Читать книгу A meio da noite - Segura nos seus braços - Margaret Way - Страница 6

Capítulo 2

Оглавление

Uma mão tocava-lhe na cara. Nick sentou-se, de repente, bem acordado, e apercebeu-se de que os dedos eram seus. Pusera o cotovelo atrás da cabeça enquanto dormia e nesse momento sentia a mão torcida e dormente.

As luzes continuavam acesas na cozinha, porém, no exterior reinava a escuridão e não fazia ideia de que horas eram. Abanou a cabeça e depois olhou para o seu relógio de pulso. Eram seis da manhã!

Voltou a olhar. Não era de estranhar que se sentisse tão dorido, já que passara as últimas doze horas num sofá de dois lugares.

Adele provavelmente levantar-se-ia dentro de uma hora. Sempre fora madrugadora, em contraste com os seus costumes de mocho nocturno. Sentia-se sujo depois da viagem de Los Angeles e de continuar com a mesma roupa. Não fazia sentido tentar convencer Adele com aquele aspecto desalinhado e um cheiro ainda pior. Era melhor tomar um duche e arranjar-se antes de tentar falar novamente com ela.

Levou a mala para o andar de cima e esteve prestes a entrar no quarto principal, por uma questão de hábito. Um erro idiota. Tinha de pensar com mais acuidade se queria convencer Adele a ficar do seu lado. Nem ele era tão parvo para pensar que podia recuperar a sua vida anterior, depois de todo aquele tempo, como se nada tivesse mudado.

Embora na realidade desejasse poder recuperar a sua antiga vida. Adele e ele tinham sido tão felizes… Um momento de fúria precipitada provavelmente custara-lhe o seu casamento. Quase nunca perdia as estribeiras, porém, Adele pressionara-o de tal forma que acabara por explodir.

O que só lhe demonstrava que a sua técnica habitual de varrer todos os pontos negativos para debaixo do tapete e brincar até que tudo se desvanecesse era uma opção mais segura. Se tivesse agido assim naquele mês de Maio, talvez as coisas tivessem sido diferentes e não tivesse de viver com aquela dor profunda que não queria desaparecer, apesar das brincadeiras que fazia com os seus companheiros para se distrair.

Meia hora mais tarde, estava barbeado, vestido e preparava café na cozinha. A ideia era fazer com que Adele se sentisse melhor com a ajuda da cafeína. Conhecia todos os truques para a pôr do seu lado, pois empregara-os tantas vezes que eram quase um costume.

Certamente, dessa vez, teria de agir com muito cuidado. Teria de se mostrar sensato e falar com ela de forma adequada. Esse era o plano «A». Depois, teria de conseguir fazer com que aceitasse o plano «B», que, com sorte, conduziria à realização do plano «C», que era o mais importante: convencer Adele de que tinham sido feitos um para o outro.

Não podia falhar, como tal, teria de usar todos os trunfos possíveis. Não podia fazer nenhum mal preparar um pouco o caminho… com cafeína, sorrisos e covinhas.

Ligou a cafeteira e sentou-se à mesa, à frente da porta. Ela apareceria a qualquer momento.

No entanto. Adele não apareceu. E a paciência não era um dos pontos fortes de Nick.

Talvez a sua mulher quisesse o pequeno-almoço na cama? Ou isso seria levar as coisas demasiado longe?

Encostou-se na cadeira de madeira, abatido. Sentira a sua falta. Muito. Ao regressar à Califórnia depois da sua primeira viagem, surpreendera-o perceber o tempo que deixara que a fúria bulisse no seu interior. Não fora capaz de a desterrar como de costume. Embora isso fosse compreensível, ou não?

Qualquer homem estaria zangado se a sua esposa o tivesse deixado ao primeiro inconveniente. Poderiam ter chegado a um compromisso em relação ao seu emprego e ao seu contrato de seis meses em Hollywood, porém, ela nem sequer se incomodara em considerá-lo.

Estivera demasiado ocupada a gritar com ele a respeito de como o seu trabalho, a sua vida e os seus amigos eram importantes para ela. Fora uma surpresa desagradável descobrir que era o último da lista… se é que figurava nela.

O seu trabalho era igualmente importante para ele, contudo, Adele nunca o encarara a sério, nem sequer quando alguém lhe apresentara um contrato, oferecendo-lhe uma oportunidade de último momento de trabalhar com o aclamado produtor Tim Brookman. Fora uma oportunidade que não pudera rejeitar, e magoava-o mais do que gostava de reconhecer que ela não tivesse tido fé suficiente nele para o apoiar na sua decisão.

A irritação começou a apoderar-se da sua mente. Espantou-a e olhou para o relógio. Eram oito e meia. Adele não podia estar ainda a dormir. Talvez fosse melhor ir comprovar que estava bem.

Subiu as escadas. Ao aproximar-se da porta do quarto dela, abrandou. Sorriu ao recordar como por vezes roncava suavemente. Era tão doce… E era estranhamente gratificante saber que a perfeita Adele tinha um defeito ínfimo.

No entanto, não se ouvia nenhum ronco naquele momento. De facto, não se ouvia nenhum som.

Abriu um pouco a porta e pestanejou ao ver o quarto anormalmente brilhante. As cortinas estavam abertas e o frio sol de Fevereiro iluminava a cama vazia. Estava perfeitamente feita e as almofadas, à frente da cabeceira, impecavelmente colocadas.

Sentiu um nó no estômago, tal como lhe acontecera ao entrar no quarto há quase um ano e ver o armário vazio, com os cabides nus como ramos outonais.

Depois, encontrara o bilhete seco e breve que o informava de que ia ficar em casa de Mona e que não queria vê-lo. Ele dera meia volta e regressara para os Estados Unidos, consternado pelo facto de a sua esposa o ter abandonado com tanta facilidade. Pelo menos, conseguira convencer Mona de que a aconselhasse a voltar para casa depois de ele ter partido.

Aproximou-se do armário e abriu a porta. Soltou o ar contido ao ver a sua roupa pendurada e agrupada por tipo e cores.

Então, sentiu-se simplesmente confuso ao ver a roupa, mas não Adele.

Virou-se e regressou ao andar de baixo. Estava no último degrau quando ouviu a porta da entrada a abrir-se.

Adele recuou, assustada, e ele perguntou-se o que raios estava a acontecer.

O seu rosto estava vermelho e parecia agitada, algo que raramente acontecia.

Então, um pensamento horrível formou-se na mente de Nick.

– Estiveste a noite toda fora, Adele?

Ela baixou o jornal de domingo que tinha debaixo do braço.

– Acho que isso entra na categoria de «não te diz respeito».

Não lhe dizia respeito? Aquela mulher não existia!

– Continuas a ser a minha esposa!

Ela dedicou-lhe um olhar duro.

– Bom, sempre podemos fazer alguma coisa a respeito disso.

Nick experimentou uma actividade sísmica que pensou que Adele já não pudesse provocar-lhe depois de tanto tempo. Saiu de casa furioso, atravessou o atalho do jardim e entrou no seu atelier, fechando a porta com força.

Não lhe dizia respeito!

Deveria ter ficado para resolver aquele assunto, porém, os seus pés tinham começado a andar antes que o seu cérebro se activasse. E, naquele momento, não tinha vontade de voltar para casa.

– Quais achas que são as minhas possibilidades, Ethel? – perguntou ao manequim que salvara da rua e que ainda mantinha a sua pose num canto do atelier. – Preciso da perspectiva de uma mulher.

Ethel continuou com os olhos azuis cravados na direcção da janela.

Nick suspirou.

– Sim. Obrigado por nada, querida.

Adele trabalhava à frente do computador portátil quando Nick foi ter com ela. Continuava nervosa devido ao confronto do hall. Estivera quase a ceder… quase. Contudo, no final conseguira manter a compostura e Nick nunca saberia como estivera perto de desterrar a sua fúria com um beijo.

Tentou fingir que não tinha consciência da sua presença à porta da pequena sala que usavam como escritório.

– Estou ocupada, Nick – acabou por dizer, sem virar a cabeça.

– Em algum momento vamos ter de falar.

Ela encolheu os ombros e tentou concentrar-se nas palavras que apareciam no ecrã. Nenhuma lhe foi reconhecível. Leu uma frase pela terceira vez e acabou por deixar de tentar.

– Está bem. Falemos – virou a poltrona e cruzou os braços. – Podes começar.

Nick abanou a cabeça.

– Assim não. Vamos para um terreno neutro. O que achas de eu te convidar para almoçar?

Há muito tempo, adorava os longos e ociosos almoços de domingo com Nick. No Verão, sentavam-se no terraço do pub e, no Inverno, faziam-no no interior, à frente da acolhedora lareira. Não queria que nada lhe recordasse dias mais felizes, porém, ele tinha razão. Teriam de falar em algum momento e seria melhor que fosse o quanto antes.

– Está bem, mas pagas tu.

– Certamente.

Nick exibiu as suas covinhas e Adele teve a impressão de que estava a aceitar muitos problemas.

– Então, porquê tudo isto, Nick?

Tinham estado quase o almoço todo a conversar sobre nada em especial. Não tinha a certeza de isso ser um bom ou mau sinal. A única coisa que sabia era que a conversa transcendente começava a irritá-la e que tinha de saber imediatamente o que se passava.

Nick brincou com uma batata assada no seu prato.

– Este ano a minha mãe faz sessenta e quatro anos.

Adele assentiu.

– Eu sei – depois franziu o sobrolho.

O que estaria a tramar? Tentou olhar para ele nos olhos, porém, ele parecia concentrado em juntar todas as ervilhas no seu prato, num canto.

– Como está Maggie?

Fora um pouco cobarde nessa frente depois de ele ter partido. Escondera-se atrás da sua incapacidade para manter correspondência para que o contacto com a família de Nick fosse mínimo. Enviara algumas mensagens de outro correio electrónico e o cartão de Natal habitual, contudo, evitara as mensagens do atendedor de chamadas, fingindo para si mesma que estava muito ocupada com o trabalho. Nos últimos meses, o intercâmbio reduzira-se a quase nada.

A verdade era que estava assustada. Como já não eram um casal, receava que a mãe e as irmãs de Nick se mostrassem distantes com ela. Tal como tinham feito os seus próprios pais. Afinal de contas, só fizera parte da família por defeito. Fora mais fácil fugir de algo profundo do que arriscar-se a comprovar que os seus medos tinham uma base real.

Ele dispersou as ervilhas com a ponta da faca.

– Já conheces a mamã…

Conhecia a mãe de Nick melhor do que a sua própria. O que não era difícil, já que a última vez que vira os seus pais fora há três anos. Mas isso não era fora do comum, pois era assim desde que a tinham enviado para um colégio interno para que a sua mãe pudesse viajar pelo mundo com o seu pai enquanto este andava de um lugar exótico para o outro por motivos profissionais.

Maggie Hughes era o tipo de mulher que fantasiara ter como mãe nos seus anos de adolescente. Tinha a casa cheia de filhas e netos que se queixavam sempre de que os controlava demasiado, embora isso nunca impedisse que fossem visitá-la. Tinha um coração grande e certificara-se sempre de que Adele se sentisse parte da família, sempre querida. Talvez fosse demasiado indulgente com o único filho que tinha, mas ninguém era perfeito.

– Manda-lhe beijinhos quando falares com ela, está bem?

Nick tossiu.

– Bom, estava a pensar que talvez pudesses fazê-lo tu mesma… pessoalmente.

– E quando seria isso, exactamente? Já te esqueceste, agora que tens uma vida tão agitada em Hollywood, que o ano passado foi viver com a tia Beverley? A Escócia fica muito longe para ir beber uma chávena de chá.

– Vai fazer uma grande festa de aniversário. Charlotte está a organizar tudo e, é claro, as minhas outras irmãs também se envolveram.

Adele pôde imaginá-lo. Nick tinha três irmãs mais velhas. E juntas formavam uma força a ter em conta. O único defeito que tinham era a fraqueza que sentiam pelo seu irmão mais novo.

– E o que tem essa festa a ver comigo?

Nick olhou para ela.

– A mamã quer que vás. De facto, insiste em que o faças.

– Porquê? – Maggie sempre fora uma mulher sensata. – Certamente sabe que juntar-nos na festa fará com que se produza uma situação incómoda. Porque haveria de querer arriscar-se a estragar a sua grande noite?

– Eh… bom, é essa a questão. Na verdade, não lhe falei dos nossos…

Adele sentiu que a tensão a invadia um pouco mais.

– Nossos?

– Dos… nossos… problemas.

O prato sobre a mesa dançou à frente dos seus olhos. A sensação de que Nick voltara a fazê-lo, de que voltara a fugir de uma situação difícil, deixando que outra pessoa lidasse com as consequências, acomodou-se junto ao seu ouvido, sussurrando-lhe coisas desagradáveis.

Disse para si que não podia ser tão idiota. Olhou para ele. O seu sorriso confirmou-lhe tudo, já que recorria sempre a ele quando sabia que alguma coisa ia despertar a sua irritação.

Custou-lhe muito não levantar o prato e atirá-lo, com molho e tudo, à sua cabeça. De facto, devia receber uma medalha por ter conseguido levantar-se e sair do restaurante sem sofrer uma combustão espontânea.

Era tão típico de Nick! Perguntou-se porque deixara que abrisse a boca, quando sabia que dela não poderia sair nada bom, mas permitira que ele a abrisse, como a idiota que era.

Pelo canto do olho, viu o brilho de um casaco castanho e soube que Nick conseguira pagar e sair atrás dela.

Não estava preparada para falar com ele naquele momento. Por sorte, tinham decidido ir a pé até ao pub mais próximo para almoçarem. Só demoraria dez minutos a chegar a casa.

Ouviu o som seco das suas botas sobre a calçada. Disse para si que, se mantivesse aquele ritmo, com oito passos ele acabaria por a alcançar. Teria de andar mais depressa.

Nick seguiu-a. Quis correr, porém, uma voz interior sussurrou-lhe que seria melhor deixar que a sua mulher se acalmasse um pouco. Acelerou.

Como ela andava depressa quando se irritava daquela maneira! Demorou mais de um minuto até se situar a uma distância que lhe permitisse falar com ela.

– Adele!

Nem sequer virou a cabeça. Simplesmente, levantou uma mão na sua direcção.

– Vá lá, Adele. Por favor?

Nesse momento, viu-se obrigada a parar à frente de um cruzamento e ele alcançou-a.

– Não! – avisou-o Adele quando ele ia abrir a boca. – Não o faças.

Fechou-a.

– Desta vez superaste-te, Nick. Não posso acreditar que apareças passados nove meses, sem qualquer tipo de contacto, para me convidares para uma festa de aniversário – riu-se e abanou a cabeça. – É um nível novo de insensibilidade, mesmo para ti.

Um momento!

Quantas vezes tentara telefonar e desculpar-se nos dias seguintes à sua partida? Quantas vezes ela lhe desligara o telefone na cara antes que pudesse emitir uma sílaba? Se não tinham comunicado em nove meses, era mais culpa de Adele do que dele. Pelo menos, ele tentara fazê-lo.

No final, fizera o que evidentemente ela queria, deixando-a em paz. E agora culpava-o disso?

– Bom, talvez tu tenhas todas as respostas, Adele, mas eu não.

Ela recuou e olhou para ele.

– O que estás a insinuar?

– Que eu não tenho a certeza do que se passa connosco. O que é? Estamos separados ou realmente foi um longo período de arrefecimento depois de uma discussão? Se eu não consegui decifrá-lo, como vou poder defini-lo a outra pessoa? Tu não aceitavas falar comigo. Não faço ideia do que se passa na tua cabecinha ordenada.

Adele abanou a cabeça e atravessou a rua. Ele teve de esperar que vários carros virassem pela esquina para voltar a alcançá-la. Afastou a sua intenção de esperar até que ela quisesse conversar sobre eles. Esperara nove meses e ia obter as suas respostas nesse mesmo instante.

– Então, o que contaste às pessoas, Adele? Qual foi a tua posição no assunto?

E então calou-se. Sabia exactamente o que teria contado às suas amigas. Mona aproveitar-se-ia do detalhe mais pequeno e teria a certeza de que ele era um vilão, enquanto Adele saía impoluta e a cheirar a rosas. Aquela mulher às vezes era tão teimosa…

Caminhou junto a ela em silêncio. Devia ter ouvido o seu instinto. Adele não estava de humor para oferecer explicações razoáveis e qualquer coisa que dissesse só serviria para piorar as coisas enquanto continuasse naquele estado.

Enquanto esperava que abrisse a porta de casa, as faíscas que saíam dela eram quase tangíveis.

– Vou lá para cima – disse, deixando a porta aberta.

Ele entrou e fechou-a. Apesar das doze horas que dormira, começava a sentir-se cansado outra vez. Foi para a sala e ligou a televisão. Talvez pudesse dormir um pouco.

Adele acabaria por se acalmar. Era o que acontecia sempre. Tinha uma fúria explosiva, mas que geralmente também se consumia depressa. Depois de ligar a televisão, deixou-se cair na sua poltrona favorita. Dentro de quinze minutos, iria preparar-lhe uma chávena de chá como oferenda de paz para que pudessem conversar sem que declarasse a Terceira Guerra Mundial.

Um pouco mais tarde, precisamente quando pensava em levantar-se para pôr a chaleira ao lume, ouviu-a descer as escadas. De facto, ouviu uma série de ruídos, depois «tump, tump, tump», como se houvesse duas pessoas a descer cada degrau.

Chegou ao hall mesmo a tempo de a ver lutar com a sua mala nos últimos três degraus.

– Adele? O que raios estás a fazer?

Ela parou, em parte para responder e em parte para recuperar o fôlego. Doíam-lhe os braços. Perguntou-se como podiam umas quantas camisas enrugadas pesar tanto.

– Pensei que era bastante óbvio, não? Estou a expulsar-te daqui.

A expressão da cara dele era clássica. Se não estivesse disposta a matá-lo, desataria a rir-se.

– Não podes expulsar-me. Eu também vivo aqui.

– Já não. Podes procurar outra pobre desgraçada para enganar. Para mim, acabou-se.

Ao compreender as implicações das suas palavras, perguntou-se se realmente quatro anos de casamento tinham chegado àquele ponto. Olhou para Nick e sentiu-se pior, pois as suas palavras tinham-lhe apagado as covinhas da cara. Devia sentir-se satisfeita por ele finalmente ter compreendido, porém, de repente, sentiu lágrimas nos olhos.

– Lamento muito, Adele. A sério. Devia ter dito à minha mãe… qualquer coisa – abanou a cabeça. – Mas ela ama-te como a uma filha e não quis perturbá-la. Não está muito bem…

Engoliu o resto da frase e ela sentiu o coração apertado ao vê-lo lutar com as palavras.

– Esteve… quer dizer, ia sentir-se muito triste por nós. Não quis dizer-lhe até ter a certeza de que não havia nenhuma esperança.

Nenhuma esperança.

Os seus lábios tremeram e ela apertou-os para o esconder. Nick dedicou-lhe um sorriso triste. O sorriso que realmente a magoava. Era perturbantemente verdadeiro.

As suas defesas começaram a cair. Não acabava de dizer que não sabia como definir a sua relação? Isso significaria que ainda não tomara uma decisão, que afinal de contas, talvez não quisesse o divórcio?

E mesmo que o quisesse, porque devia castigar Maggie pelo abandono do seu filho? Apesar de talvez não haver uma luz para Nick e para ela ao fundo do túnel, não queria causar ressentimentos na sua família.

Respirou fundo e soltou o ar. Família. Durante quatro anos, fizera parte de uma família e isso fora maravilhoso. Telefonemas no dia do seu aniversário. Almoços dominicais repletos de pessoas. O mundo ia parecer horrivelmente vazio quando tudo isso desaparecesse para sempre.

Fechou os olhos. Não. Tinha de ser forte. Não podia ceder naquele momento. Perder a última oportunidade de os ver a todos, de se despedir de todos, era o preço que tinha de pagar para que a sua prudência e o seu coração permanecessem intactos.

Devia concentrar-se no facto de, mais uma vez, ele lhe pedir que deixasse tudo para ir atrás dele. E não havia garantias de que não voltaria a abandoná-la depois de tudo acabar. Não mencionara o seu desejo de voltarem a estar juntos. Só precisava dela para que lhe salvasse a pele.

Era uma pena. Que se salvasse sozinho.

Ele não fazia ideia da tortura pela qual passara quando ele se fora embora. Tinha de recordar aquele lugar negro e todos os motivos pelos quais nunca queria regressar para lá.

Portanto, deixou que essa escuridão alimentasse a sua fúria até que ferveu. E então arrastou a mala pela curta distância que havia até à porta e atirou-a para o caminho do jardim. Quando Nick soltou um estrangulado «eh!» e foi atrás dela, fechou a porta à chave.

Não parava de carregar nos botões do telecomando da televisão e, pela enésima vez, perguntou-se porque não havia nada bom para ver. Tinha mais de cinquenta canais entre os quais escolher. Devia haver algo levemente interessante em alguma parte. Até um filme demasiado sentimental seria melhor do que nada.

Eram quase três da manhã.

Bocejou. Normalmente, já estaria há horas na cama, porém, nessa noite não conseguia acalmar-se o suficiente para se convencer de que, se se deitasse, acabaria por adormecer.

Mona diria que estava envolvida no seu próprio desgosto. Possivelmente, teria razão.

No entanto, era permitido que uma mulher se perdesse na autocompaixão depois de expulsar o homem que amava para sempre da sua vida.

Atirou o comando sobre o sofá e tentou concentrar-se na repetição de uma comédia.

Não fazia sentido negá-lo. Amava Nick. Se não, não a enlouqueceria em todos os sentidos. Não fazia sentido enganar-se dizendo para si que também estava a expulsá-lo do seu coração, pois ele estava firmemente cravado nele.

No entanto, isso não significava que conseguissem construir uma vida juntos.

Tinham prioridades diferentes. Não, era mais do que isso. Eram tão completamente diferentes que se perguntou como as coisas podiam ter durado quatro anos. Cinco, se contasse com o ano antes de se casarem. E depois havia o ano anterior a esse, quando Nick a perseguira com tanto afinco e em que ela o rejeitara até que acabara por a vencer pelo cansaço e a fizera rir-se.

Fora muito firme com ele. Um encontro… apenas isso.

No entanto, acabara por descobrir que um encontro não era suficiente. Ou pelo menos era o que lhe parecera na época. Talvez tivesse sido melhor se tivesse ouvido os alarmes da sua cabeça cada vez que Nick estava por perto.

Suspirou e olhou para a sala. Era uma tolice sentir-se tão desolada diante da ideia de se despedir de Nick para sempre, já que tomara aquela decisão há meses.

A luz do atendedor de chamadas estava a piscar. Sentiu um aperto no coração. Nick?

Carregou na tecla e esperou pela mensagem.

– Olá, Nick. Sou eu, Debbie – ouviu.

A irmã número dois.

– A mamã pensou que talvez já tivesses voltado. Espero que a mudança de horário não seja muito má. Bom, só queria dizer-te que a mamã superou a sua pior sessão de quimioterapia, portanto há luz verde para a festa. Telefona-me e dar-te-ei conta dos progressos. Diz a Adele que há um bolo de chocolate com o nome dela à espera. Adeus.

Quimioterapia? A mãe de Nick tinha cancro? O chão pareceu tremer debaixo dos seus pés. Maggie não podia morrer. Era demasiado vital. Por que razão Nick não lhe contara?

«Porque nunca lhe deste uma oportunidade», sussurrou-lhe uma voz na cabeça. «Estavas demasiado ocupada a sentir pena de ti mesma. Afastaste-o enquanto sofrias e depois, quando estavas preparada para ouvir, ele já se tinha rendido». E fora demasiado orgulhosa para lhe telefonar e arriscar-se a voltar a perdê-lo se a rejeitasse. Já perdera demasiado. Fora mais fácil culpá-lo.

Se pelo menos pudesse telefonar-lhe naquele momento. Devia sentir-se muito mal. Contudo, expulsara-o sem pestanejar e não fazia ideia de onde podia localizá-lo.

Tinha um amigo que mantivera de forma constante desde os tempos da universidade… Como se chamava? Kelvin? Connor? Não, Callum. Exacto. Porém, vira-o apenas duas vezes e não sabia onde vivia nem tinha o seu número de telefone.

Deixou-se cair no sofá e apagou a televisão. A sala ficou na escuridão, mas permaneceu ali com o olhar cravado no vazio durante o que lhe pareceram horas.

Depois, ouviu um estalo continuado na porta dianteira. Susteve a respiração. Atribuiu-o ao vento. Tentou ouvir mais alguma coisa, mas reinava o silêncio. Além disso, a porta tinha duas fechaduras. Estava prestes a soltar o ar contido quando ouviu o ruído outra vez.

Não era apenas um estalo seguido. Pôde ouvir a fechadura ao virar. Arrepiou-se e sentiu um nó no estômago, mas não conseguiu mexer-se. A única coisa que pôde fazer foi aninhar-se num canto do sofá e tentar conter o ritmo da sua respiração.

Se Nick estivesse ali!

Depois, ouviu o som que receara: a segunda fechadura fez um «clique» e ouviu o som da porta ao abrir-se. Com todo o silêncio que conseguiu, levantou-se do sofá e escondeu-se atrás da poltrona. Os seus tornozelos também rangeram quando se baixou e teve a certeza de que o ruído fora tão sonoro como um disparo.

Havia alguém na casa! Começou a tremer. O telefone. Precisava do telefone.

Mas estava no outro extremo da sala e o intruso avançava pelo corredor para a porta da sala. Não podia arriscar-se. E, mesmo que conseguisse chegar até ao aparelho, ouvi-la-ia a fazer o telefonema.

Espreitou por trás da poltrona precisamente quando a porta da sala se abriu. Uma sombra mexeu-se na sua direcção e ficou paralisada.

A meio da noite - Segura nos seus braços

Подняться наверх