Читать книгу Noções elementares de archeologia - Joaquim Possidonio Narciso da Silva - Страница 6
CAPITULO I
ОглавлениеTempos prehistoricos
Chamaram prehistoricos aos tempos antigos de que não existe historia escripta.
Desde os tempos mais remotos, apparece um longo periodo sem historia escripta, nem elementos positivos, durante o qual tentamos encontrar o progresso e o desenvolvimento da humanidade, unicamente por vestigios mais ou menos incompletos.
O archeologo tem que tomar a penna do historiador e procurar deduzir algumas probabilidades historicas, com observação escrupulosa dos factos averiguados. Os antiquarios modernos têem-se dedicado com entranhado amor a este genero de investigações.
Estabeleceram na historia pertencente á existencia do homem,anterior ás épocas conhecidas, tres grandes phases, ou estancias, a saber:
Idade de Pedra
Idade de Bronze
Idade de Ferro
A fundição, ou reducção dos metaes, é uma operação difficil, que foi de certo por muito tempo desconhecida: os povos atrazados na civilisação deviam fabricar os objectos de que tivessem necessidade para a propria defensa e para a caça, assim como para os usos communs da vida, empregando pedras rijas, como é o silex (pedreneira), os ossos dos animaes, ou a madeira.
O extraordinario numero de descobrimentos feitos nos diversos paizes, principalmente em França, na Suissa, na Inglaterra, e na Dinamarca, confirmou esta supposição.
As collecções dos museus contém quantidade consideravel de pontas de frechas, facas, machados, feitas com pedreneira e em rocha rija: grande numero de instrumentos de osso, ou de pedra, se tem achado em differentes partes, e esses instrumentos conservam-se quasi intactos dentro do solo, onde estavam occultos. O periodo secular em que os metaes não estavam ainda em uso recebeu, pois, a denominação deidade de pedra.
As melhores qualidades de rochas para fabricar os instrumentos cortantes, eram o silex (pedreneira), felds-pathicas, opetrosilex verde, e algumas variedades de porphyro; porém o silex tem sido, como parece, a pedra mais constantemente empregada, e talvez a mais facil de preparar a forma requerida.
Seguramente, se dermos com certa precaução uma martellada sobre um fragmento de silex, de forma alongada, esse silex estalará, e a pedra que se desligue tomará logo a forma conoidal; ficará chata de um dos lados, mostrando do outro uma aresta viva. Podiam-se fazer por este modo facas de pederneira, de que em diversas localidades se tem encontrado centenares de modelos.
Figura 1
Fazendo-se estalar esta qualidade de pedra repetidas vezes com certa habilidade, podem-se fabricar machados, pontas para flechas e outros instrumentos do genero d'aquelles de que apresentamos os desenhos n'esta pagina.
Os objectos pertencentes á idade de pedra e áidade de bronze tem sido encontrados, principalmente nos tumulos, nas cidadeslacustres, em algumas cavernas, antigamente habitadas.
Examinemos os depósitos que indicamos, porque nos offerecerão, segundo recentes explorações, matéria variada e curiosa para o nosso estudo.
Tumulos
Os tumulos ou sepulchros, compõem-se d'um recinto central formado de pedras de rocha de grande dimensão, no qual se entra geralmente por um corredor de egual construcção, estando tudo encerrado em immenso montão de pedras e terra.
Quer fosse porque estivesse com imperfeição o recinto central encerrado no meio do outeirinho factício; quer, o que parece mais natural, porque se servissem da terra oudas pedras dos tumulos em época posterior, muitas vezes foram encontrados os pedregulhos que formam a parte central sem a terra que os cobria e quasi completamente separados; então n'este caso chamavam-se Antas (dolmen).[1]
Figura 2: Vista exterior de um tumulo
Os defuntos eram depositados com os seus corpos inteiros e em geral apresentavam-os sentados e encostados nas paredes do recinto central, tendo junto de si os machados e outras armas de pederneira; algumas vezes vasos de barro toscamente fabricados, e outros objectos de uso commum.
Veja-se o desenho n.º 2, de um tumulo completo; o n.º 3, um tumulo aberto com dolmen; o n.º 4, um dolmen completamente desguarnecido; e o n.º 5, a perfeita Anta de Guitamães, em Vianna do Castello.
Figura 3: Vista interior de um tumulo
Figura 4: Dolmen central de um tumulo
Varios antiquarios tinham tomado os dolmens desguarnecidos de tumulos por altares druidicos, porém ao presente esta ideia está quasi desprezada, por falta de provas positivas.
O cobre com liga que lhe dá maior rijeza, foi empregado depois da pederneira, ou conjunctamente com ella, quando os nossos antepassados aperfeiçoaram esta industria e conheceram o modo de derreter os metaes.
Figura 5: Anta de Guitamães (Minho)
Os principaes objectos de bronze, foram os machados, aspontas das lanças, asespadas, ospunhaes, asfacas, osanzoes, as fouces, osalfinetes, osanneis, os braceletes; estes objectos fundidos, muitas vezes com formas elegantes, apresentavam em todos os paizes o mesmo feitio, tanto na Dinamarca como em França, e na Inglaterra; e isso nos convence de que os typos tradicionaes, talvez imitados do mundo antigo pelas nações civilisadas, e trazidos para a Europa occidental em época que não se pode fixar, foram reproduzidos sem alteração, em moldes apropriados.
Figura 6: Fachada do Dolmen de Bournan
Figura 7: Plano do Dolmen de Bournan
Esta época importante da historia dos progressos da humanidade rasgou bom horisonte no prolongado periodo prehistorico: d'ahi proveio a denominação de idade de bronze. O difficil era saber-se, por inducção, quando e como o bronze apparecera nos paizes septentrionaes.
Ha annos, o sr. Worsaæ e os antiquarios dinamarquezes publicaram que os tumulos da idade de pedra continham compartimentos centraes, conforme descrevemos; nos quaes se depositavam os cadaveres sentados, com os joelhos juntos á barba e os braços cruzados no peito; em quanto os tumulos da idade de bronze não apresentavam esse compartimento reservado, sendo construidos com grandes pedras e os outeirinhos, compostos de terra e de pequenas pedras, não encerravam cadaveres, mas tamsomente as cinzas dos finados, depositadas em vasos de barro; muitas vezes appareciam acompanhados de objectos de bronze e ás vezes de ouro. Inferia-se d'estas differenças, que os instrumentos de bronze haviam sido trazidos por uma raça que invadira, absorvera e talvez aniquillara a indigena; raça que teria costumes diversos, armas superiores e civilisação mais adiantada que a subjugada.
Acceitando-se este facto, a idade de bronze seria inaugurada na Europa occidental por um povo conquistador em época desconhecida.
Os objectos de barro não nos guiam suficientemente n'esta exploração. Os que foram achados com os instrumentos de bronze são de fabrico grosseiro, mal cosidos, e por seu feitio, ornatos e as substancias que os compõem, simelham-se muito com os vasos de barro achados nos sepulchros que encerravam unicamente objectos de pedra. N'esses diversos tumulos raramente se viam vasos com azas; á forma dos gargalos parecia não ser conhecida, nem o seu uso; consistindo apenas a ornamentação em linhas em direcções diversas; ou ponteado concavo, ou emmoldurado em xadrez.
Além d'isso, a pederneira era ainda de uso geral na idade de bronze, e muitas vezes se tem encontrado objectos de pedra e instrumentos de bronze nos mesmos tumulos; facto que poderia explicar-se admittindo-se que servira successivamente para sepultura em differentes povos.
Acharem-se cinzas no logar dos cadaveres sentados, pareceu sufficiente caracteristico da idade de bronze, pois que nos tumulos, que encerravam objectos de metal, havia poucos exemplos de se fazer enterramento na posição sentado, e essa pratica caracterisa a idade de pedra.
Tem-se, comtudo, encontrado na mesma sepultura esqueletos sentados na proporção de 20 por cento, talvez como demonstração, segundo o sr. Lubbock, dos ultimos representantes das gerações passadas que tivessem apego aos antigos usos.
Habitações lacustres
Precisamos de expôr, em primeiro logar, o que se entende por cidades lacustres.
Ha annos notava-se em muitos lagos da Suissa, abaixo do nivel natural das aguas, estacarias em grupos consideraveis; o dr. Keller, de Zurich, socio da sociedade de archeologia franceza, estudou com attenção esses vestigios, que por grandissima diminuição das aguas ficaram visiveis; e declarou depois, que os primeiros habitantes da Suissa estabeleciam por vezes as suas casas em cima da agua, como praticavam algumas tribus da antiguidade, e até como fazem ainda alguns povos modernos. Tal descobrimento causou sensação entre os antiquarios; muitos observadores se dedicaram depois com grande solicitude a explorar o fundo dos lagos, nos logares das cidades lacustres indicadas pela presença da estacaria. Estas investigações foram proficuas. Poderam-se tirar, servindo-se de dragas, grande numero de fragmentos de objectos de barro, e outros utensilios, os quaes, comparados com os que foram encontrados nos tumulos, reconheceu-se pertencerem tambem a identica civilisação.
Varias outras estancias lacustres foram depois descobertas na Suissa; contaram-se até 32 no lago de Constance; 46 no de Neufchâtel; além das que se viram nos de Genebra, de Inkwill, de Pffikon, de Luissel etc., etc. Ainda que nem todas pertençam á idade de bronze ou de pedra, e que muitas pareçam ser do tempo da idade de ferro, e do periodo romano, todavia o maior numero é das idades de pedra e de bronze.
Os museus de Lausanna, de Genebra, de Neufchâtel e outros, tem collecções completas dos objectos chamados lacustraes, por causa de terem sido conservados por séculos debaixo das aguas.
Os habitantes das cidades lacustraes achavam sem duvida recursos alimentícios na pesca, mas estabeleceram as suas habitações sobre a agua para se collocarem ao abrigo dos ataques das feras, ou dos roubos das tribus visinhas. Era facil separar inteiramente essas povoações fluviaes levantando para isso as pontes, que lhes serviam para communicarem com as margens.
Segundo o estudo das ossadas dos animaes recolhidos pela draga, e de diversos fragmentos, conheceu-se que então já havia seis especies de animaes domesticados que deviam servir para o alimento dos habitantes; e entre essas, encontraram-se restos de veados, bois, de duas formas, porcos, cães, cabras e cavallos, notando-se porém que havia poucos vestigios do cavallo e da cabra.
Cavernas
As excavações dirigidas por varios geologos em diversas localidades, deram em resultado encontrar-se nas cavernas consideravel numero de objectos devidos á industria das raças primitivas, incluindo as da época do diluvio, assim como os machados de pederneira, toscamente fabricados, e outros instrumentos de silex e osso, e em parte envolvidos com ossadas de animaes giganteos, que já hoje não se encontram.
Os objectos de silex e osso, pela maior parte, parece pertencerem á idade de pedra, e provirem das epocas mais remotas da humanidade. Mas deve notar-se que sempre apparecem misturados com esses utensilios do homem, restos de animaes, que se não encontram hoje, e que pertencem á formação do terreno quaternario, considerado até então como anterior ao apparecimento do homem.
O descobrimento de uma queixada humana no saibro do Moulin-Quignon, proximo de Abbeville, na França, veio estratigraphicamente confirmar taes conjecturas e indicações. Embora isto seja do dominio da geologia e da paleontologia, os factos novamente averiguados são de summo interesse, pois que comprehendem a idéa de indeterminada e espantosa antiguidade em que o homem vivia no estado quasi selvagem: não é difficil acreditar que assim acontecesse, quando pensarmos na situação actual dos povos de Africa central, dos naturaes da America, quando foi descoberta, e dos habitantes das ilhas da Oceania. O homem que vive isolado, sem communicação com os povos mais adiantados que elle, poderá ficar muito tempo no mesmo grau de civilisação; como aconteceu em o nosso continente antigo, em quanto os romanos levavam o luxo até o extremo, havia então em o Norte, onde já chegam hoje os caminhos de ferro, povos semi-selvagens que não tinham participado em cousa alguma dos progressos do povo rei; e comtudo deviam depois repartir entre si os seus despojos e gosar da sua civilisação.
Podemos, portanto, admittir que houve por longos annos na Europa, nas margens dos rios, uma raça de caçadores e pescadores, e que nos bosques existiam o mammouth,o rhinoceronte, animaes que podiam resistir á baixa temperatura que n'essa época era propria em nossa região. Julga-se, com fundamento, que tal raça de homens vivia como succede hoje entre alguns esquimaus, e como os laponios viveram seculos antes. Acrescentaremos que a flora fossil parece mostrar que as modificações occorridas na forma por effeito das mudanças climatericas, tiveram os seus equivalentes no mundo vegetal antigo.
Os principaes monumentos dos tempos prehistoricos são, conjuntamente com os tumulos, dos quaes já tratamos:
Os peulvans ou pedras cravadas na terra;
Os monumentos compostos com pedras similhantes, taes como os alinhamentos;
Os circulos formados de pedras, e os recintos simplesmente de terra.
As pedras oscillantes são pedras de extraordinario peso sobrepostas a outras e collocadas em equilibrio, mas que ao menor impulso se fazem mover: existem algumas em França, porém na Inglaterra o maior numero. No Alemtejo, proximo de Alter do Chão, ha uma d'esta qualidade.
Pedras erguidas