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Capítulo 2

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22 de outubro de 1818

Wendelin estava parada na frente da casa londrina do Conde de Winterthorne, embasbacada com todas as flores logo dentro dos portões na rua. O conde vivia no subúrbio de Londres, não muito longe da casa do pai dela. Entretanto, nunca tinha notado aquela propriedade, pois se tivesse, teria com certeza passado horas admirando os lindos jardins. Infelizmente, ela nunca se aventurou a ir tão longe em suas caminhadas.

A voz da mãe, vinda da carruagem logo atrás, lembrou-a do porquê estava ali, e seu nervosismo subiu-lhe a garganta como um cardume de peixinhos. De fato, havia ficado surpresa e um tantinho animada quando recebeu o convite para o baile e descobriu, com ainda mais euforia, quem seria o anfitrião. A mãe tinha ficado mais do que alegre, pois o baile dos Winterthorne era reservado apenas para o alto escalão da sociedade. Apesar do pai dela ser um visconde, ninguém de sua família jamais havia recebido um convite para aquele evento.

Teria ela causado uma boa impressão no Lorde Winterthorne quando o conheceu ano passado? Os dois não tiveram chance de conversar depois daquele encontro secreto na estufa, e ela mal podia esperar pra contar ao homem que as rosas plantadas por ela, no verão passado, tinham sobrevivido sem quaisquer dificuldades. Na verdade, o jardineiro havia conseguido plantar diversas flores por toda a propriedade, e todas cresceram onde, antigamente, nem sequer teriam nascido. Ele estava certo quanto a não desistir. Obviamente, pelas flores ao redor da casa dele, o conde tinha talento quando se tratava de saber como e quando plantar qualquer coisa. Seria entediante da parte dela perguntar ao lorde sobre suas habilidades de jardinagem, ou ele gostaria do assunto? A moça não sabia quantos cavalheiros se importavam com plantas, então não teve certeza de quais seriam os limites envolta da questão.

— Bem — disse a mãe, animada, enquanto o pai de Wendelin ajudava a esposa a descer da carruagem, assim como tinha feito com a filha minutos antes. — Aqui estamos, então. Certifique-se de conseguir pelo menos uma ou duas danças com o conde. Acho que não vai ser difícil, levando em consideração que ele a convidou pessoalmente. — Georgina Harlow, Viscondessa de Summerfield, estava ansiosa para acompanhar a única filha e para arrastar o visconde consigo. Estava claro que esperava que o Conde de Winterthorne fosse pedir a mão da filha naquela mesma noite, e queria que o pai estivesse presente para que a permissão pudesse ser obtida.

Wendelin escondeu a vontade de revirar os olhos. O conde, com certeza, tinha sido gentil, nada mais. Ela era uma nova amiga que ele havia conhecido no casamento do irmão dela. Se os papéis estivessem invertidos, ela também haveria considerado enviar um convite a ele. Isso não indicava o interesse do homem. Se realmente estivesse interessado dela, não a teria visitado em algum momento ao longo do ano passado?

Mas, de vez em quando, ela imaginava… caso não tivessem sido descobertos pelo Lorde Shelligton, ele a teria tentado beijar? Wendelin sacudiu a ideia para longe. Com certeza, a mãe estar dando uma de cupido havia começado a afetar os seus pensamentos, e não lhe faria bem algum desejar algo que apenas terminaria em decepção. A moça queria um amor apaixonante como o que seu irmão James tinha com a esposa, cujo namoro tumultuado havia sido cheio de aventura e resgates arriscados no mar – mas, talvez, sem a parte de quase se afogar e de levar um tiro. Não queria ser cortejada de maneira educada, adequada ou discreta como o irmão Michael tinha feito com a esposa. Não que a esposa dele fosse inadequada ou algo do tipo.

Wendelin queria sua própria aventura. Ou, pelo menos… algo emocionante e inesperado. Ousado e escandaloso. A mãe ficaria horrorizada se pudesse ouvir os pensamentos da filha. Por sorte, quando entraram na casa, deixou as ideias de lado.

O interior da casa era tão abundante em vegetação quanto o lado de fora. Flores e plantas novinhas em folha adornavam todas as alcovas. Era tudo tão lindo, que ela se pegou deslizando os dedos sobre as pétalas delicadas de um lírio no salão de baile, assimilando os arredores.

— Wendelin — sibilou a mãe. — Por que você está perdendo tempo aí no canto? Vá encontrar o conde e assegurar uma dança.

— Tá bem, estou indo. — A mãe deveria realmente estar querendo colocar a filha para fora de casa o quanto antes. Wendelin não se via como um grande incômodo, mas todas as debutantes se tornavam mulheres mais cedo do que tarde. Claro, esta seria a sua primeira Temporada. Seu baile de apresentação tinha ocorrido na primavera, mas ela não havia comparecido a muitos eventos recentemente.

Nem o Lorde Winterthorne ou o Lorde Shelligton tinham comparecido.

Ela suspeitava que, talvez, houvesse imaginado algum interesse dos dois antes do convite para o baile de Winterthorne chegar. Talvez, ele estivesse ocupado com outras coisas ou ainda sequer estivesse na cidade. Suspirando, Wendelin afastou os devaneios da mente. Não ajudaria em nada cultivar tamanha fascinação por um cavalheiro como o Lorde Winterthorne. Afinal de contas, ele era conhecido por ser frio e arrogante. O que um homem desses poderia oferecer a ela, exceto sua boa aparência e um título?

Ele não foi frio comigo nem me oprimiu. E, quando falou sobre flores, seus olhos se iluminaram com tanta admiração…

— Eu realmente preciso parar de sonhar acordada com essas bobagens fantasiosas.

— É mesmo? — Um timbre masculino a fez congelar no lugar. — E o que uma lady tão bonita quanto você considera fantasia?

Wendelin se virou, colocando a mão sobre o coração.

— Lorde Shelligton… Desculpa, Vossa Graça, mas você me assustou. Não percebi que eu tinha falado aquilo em voz alta. — Ele a devia achar muito esquisita. A moça piscou quando o viu, pois sua linda feição nunca falhava em pegá-la desprevenida em um primeiro momento. O cabelo dele era tão preto que, sob algumas luzes, parecia azul-escuro. Mas, claro, era impossível que alguém tivesse o cabelo dessa cor. Ela vestia preto por completo, exceto pelo peitilho de um tom suave de verde-mar, que combinava com os seus olhos de cor nada comum.

Lorde Shelligton fez desfeita às palavras dela.

— Nunca se desculpe por sonhar acordada. Até mesmo as coisas mais impossíveis podem se realizar.

Mas que coisa peculiar de ser dita. Ainda assim, seria bom se lembrar de que, logo, estaria casada. Ainda nesta Temporada, se dependesse da mãe. E era melhor abandonar os sonhos ao assumir as responsabilidades de esposa. Infelizmente, isso…

— Você está mais radiante do que nunca, Senhorita Harlow. — O duque sorriu para ela, exibindo uma covinha na bochecha esquerda. — Me daria a honra de sua primeira dança?

Adrenalina a percorreu. A mãe ficaria muito satisfeita quando soubesse que a primeira dança da filha naquela noite seria com um duque. Mas… Wendelin não conseguiu impedir os olhos de passearem por todas as pessoas no salão, esperando encontrar o anfitrião esquivo. No entanto, foi uma tentativa que não deu em nada, pois o Lorde Winterthorne não estava em lugar algum.

— Claro, Vossa Graça. Seria um prazer. — Lorde Shelligton a levou para a pista quando a quadrilha começou. Honestamente, ela ficou aliviada por não ser uma valsa tão cedo na noite. Sempre virara uma poça de nervos nas valsas. E, bem… havia algo em Lorde Shelligton que a mantinha alerta. Ah, claro, ele era bonito e gentil. Mas havia algo, logo abaixo da superfície de cada toque, em cada encontro de olhares. Um arrepio que indicava algo perigoso, proibido. Quase como se os instintos dela a avisassem para não ficar sozinha com ele.

Havia experienciado a mesma coisa no casamento do irmão, mas, com tantas pessoas ao redor, não sentiu medo naquela data, assim como não sentiu hoje. Riu de si mesma quando trocou de parceiro na dança, afastando-se, por enquanto, do duque. Era apenas o nervosismo e o medo que toda jovem sentia perante a possibilidade de um escândalo, de ser arruinada por um libertino. Nada mais.

Sim, nada mais. Pare de ser tola.

Quando a dança acabou, suas bochechas doíam de tanto sorrir. Gostava muito de dançar. Era uma das poucas vezes que podia colocar a sua energia em jogo sem levar uma bronca. Se dependesse da vontade da alta sociedade, todas as ladies estariam debruçadas em cantos, bordando pela eternidade. Ora! Wendelin desejava a liberdade do interior, o vento no cabelo, a grama sob as solas descalças. Um jardim rodeando-a. Era isso o que ela queria. Por mais que amasse dançar, preferiria estar longe da cidade, se pudesse. Mas que cavalheiro lhe permitiria tal coisa, ainda mais se acabasse casada com alguém como o Duque de Shelligton?

Com certeza, ele teria que estar em Londres durante toda a Temporada com ela, sua esposa obediente.

— Senhorita Harlow? — chamou-lhe Lorde Shelligton, aproximando-se mais do que o aceitável da orelha dela.

Ela se assustou.

— Sim?

O homem piscou e inclinou a cabeça.

— Perguntei se você gostaria de uma bebida.

— Ah! — Ela riu, mas soou forçado. — Desculpa, Vossa Graça. Eu estava pensando em quanto me divirto dançando. — Não havia razão para o sobrecarregar com as demais ideias e pensamentos que ela tinha sobre o futuro. Deixe-o achar que ela era leviana.

O olhar dele baixou dos olhos aos lábios dela, mais um tantinho para baixo e, logo, para cima de novo.

— O rubor do esforço aumentou a sua beleza. Dance até não poder mais, e nunca deixe ninguém lhe roubar esta alegria. — Ele deslizou os dedos, devagarinho, sobre os antebraços enluvados dela, ocasionando arrepios na pele sob o material. — Gostaria de um copo de ponche?

Agora que ele havia mencionado, ela estava mesmo com sede.

— Seria maravilhoso. Obrigada, Vossa Graça.

Lorde Shelligton assentiu e se dirigiu para a mesa de refrescos. Wendelin o observou desaparecer na multidão e suspirou. Teria a mãe a visto dançar com o duque? Virou-se para procurar os pais e arfou. Pegou-se encarando um peitilho asseado e devidamente amarrado sobre uma camiseta branca, preso sob um colete verde-escuro e de um casaco que combinava. Ombros amplos preenchiam esse casaco, e o rosto do homem a quem os ombros pertenciam era ainda mais lindo do que a senhorita se lembrava. Olhos azuis, sob um punhado de cabelo louro, trespassavam Wendelin, e o nervosismo que antes havia parecido com peixinhos, irrompeu em borboletas na sua barriga.

O Conde de Winterthorne, por fim, havia chegado, e ele não parecia nem um pouco feliz em vê-la.


Bryce chegou ao salão na hora exata para testemunhar aquele tritão dançando com a Senhorita Wendelin Harlow. Porque o duque não fez nenhuma aparição em Londres – pelo menos, não que Bryce tenha ficado sabendo –, o conde acreditou que, talvez, o rival tivesse se esquecido da conversa do casamento ou encontrado alguma outra lady para atormentar em algum outro lugar. Mas claro que isso não era verdade. Seu nêmesis, que de vez em quando exibia barbatanas, estivera aguardando Bryce tomar uma atitude.

E isso o irritou demais.

— Lorde Winterthorne — disse a Senhorita Harlow, sem fôlego. — Quase trombei em você.

— Não tem problema. — Então, ele sorriu ao perceber que, talvez, estivesse carrancudo, caso o humor pudesse ser a indicação de algo. — Queria te agradecer por ter vindo hoje, e perguntar sobre o seu cartão de danças.

Ela corou, um rosa lindo que complementava o azul desbotado de seus olhos e vestido. Mesmo não estando apaixonada por ela, Bryce faria tudo o que estivesse ao seu alcance para impedi-la de ser arruinada por Shellington. Aquela pobre garota não fazia ideia do perigo que corria.

— Posso? — Ele apontou para o cartão pendurado no pulso dela. Wendelin assentiu, erguendo o braço para que ele pudesse ver o pequeno pedaço de papel e adicionar seu nome. — Hm. Sim, a próxima música já começou, então vamos dançar a depois desta… e a sua oitava dança da noite.

O queixo da senhorita Harlow caiu um pouquinho, então, ela disse:

— Claro, meu lorde.

— São valsas.

As bochechas dela ganharam um tom mais profundo de rosa.

— Mal posso esperar.

Provavelmente, não tanto quanto ele. Que Shellington dançasse quadrilhas com ela. As valsas seriam dele. Havia sido difícil evitar Wendelin agora que a conhecia, mas teria que respeitar os termos do tritão para mantê-la segura. Certificou-se de ficar longe durante o baile de apresentação dela na primavera, lutando contra seu desejo de vê-la. Muitas vezes, repreendia-se por se importar com a situação. Não queria se casar e nem sequer queria ter comparecido ao casamento da prima com o Capitão Harlow. Mas tinha comparecido, e a havia conhecido.

— Ah, Lorde Winterthorne. — O duque estava de volta e entregou um copo de ponche para Wendelin. — Estava me perguntando se você daria as caras em seu baile. Estão dizendo que você não compareceu a nenhum evento social nesta Temporada antes de hoje.

— Estão dizendo a mesma coisa sobre você.

Wendelin prendeu um cacho solto de seu cabelo escuro sobre a orelha, em seguida, bebericou o ponche. Seu olhar foi do conde ao duque e de volta ao conde.

— Estive ocupado abrindo o Clube Tritão com alguns dos meus irmãos. Você deveria nos visitar.

Ah, Deus. Ele havia trazido outros de sua laia para Londres, para vitimar as mulheres londrinas. Com os dentes cerrados, Bryce disse:

— Vou pensar no caso.

Wendelin aproveitou a oportunidade para voltar a participar da conversa.

— Eu não sabia que você tinha irmãos, Vossa Graça. — Ela enrugou o nariz. — O que é um tritão?

Bryce tinha muitas boas palavras para descrevê-los, mas todas vulgares demais para serem ditas na frente da senhorita.

Lorde Shellington deu um grande sorriso.

— De acordo com as lendas, o deus Tritão foi pai de mil filhos e filhas para popular o reino subaquático. Temos o costume de chamar os seus filhos de tritão.

— Sereias e tritões. Contos de fadas, todos eles — esbravejou Bryce. Quando a porcaria daquela valsa começaria? Queria afastar Wendelin de Shellington o quanto antes possível, mas ele não tinha nenhum direito sobre ela, exceto o de ser o seu parceiro de dança.

O humor que brilhava nos olhos do tritão não era um bom sinal.

— Por que, Lorde Winterthorne, você nunca me disse que não acredita na mitologia grega? Posso jurar que ouvi dizerem que você tem parentes gregos, assim como eu.

Não pretendendo cair na armadilha, Bryce sacudiu um dos ombros. A música acabou, e os casais saíram da pista, dando espaço a outros.

— Olhe. — Bryce tirou o copo, agora vazio, da mão de Wendelin e o empurrou contra o peito de Shellington. O homem pegou o objeto, rindo, mas seu riso morreu rapidamente quando Bryce complementou: — Chegou a hora da nossa valsa.

A Senhorita Harlow permitiu que ele a levasse para a pista, mas franziu a testa quando a dança começou.

— Você não gosta muito do Lorde Shellington, gosta, meu lorde?

Ele balançou a cabeça.

— Não, nem você deveria gostar. Sei que não cabe a mim dizer isso, mas tome cuidado para não ficar sozinha com ele. Não confio naquele homem.

— Está preocupado com a minha reputação? — Os cantinhos da boca dela se ergueram.

Ah, ela achou que ele a estava provocando motivado pelo ciúme.

— Você estaria, caso conhecesse o verdadeiro ele.

— Estou com a sensação de que você não vai me contar os seus motivos.

Ele balançou a cabeça, mas quando a testa dela voltou a se franzir, adicionou:

— Não, porque não estou preocupado com seus sentimentos, emoções ou algo do tipo. Isso tudo não me diz respeito, portanto, os segredos do Lorde Shellington são apenas dele para serem revelados quando achar melhor. — E que Deus a protegesse caso isso viesse a acontecer.

— Você é mesmo grego?

— Sim.

Seja lá o que ela pensou sobre aquilo, Wendelin optou por não compartilhar.

— Faz um tempo que eu queria te dizer… — disse ela, depois de algumas voltas na pista. — As rosas floriram este ano em Summerfield, como você disse que fariam.

O sorriso do homem pareceu amenizar qualquer trepidação causada por sua conversa com o duque.

— Fico feliz em saber disso. — Se rosas a deixavam feliz, ele sabia exatamente como conquistar a mão dela antes do fim da Temporada. A Senhorita Harlow era uma mulher da terra, não do mar. Bryce poderia não ser um duque, mas era capaz de dar à moça tudo o que ela desejava – e mais um pouco.

Cortejando Um Semideus Arrogante

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