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Capítulo 1

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Samantha Brewster estava esgotada apesar de ter dormido como uma pedra na noite anterior. As viagens cansavam-na muito.

Para quê esperar? Não seria o momento perfeito para desaparecer discretamente?

A festa estava no seu auge. Os convidados de Carin e Rafe abarrotavam a sala, o grupo de música estava a tocar samba e todos estavam a divertir-se. Ninguém notaria a sua ausência, nem sequer a sua mãe e as suas irmãs.

Sam bebeu um gole de caipirinha e depois deixou o copo numa das pequenas mesas do terraço. Já tinha cumprido o seu dever ao aparecer na festa e poderia subir as escadas, descalçar os sapatos de salto alto, trocar a blusa e as calças de seda verde por uma camisa de noite e meter-se na cama. Era o que queria fazer depois de ter passado mais de quarenta e oito horas nos terminais dos aeroportos de Jakarta a Honolulu e de Honolulu a São Francisco, de São Francisco a Nova Iorque e de Nova Iorque a São Paulo.

Só de pensar naquilo ficava com vontade de se deitar no chão de mosaico do terraço e adormecer ali mesmo.

Sorriu ao imaginar a reacção das suas irmãs e da sua mãe. Marta ficaria horrorizada, mais do que há umas horas atrás, quando ela tinha brincado sobre a roupa que iria vestir para a festa de Carin e Rafe.

– Calças de ganga e T-shirt? – dissera Marta, fitando-a com terror. – Calças de ganga para a festa do quinto aniversário de casamento da tua irmã? Samantha, por favor…

– Mamã, não vês que Sam está a brincar? – Carin lançara-lhe um olhar apreensivo sobre a cabeça da sua mãe. – Não é, Sam?

– Claro que está a brincar – interveio Amanda, rapidamente, lançando-lhe o mesmo olhar de Carin.

Era uma pena a maneira como o casamento mudava as pessoas. No passado, as suas irmãs teriam reparado que era uma brincadeira, porque ela nunca iria a uma festa vestida com calças de ganga e T-shirt.

Sam passou a mão pelo cabelo, apesar de saber que não lhe serviria de nada. A húmida noite brasileira transformara os seus cabelos castanhos ondulados numa massa de caracóis indomáveis. No entanto, sabia que estava suficientemente apresentável para voltar para a sala e sorrir para qualquer um que quisesse falar com ela. Inclusivé, poderia chegar a convencer Carin, se se cruzasse com ela, de que se estava a divertir. A única coisa que tinha de fazer era sair da sala, atravessar o vestíbulo, chegar até às escadas e…

Sam conteve a respiração.

Um homem acabava de entrar na sala. Era alto, com ombros amplos e ancas estreitas, e ficava muito bem vestido de smoking. Tinha o cabelo preto e os olhos eram azuis ou cinzentos, não conseguia ver bem desde o terraço, mas conseguia distinguir o rosto cheio de ângulos e com as maçãs do rosto salientes.

Resumindo, era um homem impressionante. Só uma mulher que fosse cega é que não lhe prestaria atenção. De repente, não se sentiu tão cansada.

Se as suas irmãs queriam fazer de casamenteiras, porque é que não lhe apresentavam homens como aquele? No entanto, nem com um homem assim conseguiriam o que queriam, pois ela não estava interessada em assentar… e era precisamente aquele o motivo pelo qual a sua família nunca usava homens atraentes como anzóis.

A sua mãe e as suas irmãs pensavam que os homens atraentes não eram apropriados para ela porque não se queriam casar.

E tinham razão. Aquele tipo de homem não queria casar, mas ela também não queria. Reconhecia que a sua mãe tinha razão ao dizer que nem Jason, nem Brad, nem Charly tinham o casamento em mente, mas ela também não estava interessada em casar.

Infelizmente, a sua mãe não acreditava nisso, nem as suas irmãs, agora que se tinham casado. Ela tornara-se na «causa» das suas irmãs, que tinham tomado o partido da sua mãe. Por isso, sabia que entre os convidados deveria haver alguém que a sua família consideraria «apropriado» para ela.

Sam agarrou no copo de caipirinha da mesa e bebeu um gole.

O último homem perfeito que Marta, a sua mãe, achara apropriado tinha vinte e dois anos mais do que ela. O anterior àquele era um dono de um rancho, viúvo, que tinha passado uma tarde a falar do sémen dos touros.

Sam precisava de liberdade, procurava a aventura e uma relação passageira que lhe fizesse ferver o sangue.

Alguém como o homem de smoking, que aparecera na festa há uns minutos atrás.

Sam olhou à sua volta. Onde é que estava? Descobriu-o a falar com uma loura. Não, as suas irmãs não a apresentariam a alguém assim. Desde que se tinham casado que pareciam pensar que eram as únicas Brewster com direito a ter homens atraentes.

– Os homens com quem tu sais não são dos que se casam – dissera Amanda, durante o pequeno-almoço, e ela pensara com tristeza: «Mandy, o que é que te aconteceu?», estaria a sua irmã a tornar-se no retrato vivo de Marta?

– Por isso é que os acho interessantes – replicara ela.

Carin suspirara. E, no fim, as três irmãs tinham acabado por rir. Rafe e Nick tinham aparecido e tinham perguntado porque é que estavam a rir, o que as fizera rir ainda com mais vontade.

Mais tarde, Sam viu os quatro juntos a falarem em voz baixa. Ao vê-la, tinham-se calado. Os seus cunhados, os dois muito atraentes, coraram ao cumprimentá-la. E fora naquela altura que ela percebera que havia uma conspiração instigada pela sua mãe, da qual os seus cunhados e irmãs faziam parte.

A prova disso teve-a umas horas mais tarde.

– Estiveste na Grécia, não foi, Sam? – inquirira Nick, durante o almoço.

– Sim, é um sítio muito bonito – replicou ela.

– Sim, muito bonito – concordou Nick.

E todos concordaram.

Passado um bocado, Rafe aproximara-se dela quando estava deitada na cadeira de estender no terraço.

– Diz-me, Sam, falas grego?

– O grego dos turistas, só umas quantas palavras – replicara ela. – Porquê? É importante que fale grego?

– Não, não – respondeu ele, com rapidez.

Por isso, ficara assustada quando Carin e depois Amanda tinham passado pelo seu quarto enquanto se vestia para a festa e, com fingido interesse, tinham-lhe dito que era uma pena que não falasse grego porque um dos convidados, um velho amigo de Rafe e Nick, era grego.

– Apesar de não conhecer o senhor Karas, suponho que gostaria que alguém falasse a sua língua – murmurara Carin, fitando as suas unhas.

– É estranho que esse senhor seja amigo de Rafe e Nick se só fala grego – comentara ela. – Pergunto-me como é que se entendem.

As suas irmãs responderam imediatamente que Demetrios Karas também falava inglês.

– Ah, é assim que se chama, Demetrios Karas?

Sim, e tinha uma grande empresa de barcos de carga. E, embora ela não falasse grego, deveria mostrar-se amável…

– Isso seria uma grande ajuda para Rafe e para mim – acrescentara Carin, com um sorriso radiante.

– Seria boa ideia se tentasses agradar ao senhor Karos esta noite.

Sam, com o copo de caipirinha na mão, voltou a suspirar.

O que ia fazer era retirar-se para o seu quarto. No dia seguinte, desculpar-se-ia perante as suas irmãs com a desculpa de estar cansada. Imaginava como seria o senhor Karas, baixo, gordo e apropriado para ela por causa do seu negócio.

No entanto, não se teria importado de sorrir para o homem do smoking. Mas não o ia fazer porque estava demasiado cansada, e a sua família era capaz de ficar zangada com ela se a vissem com aquele homem… tão perigoso para ela. Ali estava ele, rodeado por mulheres, duas loiras, uma morena e uma com um cabelo de várias cores. E todas elas a olhar embevecidas para ele.

Oh! Deveria estar muito cansada. Gostava de homens e gostava de sexo, mas não se permitiria ter fantasias com…

Sam viu Carin a entrar na sala e, de repente, dirigir-se para o homem de smoking… E, por cima da cabeça da sua irmã, o homem olhou directamente para ela!

Sam ficou com o pulso acelerado. Ele tinha os olhos azuis da cor do céu do Verão da Costa Azul. Carin afastou-se ligeiramente dele e disse qualquer coisa. Ele riu e voltou a sua atenção para Carin… e o momento passou.

Sam respirou fundo. O momento passara? Nem tinha existido. Ele não a podia ter visto na escuridão do terraço.

Sam sentiu-se cansada. A mão tremeu-lhe quando levou o copo aos lábios. Era ridículo sentir-se daquela maneira. O bom era que estava sozinha no meio da noite magnífica, carregada da fragrância das flores dos vasos e iluminada pela lua, que banhava a pradaria brasileira.

– Olá.

O coração pareceu querer saltar-lhe do peito. Virou-se… mas não era ele. E também não podia ser o grego. Era um homem alto, de aspecto agradável e de cabelo da cor da areia. Muito civilizado, demasiado.

Sam pestanejou e cumprimentou.

– Olá, sou Samantha Brewster.

– Tenho muito prazer em conhecer-te.

– O prazer é todo meu. Por acaso não te chamas Demetrios, pois não?

Ele riu.

– Não, nada disso! Sou Jack Adams. Sou um colega de escola de Nick e de Rashid e tu deves ser a cunhada, não é?

– Sim, nesse caso deves conhecer a sua esposa, a minha irmã – comentou Sam, educadamente.

Jack conhecia-a. Falaram sobre Filadélfia, onde ele morava, e Nova Iorque, onde ela tinha um apartamento. Também falaram da Indonésia, onde Sam acabava de estar, e de Nova Jersey onde ele acabara de estar.

Depois Jack ficou calado, aclarou a garganta e disse que talvez pudessem voltar a encontrar-se, quando ele fosse a Nova Iorque em viagem de negócios.

– Sim, gostaria muito – replicou Sam. – O caso é que nunca estou em casa. Estou a viajar constantemente.

Jack sorriu com frieza.

– Sim, eu sei.

Depois desculpou-se e entrou para se misturar com os outros convidados.

Sam voltou a beber um gole da sua caipirinha.

Talvez não devesse ter ido à festa em Rio de Ouro, sobretudo depois de três meses a traduzir do italiano para o inglês e vice-versa no seu trabalho de intérprete entre um grupo de etnologistas de Roma e de São Francisco. Mas não tinha querido perder a festa do quinto aniversário de Carin e Rafe, nem o quinto aniversário da sua sobrinha, dois acontecimentos separados no espaço de dois dias.

– Eu conheci Rafe numa festa assim – dissera a sua irmã, naquela manhã.

– E eu a Nick – acrescentara Amanda.

Sam suspirou e voltou a olhar na direcção da sala. Não viu Carin… mas o homem do smoking continuava ali, a falar com alguém cujo nome ela não se lembrava. O homem sorriu e o outro homem devolveu o sorriso. Os dois cumprimentaram-se e o outro afastou-se…

Samantha ficou com o coração a bater aceleradamente.

Agora não tinha dúvidas, aquele homem estava a olhar para ela, directamente, com um sorriso nos lábios… e começou a aproximar-se na direcção dela, abrindo caminho entre a multidão…

– Demetrios!

Sam abriu muito os olhos. Quem chamara fora o seu cunhado, mas o homem que respondeu ao nome não era nem gordo nem baixo.

Era o homem do smoking.

Sam ficou de boca aberta quando viu o seu cunhado e o homem a cumprimentar-se com um abraço.

– Quando chegaste, Demetrios?

Demetrios Karas. Sam não podia acreditar que era verdade, que aquele homem impressionante era o homem que as suas irmãs queriam que conhecesse. Aquele homem alto, bem-parecido e perigosamente atraente era o que elas achavam «apropriado» para ela?

Mas aquele homem não era dos que se casavam, tinha a certeza disso. Aquele homem era um solteirão empedernido, algo que ela compreendia perfeitamente.

O casamento deveria ter feito mal às suas irmãs.

– Samantha!

Rafe chamara-a com aquela pronúncia brasileira adorável. Sam respirou fundo e virou-se para ele.

– Rafe, a festa está muito boa – Sam sorriu, colocou-se nas pontas dos pés e beijou o seu cunhado no rosto.

– Foi Carin quem preparou tudo – replicou ele, orgulhoso.

– Fez um bom trabalho.

Rafe concordou. Depois, pôs as mãos nos bolsos das calças e aclarou a garganta.

– Bom, conheceste alguém interessante?

«Voltámos ao mesmo», pensou Sam.

– Não pode ser. Tens milhares de convidados e é impossível conhecer alguém aqui.

– Não, claro que não. No entanto, se quiseres posso apresentar-te algumas pessoas.

Sam ficou a olhar para o seu cunhado e, de repente, viu que se ruborizava.

– Rafe, não quero conhecer Demetrios Karas.

– Carin acha que…

– Carin não tem que achar nada – Sam sorriu. – Gosto da vida que levo, estou a falar a sério.

O seu cunhado pareceu aliviado.

– Eu sei, tentei explicar-lhe isso, mas…

– Não lhe disseste nada, pois não? Refiro-me a Karas.

– Não, claro que não – replicou Rafe.

– Está bem – Sam pestanejou. – Porque não gostaria nada de me sentir como um artigo de mercadoria… se de repente tiver vontade de o cumprimentar.

– Mas não acabaste de dizer que… ?

– Disse que não o quero conhecer, mas referia a conhecê-lo como a um futuro candidato ao casamento – Sam baixou a voz. – A verdade é que seria um bom marido.

– Demetrios concordaria contigo nisso – replicou Rafe, com um sorriso.

– Mas não me importava de me divertir um pouco…

– Samantha!

Sam riu.

– Estava a brincar.

Claro que era a brincar.

– Se não te importas, vou ver onde está a minha mulher – declarou Rafe.

Samantha sorriu.

– Claro que não me importo. Se vires Carin, poderias dar-lhe um recado da minha parte? Dizer-lhe que apesar da festa estar muito boa, estou muito cansada e vou para a cama?

– Não te preocupes que eu digo-lhe – Rafe deu-lhe um beijo na testa. – Boa noite, Sam – disse em brasileiro.

– Boa noite, Rafe.

Ia fazer mesmo isso. Ia entrar em casa e subir para o seu quarto. Até àquela altura comportara-se como uma adolescente tentando evitar Demetrios Karas. Já tinha o suficiente. Precisava de dormir e era isso que ia fazer.

Sam alisou o cabelo, levantou o queixo e, adoptando um sorriso educado, entrou na sala…

E foi ao encontro de Demetrios Karas.

Trabalho e prazer

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