Читать книгу Enredado Com A Ladra - Kate Rudolph - Страница 7

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O leão rugiu. O som ressoou pela floresta de Eagle Creek, Colorado, onde os leões de sua alcateia rondavam em busca de sua irmã desaparecida. O timming de Mel poderia ter sido melhor, mas ela não sabia que a noite em que voltaria à cidade seria a mesma em que ele enviaria suas tropas para encontrar a filhote de leão perdida.

Seu coração batia forte e a alegria fluía por ela com cada estalo de galho. Estava a apenas um passo de ser aprisionada pelo alfa mais uma vez. E desta vez não teria uma bruxa para tirá-la do perigo.

Mel não sabia se estavam todos atrás de Cassie, mas não conseguia imaginar nenhuma outra razão para estarem lá. Os leões não eram um grupo de caça em busca de sangue; ela podia ouvir o murmúrio de suas palavras, a segurança de seus passos. Eles estavam destruindo a floresta de forma metódica, cobrindo cada centímetro em busca da adolescente desaparecida. Mas além do vento e dos sons intermitentes de metamorfos à espreita, Mel não ouviu mais nada.

Os animais noturnos que normalmente eram donos dessas matas haviam se escondido. Até os insetos ficaram em silêncio.

Ela soprou para longe uma mecha caída de cabelo e, em seguida, colocou-a atrás da orelha quando pousou na frente de seu olho mais uma vez. A primeira vez que veio para Eagle Creek, ela era ruiva, ou pelo menos era como se parecia. A peruca era parte de uma de suas identidades e oferecia uma distração para quem tentasse se lembrar de como ela era. Esta noite não havia distrações. Usava roupas escuras e justas que se moviam como uma segunda pele, e seu cabelo castanho estava preso em um rabo de cavalo. Em outros trabalhos como este, teria usado uma máscara, mas não precisava mais esconder sua identidade do alfa. Ele sabia que ela estava vindo. Caramba, ele a convidou.

Ela foi direto para o Colorado depois de terminar em Wisconsin. A única parada envolveu uma pernoite em St. Louis para pegar alguns suprimentos com uma bruxa com quem havia trabalhado antes. Por um segundo, considerou ligar para Krista, mas afastou o pensamento quase tão rápido quanto o teve. Seus antigos parceiros deixaram bem claro que haviam terminado sua associação com ela.

E Mel merecia, apesar de querer que não. Mas estragar as coisas com parceiros tinha consequências que não podia evitar; tinha que conviver com isso e esperar que Krista a perdoasse algum dia. A bruxa era a coisa mais próxima de família que Mel possuía.

Mas não podia se distrair com isso. Um movimento errado e estaria de volta ao complexo do alfa. E esse não era um jogo que ela queria jogar.

O som de um galho quebrado foi seu único aviso, Mel reagiu, agachando-se atrás de uma árvore enorme e mantendo-se absolutamente imóvel quando dois leões entraram na pequena clareira pela qual ela estava se movendo. Ouviu duas pessoas entrar ali e só podiam ser metamorfos. Mel respirou fundo e expirou o mais lentamente possível, recorrendo a inspirações fracas e quase silenciosas enquanto eles se aproximavam.

Ela ouviu um homem falar:

— Espere aí, tem algo diferente aqui. — Sentiu o suor se formar na nuca. Mel não estava respirando fundo o suficiente para atrair os cheiros deles, que não estavam na área por tempo suficiente para permear cada respiração. Mas já estava lá há vários minutos e eles não foram impedidos pela respiração superficial.

— O que foi? — perguntou uma mulher.

— Acho que peguei o cheiro da Cassie. — O homem tinha o sotaque da Nova Inglaterra e Mel quase podia imaginar como ele era. Devia ser alto, com cabelo curto que poderia ser loiro e uma mandíbula forte o suficiente para levantar lajes de concreto. Ou não, ela não podia correr o risco de se inclinar ao redor da árvore para ter certeza.

A voz da mulher era puro sul da Geórgia, e suas palavras pareciam uma mistura de pêssegos e mel.

— Tem certeza? Há algo aqui, mas não sei ao certo.

— Não é um de nós. — As palavras do homem eram certeiras. Ela o ouviu se aproximando. Mel tinha apenas alguns segundos antes de ele dar a volta e encontrá-la. Se concentrou, sentindo suas mãos se transformarem em patas de leopardo e suas garras se estenderem. Sua única vantagem seria a surpresa, e ela tentaria apenas incapacitar, não matar. Não tinha nenhum motivo para deixar o alfa mais bravo do que ele já estava.

— Espere — disse a mulher. — Acho que tem uma trilha até aqui. — Os passos do homem pararam e seguiram na direção oposta. Os dois leões se afastaram, seguindo a trilha que ela deixou ao entrar na floresta. Mel teve muita sorte e não iria correr o risco de ser pega daquela forma novamente. Tinha que sair dessa floresta e voltar para o hotel. Poderia refazer seus planos então.

Mel foi até as árvores para sair da floresta. Suas garras a ajudaram, permitindo que cavasse a casca e se erguesse em galhos robustos. Saltou de árvore em árvore, seguindo devagar, mas deixando um rastro de cheiro muito mais discreto. Paralisou ao ouvir outro rugido, este diferente do primeiro. O rugido do primeiro leão foi cheio de raiva e arrependimento, o chamado de um animal determinado a se vingar. Este era alegre.

Cassie foi encontrada.

Viva.

Mel não deixou que isso a impedisse. Percorreu quilômetros e quilômetros de distância até o pequeno estacionamento no parque nacional, perto dos limites do território de Luke. Ela se sentou em um grande galho e esperou alguns momentos para transformar suas patas de volta em mãos humanas. Não foi uma tarefa difícil, mas demorou. E enquanto se mexia lentamente, cada junta de seus dedos doía em protesto pelo que ela havia exigido ao escalar dezenas de árvores de uma forma inadequada.

Estava pronta para pular da árvore quando uma jovem saiu da floresta no caminho panorâmico do parque nacional. Parecia mais jovem do que Mel, talvez com uns vinte e poucos anos, longos cabelos negros e pele clara. Usava jeans, blusa de seda e botas de caminhada. Em seu pulso, Mel podia ver um brilho prateado, talvez de um relógio ou pulseira.

Era estranho que mulher estivesse sozinha na floresta à noite. Até mesmo Mel só estava lá para seu próprio propósito nefasto. Suspeitou imediatamente da mulher. Ainda mais quando a moça pegou um telefone celular e o levou ao ouvido. Mel teve que se concentrar para ouvir, mas podia entender as palavras claramente.

— Avise a ela que foi um sucesso. A garota foi devolvida. — Mel teria congelado no lugar se ela já não estivesse parada. A mulher continuou a falar. — Vou precisar fazer um novo pedido de suprimentos de um coven local. Vladimir subestimou minhas necessidades... entendo. Estarei a postos. — Ela desligou sem se despedir.

Mel ficou na árvore até que a mulher foi embora em um sedan prateado. Pela placa, ela podia dizer que era alugado.

Parecia que Cassie não havia sido encontrada, mas sim devolvida. Mas o que as bruxas poderiam querer com uma metamorfo que nem mesmo conseguia se transformar? E por que alguém precisaria de suprimentos adicionais?

Mel tentou não deixar que isso a incomodasse. Desceu da árvore e entrou na velha picape enferrujada que havia roubado no meio do caminho entre Colorado e Wisconsin. Escolheu este estacionamento como ponto de acesso para seu próximo roubo e planejou conseguir um novo carro em Denver, onde estava hospedada.

Era uma viagem de duas horas para aquela cidade. Mel deixou os quilômetros passarem, seguindo sozinha na estrada com seus pensamentos. Depois de meia hora, ela ligou o rádio e cantou junto com uma canção country popular que tocava o tempo todo nas estações.

A distração não funcionou. Mas ela fez todo o caminho até Denver sem decidir se deveria descobrir o que as bruxas queriam.


Maya havia recebido a dica sobre Cassie há uma hora. Luke levou vinte minutos para mobilizar o grupo de busca e mais uns doze minutos para que eles se espalhassem pela floresta. Soltou um rugido enfurecido, desesperado para encontrar sua irmã e levá-la de volta para casa. Ela já tinha desaparecido há muito tempo, mas ele não a perderia.

O som saiu de sua boca humana, batendo contra suas cordas vocais e deixando dor em seu rastro. Não se importou. Não havia dor grande demais, nem tarefa difícil demais que o impedisse de encontrar Cassie.

Ele encontrou o cheiro dela e se agarrou a ele, seguindo-o por trilhas que não existiam, saltando sobre galhos caídos e batendo no mato. Sua busca não foi silenciosa – ele assustou os habitantes desta floresta ao trazer todos os seus predadores para a busca. Se separaram, procurando em grupos de dois e três. Ele estava com outros quatro leões. Eles não deixariam seu líder vulnerável no que poderia muito bem ser uma armadilha.

Mas Maya confiava em sua fonte e Luke confiava em Maya. Eles iriam encontrar Cassie. Sã e salva.

A floresta terminou de forma abrupta, abrindo-se em uma ampla clareira. Luke avistou Cassie, movendo-se no meio de um anel de cogumelos a apenas quinze metros de distância. Soltou outro rugido, este rouco e alegre, e correu pela clareira, pisando nos cogumelos e pegando a irmã em seus braços.

Cassie o teria abraçado, mas suas mãos estavam presas com algemas prateadas e seus pés estavam amarrados com uma corda. Ela cravou o rosto na curva de seu pescoço e ele pôde sentir as lágrimas da jovem contra sua pele.

— Eu estava com tanto medo — ela falou. — Obrigada. — Soluçou as palavras, quase sem fôlego com a força de seu abraço.

Luke ajeitou o cabelo dela. Era uma massa de nós loiros com algumas folhas presas, quase como se ela tivesse estado na floresta por mais tempo do que as poucas horas que o informante de Maya disse que ela estava.

— Estamos com você. — Ele beijou sua testa e se afastou para tentar remover as restrições.

Ele ouviu mais dois de seus leões entrando na clareira enquanto ele trabalhava. Teve que se afastar rapidamente após um toque nas algemas. O teor de prata era tão alto que ele já podia sentir seus dedos coçando em reação. Ele sempre teve uma baixa tolerância a esse metal, mas normalmente levava pelo menos alguns momentos para uma reação alérgica aparecer.

— Preciso de uma chave para essas algemas! — Exigiu e se moveu para desamarrar as pernas de Cassie. Ela ficou parada, e como era uma corda comum, embora grossa, foi capaz de libertá-la rapidamente.

— Isso não é o mesmo, eu te disse — Javier, um dos leões que se voluntariado para procurar, falou. Ele não era um farejador e nunca havia caçado uma pessoa antes. Mas Luke precisava de toda ajuda possível.

Alisha, a parceira dele, respondeu.

— Provavelmente cobrimos o terreno de outra pessoa. — Ela deixou Javier e se aproximou de Luke. Alisha havia se mudado para seu território há apenas três meses, tendo trabalhado antes no CDC, o Centro para Controle e Prevenção de Doenças, em Atlanta, até que recebeu uma oferta de emprego boa demais para recusar em Denver. Ela não vivia dentro do território da alcateia, mas isso não a impediu de rapidamente se tornar um membro importante do grupo.

Javier, por outro lado, nasceu e cresceu em Eagle Creek e era dono de um pequeno escritório de contabilidade que administrava as finanças de várias empresas da região. Eles foram os primeiros a se juntarem a Luke e seus companheiros nesta clareira. O resto do grupo chegou aos poucos.

Mick, um garoto que esteve em apuros recentemente por se envolver em confusão e falhar em seu dever de guarda, rapidamente arrombou as travas das restrições de Cassie. No momento, Luke ficou feliz que o garoto tivesse essa habilidade, mas fez uma nota mental para descobrir por que os garotos de sua alcateia estavam aprendendo a arrombar as coisas.

Já houvera roubos suficientes para uma vida inteira.

Depois de garantir que Cassie não estava com armadilhas explosivas e que não havia outras surpresas desagradáveis ​​na clareira, Luke ajudou a irmã a se levantar e foram até onde ele havia estacionado o carro para levá-la de volta para casa.

Ele esperava que Cassie dormisse depois de tomar um banho, mas sua irmã mais nova o chamou para conversar enquanto estava ocupada secando o cabelo. Agora que a garota não estava mais coberta de manchas de sujeira e grama, ele podia ver hematomas pretos e marrons cobrindo a pele pálida. A violência rugia dentro dele, que queria correr e caçar quem quer que tivesse feito isso com ela. Mas Luke estava grato que seus únicos ferimentos pareciam ser superficiais. Sem ossos quebrados, nem nada pior.

Pelo menos, ela não havia dito nada.

— Como você está? — perguntou. Ele se sentou na poltrona que ela usava para ler e apoiou os pés no pé da cama. O quarto era grande, havia duas cadeiras, uma escrivaninha e um recanto de leitura construído perto da janela. Era o quarto de hóspedes que Luke montou para sua família e ficava a apenas duas portas do seu.

Cassie se sentou na cama, apoiando as costas na cabeceira.

— Dolorida e machucada, mas estou bem. — Ela passou os dedos pelo cabelo enquanto falava. — Sinto muito, estraguei tudo. Eu não deveria ter feito isso, por favor... — seus olhos se encheram de lágrimas. — Sei que agi errado mas...

Luke ergueu a mão.

— Falaremos sobre tudo isso mais tarde. — E ele pretendia mesmo, sabia que seria tomado pela raiva assim que tivesse certeza de que sua irmã estava segura. Mesmo agora, com ela de volta em seu quarto, ele mal conseguia acreditar. Mas na manhã seguinte esperava estar em plena forma. Ela não precisava disso esta noite.

Mas ela não estava pronta para parar de falar.

— Você contou a mamãe e papai? — Ele não achava que ela poderia soar mais arrependida.

E foi a vez de Luke hesitar. Sua mãe e seu padrasto estavam de férias quando Cassie desapareceu, e ele nem pensou em contatá-los até dois dias depois. Como alfa de seu território, cuidar de seu povo era seu trabalho. Não podia chorar para seus pais sempre que algo desse errado. Então ele procrastinou.

— Ainda não — finalmente respondeu. — Eu sabia que iria te encontrar.

Cassie semicerrou os olhos, mas não perguntou por mais motivos.

— Será que eles poderiam não saber?

— Falaremos sobre isso mais tarde.

Sua irmã deixou isso de lado e mudou de assunto.

— Foram dois vampiros que me levaram, embora eu só tenha visto um depois da primeira noite. Depois disso, eles... — ela se interrompeu e franziu a testa. Depois de um momento, continuou como se não se lembrasse de que havia se interrompido. — Não me lembro de como cheguei à clareira, mas sabia que você viria atrás de mim. — Ela sorriu e se inclinou ainda mais para trás, talvez relaxando pela primeira vez desde que entrou em casa naquela noite. Mas de repente, se sentou novamente e enrijeceu.

— O que há de errado? — Luke perguntou.

Cassie balançou a cabeça.

— Não sei. Minhas costas devem estar machucadas ou algo assim.

Luke se levantou.

— Posso dar uma olhada? — Ele não era médico, mas achava que poderia detectar a diferença entre algo simples e algo grave. — Ou posso pedir a Kenny para dar uma olhada. Ela é paramédica.

Cassie deitou-se de bruços.

— Claro, dê uma olhada. — Ela levantou a camisa para revelar uma massa de hematomas centrada em sua coluna. O roxo, preto e azul cobriam suas costas, Luke não tinha ideia de como ela não tinha notado isso até aquele momento.

Passou a mão com gentileza na pele machucada.

— Dói? — perguntou.

A voz de Cassie foi abafada pelo cobertor.

— Como se estivesse ferida — respondeu ela.

— Tenho uma pomada que deve ajudar. — Ele a deixou sozinha por um momento para pegar o medicamento no banheiro. Mas ele mal entrou no corredor quando os pelos de sua nuca se eriçaram. Ele se virou e voltou para o quarto de Cassie.

Sua ladra, a mulher que roubou a Esmeralda Escarlate diretamente de seu cofre estava sobre sua irmã, com uma mão pairando sobre as costas de Cassie.

— O que é que você está fazendo aqui? — ele estourou.

Enredado Com A Ladra

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