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OSVALDO O PESCADOR

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Encontrei o meu amigo Osvaldo no bar.

“Então, Osvaldo, como é que foi depois no outro dia a tua pesca?”, perguntou-lhe.

A última vez que o tinha visto, talvez dez dias antes, estivera no porto enquanto saía para ir pescar com o seu pequeno barco, e lhe tinha desejado boa sorte.

“Pois, bem, obrigado. No princípio não, não mordeu nada de nada durante algum tempo: tanto que pensava no facto de te ter encontrado me tivesse dado azar. Mas depois…!”

“Depois?”

“Pois como de costume tinha ido ao alto mar e tinha desligado o motor; tinha fixado o cabo da linha de pesca no pequeno guincho da âncora, e o outro cabo do fio pescava no mar. Não aconteceu nada durante algum tempo, e estava quase a me enfurecer: agora, como faço nestas situações, coloquei na linha de pesca os meus pequenos guizos que me advertem se algo morde. Mas depois de um instante, terá sido pela briza ou o baloiço anómalo das ondas, tive a sensação de que o barco estava em movimento, quase que estivesse a ser movido por velas; e tu sabes que não tem velas.

A linha de pesca estava tão esticada que me espantei de que não estivesse rota. Era precisamente aquela linha a mover o barco: deveria ter apanhado algo grande, muito grande. Pensei realmente que o anzol estivesse emaranhado num submarino. Creio que não teria conseguido fazer nada se não tivesse usado o guincho – não é por nada equipei-me para pescar daquela forma – e seja como for deu-me muito trabalho para puxá-lo a bordo, e em cada momento temia que o fio se rompesse. Mas no fim aqui está saindo da água, primeiro a cabeça e depois todo o resto: era um peixão mais ou menos deste tamanho.”

Osvaldo, para me fazer ver as dimensões da presa, teve que levantar-se e afastar-se para poder abrir os braços em toda largura.

“Mas olha, exagerado: quanto a mim sonecaste e sonhaste”, lhe disse.

“Não, não, te garanto. Mas a coisa extraordinária, mais que a dimensão do peixe, é que a um certo ponto ouvi uma voz: portanto estava sozinho lá no meio do mar.

Por favor, tira-me esta coisa da boca e atira-me de volta na água. Verás que saberei recompensar-te como deve ser.”

“Podes imaginar como fiquei: um peixe que fala. Nunca tinha-me acontecido uma coisa semelhante!”

“A mim também nunca me aconteceu”, objectei, sempre mais incrédulo.

“E quando lho disse”, surpreso:

Mas como, tu falas?”, ele respondeu-me:

Claro que sim, e falo correntemente cinco linguas de vocês homens. Mas agora peço-te, colocas-me de volta na água.”

Estava quase compadecendo, à vista daquele peixe que esbracejava e se abanava desesperado; mas hesitava.

Mas eu te transformaria num jantar suculento para mais ou menos dez pessoas. Se te deixo escapar, pelo contrário…”

Como ousas dizendo que a minha carne seja boa? E seja como for, se me deixar ir, dou-te a minha palavra de que vou te arranjar muito daquele peixe saboroso não para dez, mas vinte pessoas que poderás convidar na sua mesa. Basta organizar bons cestos nos lados do teu barco, e eu em pouco tempo os encherei. Hoje e durante todo mês ainda por vir.”

Quase que me convencia. Aproximei-me a ele para libertá-lo do anzol; no entanto hesitei ainda.

Quero tirar-te uma boa foto para mostrar como troféu aos meus amigos. Se te liberto ninguem vai acreditar de que seu tenha pescado um peixe tão grande”, lhe disse.

Não vejo nenhum problema fazendo uma foto na tua companhia. Basta que me colocas agora um pouco na água…”

E eu colaborei, deixando-o durante um instante na água sempre preso no anzol. Depois fui buscar a minha máquina fotográfica digital e coloquei-me em posição para um disparo automático. Tirei de novo ao enorme peixe, fui tirar e voltei ao meu lugar, abraçando o peixe esperando o flash da máquina.

Pois, se me deixar ir agora, vou buscar os peixes que te prometi”, disse-me ele.

Generoso eu sou, mas não tolo. Quem me garante que tu não vai escapar logo depois de te libertar do anzol, sem manter a tua promessa? Também porque peixes que falam, prometem e mantem, a palavra de honra creio que não haja alguma pista na história do mundo.”

E assim dizendo libertei-o sim do anzol, mas não antes de o ter amarrado a cauda num outro fio também robusto. E amarrei-o bem forte, por temer que poderia agitar-se ajudando-se com as suas escamas escorregadias, que talvez sofreria pior ainda por esta atadura do que pelo anzol que tinha na boca primeiramente.

Desconfiado que não existe outro. Mas verás que te arrependerás amargamente desta falta de confiança: porque se tu tivesse me libertado completamente, te teria transformado num homem num homem mais rico da nação. Talvez não percebeste que sou um peixe mágico? Ou pensas que qualquer peixe possa falar?

Sim, podes bem dizer que sou desconfiado; mas se na vida tivesse dado crédito a quem fazia promessas extraordinárias como as tuas a esta hora não estaria certamente aqui tranquilo a pescar, mas pobre a pedir esmola por aí. E de todas as maneiras fui de palavra e atendi o seu pedido, visto que tu querias que te libertasse do anzol e te deixar na água. Agora cabe a ti ser de palavra: dentro dum tempo colocarei os cestos nos cantos do barco a tu deves enchê-los.”

Mas não obstante as minhas precauções aquele, uma vez no mar, com um escorregar logo livrou-se da atadura a cauda. Será que vai cumprir, pensei, aclamando comigo mesmo a ideia de voltar para casa com abundante peixe. Mas enganava-me.

Bem te disse que sou um peixe mágico. Mas aquilo que não te disse é que querendo poderei permanecer tranquilamente fora de água o tempo que quiser, e até caminhar e correr.”

E para me fazer ver saltou de novo sobre o meu barco, quase dançando à minha volta como quem me desafiasse de apanhá-lo. Mas depois dum tempo, visto que não colhia a provocação (já estava claro que era realmente mágico, e que quisera apenas pôr-me a prova), atirou-se de novo na água.

Pois sou um peixe de palavra, e manterei o que prometi.”

E de facto em poucos minutos tinha enchido os meus três cestos, todos aqueles que tinha a bordo, um unicamente de moluscos e crustáceos, o outro de peixes grandes e o outro de peixes pequenos;alguns trazendo-os com a boca, e outros que saltavam para dentro sozinhos, mesmo por magia. Tanto que depois tive que passar do mercado do peixe, procurando alguém que me comprasse aquilo que restava às minhas necessidades.”

“Sem delongas”, lhe disse eu.

“É verdade, respondeu-me.” Mas pensando bem creio que uma parte do merito por todo este pescado tenha sido também tua. Desejaste-me boa sorte, e me trouxeste realmente tanta, talvez como nunca a tive. Sei que quando te convido para a pesca dizes sempre não: mas o que achas então de vir jantar comigo, esta noite? Tudo é comigo: talvez tragas tu só uma garrafa de vinho, branco, naturalmente.”

“Porque não, Osvaldo. Conta comigo. É conveniente para ti se marcarmos para as sete e meia?”

“Está bem. Então agora te deixo, porque devo dar um salto no mercao do peixe. Até a noite, então.”

Osvaldo saiu, e eu permaneci com calma terminando o café.

“E tu o que pensas daquilo que contou o meu amigo Osvaldo?”, perguntou ao Vincenzo, o bar man, que naquele momento estava ocupado a lavar algumas chávenas.

“Achas que haja mesmo algo racionalmente credível em tudo aquilo que disse?”

“Desculpa, não ouvi perfeitamente o que disse”, respondeu-me ele sem delongas.

“Petas. Todas petas de pescadores”, continuei eu. “Questiono-me porquê todos os pescadores são todos assim, pelo menos aqueles que conheço: fantasistas e exagerados. Talvez estar fora durante a noite, saltar os ritmos naturais do sono e da luz lhes cria estas piadas, sabe-se lá.”

Paguei-lhe o meu café e saí.

“Eh, um momento. Estás a esquecer algo aqui em cima do balcão. Talvez seja o teu amigo que esqueceu. Como é que se chama?

“Osvaldo”, respondi-lhe. Eu não trazia nada comigo. Verifiquei se por acaso fosse coisa de Osvaldo. De facto havia duas facturas do mercado do peixe, e havia em cima o seu nome como vendedor. Pois havia uma outra coisa que não percebia o que seria, e… isto o que é? Uma foto. Feita de noite, com flash. Trazia no braço um peixe gigantesco, quase mais grande que ele. E, parece estranho dizendo, tal grande peixe parecia propriamente que estivesse a sorrir.

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