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A causa secreta
— Como está a minha querida mamãe?
A esta palavra, Virgilia amuou-se, como sempre. Estava ao canto de uma janella, sosinha, a olhar para a lua, e recebeu-me alegremente; mas quando lhe falei no nosso filho amuou-se. Não gostava de semelhante allusão, aborreciam-lhe as minhas anticipadas caricias paternaes. E eu, para quem ella era já uma pessoa sagrada, uma ambula divina, deixava-a estar quieta. Suppuz a principio que o embryão, esse perfil do incognito, projectando-se na nossa aventura, lhe restituira a consciencia do mal. E enganava-me. Nunca Virgilia me parecera mais expansiva, mais sem reservas, menos preoccupada dos outros e do marido. Não eram remorsos. Imaginei tambem que a concepção seria um puro invento, um modo de prender-me a ella, recurso sem longa efficacia, que talvez começava de opprimil-a. Não era absurda esta hypothese; a minha doce Virgilia mentia ás vezes, com tanta graça!
Naquella noite descobri a causa verdadeira. Era medo do parto e vexame da gravidez. Padecera muito quando lhe nasceu o primeiro filho; e essa hora, feita de minutos de vida e minutos de morte, dava-lhe já imaginariamente os calefrios do patibulo. Quanto ao vexame, complicava-se ainda da forçada privação de certos habitos da vida elegante. Com certeza, era isso mesmo; dei-lh’o a entender, reprehendendo-a, um pouco em nome dos meus direitos de pae. Virgilia fitou-me; em seguida desviou os olhos e sorriu de um geito incredulo.