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Оглавление- Breve resumo sobre os povos mencionados nessa antologia.
Novamente agrupamos os povos da China em oito grandes grupos etno-linguísticos.
1. De idiomas sínicos.
Chineses ou Han
São em torno de 1.200 milhões de pessoas que vivem por toda a China, especialmente no centro e no leste do país. Nas regiões periféricas, especialmente no oeste da China atual, vivem misturados com outros povos, alguns dos quais são mencionados a seguir. É possível que tenham sido sociedades matriarcais antigamente. Há fatos que sugerem um papel mais elevado da mulher em tempos passados, como o caráter de “sobrenome” que se traduziria literalmente como “nascida mulher”. Ao longo da história chinesa o papel da mulher foi-se degradando, como acontece com os povos que estão sob sua influência cultural. Sobre eles traduzimos A criação da humanidade por Nuwa e algumas histórias locais que documentam o fim da dominação feminina.
2. De idiomas tibeto birmaneses
Neles é contínua a presença da mulher com papel relevante; o fim do poder feminino poderia ser traçado estudando a história de seus povos. Os reinos das mulheres que mencionam os escritos chineses clássicos, possivelmente foram de idioma tibeto birmanês.
Yi
Mais de sete milhões de pessoas que vivem no sul das montanhas de Sichuan e em toda a província de Yunnan. Diversos testemunhos históricos falam da existência de chefes mulheres entre eles. Têm uma escritura própria na qual se conserva uma rica literatura de caráter sagrado utilizada por seus xamãs ou pimos em diferentes cerimônias de culto à natureza. Em vários dos seus mitos de origem, a criação do mundo e da humanidade é obra de uma divindade feminina, como em Ahexinimo ou na Mãe Ancestral Xini, dos Yi de Yunnan. Sobre eles traduzimos alguns fragmentos que emprestam as contribuições femininas à civilização e duas histórias interessantes sobre o fim do poder feminino: Cuoriapu conquista o Reino das Mulheres y Shilaete tem um pai.
Nu
São em torno de 12.000 pessoas que vivem isoladas nas margens remotas do rio Salween (Nujiang na China). A Deusa da Caça, cuja história apresentamos aqui, é uma das suas divindades mais importantes.
Pumi
São em torno de 35.000 pessoas. Vivem espalhados nas montanhas no noroeste de Yunnan e no sudeste de Sichuan. Adoram à deusa Bajingjimu, em torno da qual eles construiram sua religião Dingba. Eles também acreditam no lamaísmo tibetano. Sobre eles traduzimos A origem dos povos, e A lenda da deusa Tana.
Hani
São alguns dos milhões de pessoas que vivem na província de Yunnan e em outros países do Sudeste Asiático. As genealogias dos Hani foram contadas por linhagem feminina até cerca de 30 gerações atrás. Seu festival mais importante, Amadu, agora proibido às mulheres, era dedicado antigamente à uma divindade feminina. Além do mais, conta com várias histórias em que a criação da humanidade é realizada por uma divindade feminina, como em A mãe Taporang ou em A deusa Ema, que apresentamos aqui.
Jino
São somente 20.000 pessoas que vivem em uma dezena de aldeias no extremo sudeste da China, na Prefeitura de Xishuangbanna. Há inúmeras provas da existência de uma sociedade matriarcal entre os Jino até poucas gerações atrás, como seu nome, que significa “descendentes do tio” e se refere ao papel do tio materno na sua sociedade, uma característica que ainda aponta a importância da mulher em sua família; ou o nome das suas aldeias que deriva geralmente de uma figura feminina ancestral. Diversas histórias narram o fim do poder feminino entre eles. Dos Jino traduzimos seu mito da criação (Amoyaobai) e o que explica o culto a uma de suas divindades, A origem das oferendas aos ancestrais.
Jingpo
São em torno de 130.000 pessoas que vivem perto da fronteira birmanesa (na Birmânia são conhecidos como Kachin). Uma das suas cerimônias mais importantes é celebrada a cada três anos em homenagem a Deusa da Terra. O mito que traduzimos, A Deusa do Sol, mostra uma divindade feminina preocupada com a igualdade entre as pessoas.
Lisu
Um milhão de pessoas que vivem no sudeste da China (província de Yunnan) e em outros países do sudeste asiático. Cada um dos clãs em torno dos quais a sociedade Lisu está organizada traça sua origem através de um antepassado ancestral. Alguns dos mitos e rituais apresentam características de um tempo em que as mulheres eram mais importantes do que os homens. As divindades dos rios ainda são femininas entre esses clãs. O breve conto que traduzimos, Como os homens ficaram inteligentes, nos mostra o momento em que as mulheres perdem seu papel dominante.
Baima
Também conhecidos como Baima zangzu, (Tibetanos Baima), ou Tibetanos de Pingwu (distrito onde vivem), é um dos grupos étnicos ainda não reconhecido oficialmente na China. São em torno de 10.000 pessoas com uma cultura antiga que faz relação com os povos Di que viviam na zona rural, há séculos atrás. Alguns autores asseguram que o Reino das Mulheres que mencionam nas crônicas da dinastía Tang foram constituídos por Baima.
3. De idiomas Zhuang –Dong
Os povos da família Zhuang-Dong ainda guardam um papel importante para as divindades femininas. Contudo, há grandes diferenças entre os que vivem nas regiões meridionais, cuja cultura foi profundamente influenciada pelo budismo theravada, e os que vivem nas regiões setentrionais (sempre dentro de zonas tropicais ou subtropicais) que conservam melhor seu mundo espiritual, tendo recebido mais influências da cultura chinesa. São todos povos das terras baixas, dedicados ao cultivo do arroz, que vivem perto da água.
Dong
São quase três milhões de pessoas que vivem em uma faixa que se estende pelo sul da China, ocupando parte das províncias de Hunan, Guizhou e Guangxi. Criou-se um grande debate em torno da sua criação sobre a origem e o desenvolvimento do culto à Shatianba. A verdade é que, seja ela originária da remota antiguidade ou se sua aparição é mais recente, ela impregna todos os aspectos da vida espiritual dos Dong, como testemunham seus templos das aldeias e sua festa principal celebrada em sua homenagem. Sobre eles traduzimos o mito A criação pela deusa Shatianba.
Dai
São em torno de 1.200.000 pessoas na China, com várias ramificações bem diferentes. Os povos relacionados com eles formam a população majoritária no Laos e na Tailândia.
O budismo chegou às terras dos Dai há quase mil anos. Desde então, mudou-se todos os aspectos da sua vida e cultura. No entanto, ainda são encontrados vestígios da cultura anterior, como a presença entre eles de mulheres civilizadoras, dos quais traduzimos vários contos e especialmente a história da Deusa do Arroz, que ilustra a adaptação sincrética realizada pelas religiões tradicionais e o budismo. Sua festa mais importante é o Ano Novo Dai, que relembra as façanhas de um personagem feminino.
Shui
Os Shui são 400.000 pessoas que vivem na província de Guizhou no sul da China. Entre os Shui descobrimos que a sua história da criação é protagonizada pela deusa Yaxian, cuja história traduzimos nessa obra. Além dessa deusa, há diversas divindades femininas que se encarregam, especialmente, de proteger a saúde das mães e seus filhos, e as que são convocadas em caso de doença.
Zhuang
São mais de 17 milhões de pessoas que vivem principalmente na Região Autônoma Guangxi dos Zhuang. No seu cotidiano há vários vestígios de um culto no passado às deusas e de uma simbologia genital feminina, como vemos nas suas cerimônias em homenagem às cavernas. Seu poema de criação é Buluotuo, que mostra um deus masculino. Nos últimos anos, as pesquisas trouxeram à tona uma série de escrituras sagradas chamadas Mo, tanto entre os Zhuang quanto entre os Buyi, que a partir da história da criação de Miliujia, que traduzimos aqui, apresentam um rico mundo espiritual de culto à deusa.
Entre os Buyi, intimamente relacionados a eles, existe uma complexa mitologia em torno da deusa, em cuja honra se celebram algumas das cerimônias mais importantes.
4. De idiomas Miao Yao
Miao
Cerca de 7 milhões de pessoas que vivem no sul da China e nos países do sudeste asiático. Os chamados Miao na China incluem ao menos 4 povos bem diferentes, que são, segundo Lemoine21: Hmong, A Hmao, Mhu ou Hmu e Qho Xiong. A maioria dos estudos realizados depois da fundação da República Popular da China misturam esses diferentes grupos em uma única entidade Miao, o que não facilita no que diz respeito ao conhecimento da cultura de cada um deles. A maioria do povo Miao, especialmente os Hmong, desenvolveu padrões culturais que dão mais importância aos homens, uma vez o culto aos ancestrais é mantido pela linhagem masculina, e esse culto é básico para o renascimento dos antepassados e, portanto, para a correta ordem espiritual da família e da sociedade. Ainda assim, identificam-se em seus mitos e lendas tradicionais diversos vestígios de um tempo em que o papel da mulher era o mais importante.
Entre os Miao de Wenshan (na província de Yunnan), as divindades femininas desempenham um papel preponderante na criação. Entre os Chuang Miao identifica-se a figura do principal ancestral como a primeira mãe.
A mãe borboleta, como criadora da humanidade, desempenha um papel importante entre alguns grupos de Miao.
Yao
Os Yao são um grupo de povos que vivem nas regiões montanhosas do sul da China e dos países do Sudeste Asiático. Cerca de 2 milhões de pessoas linguisticamente relacionadas com os Miao (Hmong), também compartilham com eles uma origem misteriosa que nem a linguística nem a mitologia conseguiram desvendar até o momento. Acredita-se que são provenientes das margens do rio Yangtze, mas como dissemos, sua origem segue sujeita a intensa especulação.
Supõe-se que a maioria dos grupos Yao têm uma origem em comum, embora não se descarte que, alguns povos incluídos entre eles não estejam tão relacionados assim como se pensa. De fato, os Yao geralmente cultuam seu ancestral divino Pangu, um cachorro que comete uma série de atos heroicos para salvar o reino, pelo qual é recompensando com a mão da filha do rei, com quem da origem aos Yao. Somente os Bunu não têm em sua mitologia a história de Pangu. A criação do mundo, entre eles, é a obra de um personagem feminino: Miluotou. Os Bunu são cerca de 400.000 pessoas que vivem na província de Guangxi.
5. Povos turcos.
Os Uygures, o mais numeroso dos povos turcos da China, vivem há 15 séculos na Rota da Seda, o que os permitiu receber profundas influências religiosas e culturais dos povos da Ásia Central. Zoroastrismo, budismo, maniqueísmo e finalmente islamismo, são algumas das religiões que surgiram nas terras atualmente habitadas pelos Uygures. A Deusa do Céu cria o mundo, é o mito que traduzimos, que sugere que no passado a mulher pode ter desempenhado um papel mais elevado na sociedade.
6. Povos mongóis
Há certos relatos históricos que sugerem o culto às deusas entre os mongóis. A importância que tem entre eles as udugan ou xamãs femininas (literalmente criadoras), faz pensar o mesmo. O mito de Maider cria o céu e a terra dos mongóis Oiratos é uma prova desses cultos antigos. A bondade da deusa também serve para ter uma ideia do importante papel que desempenhavam as deusas nas suas lendas antigas.
7. Povos Man Tungus
São povos que vivem nas florestas no sul da Sibéria e no norte da China. Eles possuem grandes semelhanças culturais, mesmo depois das transformações políticas que levaram os Manchúes a conquistar o trono chinês estabelecendo a última dinastia Qing, algumas características culturais variam muito. Em seus mitos mais antigos as deusas e divindades vindas do céu exercem o papel de protagonista na criação do gênero humano e no desenvolvimento da humanidade.
Manchúes
Oficialmente são dez milhões de pessoas que vivem no norte e nordeste da China, mas há somente alguns milhares que conservam os traços da cultura tradicional, os demais se adaptaram à cultura chinesa. No entanto, muitos de seus mitos e crenças antigas estão refletidos em documentos chineses. Os mitos que traduzimos, Baiyungege, A guerra do paraíso e Fugulun, nos mostra um olimpo que era tradicionalmente habitado por 300 deusas, e um dualismo entre as forças do bem, representadas pelas deusas, e as forças do mal, representadas por um diabo masculino.
Ewenki
Com apenas 30.000 pessoas são o último povo caçador da China. A lenda da criação do mundo, que apresenta uma série de motivos em comum com outros povos vizinhos, concede a uma deusa o protagonismo.
Elunchun
Com uma população de somente 8.000 pessoas, são um dos povos menos numerosos da China. A Menina do Sol, origem dos Elunchun é mais uma das muitas lendas que nos contam sobre a origem da humanidade a partir de um personagem ancestral feminino.
8. Povos Austronésicos.
Longe da cultura chinesa nas fronteiras distantes com a Birmânia, os povos que falam idiomas austronésicos receberam pouca influência chinesa, e tarde, geralmente na segunda metade do século XX. Oficialmente só existem três minorias nacionais de idioma austronésico: os Wa, Deang e Bulang. Mas cada uma dessas minorias tem tantas ramificações diferentes que podemos falar de alguns grupos étnicos. Todos eles compartilham importantes semelhanças culturais.
Deang
Vinte mil habitantes que vivem no sudeste de Yunnan. Sobre eles incluímos uma história que conta como surgiram as três ramificações dos Deang a partir de uma antepassada em comum, e umas lendas sobre o fim do poder das mulheres.
Wa
Vivem na China e na Birmânia. São 400.000 pessoas na China. Há tempos são famosos por sua intensa atividade religiosa por caçar cabeças humanas e oferecê-la aos seus deuses. Em razão da sua ferocidade foram os povos menos influenciados pelos chineses até pouco tempo. Nas suas mitologias (Singangli ou saindo da caverna), a deusa desempenha um papel importante. Traduzimos alguns relatos breves que mostram a importância da mulher em sua sociedade, seja já na introdução à pecuária (Os animais de estimação foram trazidos pelas mulheres), ou por seu valor ritualístico (Como a mulher cede o poder ao homem).
Bulang
São quase 100.000 pessoas cujo território se estende pelas montanhas na fronteira birmanesa. Alguns abraçaram o budismo theravada, outros mantêm ainda as suas religiões tradicionais onde as deusas desempenham um papel relevante. Na sua cultura há diversos traços que lembram um tempo em que a situação social das mulheres era mais elevada, como no fato de que os filhos recebem o nome exclusivamente da mãe, ou no respeito tradicional prestado pela sociedade Bulang às suas antepassadas. Sobre eles traduzimos A Deusa do Céu dos Bulang.