Читать книгу Comboio-Fantasma - L.M. Somerton - Страница 9
ОглавлениеCapítulo Um
«Quatro chás, meus queridos. A comida sai num minuto.» Mo, a proprietária do epónimo Café Mo, pousou a bandeja na borda da mesa antes de colocar uma caneca fumegante diante de cada um dos seus quatro clientes. «Então, estão de volta para o verão?»
«Que outra razão teríamos nós para estar aqui a deliciarmo-nos com a sua homenagem ao décor dos anos setenta, Mo?» Garth acompanhou as palavras com um movimento da mão, exibindo as unhas pintadas de preto. Recebeu um aperto de orelha devido ao comentário inconveniente.
«Rapaz atrevido.» Mo sorriu. «É bom ver-te. Não mudaram nada — exceto tu, querido.» Ela despenteou o cabelo estilo algodão-doce de Stevie. «Era azul no ano passado, mas o lilás fica-te bem.»
Stevie corou até às raízes da sua farta trunfa e começou a brincar com o saleiro. Zach apertou-lhe o ombro.
«Vai combinar bem com os produtos da tua banca, Stevie.»
Stevie olhou para ele, com os seus enormes olhos cinzento-prateados. «Não vou trabalhar na banca de algodão-doce este ano, Zach. Vou estar a gerir o carrossel.» Parecia orgulhoso.
«Uau! É uma promoção e tanto. O carrossel é um lugar privilegiado e muito divertido. O pai pôs-me outra vez no helter-skelter, que penso ser a sua forma de me dizer que preciso de fazer mais exercício físico, e Garth está no comboio-fantasma como de costume.»
Garth sorriu. «Onde mais me colocaria ele?» Sacudiu um bocado de cotão imaginário do ombro do casaco de cabedal preto. «Encaixo-me na perfeição.»
«O que é que chamam àquele preto todo?» Perguntou Mo. «Gouda, Gaudy... Não, nenhum soa bem. Grotesco?»
«Gótico, Mo», explicou Zach, levantando a voz para se fazer ouvir sobre o riso dos seus amigos. Mo voltou para o balcão, resmungando sobre o estranho sentido de moda e vestimentas mais adequadas para funerais.
Garth encolheu os ombros. «Ela adora-me.» Tirou um batom preto do bolso do casaco e aplicou uma nova camada. «No ano passado, perguntou-me se eu tinha sido figurante no filme Entrevista com o Vampiro. Esse filme estreou em 1994. Eu nem sequer tinha nascido ainda!» Fungou e examinou as unhas. «Então e tu, Adam? O que é que o pai do Zach te pôs a fazer este ano?»
Adam puxou os ombros para trás e espetou o peito. «Segurança. O mesmo de sempre. Ele disse que eu tenho de vos manter aos três na linha.» Ergueu a sua chávena de chá para brindar. «Embora também tenha admitido que é uma tarefa impossível.»
Garth deu uma olhadela rápida ao amigo, admirando a sua fisionomia bem musculada. Adam parecia-se tal e qual com o jogador de râguebi do condado e de Inglaterra que era. Era muito mais alto do que os outros, com 1,95 metros. Garth media 1,82 metros graças às suas botas de motard com sola grossa. Stevie, o mais pequeno do grupo, tinha atingido o pico com 1,70 metros e Zach era apenas alguns centímetros mais alto. Em fila, faziam uma grande inclinação.
«Tens mais hipóteses de convencer a Mo a não servir morcela com recheio inglês. Nunca vai acontecer.» Zach encostou a sua caneca à de Adam. «Mas desfruta. Pelo menos, o Stevie vai gostar que lhe digas o que fazer.»
A meia risada de Adam deu-lhes a entender que ia gostar tanto quanto ele. As bochechas pálidas de Stevie ficaram rosadas.
«Não me provoques», murmurou ele, evitando o contacto visual. «Não és diferente.»
Garth teve a oportunidade de refletir sobre as palavras de Stevie enquanto Mo depositava quatro pratos à sua frente. As suas artérias contraíram-se ao apreciar a disposição aromática das frituras. Inalou o aroma antes de apunhalar uma gema de ovo amarela como o sol com o garfo. «Este verão, vamos encontrar os homens dos nossos sonhos. A Semana do Orgulho vai garantir muito por onde escolher. Mas é pena que não venham etiquetados. Poupar-nos-ia bastante tempo e angústia se pudéssemos verificar uma etiqueta a dizer Dommy top, adora Shibari ou sub ideal para espancar procura mão firme. Esse tipo de coisa.» Encheu o garfo com bacon.
«Então, o que diriam as nossas etiquetas, génio?» Perguntou Adam.
Garth levantou a sobrancelha. «Penso que o Zach é o homem certo para responder a essa pergunta.»
Apercebendo-se que estava sob o intenso escrutínio dos seus três amigos, Zach mastigou, engoliu e de seguida bebeu um golo de chá.
«Bem, o Stevie é fácil. Rainha doce e tímida procura Dom XXL para prazer sem dor.»
Stevie encolheu os ombros. «Ele é bom.»
«E eu?» Perguntou Garth.
«Emo vadio e mal comportado gosta de dor, adora servir, quanto mais severo melhor.»
Carrancudo, Garth deitou a língua de fora. Zach tinha acertado em cheio.
«Ele também te topou, Garth», exclamou Stevie. «Agora é a vez do Adam.»
Zach mastigou um grosso pedaço de salsicha, como se esta lhe pudesse proporcionar a inspiração adequada. «Dom excessivamente protetor precisa de sub para cuidar. Gosto por castidade é essencial.»
Adam enfiou uma garfada na boca, mastigando enquanto acenava com a cabeça em concordância. «Etiqueta-me já. Estou pronto.»
«O que diria a tua etiqueta, Zach? Conheces-te tão bem como pensas que nos conheces a nós?» Perguntou Garth. «Uma coisa é descreveres as manias dos teus amigos, outra coisa é admitires as tuas em voz alta.»
«Zach só tem olhos para um homem», disse o Stevie. «Um certo professor alto e moreno do departamento de matemática.»
Garth e Adam murmuraram em acordo.
«É pena que ele não esteja interessado», disse Zach. «A minha etiqueta vai dizer especialista em desejo não correspondido.»
«O Professor Raynott é lindo», admitiu o Stevie. «Mas assustador. Acho que nunca o vi sorrir. Será que é mesmo gay?»
«Tem um autocolante com o arco-íris na janela traseira do Audi», disse Zach. «Eu continuo a viver com esperança.»
«Perseguidor!» Stevie acenou-lhe com a faca.
Zach encolheu os ombros. «O meu gaydar é inexistente. Gostava de saber se estou a ladrar à árvore errada.»
«Pareces mais um cachorrinho demasiado entusiasmado a mijar para o tronco.» Adam inalou o chá. Garth e Stevie desataram a rir.
«Ainda bem que todos acham a minha vida amorosa, ou a falta dela, muito divertida.» Zach riu. «Mesmo que eu não pesque um pato que traga o número do professor gostoso agarrado, o verão promete ser divertido.»
«É verdade», concordou Garth. Não estava a chover, o pequeno-almoço de Mo estava delicioso e ele tinha dois meses para ganhar algum dinheiro e divertir-se com os seus amigos. Se algum deles tivesse sorte na lotaria do amor, iam celebrar juntos. «A vida é boa.»
* * * *
Garth despiu o casaco de cabedal e colocou-o no cubículo destinado aos seus artigos pessoais. O ritual de humilhação de moda vinha com o trabalho. Ele podia usar as suas calças pretas, mas o polo azul era obrigatório. Tinha o logótipo do parque de diversões estampado nas costas e Garth não teria optado por usá-lo se a sua vida dependesse disso. Considerou-se sortudo por estar a trabalhar no comboio-fantasma. Só tinha dois anos e era topo de gama — um lugar muito mais fixe para trabalhar que o helter-skelter ou o carrossel. Zach teria ficado em farrapos a arrastar tapetes de fibra de cairo por todo o lado e Stevie teria permanecido num estado de vertigem constante.
Os efeitos especiais do comboio-fantasma eram aterradores e os passageiros que esperavam o tipo de passeio foleiro “abana-ossos” que provavelmente experienciaram durante a infância recebiam o maior susto da vida. Cada carruagem fazia o percurso sozinha e, dentro do armazém cavernoso que albergava a experiência, a configuração tinha sido concebida para que nenhuma carruagem jamais passasse por outra. Havia até uma segunda trajetória acessível através de uma rampa, um túnel e um troço sobre uma piscina de água turva. Uma câmara automática tirava fotografias de cada carruagem à medida que estas atravessavam a porta de saída. A expressão nos rostos dos clientes no momento em que emergiam para a luz do dia não tinha preço.
A viagem era toda controlada por um computador e uma série de componentes eletrónicos complicados. Tudo o que Garth tinha de fazer era ligá-lo, recitar as instruções de segurança aos ocupantes de cada veículo e depois premir o botão que os remetia para o seu caminho. Os clientes podiam ver as suas fotografias no grande ecrã, mas as compras eram feitas através de uma cabine central, pelo que ele não tinha de se preocupar em levar dinheiro. Eram coisas simples, mas ele tinha de se manter atento a quaisquer problemas com a viagem.
De vez em quando, ficava tudo paralisado até ele reiniciar o computador. Quando isso acontecia, dispunha de um sistema Tannoy para tranquilizar todos os que ficassem presos lá dentro. Não era difícil, o pagamento era bom e, o melhor de tudo, dispunha de muito tempo para dispensar uma olhadela aos ocupantes das carruagens na esperança de encontrar o Sr. Certo. É claro que ele não tinha a menor ideia do que faria se encontrasse o Sr. Alto, Sombrio e Dominante, mas tinha bastante tempo para sonhar acordado com as possibilidades. Concedeu ao seu cérebro uma pausa das complexidades da física molecular e à sua pele uma boa dose de vitamina D.
Uma campainha tocou, assinalando a abertura do parque. O nível de ruído aumentou à medida que as atrações entravam em ação e música pop se misturava num turbilhão de harmonias discordantes. Em breve, o ar ficaria impregnado com o aroma de cachorros quentes, maçãs caramelizadas e donuts fritos, todos disputando o controlo do sentido olfativo dos visitantes. Garth concentrou-se na crescente fila de clientes e começou a trabalhar.
No final do dia, a sua cabeça latejava, as costas doíam e o pescoço estava tão rígido que parecia que uma barra de aço unia o crânio à coluna vertebral. Tudo o que ele queria era ir para casa, ensopar num banho quente durante pelo menos três horas e de seguida dormir. Após alguns dias, habituar-se-ia ao trabalho e ao esforço físico que este exigia ao seu corpo. A memória muscular não durava o ano todo e sentar-se nos anfiteatros ou na biblioteca da universidade não o preparava para ficar de pé o dia todo, dobrando-se sobre as carruagens. No entanto, a sua casa ainda estava à distância de uma viagem de bicicleta.
Stevie ficava sempre com Zach durante as férias pois os seus pais viviam no estrangeiro e, por isso, era costume apanhar boleia com Zach e o pai. Adam era um morador local como Zach e vivia a curta distância do parque, na casa dos pais. Ele dispunha de um quarto fantástico por cima da garagem. A residência para estudantes permitia que Garth alugasse durante todo o ano. Dispunha de um apartamento independente com casa de banho própria e uma pequena kitchenette, o que era muito conveniente. O seu apartamento era um de muitos num quarteirão situado numa área extensiva de alojamento destinado a estudantes. Era muito sossegado durante o verão. Nenhum dos seus vizinhos mais próximos permanecera nas férias, pelo que ele podia ouvir as suas músicas de rock gótico preferidas tão alto quanto queria sem incomodar ninguém. Ficava à distância de um curto passeio da biblioteca da universidade, o que significava que também podia adiantar os trabalhos de curso para o ano seguinte. Era fascinado por Física e estava ansioso por iniciar a sua dissertação.
Rodou os ombros, gemendo com os estalidos. Percorrer a cidade de bicicleta não ia ser nada divertido. Efetuou as últimas verificações e desligou tudo. A música foi silenciada e o néon colorido transformou-se em escuridão. O silêncio foi um alívio. Garth foi até ao seu cubículo buscar o casaco e a carteira, saltando quando sentiu um toque no ombro. Ele ganiu, bateu com a cabeça numa prateleira e caiu de rabo, esparramando-se desajeitadamente.
«Que r...» Esfregou o crânio dorido.
«Desculpa, não te queria assustar.»
Garth ergueu o olhar para observar o seu carrasco. O seu pescoço protestou enquanto inclinava a cabeça para trás, e depois ainda mais para trás. Ele olhou para a mão estendida com desconfiança, mas decidiu que, como já tinha feito figura de autêntico idiota, aceitar assistência não ia acrescentar nada à sua humilhação.
«Posso ajudar?» Garth foi puxado tão depressa que perdeu o equilíbrio e tropeçou. O desconhecido segurou-o, colocando uma mão no fundo das costas. Uma sensação de calor penetrou pela t-shirt fina de Garth.
«Estás bem? Não quero magoar esse belo rabiosque mais do que já está.»
Garth engoliu em seco antes de recuperar a sua fonte interior de sarcasmo. «Achas apropriado estares a comentar o meu rabo? Acabámos de nos conhecer. Quem és tu?»
Mesmo sob a luz fraca, Garth conseguiu detetar um lampejo de divertimento nos olhos azuis-aço.
«Clem Chadwick, Serviços Informáticos. Prazer em conhecer-te, Garth.»
«Como é que sabes o meu nome?» Garth franziu a testa, embora a sua pila traiçoeira se estivesse a contorcer de excitação.
«Queres dizer, além do crachá que trazes ao peito?» Clem riu-se. «O teu chefe disse-me. Preciso de instalar um patch no computador do comboio-fantasma e tive de esperar que fechasse para o fazer. Ele disse que não te ias importar de ficar por aqui mais alguns minutos.»
«Suponho que não — desde que sejam apenas alguns minutos. Foi um dia longo.» Garth foi sentar-se num dos carros, meio rabugento. «Serve-te à vontade. Ainda não tranquei a porta da cabine, mas vais ter de voltar a ligar a corrente.» Nem tentou esconder a sua irritação.
Clem ergueu a sobrancelha. «És mesmo um fedelho, não és?»
«Novamente com os comentários pessoais! Estou cansado e rabugento. Processa-me.»
«É mais provável espancar-te.» Clem virou-lhe as costas, sorrindo.
Garth ficou embasbacado. Estava dividido entre fugir e gritar Sim, por favor!
«Jesus. Foda-se. Devo estar mais cansado do que pensava», murmurou ele, enquanto observava Clem discretamente. O homem era uma visão naquelas calças de ganga pretas e não havia mal nenhum em fantasiar. Ele deixou-se dormitar, imaginando como seria estar sob o controlo de Clem, amarrado com cordas, o rabo exposto à mão ou à vara. Nos seus sonhos, era impossível que Clem fosse heterossexual ou baunilha. Ele estremeceu e um pequeno gemido escapou-lhe dos lábios.
«Não sei com o que estás a sonhar, miúdo, mas fica-te bem.»
Clem estava inclinado sobre ele. Garth pestanejou. Ele conseguia sentir o aroma a menta no hálito de Clem e o cheiro do seu shampô de tão perto que estava. Garth saiu do carro o mais rápido que conseguiu na tentativa de recuperar alguma dignidade, mas a ereção que enchia as suas calças de ganga justas não ajudou. Nem a expressão de entendimento no rosto atraente de Clem.
«Trouxe a carrinha», disse Clem. «Dou-te boleia até casa.» Soou mais como uma ordem que uma sugestão.
«A minha mãe ensinou-me a não aceitar boleia de estranhos. Tenho bicicleta.»
«A tua bicicleta cabe na traseira da carrinha e eu não sou um estranho. Já nos conhecemos há uma hora. Telefona ao Zach ou ao pai dele. Sou um amigo da família. Eles podem responder por mim.»
Garth olhou seriamente para ele. A ideia de não ter de pedalar pela cidade no escuro era tentadora. Sacou do telemóvel e apunhalou o botão de chamada rápida que o conectava a Zach.
«Ei, Zach. Conheces um tipo da informática chamado Clem?»
«Claro.» Pelo tom de voz de Zach, ele estava a tentar conter o riso. «Lindo, não é? Ainda no outro dia ele me perguntou se tu voltavas este verão. Não faz o meu género, mas é definitivamente o teu. Dommy como o diabo. Já te colocou as algemas?»
«Mas que raio, Zach? Ele está apenas a oferecer-me uma boleia para casa e eu quero ter a certeza que não é um assassino psicopata com um machado.» Captou o olhar de Clem, que tinha um sorriso enorme na cara.
«Boleia para casa... Sim, claro. Se é isso que lhe chamam hoje em dia.» Zach fez um som algures entre um ronco e um grunhido.
«Zach...»
«Não há problema. Conheço-o há anos. Quando eu era miúdo, ele era adolescente e costumávamos brincar à pancada nas churrascadas em família e cenas do género. Mas ele é um verdadeiro Dom, por isso tem cuidado com as tuas bocas espertas ou ele põe-te uma mordaça antes de conseguires dizer Goo Goo Dolls.»
«Está bem. Se eu não aparecer no trabalho amanhã, a manchete do jornaleco cá da zona é culpa tua.» Desligou a chamada. «Uma boleia vem mesmo a calhar. Obrigado.» O sorriso de Clem era, no mínimo, desconcertante. Garth disfarçou a sua confusão enquanto trancava tudo. Enrolou o casaco e enfiou-o na mochila com a carteira e o telemóvel. «Estou pronto.»
Clem liderou o caminho até à saída para funcionários na extremidade sul do parque e usou o seu cartão de segurança para abrir o portão. A sua carrinha estava estacionada a cerca de cem metros ao fundo da rua. Garth libertou a sua bicicleta do longo suporte junto ao passeio antes de a deslocar para a traseira da carrinha. O interior da viatura estava imaculado. Havia muito espaço para colocar a bicicleta e Clem levantou-a como se não pesasse nada.
Garth subiu para a prístina cabine, perguntando-se o que raio estava a fazer. Não havia uma embalagem ou um copo de café vazio à vista — não era um ambiente confortável para alguém tão desarrumado como ele. Clem sentou-se ao volante e Garth não duvidou de que o veículo iria arrancar. Não se atreveria a avariar. Apertou o cinto de segurança, ciente da correia larga cruzada sobre o seu corpo, que parecia menos um dispositivo de segurança e mais uma restrição. Ele estremeceu.
«Tens frio? Posso ligar o aquecimento.»
Garth abanou a cabeça.
«Usa palavras, miúdo.»
«Miúdo não» resmungou Garth, porque sentiu que devia fazê-lo, não porque se opusesse realmente ao termo.
«Mas és um fedelho.» Clem sorriu.
«Vai-te foder.» As palavras foram murmuradas, mas Clem tinha ouvidos de morcego.
«A tua boca precisa de ser preenchida com outra coisa para além dessa língua e acredita que se for preciso foder algo ou alguém, serei eu a fazê-lo.»
«Não faças promessas que não vais cumprir.» Garth manteve o contacto visual, sabendo que estava a pisar em território perigoso. As linhas finas à volta dos olhos de Clem enrugaram-se. O seu sorriso enigmático não necessitava do acompanhamento de palavras.
«Para onde vamos?»
Garth indicou a sua morada e Clem conduziu por ruas tranquilas, evitando as estradas mais movimentadas perta da praia. Não tentou fazer conversa, o que Garth agradeceu. O silêncio não era desconfortável e a presença sólida de Clem a seu lado fez com que Garth se sentisse seguro. Quando Clem parou à entrada do quarteirão de Garth na residência estudantil, Garth sentiu-se relutante em abandonar o calor do veículo. O ar fresco da noite provocou-lhe arrepios na pele. Clem abriu as portas traseiras para tirar a bicicleta de Garth.
«Aqui está. Vejo-te amanhã.»
Garth posicionou a bicicleta entre si e Clem, com a mochila a balançar no assento.
«Vês?» Um estremecimento de excitação deixou os nervos de Garth em pulgas. Clem debruçou-se sobre a bicicleta, pôs um dedo por baixo do queixo de Garth e inclinou-lhe a cabeça gentilmente.
«Vejo.»
Garth não esperava o beijo que se seguiu. Roubou-lhe o fôlego e qualquer capacidade de movimento. A pressão dos lábios de Clem era casta, mas firme. O pénis de Garth endureceu e este soltou um gemido. A tentação de suplicar por mais era forte.
«Sonhos doces», disse Clem, apertando a nuca de Garth antes de regressar à carrinha.
Enquanto Clem se afastava, Garth duvidava que os seus sonhos fossem ser doces. Iam ser quentes, palpitantes, obscenos... Guiou a bicicleta até casa, tropeçando algumas vezes devido à ânsia de chegar. Não queria sentir-se entusiasmado com a possibilidade de encontrar Clem novamente, mas não conseguiu evitar. Havia qualquer coisa naquele homem que o atraía e um beijo nunca seria suficiente.