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Capítulo 1

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A mulher que via no espelho era linda. Cabelo loiro apanhado num coque elegante que destacava o rosto ovalado, olhos cinzentos e luminosos acentuados por cosméticos caros e um brilho subtil nos lábios. Nos lóbulos das orelhas e no pescoço, o brilho das pérolas.

Continuou a observar-se durante vários minutos, sem pestanejar. Depois, abruptamente, levantou-se e virou-se. A saia comprida do vestido de noite deslizou no chão enquanto se dirigia para a porta do quarto. Não podia adiá-lo mais. Nikos não gostava que o fizessem esperar.

Na sua mente, no meio da tristeza da sua vida, pensava numa frase antiga:

«Tira o que quiseres. Tira-o e paga por isso.»

Engoliu em seco enquanto descia pela escada. Bom, ela tirara o que queria e estava a pagar por isso.

E estava a pagar bem…

Há seis meses

– Percebes que, com a tua situação económica insustentável, não tens outro remédio senão vender, Diana?

Apertou as mãos no colo, mas não respondeu.

O advogado da família St. Clair continuou:

– Infelizmente, não pagarão o que vale porque está em más condições, mas devias conseguir o suficiente para poderes viver decentemente durante o resto da tua vida. Vou entrar em contacto com a imobiliária e começar o processo. – Gerald Langley sorriu, como que tentando animá-la. – Sugiro que tires férias, Diana. Sei que este é um mau momento para ti. A morte do teu pai foi muito difícil para ti… – Gerald franziu o sobrolho. – Mas tens de enfrentar a realidade. O dinheiro que recebes anualmente de ações e investimentos poderia pagar a manutenção de Greymont. Poderias ter suficiente para as reformas mais imprescindíveis, mas a última peritagem que pediste demonstra que as reparações urgentes são mais caras do que pensávamos. Depois de pagares os direitos de sucessão, não restará dinheiro para o fazer e já não há obras de arte para vender porque o teu avô vendeu a maioria delas para pagar os seus direitos de sucessão e o teu pai vendeu tudo o resto para pagar os dele. – O homem fez uma pausa para respirar fundo. – De modo que, a menos que ganhes a lotaria, a tua única opção seria encontrar um multimilionário e casar-te com ele.

O homem ficou a olhar para ela em silêncio durante uns segundos e, depois, continuou:

– Como disse, vou entrar em contacto com a agência imobiliária e…

– Não te incomodes, Gerald – interrompeu Diana, levantando-se para se dirigir para a porta do escritório.

– Onde vais? Temos muitas coisas para discutir.

Virou-se para olhar para ele sem pestanejar, tentando esconder as suas emoções. Nunca venderia a sua querida Greymont, que era tudo para ela. Nunca. Vendê-la seria uma deslealdade para com os seus antepassados e uma traição para o pai, para o sacrifício que fizera por ela.

Greymont, pensou, sentindo uma pontada de emoção, dera-lhe a segurança e a estabilidade de que precisava quando era criança, enquanto enfrentava o trauma da deserção da mãe. Pouco importava o que tivesse de fazer para conservar Greymont, faria o que fosse necessário.

– Não há nada para discutir, Gerald. E quanto ao que vou fazer, não é evidente? – perguntou, fazendo uma pausa. – Vou procurar um milionário.

Nikos Tramontes estava na varanda da sua casa luxuosa na Costa Azul, fletindo os seus ombros largos enquanto olhava para Nadya, que nadava languidamente na piscina.

Uma vez, gostara de olhar para ela porque Nadya Serensky era uma das modelos mais bonitas do mundo e desfrutava de ser o único homem que tinha acesso exclusivo aos seus encantos. A sua relação com ela enviara um claro sinal ao mundo: Chegara ao topo. Adquirira a riqueza enorme que uma mulher como Nadya exigia dos homens.

Contudo, agora, dois anos depois, os seus encantos começavam a aborrecê-lo e, por muito que comentasse que faziam um bom casal, ela com o seu cabelo ruivo e ele com os seus atributos impressionantes, a verdade era que perdera o interesse.

Além disso, agora, Nadya estava sempre a dizer, contínua e descaradamente, que deviam casar-se. No entanto, não teria sentido casar-se com Nadya, pois, com isso, não obteria nada que não tivesse conseguido antes.

Agora, queria mais do que o estatuto de celebridade. Queria dar um passo em frente na vida, conseguir o seu próximo objetivo.

Nadya fora um troféu, a celebração da sua chegada ao mundo dos mais ricos, mas o que queria agora era uma esposa que completasse a imagem que procurara durante toda a sua vida.

A sua expressão toldou-se, como acontecia sempre que as lembranças o invadiam. A aquisição de uma fortuna vasta e de tudo o que vinha com ela, desde a casa no exclusivo Cap Pierre até à sua relação com uma das mulheres mais bonitas do mundo e todos os luxos que podia permitir-se, tinham sido apenas os primeiros passos na transformação do filho ilegítimo, um «inconveniente embaraçoso» dos pais odiados.

Uns pais que o tinham concebido com a despreocupação egoísta de uma aventura adúltera para o rejeitarem quando nascera e o deixarem com uma família de acolhimento como se não tivesse nada a ver com eles.

Bom, demonstrar-lhes-ia que não precisara deles e que conseguiria o que eles lhe tinham negado com o seu próprio esforço.

Enriquecer demonstrara que era um filho digno do magnata naval grego que o concebera, mas decidira que o seu casamento devia demonstrar que estava à altura da sua mãe francesa aristocrata, habilitando-o a viver nos mesmos círculos sociais do que ela, mesmo que fosse apenas um filho indesejado e ilegítimo.

Virou-se abruptamente para entrar no quarto. Tais pensamentos e tais lembranças eram sempre tóxicos e amargos.

Lá em baixo, na piscina, Nadya saiu da água e olhou para a varanda deserta, fazendo beicinho.

Diana tentava disfarçar o seu aborrecimento enquanto os oradores falavam sobre negócios e regras fiscais, assuntos de que ela não sabia nada e que lhe importavam menos. Fora àquele jantar num dos edifícios mais emblemáticos de Londres porque o seu acompanhante era um antigo conhecido, Toby Masterson.

O homem com quem tencionava casar-se.

Porque Toby era rico, muito rico. Herdara um banco, de modo que poderia financiar as reformas de Greymont. E também era um homem por quem nunca se apaixonaria.

Os olhos cinzentos de Diana toldaram-se. Isso era bom porque o amor era perigoso. Destruía a felicidade das pessoas e arruinava vidas.

Destruíra a vida do pai quando a mãe os trocara por um magnata australiano. Aos dez anos, Diana descobrira o perigo de amar alguém que não se importaria de lhe partir o coração, como a mãe partira o coração do pai.

Desde esse momento, o pai tornara-se muito protetor com ela. Perdera a mãe e não ia permitir que perdesse a casa que tanto amava, a sua querida Greymont, o único lugar onde se sentira segura depois do abandono da mãe. A vida mudara dramaticamente, mas Greymont era uma constante. O seu lar para sempre.

O pai sacrificara a oportunidade de encontrar a felicidade num segundo casamento para que nenhum outro filho tivesse prioridade sobre ela, para se certificar de que ela herdava a casa familiar.

Contudo, se quisesse deixar Greymont aos seus próprios filhos, teria de se casar e, embora não quisesse arriscar o seu coração, tinha a certeza de que conseguiria encontrar um homem suficientemente compatível com ela como para que o casamento fosse suportável.

Sempre pensara que teria tempo para procurar esse homem, mas, agora, com a sua situação económica desesperada, precisava de um marido rico depressa e não podia ser exigente.

Olhou para Toby enquanto ouvia o orador e sentiu um aperto no coração.

Toby Masterson era afável e de bom caráter, mas também desesperadamente aborrecido e pouco atraente. Embora não se arriscasse a casar-se com um homem por quem pudesse apaixonar-se, gostaria que fosse um homem com quem o ato de conceber um filho não fosse… repulsivo.

Sentiu um calafrio ao pensar no excesso de peso de Toby e nas suas feições roliças. Não era a sua intenção ser cruel, mas sabia que seria desagradável suportar os seus abraços trôpegos…

«Serias capaz de suportar isso durante anos e anos, décadas?»

Tentando pensar noutra coisa, olhou para os convidados do jantar, os homens de smoking e as mulheres com vestidos de noite.

E, de repente, no meio do mar de pessoas, o olhar concentrou-se num em concreto. Um homem cujos olhos escuros estavam fixos nela.

Nikos recostou-se na cadeira, com um copo de conhaque na mão, indiferente ao orador que falava sobre negócios e regras fiscais que ele já conhecia. Não estava a pensar nisso, mas na mulher que seria a sua esposa e um troféu. A mulher que, agora que conseguira uma fortuna que poderia rivalizar com a do pai odiado, seria o meio para entrar na elite social da mãe aristocrática, mas desalmada. Demonstraria a si próprio, ao mundo e, sobretudo, aos seus pais que o seu filho indesejado triunfara sem eles.

Nikos franziu o sobrolho. O casamento devia ser um compromisso para o resto da vida, mas queria isso? Depois de dois anos, começara a cansar-se de Nadya. Queria um casamento para o resto da vida ou, quando conseguisse uma esposa e o seu lugar no mundo, poderia livrar-se dela?

Não haveria amor na relação porque era uma emoção desconhecida para ele. Nunca amara Nadya e Nadya também não o amara, simplesmente, usavam-se um ao outro. O casal que o criara também não o amara. Não eram más pessoas, simplesmente, eram desinteressados e não tinha contacto com eles.

Quanto aos seus pais biológicos… Nikos torceu o nariz. Teriam pensado que a sua aventura adúltera e sórdida era amor?

No entanto, incomodava-o pensar neles e voltou a pensar na sua esposa troféu. Primeiro, pensou, teria de acabar a sua relação com Nadya, que estava num desfile de moda em Nova Iorque. Dir-lhe-ia com tato, agradecendo o tempo que tinham passado juntos. Dar-lhe-ia um presente de despedida, as suas esmeraldas favoritas, e desejar-lhe-ia o melhor na vida. Sem dúvida, ela estava preparada para esse momento e já teria um sucessor à espera.

Como ele estava a planear escolher a próxima mulher da sua vida.

Nikos relaxou os ombros e bebeu um gole de conhaque. Fora a Londres numa viagem de negócios e fora àquele jantar para fazer contactos. Olhava preguiçosamente para todos, identificando aqueles com que lhe interessava falar quando o orador tedioso acabasse o discurso.

Estava a pousar o copo na mesa quando o seu olhar se fixou num rosto. Uma mulher sentada a alguns metros dele.

Era extraordinariamente bela, com um estilo diferente das feições fogosas e dramáticas de Nadya. Aquela mulher era loira, com o cabelo apanhado num coque francês elegante, pálida, com uma compleição de alabastro, olhos claros e uma boca perfeita e destacada por um batom de cor discreta. Parecia remota e ausente. Era uma beleza gelada.

Uma donzela de gelo que parecia dizer: «Olhar, mas não tocar.»

Imediatamente, era o que Nikos queria fazer. Aproximar-se dela, acariciar esse rosto de alabastro e sentir o cetim frio da pele pálida por baixo dos dedos, deslizar os polegares sensualmente pelos seus lábios, ver a reação naqueles olhos claros e fazer com que o olhar gelado se derretesse.

A intensidade desse impulso surpreendeu-o e, sem se aperceber, apertou o copo de conhaque. Uma esposa troféu era o próximo item na sua lista de objetivos, mas não tinha de a procurar imediatamente. Não havia nenhuma razão para não desfrutar de uma aventura temporária antes de procurar uma esposa.

E acabara de encontrar a mulher ideal para esse papel.

Fazendo um esforço, Diana desviou o olhar do estranho e, finalmente, o orador acabou o seu discurso.

– Ainda bem – comentou Toby. – Lamento ter-te feito suportar este discurso.

Ela esboçou um sorriso amável, pensando no homem que a observava do outro lado da sala. A imagem parecia gravada na sua mente.

Moreno, de pele bronzeada, cabelo preto e espesso a tocar na testa, maçãs do rosto altas, nariz reto e uma boca de contorno esculpido que a perturbava, mas não tanto como os olhos escuros que se fixavam nela.

Continuava a observá-la, embora ela se recusasse a fazê-lo. Não se atrevia.

O seu coração acelerou, como se tivesse recebido uma injeção de adrenalina. Estava habituada a ser observada, mas não a reagir dessa forma.

Olhou para Toby com urgência. O familiar e afável Toby, com o seu rosto bochechudo e a sua figura gorda. Em comparação com o homem que a observava, o pobre Toby Masterson parecia mais incongruente do que nunca.

Diana desviou o olhar, com o coração apertado. Conseguiria mesmo casar-se com ele só porque era rico?

Mas se não fosse Toby, quem podia ser? Quem salvaria Greymont?

«Onde posso encontrá-lo e quanto tempo demorarei a fazê-lo?»

Estava a ser mais difícil do que pensara e o tempo acabava…

Quando finalmente acabaram os discursos, o ambiente na sala animou-se e os convidados começaram a misturar-se. Nikos estava a falar com o anfitrião e apontou para a mulher que despertara o seu interesse. A donzela de gelo.

– Quem é a loira?

– Não a conheço, mas está com o Toby Masterson, do Banco Masterson Dubrett. Queres que ta apresente?

– Porque não?

Nada na sua inspeção breve indicava que a acompanhante fosse mais do que isso, uma impressão que foi confirmada quando os apresentaram.

– Toby Masterson, Nikos Tramontes, da Financeira Tramontes. O Nikos tem interesses em muitos negócios. Talvez algum possa interessar-te e vice-versa – disse o anfitrião, antes de os deixar sozinhos.

Nikos conversou com Masterson durante uns minutos sobre assuntos anódinos que só interessariam a um banqueiro londrino e, depois, olhou para a sua acompanhante.

A donzela de gelo não estava a olhar para ele. Fazia um esforço para não olhar para ele e alegrou-se. As mulheres que mostravam interesse por ele aborreciam-no. Nadya fizera-se de difícil porque conhecia o seu próprio valor como uma das mulheres mais bonitas do mundo, cortejada por muitos homens. Contudo, não achava que a donzela de gelo estivesse a jogar esse jogo. Não, a sua reserva era genuína.

E isso aumentou o interesse por ela.

– Diana, apresento-te o Nikos Tramontes.

Viu-se obrigada a olhar para ele, sem expressão nos seus olhos cinzentos. Estudadamente sem expressão.

– É um prazer, senhor Tramontes – cumprimentou, com o tom frio das famílias inglesas de classe alta e o sorriso mais breve de cortesia.

Nikos esboçou um sorriso igualmente amável.

– Como está, menina…?

– St. Clair – apressou-se a dizer Masterson.

– Menina St. Clair.

A sua expressão era gelada, mas, no mais profundo dos seus olhos cinzentos-claros, pareceu-lhe ver um véu repentino, como se estivesse a esconder-se da sua inspeção. Isso era bom, pensou. Demonstrava que, apesar da sua expressão glacial, era recetiva.

Satisfeito, continuou a conversar com Toby Masterson sobre as últimas manobras de Bruxelas e o estado da economia grega.

– Isso afeta-o? – perguntou Masterson.

– Não, apesar do meu apelido, a sede da minha empresa é no Mónaco. Tenho uma casa em Cap Pierre – explicou Nikos, olhando para Diana St. Clair. – Gosta do sul de França, menina St. Clair?

Era uma pergunta direta a que tinha de responder. Tinha de olhar para ele.

– Não costumo sair de Inglaterra – limitou-se a dizer.

Viu-a a pegar no copo e a levá-lo aos lábios, para não ter de continuar a falar, mas a sua mão tremia ligeiramente enquanto voltava a pousá-lo na mesa e Nikos disfarçou um sorriso. O gelo não era tão grosso como ela queria dar a entender.

– Os St. Clair têm uma propriedade espetacular no campo, em Hampshire. Greymont – informou Masterson. – Uma mansão do século XVIII.

«Ah, sim?»

Nikos olhou para ela com um interesse renovado.

– Conhece Hampshire? – perguntou Toby Masterson.

– Não, não conheço – respondeu ele, sem parar de olhar para Diana St. Clair. – Disse que se chama Greymont?

Pela primeira vez, viu um brilho de emoção nos seus olhos, um brilho que pareceu atravessá-lo e que lhe disse, com toda a certeza, que havia uma mulher muito diferente por trás da fachada de gelo, uma mulher capaz de sentir paixão.

O brilho desapareceu um segundo depois, mas deixou um resíduo que, por um instante, lhe pareceu uma faísca de desconsolo.

– É verdade – murmurou ela.

Nikos tomou nota. Poderia ter mais informação sobre ela no dia seguinte. Diana St. Clair, de Greymont, em Hampshire. Que tipo de lugar seria? Que tipo de família eram os St. Clair? E que outro interesse poderia ter Diana, para além do desafio delicioso de fundir a donzela de gelo?

Era muito bonita e gostaria que se derretesse entre os seus braços, na sua cama… mas poderia ser mais do que uma aventura breve?

A sua investigação revelaria se era assim.

Por enquanto, despertara o seu interesse e sabia com toda a certeza que ela também estava interessada, embora tentasse disfarçar.

Despediu-se pouco depois, sugerindo um futuro encontro para falar de negócios numa data indeterminável.

Enquanto se afastava, estava de bom humor. Com ou sem um interesse mais profundo por ela, a donzela de gelo estava prestes a ser dele. Mas ainda não decidira em que termos.

Começou a pensar qual seria o passo seguinte…

Uma esposa perfeita

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