pensei!" Lacey falou enquanto polvilhava raspas de queijo parmesão sobre o seu macarrão.

"Talvez ela o tenha escolhido aleatoriamente", Gina refletiu, entregando a Lacey um dos dois garfos que havia pego da gaveta de talheres.

"Ela foi muito específica sobre isso", continuou Lacey, levando a comida e o vinho para a mesa. "Ela queria comprá-lo e, é claro, eu disse que teria que ir ao leilão. Eu pensei que ela desistiria dele, mas não. Disse que estaria lá. Então agora eu tenho que aturar os dois novamente amanhã. Se ao menos eu tivesse guardado aquele negócio em vez de deixá-lo à vista pela vitrine durante o almoço!"

Lacey ergueu os olhos quando Gina se sentou do lado oposto, e notou que sua vizinha subitamente ficou muito perturbada. Ela também não parecia ter nada a acrescentar ao que Lacey havia dito, o que era extremamente incomum para a mulher, normalmente muito falante.

"O que foi?" perguntou Lacey. "O que há de errado?"

"Bem, fui eu quem a convenceu de que fechar a loja para o almoço não faria mal", murmurou Gina. "Mas fez. Porque deu a Daisy a chance de ver o sextante! É minha culpa".

Lacey riu. "Não seja boba. Vamos comer antes que esfrie e todo o nosso esforço seja desperdiçado".

"Espere. Precisamos de mais uma coisa". Gina foi até seus vasos de ervas alinhados no parapeito da janela e pegou algumas folhas de um deles. "Manjericão fresco!" Ela colocou um raminho em cada uma das tigelas de macarrão desajeitado e grudento. "Et voilà!"

Apesar de simples e barata, estava realmente uma refeição muito saborosa. Mas a maioria das refeições prontas são cheias de gordura e açúcar, por isso, tinha que estar!

"Eu sou uma substituta decente o bastante para Tom?" Gina perguntou, enquanto comiam e bebiam vinho.

"Tom quem?" Lacey brincou. "Ah, você acabou de me lembrar! Tom meio que me desafiou a cozinhar uma refeição para ele do zero. Algo típico de Nova York. Então, eu vou fazer cheesecake. Minha mãe me enviou uma receita de Martha Stewart. Quer me ajudar a fazer?"

"Martha Stewart", Gina disse, balançando a cabeça. "Tenho uma receita muito melhor".

Ela foi até o armário e começou a procurar alguma coisa. Então, pegou um livro de receitas surrado.

"Este era o orgulho e a alegria de minha mãe", disse ela, colocando-o na mesa, em frente a Lacey. "Ela colecionou receitas por anos. Tenho recortes aqui que datam do período da guerra".

"Incrível", exclamou Lacey. "Mas como é que você nunca aprendeu a cozinhar, se tinha uma especialista em casa?"

"Porque", Gina disse, "eu estava muito ocupada ajudando meu pai a cultivar vegetais na nossa horta. Eu era a perfeita moleca. A queridinha do papai. Uma daquelas garotas que gostavam de sujar as mãos".

"Bem, cozinhar certamente lhe permite isso", disse Lacey. "Você devia ter visto Tom mais cedo. Ele estava coberto de farinha de trigo da cabeça aos pés".

Gina riu. "Eu quis dizer que gostava de ficar suja de lama! De brincar com insetos. Subir em árvores. Pescar. Cozinhar sempre pareceu muito feminino para o meu gosto".

"É melhor não dizer isso a Tom", Lacey riu. Ela olhou para o livro de receitas. "Então você quer me ajudar a fazer o cheesecake ou não há minhocas suficientes para mantê-la interessada?"

"Eu vou ajudar", disse Gina. "Podemos usar ovos frescos. Dafne e Dalila puseram esta manhã".

Elas limparam a mesa e começaram a trabalhar no cheesecake, seguindo a receita da mãe de Gina em vez da de Martha.

"A não ser pelos americanos, você está animada para o leilão de amanhã?" Gina perguntou, enquanto esmagava biscoitos em uma tigela com um espremedor de batatas.

"Animada. Nervosa". Lacey encheu sua taça de vinho. "Principalmente nervosa. Eu me conheço, não vou dormir nada esta noite me preocupando com tudo".

"Eu tenho uma ideia", disse Gina. "Quando terminarmos aqui, vamos dar uma volta com os cachorros à beira-mar. Nós podemos pegar a rota leste. Você ainda não foi lá, não é? Com o ar do oceano, você vai cansar e dormir como um bebê, pode apostar".

"É uma boa ideia", concordou Lacey. Se ela fosse para casa agora, só iria se inquietar.

Enquanto Lacey colocava o bagunçado cheesecake na geladeira para gelar, Gina correu até a despensa para buscar os dois casacos de chuva. Ainda fazia bastante frio à noite, principalmente à beira-mar, onde o vento era mais forte.

O enorme casaco de pescador à prova d'água engoliu Lacey. Mas ela ficou feliz quando saíram de casa. A noite estava fresca e clara.

Elas desceram os degraus do penhasco. A praia estava deserta e bastante escura. Era meio divertido estar aqui embaixo com a orla tão vazia, pensou Lacey. Parecia que elas eram as únicas pessoas no mundo.

Elas foram em direção ao mar, depois viraram para seguir em direção ao leste, área que Lacey ainda não tinha tido a chance de conhecer. Era divertido explorar um lugar novo. Estar em uma cidade pequena como Wilfordshire às vezes parecia um pouco sufocante.

"Ei, o que é isso?" Lacey perguntou, olhando para o mar, para o que parecia ser a silhueta de uma construção em uma ilha.

"Ruínas medievais", disse Gina. "Na maré baixa, há um banco de areia que permite caminhar até elas. Definitivamente vale a pena dar uma olhada, se você não se incomodar em acordar tão cedo".

"A que horas é a maré baixa?" perguntou Lacey.

"Cinco da manhã".

"Ai. Acho que é um pouco cedo para mim".

"Você também pode chegar lá de barco, é claro", explicou Gina. "Se conhecer alguém que tem um. Mas se ficar presa lá, terá que chamar o barco dos salva-vidas voluntários, e aqueles rapazes não gostam de gastar tempo e energia com gente sem noção, grave o que estou dizendo! Eu já fiz isso antes e levei uma bronca. Felizmente, o meu dom para a conversa fiada fez com que todos estivessem rindo quando chegamos à praia, e fizemos as pazes".

Chester começou a se esforçar para sair da coleira, como se tentasse chegar à ilha.

"Eu acho que ele conhece o lugar", Lacey falou.

"Talvez seus antigos donos o levassem até lá?" Gina sugeriu.

Chester latiu, como que confirmando.

Lacey se abaixou e bagunçou o pelo do cão. Fazia um tempo desde que ela realmente pensara nos antigos donos de Chester e em como deve ter sido perturbador para ele perdê-los tão de repente.

"Que tal eu te levar lá um dia?" ela perguntou a ele. "Vou acordar cedo, só por você".

Abanando o rabo animadamente, Chester inclinou a cabeça para trás e latiu para o céu.

*

Assim como havia previsto, Lacey lutou para dormir naquela noite. E olhe que o ar marinho deveria tê-la cansado. Sua mente estava turbulenta demais; desde a reunião com Ivan para a venda do Chalé do Penhasco até o leilão, havia muito em que pensar. E, apesar dela estar animada com o leilão, também estava nervosa. Não só porque era apenas o seu segundo leilão, mas por causa dos participantes indesejados com os quais ela teria que lidar: Buck e Daisy Stringer.

Talvez eles não venham, ela pensou, enquanto olhava para as sombras no teto. Daisy provavelmente deve ter encontrado outra coisa para exigir que Buck compre para ela.

Mas não, a mulher parecia ter a intenção de comprar especificamente o sextante. Era óbvio que tinha algum tipo de significado pessoal para ela. Eles estariam lá, Lacey tinha certeza disso, mesmo que fosse só por teimosia.

Lacey ouviu o som da respiração de Chester e das ondas batendo contra os penhascos, deixando que os ritmos suaves a embalassem, levando-a a um estado de relaxamento. Ela começou a adormecer, quando seu celular de repente começou a vibrar alto no criado-mudo de madeira ao lado de sua cabeça. A estranha luz verde do aparelho encheu a sala com flashes. Ela geralmente tomava o cuidado de colocá-lo no modo noturno, mas obviamente tinha se esquecido naquela noite, pensando em tudo aquilo.

Gemendo de cansaço, Lacey estendeu o braço e agarrou o celular. Ela o aproximou do rosto, apertando os olhos para ver quem havia decidido incomodá-la naquele horário desumano. A palavra mamãe piscou insistentemente na tela.

É claro, pensou Lacey, suspirando. Sua mãe deve ter esquecido a regra de não ligar para ela depois das 18h. Horário de Nova York.

Com um suspiro, Lacey atendeu. "Mamãe? Está tudo bem?"

Do outro lado da linha, houve um momento de silêncio. "Por que você sempre atende minhas ligações assim? Por que tem que haver algo errado para eu ligar para minha filha?"

Lacey revirou os olhos e afundou no travesseiro. "Porque são duas da manhã no Reino Unido agora e você só me liga quando está em pânico com alguma coisa. Então? O que foi?"

O silêncio que se seguiu foi confirmação suficiente para Lacey de que ela havia chegado ao xis da questão.

"Mãe?" ela insistiu.

"Eu acabei de voltar da casa de David…" sua mãe começou.

"O quê?!" Lacey exclamou. "Por quê?"

"Fui conhecer Eda".

O peito de Lacey apertou. Ela estava brincando quando sugeriu que David, Eda e sua mãe poderiam estreitar os laços enquanto faziam as unhas. Mas, pelo andar da carruagem, os três realmente estavam passando tempo juntos! Por que uma mãe gostaria de manter a amizade com o ex-marido de sua filha estava além da capacidade de compreensão de Lacey. Aquilo era um absurdo!"

"E?" Lacey falou entredentes. "Como ela é?"

"Ela me pareceu uma pessoa legal", disse a mãe". Mas não é sobre isso que quero falar. David mencionou a pensão alimentícia…"

Lacey não conseguiu se conter e zombou da situação. "David envolveu você nisso? Ele pediu para você me ligar sobre o dinheiro?" Ela não precisava ouvir a resposta de sua mãe porque era óbvio e, por isso, respondeu sua própria pergunta. "Claro que sim. Porque a única coisa com a qual David se importa é com dinheiro. Ah, e encontrar alguém disposto a incubar seus filhos".

Morte e um Cão

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