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A ORIGEM DO NATAL

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Vocês podem achar difícil de acreditar, mas o Natal é na verdade... uma festa pagã. Melhor dizendo, era uma festa reservada a bruxos e bruxas que costumavam dançar em torno de uma árvore ou, mais provável, em torno de círculos de pedra no dia do solstício de inverno no hemisfério norte - 22 de dezembro. Era uma celebração orgiástica, com danças, uso de ervas e sexo, com o objetivo de obter o favor dos deuses no período do inverno, que nos tempos antigos era muito assustador.

A origem? Alguns dizem que veio da cultura druida e que suas raízes eram celtas. Se vocês já leram as histórias em quadrinhos de Asterix e Obelix, podem também ter uma ideia, mesmo que divertida, da complexidade da tradição esotérica que acompanhava esses povos. Estavam localizados nas Ilhas Britânicas no período que vai do século IV ao III A.C.; mas também estavam espalhados em longas expansões, como na Itália, na Península Ibérica e na Suécia. Nós os conhecemos como BRETÕES e provavelmente o que nos atrai mais sobre seu passado é o mistério de Stonehenge, mais até do que suas tradições religiosas. E é deste povo extinto que vem toda a magia e encanto do Natal, a mesma que ainda sentimos hoje em dia.

Os romanos, que derrotaram e colonizaram os celtas em várias ocasiões, assimilaram seus costumes e tradições, e foi assim que a celebração do solstício de inverno se tornou uma tradição do Império. Na verdade, a celebração do solstício de inverno está um pouco presente em todas as culturas: nos tempos antigos os ciclos naturais eram bem observados e o fato do dia mais curto (e, portanto, o aparente “abandono do sol”) cair por volta do dia 21 de dezembro representava um fato conhecido, mas não considerado "determinado". O sol era um Deus vívido; e como todos os deuses, sujeito a excessos, rancores e atos violentos. Era, portanto, necessário agradá-lo para que ele continuasse a dar calor ao homem. Os dias imediatamente seguintes à 21 de dezembro eram, portanto, vividos pelos primitivos com terror e medo, especialmente quando a luz inevitavelmente se tornava mais fraca e as noites mais longas. A certeza de que o sol retornaria e que um novo ano se abriria para a humanidade acontecia apenas em 25 de dezembro, o dia em que, devido a várias leis astronômicas que não estou aqui para explicar, o sol parecia "renascer" poderoso e vitorioso.

Simplificando, o sol vivia um novo "Natal". Esta interpretação simples talvez explique o sucesso das celebrações relacionadas ao solstício de inverno que encontramos em muitas culturas espalhadas pelo mundo.

Quando os romanos "reciclaram" as danças pagãs, estavam na verdade propondo algo óbvio e esperado pelo povo. Depois dos romanos, vieram os cristãos que, ao combinar as danças pagãs cheia de símbolos representativos com a divindade de Cristo e a virgindade de Maria, estavam na prática conectando sua religião a mitos e costumes muito mais antigos. A virgem com o menino, na verdade, não é uma herança cristã.

No Egito, por exemplo, 2000 anos antes do nascimento de Jesus, o deus Hórus (o Sol) foi retratado como uma criança nos braços da deusa Ísis (a Lua), que era mãe e irmã. Mesmo antes, na Pérsia, o mito de Deus Mitra nos deveria fazer refletir: parece que nasceu de uma virgem, teve doze discípulos e, acima de tudo, que foi chamado de "O SALVADOR"! O Deus Sol babilônico TAMMUZ não é menos surpreendente: também foi representado nos braços da Deusa mãe ISHTAR, tinha um halo formado por doze estrelas, o que representava os 12 signos do zodíaco. (12 como os discípulos de Cristo, percebem?) Parece que ele também morreu e ressuscitou depois de três dias... e isso em 3000 A.C.

Me abstenho de comentar sobre os rituais cruéis de Dionísio, em que o Deus criança foi literalmente despedaçado por mulheres loucas, apenas para renascer mais bonito e forte do que antes; e faço referência a apenas um Deus Sol da península de Yucatan, também nascido das virgens CHRIBIRIAS. Porém, quero enfatizar que os rituais que acompanharam o solstício de inverno não diziam respeito apenas a esse hemisfério, mas também ao outro, já que até os Incas celebravam o Deus Sol VIRACOCHA no inverno do hemisfério sul, ou seja, 24 de junho!



FOTO 1) Aqui está a extraordinária semelhança entre a Deusa Ísis e a Virgem Cristã. São diversas as semelhanças: o que chama a atenção é a centralidade de suas figuras na religião pagã e cristã. Ambas foram consideradas mortais, virgens e ligadas à figura do "Salvador", Hórus para Ísis e Cristo para Maria, que a iconografia clássica resume como a criança que seguram nos braços e que ambas amamentam.

No fundo, somos todos iguais. E todo mundo celebrava alegremente um Natal cheio de danças e canções, entre um abraço e uma bebida, até que o cristianismo chega para estragar tudo. Obviamente foram proibidos o sexto e outras partes agradáveis da festa, pois não correspondiam à imagem da pureza de Maria; mais tarde, as proibições foram estendidas à dança, considerado o "dom do diabo". E, finalmente, decidiram substituir as canções pagãs que ainda louvavam estranhas divindades do passado, pois confundiam as pessoas com as divindades cristãs.

O primeiro a fornecer um texto original foi o bispo romano, em 129 D.C., que forçava fiéis a cantar um HINO DO ANJO no Natal; a Igreja Ortodoxa, para não ficar para trás, produziu um HINO DA DIVINDADE em 720 D.C. por meio de um certo Comas de Jerusalém. Com isso, a escrita de textos religiosos para serem cantados no Natal tornou-se de fato uma profissão, que era reservada aos monges. Foi no século IV que tomaram a iniciativa de estabelecer a data do nascimento de Jesus em 25 de dezembro, de maneira a combater as ainda numerosas celebrações do solstício de inverno. Na realidade, nenhum dos Evangelhos se refere a um momento preciso quando se trata do Nascimento. Jesus nasce e ponto. Os teólogos tomaram como exemplo o censo, não ignorando o fato de que os romanos tinham uma verdadeira paixão pela "contagem" de seus súditos, que adoravam realizar censos também por razões de planejamento e controle. Substituir as celebrações pagãs com o nascimento de Nosso Senhor foi, portanto, um e brilhante golpe de mestre.

No entanto, as pessoas não apreciaram imediatamente a mudança: a vida era curta e difícil demais para acabar com um dos poucos momentos do ano para extravasar. Condenados ao jejum e à moderação dos costumes, os novos cristãos refugiaram-se em canções populares que, tendo o mérito de serem cantadas em sua língua nativa, eram facilmente compreensíveis e memorizadas por todos. A Igreja, na verdade, obrigou a plebe a decorar cânticos em latim, e as celebrações eram conduzidas entre um povo triste e sério que tentava murmurar palavras que não compreendiam o significado.

Muitos Bispos paleocristãos se opuseram a essa situação, como por exemplo Santo Ambrósio. Ele inclusive adaptou o texto VENI, REDEMPTOR GENTIUM à música popular de origem pagã para que o povo, mesmo não conhecendo o texto, pudesse ao menos cantarolar a música. Mas foram casos isolados. Entre anátemas e ameaças de excomunhão, a Igreja Católica conseguiu compor uma verdadeira antologia musical que foi imposta ao povo, e que conseguiu sobreviver até a Idade Média. Certamente, o povo não ficou feliz. No início dos anos 1200, as pessoas perderam o desejo de celebrar o Natal, e o nascimento de Nosso Senhor passou apático entre famílias carrancudas, cuja única transgressão consistia em finalmente poder comer um pedaço de carne após o longo jejum do Advento. Um dos santos mais atentos e reformadores do catolicismo, São Francisco de Assis, percebe esse problema e decide ressuscitar a alegria extinta para reaproximar o povo do céu.

Entendendo as dificuldades dos pobres, ele cria uma espécie de celebração viva do nascimento de Jesus, com uma manjedoura e protagonistas que, diferentemente do que se acredita, não estavam ali para serem admirados, mas para cantar as estrofes tradicionais nunca esquecidas, acompanhadas de assobios e gaitas de fole, narrando brevemente a história do Nascimento. Era uma semana inteira de preparação para o Natal, com jogos e competições, assim como sorteio de prêmios pela melhor preparação do presépio. Tudo culminava em 25 de dezembro, quando começavam danças ao ar livre, que tinham como objetivo dissipar a crença de que as danças em honra de nosso Senhor eram pecaminosas. Deve ser dito que, à primeira vista, a Igreja não aprecia a mudança, mas a reputação de santidade de Francisco era tão pura e intocável que o Papa não se importa; além disso, o alegre costume já havia cruzado fronteiras, e desembarcado na França, Espanha e Alemanha, fazendo tanta propagando do cristianismo que proibi-lo teria sido certamente um tiro no pé.


FOTO 2. Frequentemente Francisco participava das apresentações teatrais do Natal, colocando no meio da noite um bebê recém-nascido na manjedoura, e ao mesmo tempo celebrando a Santa Missa. Deste modo, a população ignorante era educada sobre os mistérios do nascimento de Jesus e da virgindade de Maria de maneira simples e eficaz.

Assim, na Europa, ao lado dos cânticos estritamente em latim da Igreja, o Natal passa a ser celebrado com canções em língua comum, cada vez mais precisas e complexas, que eram então ensinadas e divulgadas ao povo por menestréis e pastores. O termo CAROL é de origem francesa, e indica precisamente a canção profana ligada ao Natal, muitas vezes acompanhada de danças e festas. Não temos nada escrito sobre as primeiras canções folclóricas do final da Idade Média, uma vez que as canções se espalhavam via oral, e não eram transcritas.

A canção mais antiga registrada vem da Inglaterra, datada de 1470 e foi a primeira versão de I SAW THREE SHIPS. Devo dizer que a Inglaterra liderava o setor canções de Natal, com um povo entusiasta e bem organizado que reunia os primeiros cantores solo, chamados WAITS (ou seja, aqueles que esperam). E esperavam o ano todo porque, acompanhados por músicos profissionais, visitavam vários países levando a música de Natal e vivendo em esmolas. Estes foram os primeiros artistas de rua que a tradição se recorda e, quando chegavam, traziam alegria e as boas novas. Com a aproximação do Natal, eles retornavam ao seu país natal, onde representantes das aldeias os acompanhavam em suas apresentações.

Foi por isso que os WAITS se tornaram WAITNIGHT, já que, vestindo roupas de Pastor, eles cantavam a noite toda olhando as estrelas, em memória aos primeiros pastores que lotaram a manjedoura de Jesus. Dada a dureza do clima, esse definitivamente não era um costume saudável, o que provavelmente estimulou a criação dos primeiros presépios de madeira. Assim, famílias inteiras, ou até mesmo toda a população de uma aldeia (caso fossem construídos em tamanho natural), se reuniam para fazer a vigília na véspera de Natal. Esses "presépios gigantes" ficavam em estábulos enormes, o que garantia tanto a saúde física quanto a espiritual das pessoas. A tradição se intensificou ao ponto de forçar as Igrejas da Europa a se adaptar, permitindo que o povo celebrasse o Natal com as suas próprias canções. Houve, portanto, um período em que, embora a Missa fosse celebrada em latim, se cantavam coros canônicos ao lado de canções populares que narravam, em linguagem comum, o nascimento de Jesus. Essas canções deixaram de ser consideradas pecaminosas. Um povo feliz lotava as igrejas que, por isso, acendiam milhares de velas; de fato, o povo ficava feliz duas vezes, porque as velas acendidas eram feitas de sebo de animal, e uma vez apagadas eram dadas às centenas de fiéis famintos que... as comiam imediatamente após a missa! Sim, a vida era difícil na Idade Média!

FOTO 3. Um dos costumes mais comuns na Idade Média na Inglaterra era celebrar o Natal com grandes banquetes em que o prato principal era o pavão vivo. O belo pássaro era previamente abatido e cuidadosamente esfolado, de modo a não estragar a plumagem. Era em seguida recheado com ovos e especiarias e depois assado. Finalmente ele era "coberto" com sua pele e adornado com ouro. Chegando na América, os frades peregrinos substituíram quase de imediato o pavão pelo peru, que se tornou o símbolo gastronômico do Natal americano.

Os tempos de alegria durante o Natal foram, no entanto, curtos: a Santa Inquisição na Espanha e na Itália voltou a proibir e combater canções e danças, pois diziam que vinham do diabo e causavam tentação para a carne. A Alemanha e a Inglaterra, abraçando a nova onda de Protestantismo, fizeram com que a população mergulhasse numa austeridade ainda mais profunda. Até mesmo a França Católica, agora oprimida por governantes de origem espanhola que chegavam ali por meio de casamentos políticos munidos de crucifixos e rosários, perde a sua natureza dançarina. Em toda essa escuridão, o povo não esquece as canções de Natal, cantando-as em privado como sinal de protesto. Isso ocorre especialmente na Inglaterra, devido a influência de Oliver Cromwell e suas leis puritanas, que levaram austeridade até mesmo às colônias americanas.

Em 1730, O Reverendo Mather denunciou um escândalo de um "costume deplorável" na Província da Baía de Massachusetts em que, na noite de Natal, as pessoas jogavam cartas, brincavam à mesa e "cantavam canções vulgares" sobre o nascimento de Jesus! Essa foi uma moda que ganhou cada vez mais terreno e que, como em qualquer tradição que se dê ao respeito, tem seus heróis nas centenas de trovadores que, apesar das leis inglesas, coletaram todas as canções populares sobre o Natal antes de desembarcar no novo continente e difundir a palavra! O costume dos WAITS não apenas se espalhou, como também foi melhor estruturado com grandes produções teatrais que, nas idas e vindas entre a Inglaterra e as Américas, voltaram ao ponto de partida. Na verdade, a maioria das antigas canções de Natal que cantamos até hoje, como o Stille Nacht (Noite Feliz) ou What child is this? foram escritas na segunda metade de 1700.

Com o caminho livre, grandes potências surgiram: em 1822, o congressista e historiador DAVIES GILBERT publicou uma antologia de canções antigas de Natal, seguido por WILLIAM SANDYS, que divulga algumas canções históricas, como THE FIRST NOWELL ou HARK! THE HERALD ANGELS SING. O golpe final foi dado na época vitoriana, quando a rainha puritana que cobria até mesmo as pernas das mesas com uma saia se casa com o belo e alemão príncipe Albert.

Ele era um amante das músicas antigas de Natal e se empenhou muito para reorganizar as Festas, dissolvendo a imagem de "celebração fúnebre" para reviver seu antigo esplendor. Nasce assim um Natal em perfeito estilo laico, que se espalha como incêndio ao redor do mundo e deixava as pessoas ansiosas pela chegada da festa. Desde então, ao lado dos presépios e árvores decoradas, as canções foram enriquecidas com novos simbolismos que marcaram a mudança dos tempos. Entram em cena a neve, o visco, as renas e o Papai Noel que, aproveitando as tradições muitas vezes desconhecidas de cada país, tornam-se patrimônio público no Natal.

As diversas canções de Natal se tornam, em seguida, um excelente negócio para a indústria do cinema, para as gravadoras e canais de televisão. Milhares de autores enriqueceram-se produzindo verdadeiros sucessos que ainda nos fazem chorar e sonhar, como o WHITE CHRISTMAS ou THE CHRISTMAS SONG.

Todavia, como tudo na vida, essa onda de sucesso passou e o mercado mudou. Hoje tudo o que ouvimos de Natal são simples regravações de canções do passado, e o pouco que há de novo não entra para a história. As tradições estão desaparecendo, as Festas se resumem a um comércio estéril e as pessoas parecem ter perdido o desejo de cantar.

Por quê? Onde está o espírito do Natal? O perdemos?

Canções De Natal Na Velha América

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