Читать книгу Espíritos Do Natal - Rebekah Lewis - Страница 6
Capítulo Um
ОглавлениеA livraria da Avenida Principal ficava espremida entre uma sorveteria e uma loja de brinquedos. Portões de metal foram puxados cobrindo as janelas e portas, ajudando a obscurecer o interior da loja. Josephine Chaves, ou Jo, como era chamada, esfregou as mãos, em parte para mantê-las aquecidas através das luvas e também porque não sabia o que fazer com elas. O advogado, um certo Sr. Colin Wentworth, remexeu na pasta em busca das chaves do prédio. O homem parecia muito idoso, mas rejeitou qualquer oferta de ajuda. Então, ela voltou sua atenção para o prédio que havia herdado.
O local tinha dois andares, o que combinava com o restante dos prédios ao redor, a Livraria Chaves ficava em uma rua que se parecia muito com todas as outras das cidades pequenas dos EUA que ela já tinha visto nos filmes. O que parecia justo, considerando o fato de que ela herdou o lugar de uma tia que ela nunca conheceu e, com certeza, algo assim só acontecia na ficção. No entanto, lá estava ela na pacata cidade de Little Comfort, Massachusetts, uma pequena vila coberta de neve e gelo cujo nome fornecia exatamente o que prometia, pouco conforto. Jo estava terrivelmente despreparada para aquele clima, tendo vivido na Flórida toda a sua vida. Mesmo que ela usasse ao mesmo tempo todo o seu guarda-roupa de inverno não conseguiria se manter aquecida naquele local.
— Ah, onde foi parar a chave? — murmurou o Sr. Wentworth, ainda remexendo em suas coisas. Jo olhou para a parte de trás de sua cabeça calva. Daqui que ele encontrasse as malditas coisas, ela morreria de exposição ao frio, já que ele era muito teimoso para aceitar ajuda.
— Aha! — exclamou, segurando o chaveiro em sua mão enluvada e o sacudiu vitoriosamente. — Eu sabia que estava aqui.
Jo sorriu educadamente, saltando nas pontas dos pés para se manter em movimento, tentando se aquecer um pouco mais. Ela não fez nenhum comentário enquanto o advogado destrancava o portão e depois a porta. Mas quando ele lutou para erguer o portão de metal pesado, ela não aguentou mais. Ele podia até não querer a ajuda dela, mas ela ajudaria mesmo assim.
— Não, não, não se incomode. Sou perfeitamente capaz, — começou o Sr. Wentworth, mas Jo não iria apaziguá-lo desta vez.
— Sim, mas preciso fazer algo para continuar em movimento — respondeu.
Não ia fazer frio assim o ano todo, não é?
Após erguerem o portão, o velho destrancou rapidamente a porta da frente e segurou-a aberta para ela. — Uma garota tão doce. Eu posso ver porque sua tia deixou sua amada loja para você.
Jo tentou o seu melhor para manter o rosto sério. Ela estava feliz que ele pudesse ver o porquê, porque ela certamente não tinha ideia. Ela nunca conheceu a tia Miriam. Para ser totalmente honesta, ela nem tinha se dado conta de quem ela era quando recebeu a ligação e quase desligou na cara do Sr. Wentworth. Então ela se lembrou da irmã afastada de sua mãe, que se mudou depois de se formar no colégio e nunca mais voltou para casa, nem mesmo para uma visita. Os acontecimentos que levaram ao distanciamento deles eram tão misteriosos quanto a forma como Jo acabou sendo o único membro da família no testamento de tia Miriam. A mulher não era casada ou tinha um relacionamento na época de sua morte, nunca teve filhos ou adotou algum. Para completar, nunca tinha conhecido Jo. Ela não conseguia nem se lembrar da última vez que o nome da mulher foi pronunciado por um membro da família. Certamente não desde que Jo era criança.
— Minha querida — disse o Sr. Wentworth bruscamente. — Você vai entrar ou vai continuar aí no frio?
Arrastando-se para dentro, ela não pode deixar de olhar ao redor maravilhada enquanto a porta se fechava atrás dela. As prateleiras estavam cheias de gloriosas variedades de livros de capa dura e brochura que precisavam de uma boa espanada. Teias de aranha se estendiam pelos cantos da sala, felizmente, nada com oito pernas apareceu. Pelo menos, até onde ela podia ver. Atrás do balcão de caixa, na parte de trás da loja, uma porta com uma placa indicando as escadas parecia ser a passagem para o apartamento. Outro conjunto de portas no canto dos fundos levava a um depósito ou banheiro. Talvez ambos.
— Tudo isso me pertence agora? — perguntou ela, enquanto o velho advogado imobiliário a levava apressadamente para um pequeno canto de leitura perto das grandes janelas da frente. Ela se sentou ao lado dele enquanto ele colocava seus pertences sobre a mesa à sua direita. — Não sei nada sobre como administrar um negócio — admitiu.
Na verdade, ela trabalhava como garçonete, vivia de gorjetas e magros salários. Seu diploma em Belas Artes da faculdade comunitária não a ajudou a conseguir um emprego melhor, e ela honestamente ainda não sabia o que queria fazer da vida. Ela, no entanto, gostava de ler. Isso poderia ser uma bênção em mais de uma maneira, considerando que ela tinha acabado de ser demitida por faltar ao trabalho no dia em que tentava argumentar com o dono da casa para não despejá-la por atrasar o aluguel… outra vez. Agora, um emprego e um lugar para ficar, e uma herança?
Se isso não fosse o que os as pessoas chamavam de Milagre de Natal uma semana antes das festas de fim de ano, só poderia ser uma pegadinha.
Para Jo, tinha mais cara de pegadinha.
— Não se preocupe com isso, minha querida. Uma ex-funcionária da loja irá ajudá-la a pôr a livraria de volta à ativa, se for o que você deseja, ou ajudá-la a vender o prédio, caso não queira ficar.
— Ah não, ela não precisa se preocupar com isso bem no meio do período de festas. Pode deixar para depois…
O Sr. Wentworth balançou a cabeça. — Sua tia deixou claro em seu testamento que ela queria que você pudesse assumir imediatamente no caso de seu falecimento.
Ainda assim, seria abusar da boa vontade da pessoa. — Ela será compensada por isso, eu espero? — Jo usaria sua herança, isso é… quando ela a recebesse, se eles não tivessem pensado nisso antes.
O velho sorriu suavemente. — Sua tia deixou para ela uma boa quantia em dinheiro. A Sra. Taylor ligou para perguntar sobre a loja e quando soube que você a herdou, ela se ofereceu para ajudar. — Ele coçou o queixo. — Mas deve haver dinheiro suficiente na conta da empresa para contratar mais um ou dois funcionários.
Essa era uma boa notícia, apesar de tudo parecer assustador. Sua tia tinha falecido no final de novembro. Caixotes de enfeites de Natal estavam abertos ao lado do balcão da frente e Jo correu os dedos pela árvore sem decoração próxima a eles. — Ela estava… aqui quando ela… — Ela não conseguiu terminar a frase. Tia Miriam morrera de derrame, mas Jo não havia questionado sobre os detalhes das circunstâncias.
— Sim. Um entregador a encontrou na manhã seguinte, quando ela não abriu a porta, e então ele a viu deitada no chão pela janela.
— Oh, não… — O coração de Jo se apertou quando um arrepio a invadiu. Sua tia morrera sozinha. Que horror… isso a fez se sentir ainda pior por não conhecê-la e por sua família não estar mais perto dela. A mãe de Jo não tinha sido exatamente aberta sobre o que tinha acontecido, mesmo agora que tia Miriam havia morrido. Na verdade, a mulher mal havia reagido à notícia. Como o pai e os avós de Jo também não estavam mais vivos, realmente não sobrou ninguém para perguntar sobre os detalhes.
— Gostaria de dar uma olhada no apartamento de cima?
Aliviada com a mudança de assunto, Jo assentiu. — Sim, por favor.
O apartamento na parte de cima era um estúdio. Havia uma pequena área de cozinha, um banheiro com banheira, um closet e uma ampla área. Havia uma cama de casal sem lençóis de frente para uma lareira. Uma TV foi colocada acima da lareira. Atrás disso, uma pequena mesa e cadeiras compunham a área de jantar, e uma lavadora e secadora estavam espremidas em um canto. Não era muito, mas era perfeito. Jo não tinha sido capaz de trazer muitas coisas com ela, para dizer a verdade ela não tinha muitas coisas. Algumas roupas de cama e toalhas novas podiam ser facilmente obtidas.
— Espero que não te incomode muito o fato que a sua tia faleceu nesse prédio. Pelo menos ela não estava na cama.
O queixo de Jo caiu com o comentário. — O senhor disse que eu precisava assinar alguns papéis? — Quanto mais cedo ela fizesse tudo isso, mais cedo ele iria embora e ela poderia começar a limpar e trazer as caixas de seu carro.
Cerca de meia hora depois, Jo estava felizmente sozinha, com as chaves nas mãos e um arquivo cheio de cópias que haviam feito na loja do térreo. Outra hora depois disso e seu carro foi descarregado, ela comprou lençóis e toalhas em uma loja que ficava na mesma rua e estava no andar de cima tirando o pó e limpando os móveis. Por mais que a loja em si precisasse de uma boa limpeza, ela não queria subir para dormir e lembrar que este cômodo também precisava ser limpo.
Com uma música tocando em seu telefone, Jo cantou e dançou enquanto arrumava o apartamento… seu apartamento agora. Ela acenou com a cabeça, olhando ao redor. Era perfeito para ela. Depois de encontrar o aspirador e esfregar as áreas do banheiro e da cozinha, ela decidiu tomar um banho e encerrar o dia de limpeza já que a noite havia caído e seu estômago estava roncando.
Depois de ajeitar tudo, ela tomaria um banho e acharia um lugar para comer antes que ficasse terrivelmente tarde. Ela teria que vasculhar a geladeira e a despensa pela manhã e fazer uma lista de compras. As duas caixas de refrigerantes, água e comida que ela trouxe não durariam muito.
Quando Jo desceu as escadas um calafrio a percorreu. Ela estremeceu e agarrou o casaco de onde havia jogado antes, sobre a caixa registradora. Um baque a fez pular e soltar um gritinho. Virando-se, ela olhou para um livro caído no meio do chão. Ele tinha caído de uma prateleira?
Ela o pegou. Em Casa para o Feriado: Um Livro de Culinária para o Natal. Uma passada rápida de olho na prateleira mais próxima não revelou nem livros temáticos de Natal nem livros de receitas.
Estranho.
Dando de ombros, Jo se certificou de que tinha sua bolsa e as chaves e saiu para encontrar algo para comer.