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Capítulo 2

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Rowena tinha tentado várias vezes determinar o momento exacto em que a sua relação com Quinn se convertera em algo mais do que uma simples amizade.

Tinha de ser antes da sua breve estada na sucursal de Nova Iorque. Ela precisava de um acompanhante para assistir a um baile de beneficência e Quinn, que tinha aceite um emprego num hospital universitário da cidade, apareceu no último momento.

Apesar de já o conhecer, até àquela noite e graças aos comentários e olhares que recebeu de toda a gente, não se tinha apercebido de quão arrebatadoramente bonito Quinn podia ser.

Aquele foi um sarau maravilhoso e tudo graças a ele. Não só sabia dançar estupendamente e era um bom conversador, como a fizera rir como ninguém, graças ao seu apurado sentido de humor.

– Fizeste sucesso esta noite – disse-lhe, quando ele a acompanhou de madrugada ao seu apartamento. Bocejou e inclinou-se para apanhar os sapatos que tinha tirado ao entrar no Jaguar.

– Esse era o nosso objectivo – respondeu ele.

– Agora sei como conseguiste seduzir todas aquelas mulheres – Quinn tinha bom gosto para as motos, para os carros e para as mulheres, mas não tinha a habilidade para fazer com que as relações durassem. Talvez fosse pela sua profissão ou talvez por não ter encontrado a mulher ideal. Esse pensamento fê-la sentir-se incomodada.

– Se não te conhecesse tão bem, até eu tentaria seduzir-te – brincou ela, enquanto calçava os sapatos.

Ele olhou para ela durante uns segundos, com uma expressão enigmática no rosto.

– É só isso que te detém?

Rowena sorriu, mas não conseguiu ver qualquer indício de humor em Quinn. Pelo contrário, olhava-a de uma maneira muito tensa, que lhe provocou um nó na garganta.

Não conseguia lembrar-se do que disse a seguir, numa tentativa frustrada de romper o incómodo silêncio, mas sabia que não servira de nada. Quinn parou, olhando-a, fazendo com que se sentisse uma estúpida.

O que conseguia recordar perfeitamente era o toque do seu braço contra o seu peito quando o esticou para abrir a porta. Rowena morreu de vergonha, ao sentir que os seus peitos se endureciam com a fricção, e rezou para que ele não notasse através do tecido fino do vestido, enquanto saía do carro.

Depois daquilo, não havia nenhuma razão para recusar a série de convites que se seguiram. Ao fim e ao cabo, não eram mais do que amigos e não havia nada de mal em jantar com um amigo e irem juntos ao teatro. Em relação a passear debaixo da chuva junto ao rio… havia modo mais inocente de passar a tarde?

Tão pouco queria queixar-se do comportamento de Quinn. Comportava-se como um perfeito cavalheiro e não voltara a repetir o incidente do carro, por muito que ela, em segredo, o desejasse.

Era ela quem lhe tocava no braço ou nos joelhos e quem se assegurava de que ele via as suas pernas, quando se sentavam frente a frente. Fazia-o de um modo suficientemente discreto, ou pelo menos ela achava que sim, até que, uma noite, no seu apartamento, depois de a levar a jantar, Quinn lhe pediu uma explicação.

– Não sei a que te referes – protestou ela. – Não estou a jogar nenhum jogo.

– Bem, pode ser que seja esse «nada» que me esteja a pôr louco – disse ele, passando a mão pelo cabelo. – Tu estás a deixar-me louco – realçou.

– Ah, sim? – perguntou ela, incapaz de ocultar a sua satisfação. – Quem diria…

Quinn pareceu surpreender-se e começou a rir. Era um riso tão cálido e descontraído, que Rowena não se enfadou com ele.

– Bem, pois, se te interessa, digo-te que me sinto atraída por ti – declarou sem mais rodeios.

Quinn não ocultou o seu regozijo e ela sentiu-se imediatamente aliviada.

– Acho… – respondeu ele, com voz rouca. – Que o esforço pode valer a pena.

Fascinada pelo desejo que ardia nos seus olhos verdes, Rowena sentiu os joelhos a fraquejar. De certeza que Quinn beijava bem, não podia ser de outra forma com uns lábios tão perfeitos. A ideia de o comprovar fê-la tremer de emoção.

– Então, não achas que seja uma má ideia? – perguntou ela.

– Claro que não – respondeu ele, acariciando-lhe o queixo com a mão. O toque possuía, ao mesmo tempo, doçura e força, num contraste irresistivelmente excitante.

– Sei que consegues entender… – Rowena estava tão aliviada, que não pensou no efeito das suas palavras. – Sobretudo tu, a quem não agradam os compromissos. Quero dizer, nenhum de nós tem tempo para uma relação séria, não é verdade? – perguntou, alegremente. – Para toda essa treta de presentes, flores e planos futuros. Mas todos temos… necessidades, não é? Achei que devia ser sincera contigo.

– Sê sempre sincera – declarou ele, secamente.

Rowena assentiu e Quinn retirou a mão do seu queixo.

– Já tive relações sexuais – continuou ela a dizer, perguntando-se se devia tomar a iniciativa, mas reconheceu que não tinham sido satisfatórias. – Se tenho de ser sincera, confesso que não sou muito boa nisso, mas estou desejosa de aprender.

Ouviu-o a tragar a saliva e lamentou-se por ter sido tão sincera. Mas era a única verdade: em termos sexuais, ela era o que se costumava chamar frígida. A primeira vez, fora culpa da inexperiência, mas, na segunda vez, cinco anos depois e com o amante correcto e experiente, perdeu a vontade de voltar a repeti-lo. Desde então, tinha-se voltado por completo para o trabalho… até Quinn.

– Vamos deixar isto muito claro – disse ele. – Estás a dizer que me desejas somente para o sexo e mais nada.

– Bem… – Rowena sentiu um arrepio. – Não o diria exactamente assim.

– Pois, eu sim! – exclamou ele. – Já ouvi como te chamam por aí, Rowena. Dizem que és uma bruxa com o coração de gelo, desalmada e cruel.

Rowena estremeceu. Tinha ouvido aquilo muitas vezes e era sempre desagradável, não importava se era Quinn a dizê-lo ou outra pessoa qualquer.

– Eu saí sempre em tua defesa – continuou ele a dizer. – Mas começo a ver o quanto mudaste. Por amor de Deus, o sexo não é algo que possas combinar como uma reunião de negócios.

– Eu não queria dizer… – começou ela a explicar, atordoada. – Não queria ofender-te. Só queria ser franca contigo, Quinn.

– Não sou tão obtuso – replicou ele, com um sorriso amargo. – Não é preciso um diagrama para me explicares o que queres.

– Deixa-me dizer-te uma coisa, Quinn. Sentires-te ofendido por te ter tratado como um objecto sexual parece-me hipócrita, tendo em conta a larga lista de aventuras que possuis. Não me parece que queiras um compromisso, não é verdade?

– Acusaram-me de ser superficial, sim – reconheceu. – Mas, comparado contigo, não sou mais do que um aprendiz.

– Pelo que ouvi, defendes-te muito bem – replicou ela.

– Então, ouviste mal. Há relações que não chegam a lado nenhum, mas podem ser divertidas. Reconheço que fiz algumas coisas, mas não tanto como podes acreditas. Além disso, parte da diversão consiste em não saber quando acabará.

Ao ouvir o seu ponto de vista, Rowena esqueceu momentaneamente o nó no estômago. Ela preferia saber sempre de antemão onde tudo acabaria.

– Em explorar – continuou ele. – Em questionar-se se será uma relação definitiva ou se a pessoa será verdadeira.

Rowena apertou a mandíbula. Era a revelação de que, para Quinn, existia um par ideal. Além disso, saber o que procurava… Jamais o poderia imaginar tão romântico.

– Contigo não haveria qualquer emoção, porque ambos sabemos onde acabaríamos… Em parte alguma! – sentenciou ele.

– Está claro que não queremos as mesmas coisas – disse ela, encolhendo os ombros. Não queria mostrar-lhe o quão decepcionada e magoada estava devido à rejeição dele.

Quinn também encolheu os ombros. Não parecia nada afectado.

De regresso ao presente, Rowena esforçou-se por afastar as recordações e lançou um olhar desafiador às suas empregadas. Todas pareciam olhar para ela com respeito, mas sabia que essa falsa aparência duraria somente até sair do escritório.

– Estás contente? – perguntou a Quinn, repetindo a pergunta. – Bem, se nos desculpam, Quinn tem de se ir embora – atirou-lhe o casaco e apontou com a cabeça a porta, numa tentativa de lhe demonstrar quem mandava ali.

– Não – respondeu ele, pondo o casaco sobre os ombros. – Ainda não falámos sobre o dinheiro.

– Claro que não – espetou ela. – Sempre atrás do dinheiro, não é, Quinn? Porque não te dedicas à cirurgia plástica?

– Talvez por pensar que é algo que podia fazer bem – sugeriu ele.

Rowena ficou rígida. Não queria reconhecer que a acusação de avareza era a última que poderia fazer a Quinn.

Quinn era considerado uma eminência no campo da reconstrução facial e, embora os seus honorários fossem elevados para os seus abonados clientes, não limitava o seu trabalho aos que podiam pagá-lo. A maior parte do seu trabalho era desempenhado na saúde pública, apesar de poder ganhar muitíssimo mais se só exercesse medicina privada.

– Às três e meia no meu escritório, Sylvia! – ordenou Rowena antes de se ir embora.

As três mulheres trocaram olhares entre elas quando a porta se fechou.

– Eu bem dizia que aquele nome não me era estranho – comentou Anna. – Operou o nariz a Lexie Lamont. Vi-o num programa de televisão no mês passado, onde se falava de uma jovem que ficou com o rosto desfigurado num acidente.

– Sim, eu também vi – disse Sylvia. – A pobre rapariga não parava de chorar.

– E viste as fotografias de como era antes? – perguntou Anna. – Realmente fez um trabalho impressionante com ela.

– Sim, não há dúvida de que é médico – concluiu a sua ajudante. – Acho que tivemos sorte por ainda não termos mandado embora os outros.

– É uma suposição minha ou vocês também acham que a chefe não quer partilhá-lo? – perguntou Sylvia com um sorriso malicioso.

A explosão de risos chegou até Rowena, que nesse momento saía de outra sala.

– Espero que tenhas ficado satisfeito – disse furiosa a Quinn.

– Calma, Rowena. De certeza que a tua imagem de bruxa pode superar situações piores do que esta.

– Odeio-te! – exclamou, tentando acreditar nas suas próprias palavras.

– Consigo suportar isso – mentiu ele. – O que não suporto é que me ignorem.

– Eu sei que existem homens que se dedicam a espionar e a atormentar as mulheres que os rejeitam, mas nunca pensei que tu fosses um deles, Quinn. Se soubesse o que sei agora…

– Não me tinhas rejeitado – interrompeu-a ele.

Rowena deteve-se em frente da sua secretária e voltou-se.

– Considera-te rejeitado, Quinn.

– Não vês um palmo à frente do nariz – disse ele, sorrindo e, ignorando os violentos protestos dela, empurrou-a para dentro do escritório. – Não passe nenhuma chamada para a menina Parrish – ordenou à jovem secretária, muda de assombro.

– Bernice, chama os seguranças! – gritou Rowena quando Quinn fechou a porta. – Supões que este acto próprio de um homem das cavernas me vai impressionar – retrocedeu até à secretária e sentou-se. Aquela mesa era o símbolo do seu poder, mas, naquele momento, não parecia servir-lhe de muito. – Se, por passares uma noite comigo, te achas com direito de me tratar assim estás enganado. E quanto a despires-te meu escritório… nem vou perguntar! Se não tivesse chegado a tempo, sabe Deus o que terias feito!

– E não te agrada a ideia? – não parecia que Quinn se tivesse sentido molestado.

– Odeio acabar com as tuas fantasias, mas, não, não me agrada a ideia fazeres com que as minhas empregadas percam tempo. Temos prazos a cumprir, sabes? Como te sentirias se eu me apresentasse no teu hospital fazendo-me passar por enfermeira?

– Deixa-me pensar… Estou a imaginar-te com… As enfermeiras ainda usam toucas na cabeça? – Rowena nem sequer teve tempo para responder àquela piada machista, porque Quinn olhou para ela de um modo tão penetrante que a fez preferir as chacotas. – Posso saber o que tens andado a fazer, Rowena? – sentou-se na borda da mesa e esticou as pernas.

– Cortei o cabelo.

– Não me refiro a isso. Estás mais magra.

– Obrigada.

As suas ancas sempre tinham sido a inveja das suas amigas, mas os seis quilos que tinha perdido nas últimas semanas faziam com que a mini-saia que antes se cingia nas suas ancas lhe ficasse folgada.

– Tens muito mau aspecto. Não podes perder tantos quilos a não ser que estejas doente ou submetida a uma grande pressão – disse ele com uma voz autoritária.

Ela afastou o olhar. Os enjoos matinais podiam ser considerados uma doença?

– Bem, doutor, muito obrigada pelo seu diagnóstico, mas não tenho nem uma coisa nem outra. Somente me deito tarde todas as noites e apenas tenho tempo para comer.

– Sim, a vida é como uma grande festa – disse ele com cepticismo.

– De facto – respondeu ela em tom de desafio.

– E estás tão ocupada que não pudeste responder aos meus telefonemas, nem aos meus e-mails. Embora isso já não seja um problema, não é? Pelo menos desde que mudaste os teus números e desapareceste da lista telefónica.

Rowena viu, com irritação, como ele revolvia a fila de esferográficas que estavam dispostas simetricamente sobre a mesa. A olhar para os largos e hábeis dedos, recordou como tinham acariciado os seus peitos, enquanto o seu… Mordeu o lábio e apercebeu-se de que estava a sentir-se culpada.

– É somente uma coincidência – tentou dizer com uma voz segura.

– Se é somente uma coincidência, como explicas que agora me consideres persona non grata na tua casa?

– Estava aqui há pouco tempo, Quinn. Nova Iorque era tão agitada que… – calou-se de repente, desejando não ter mencionado o nome daquela cidade. Ao contrário de toda a gente, Rowena não associava Nova Iorque a um sítio emocionante, mas, sim, exclusivamente a Quinn, ao sexo incrível que tinham mantido e às fatais consequências… – Acabo de começar um novo trabalho – continuou ela a dizer. – Só tive tempo para contactar com todos os meus conhecidos – arrependeu-se logo por ter utilizado aquela palavra tão pouco apropriada.

– Conhecidos? – perguntou ele. – Conhecidos… – repetiu com voz mais suave. – Diz-me, Rowena, como é que cumprimentas os teus amigos mais íntimos?

Ela fechou os olhos e relembrou aquele dia em que caminhava por uma rua de Nova Iorque, três meses antes. Talvez tivesse sido o facto de se ter mudado para uma cidade desconhecida ou talvez devido à vontade de demonstrar a si mesma o seu valor, mas a realidade era que nunca na sua vida se tinha sentido tão sozinha.

Então, viu-o. Nem sequer teve que se assegurar para saber que era ele. Nenhum homem caminhava daquela maneira, com tanta elegância e segurança. Sem pensar nas regras de cortesia, que infringiu ao empurrar os demais peões, foi a correr ao seu encontro, gritando o seu nome como uma histérica. Quando o alcançou, ele voltou-se e Rowena deteve-se bruscamente. Quinn olhou-a primeiro com surpresa e imediatamente a seguir com desejo. Ela também sentiu que o desejo a invadia.

– Estás aqui! – disse como uma estúpida. – Não posso acreditar.

Sem dizer nada, ele beijou-a.

– Estás convencida agora? – perguntou, ao afastar-se.

Rowena ficou meio atordoada, incapaz de fazer qualquer coisa a não ser olhá-lo em silêncio, enquanto à sua volta a maré humana fluía incessantemente.

– Sempre soube que com uma boca tão perfeita, beijarias maravilhosamente – conseguiu finalmente dizer.

Ele continuou a demonstrar os seus dotes no táxi e no elevador do hotel. Não parou de a beijar, nem quando entraram no quarto, onde começaram a fazer outras coisas…

Voltou ao presente e deparou-se com o enfado de Quinn por ter-se referido a ele como um conhecido.

– Apanhaste-me num mau momento – disse como uma desculpa.

– Eu não diria isso – disse ele, tocando-lhe no queixo com um dedo.

– E de certeza que te perguntas por que é que te evito – replicou ela, afastando o queixo.

– Pensei que era tudo imaginação minha – Quinn deslizou sobre a mesa e sentou-se, olhando para ela.

– Sabia que tudo acabaria assim – murmurou ela, passando as mãos pelo cabelo. – Pensei que entenderias que Nova Iorque foi só um erro, não o início de nada.

– O único erro foi permitir que me convencesses a ir-me embora.

Rowena sentiu um aperto no coração e fechou os olhos, exasperada por aquela atitude tão exigente.

– Falar contigo é como… como falar com uma parede!

Pensou que, se as coisas piorassem, começaria realmente a falar com as paredes. Estupendo, precisamente o que necessitavam os seus inimigos.

– Desejas-me – insistiu ele.

Rowena olhou-o em silêncio durante uns segundos.

– Isso é uma possibilidade – concedeu, tentando não sucumbir ao sorriso de Quinn.

– É a única possibilidade.

Ela encolheu os ombros.

– Só podes culpar-te a ti, por queres impor tantas regras e condições. O que é feito do amor livre e espontâneo? – perguntou ela, com um estremecimento, ao reconhecer a sua má sorte. Tinha encontrado o amante dos seus sonhos, alguém tão pouco disposto como ela à devoção inquebrável, todavia tinha que aguentar os seus ataques de moralidade.

– Amor livre? Estou a tentar ver-te como uma hippie, mas não é fácil.

– Não passas de um libertino reformado! – aquele termo antiquado assentava muito bem a Quinn.

– Para que saibas, eu também acredito na espontaneidade, mas é algo que não se consegue gratuitamente. Há gente disposta a prestar os serviços de que necessitas… em troca de dinheiro.

A mão de Rowena voou até à cara dele, mas Quinn foi mais rápido e travou-a. Pôs-se de pé e fê-la baixar o braço.

– Quero ser parte da tua vida, Rowena… Uma parte íntegra. Não tenho qualquer interesse no tipo de aventura obscena que sugeriste em Nova Iorque.

– Íntima não quer dizer obscena – disse ela. A maioria dos homens ter-se-ia morto para conseguir a relação que oferecia a Quinn. Algo sem complicações nem dramas sentimentais.

– Não gosto de enganos.

– É o que diz um homem que entrou neste edifício usando mentiras.

– Se tivesses sido mais razoável, não teria de as pôr em prática.

Ela soltou-se e apontou-lhe um dedo acusatório.

– Ambos sabemos que, quando queres algo, não há nada que não estejas disposto a fazer.

Sem perder uma pitada da sua serenidade, Quinn mirou-a intensamente e acariciou-lhe um joelho.

– E, neste momento… és tu o que quero.

A fúria de Rowena abandonou-a por completo, deixando-a pálida e quase sem respiração. Onde é que estariam os seus desaires que a socorriam quando mais necessitava?

– Suponho que isso seja para me excitar? Bem, tenho notícias novas – aquilo funcionaria na perfeição. – O teu problema é que gostas de mostrar ao mundo as tuas conquistas – recriminou-o com voz rouca. – Agrada-te ser o centro das páginas das revistas cor-de-rosa.

– Acho que isso é um pouco exagerado, Rowena. Só mereço um par de linhas na Country Life.

– A tua falsa modéstia põe-me doente.

– Hás-de habituar-te à ideia – prometeu ele.

– Que ideia?

– A ideia de fazeres parte de uma parelha.

– E se não for assim?

– Não tens opção, amor.

– Porque é que estás tão seguro?

– Porque precisas de mim.

Rowena sufocou um grito de fúria. A arrogância dele era insuportável!

– És sempre assim tão ingénuo?

– Precisas de mim – repetiu, suavizando a expressão. – Tanto como eu preciso de ti. Não vês? Se eu consigo reconhecê-lo, tu também consegues. Custa-me admiti-lo, mas consigo. Se quiseres, ensino-te a dizê-lo.

Ela negou com a cabeça. Estava muda de espanto.

– Vamos fazê-lo entre os dois – prometeu ele.

Não havia ameaça no seu tom de voz, somente uma total convicção. Para Rowena seria muito mais fácil enfrentar um desafio…

– Liguei-te, Rowena… – a voz da sua secretária fê-la reagir.

– Sim, Bernice? – perguntou, separando-se o mais possível de Quinn. Não pensava com clareza, mas, pelo menos, não ficava a olhar para ele como uma palerma.

Essa era uma das razões pelas quais não o queria ver. Quinn tinha a habilidade de a fazer perder o juízo de cada vez que o via. Não era uma simples atracção sexual, nem um desatado desejo de luxúria. Não, era mais… uma pura e dolorosa necessidade.

– Tens uma chamada da tua irmã. Diz que é urgente.

Rowena franziu o rosto. Holly tinha levado o noivo à Escócia para o apresentar aos seus avós, que viviam numa região remota daquele país, chamada Wester Ross.

– Muito bem. Passa-me a chamada – disse a Bernice, que olhava para Quinn discretamente. – Holly, sou eu… Importas-te? É privado – sussurrou furiosa a Quinn.

– Dá cumprimentos meus à Holly – foi para o outro extremo do escritório e começou a ler os títulos dos relatórios que enchiam as estantes.

– Como? Sim, é o Quinn. Não… sim, está aqui. Não importa, já te explico. Que se pa…? – Rowena guardou silêncio, enquanto a sua irmã falava aos gritos do outro lado.

Quinn não teve que prestar atenção para saber que as notícias não eram boas.

– Meu Deus, não! – Rowena levou a mão à boca. – A avozinha, não!

A imagem de Elspeth Frazer passou diante dos seus olhos. Era uma octogenária, baixa, com o cabelo branco e os olhos azuis. Parecia saída de um livro de contos infantis, mas, quando falava, deixava ver um carácter duro e inflexível.

Nos anos cinquenta, numa época em que só os homens eram médicos, tinha trabalhado como pediatra. Fora Holly quem seguira os passos de Elspeth e se tornara médica, mas a ela sempre lhe haviam servido os seus conselhos. Sempre que atravessava um momento difícil pensava na sua avó. Não compreendia por que se tinha retirado para um lugar tão afastado para praticar medicina geral quando lhe tinha custado tanto chegar onde tinha chegado. «Fi-lo por amor», respondera, quando uma jovem Rowena lhe perguntara.

– Está…? Acham que…? Não chores, Holly, e não me fales como um médico – rogou à sua irmã, para que tentasse contar-lhe em termos sucintos o que tinha ocorrido à sua avó.

Não se lembrou que Quinn continuava no escritório até sentir a sua mão no ombro. Nesse momento, esqueceu todas as diferenças. Quinn era o tipo de homem que todos queriam ter por perto num momento de crise e ela não era excepção. Não colocou qualquer objecção, quando ele aproximou a cadeira e a fez sentar-se.

– Não pára de chorar – sussurrou-lhe, afastando ligeiramente o auricular. Também ela estava com os olhos cheios de lágrimas. – E Holly nunca chora – comentou com os lábios a tremer.

– Deixa-me falar com ela.

Sem pensar duas vezes, Rowena estendeu-lhe o telefone.

– Olá, Holly, é o Quinn – disse-lhe com uma voz cálida e amável. – Sim, eu sei, mas… Niall está aí? Bem, diz-lhe que ponha… Olá, Niall, é o Quinn.

Rowena afundou a cara entre as mãos e ouviu como o noivo de Holly falava com Quinn.

– Sim, já estou a ver. Será mais rápido irmos de avião. Podes preparar-nos algum transporte em Inverness? Bem, telefono-te quando tiver mais pormenores.

O mais importante

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