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CAPÍTULO 1 – UM NOVO DIA
ОглавлениеEu morri e voltei a nascer. Acordei bem cedo de manhã, deslumbrada com um poderoso raio de sol que atravessava o quarto na diagonal, vindo de uma pequena janela localizada acima da cômoda que ficava em frente à cama, e que deixei as persianas fechadas e a cortina aberta na noite anterior.
Depois de me espreguiçar um pouco com alongamentos suaves de braços e costas, senti-me bastante descansada, calma e relaxada, algo que veio a calhar depois para me recuperar de uma jornada exaustiva entre aquelas colinas acidentadas.
Sentei-me na beira da cama e olhei com calma ao meu redor enquanto tentava cobrir com uma das mãos aquele irritante raio de sol que parecia destinado a não me deixar continuar dormindo, como se fosse um galo do interior ao nascer do sol.
Não demorou muito para eu me situar naquele pequeno espaço onde cabia apenas a cama em que eu ainda permanecia, e diante dela havia a cômoda em que guardei minhas roupas e a mochila no dia anterior, como pude. E aos pés do móvel estavam minhas botas, ao lado de uma pequena cadeira de corda.
Apesar de não parecer nada com o meu quarto espaçoso e decorado com crochê, era um lugar agradável e confortável para descansar por uma noite, porque não sei se me acostumaria a viver em um lugar tão simples com confortos tão humildes.
Respirei fundo e, enquanto deixava o ar sair devagar, tentei adivinhar que vida agitada se desenrolaria além daquelas quatro paredes, uma agitação que notei quando ouvi sons que, apesar de não saber de onde vinham, logo reconheci.
Me espreguicei novamente antes de me levantar de vez, e fui até a cômoda para pegar minhas roupas e me preparar para sair. Fiquei muito agradecida por terem me recebido tão bem, a verdade é que eu não sabia o motivo para tal gentileza, porque eu era um estranha naquela cidade.
Por alguma razão oculta, que eu não conseguia entender, senti como se tivesse chegado ao fim da minha viagem. Ao contrário do que havia experimentado nas viagens anteriores, nesta eu não tive vontade de sair correndo daquele lugar. Não antes de conhecê-lo melhor. É como se, por um momento, eu tivesse perdido o impulso que sempre me fez avançar, seguir em frente sem saber muito bem para onde.
Parecia que eu tinha conseguido encontrar o que sempre aspirei desde pequena; um lugar em que me sinto bem-vinda e tranquila, onde a paz reina em toda parte, como eu havia lido nos comentários de outros viajantes: que depois de visitar diferentes locais do mundo, como uma obsessão, haviam encontrado aqui o seu lar.
Para alguns, esse lar era onde a opulência e a ostentação reinassem para todos os lados, contagiando os habitantes quase como hipnose rumo a uma vida superficial em que a aparência é o que mais importa. Para outros, era a beleza das mulheres locais que sagrava o local como perfeito para morar ou descansar nos últimos anos de vida.
Há quem considere a história dos edifícios como o que faz um lugar especial, um lar, como se dessa forma pudessem compartilhar e fazer parte da história do local. Até aquele momento, eu não havia tido esse sentimento, pois nem a história, nem a beleza ou a ostentação haviam me atraído o suficiente para me fazer sentir plena, completa e calma.
Terminei de fazer os exercícios de alongamento para as costas, braços e pernas, exercícios que aprendi com um alpinista profissional que havia escalado duas vezes o Monte Everest, o pico mais alto do mundo. Um relacionamento intenso, mas banal, porque eu sabia que ele era casado com a profissão e não deixaria nada nem ninguém atrapalhar seus objetivos, e foi assim que ele me abandonou para fazer seus próximos “oito mil” na tentativa de alcançar os treze picos restantes do mundo acima dessa altura.
Os exercícios eram movimentos simples, semelhantes aos realizados no yoga, alongar os músculos para evitar possíveis lesões, submetendo o corpo a exercícios continuados.
Tomei banho e vesti as mesmas roupas do dia anterior, inclusive minha companheira pesada, a mochila, onde trazia tudo que julguei necessário para todos os três dias que planejei para essa viagem.
Além do kit de primeiros socorros indispensável, eu carregava um tapete que servia de colchão, um cobertor plastificado para me cobrir na hora de dormir e para o caso de chover e, é claro, alimentos desidratados e água para manter a forma durante as longas caminhadas e levava fora da mochila todo o equipamento de escalada para minhas viagens à montanha.
Depois fui para uma sala contígua onde já haviam posto um café-da-manhã escasso e austero composto de um pedaço de pão duro, um pouco de óleo e um pouco de leite e, é claro, senti falta de um bom café forte do jeito que eu gostava de tomar antes de ir para o escritório.
Depois de comer tudo sem muita vontade porque eu era uma daquelas pessoas que escolhe a comida com os olhos, e esta refeição não parecia muito apetitosa, fui explorar a cidade e seus arredores, porque apesar de ter chegado à tarde ontem, a quase ausência de luz havia me impedido de ter uma ideia mais ou menos precisa de onde eu estava, algo tão necessário se eu precisasse regressar.
Além disso, procurei na paisagem por elementos distintos e característicos que fossem bem visíveis à distância, para que me orientasse melhor, porque quando se está entre as montanhas, todas podem parecer iguais, e é fácil se perder, especialmente em locais que a bússola nem sempre funciona devido às rochas ricas em ferro.
Eu costumo buscar algum tipo de irregularidade, algo peculiar, uma árvore grande que se destaca das demais, uma rocha saliente ou uma cavidade peculiar entre duas montanhas, tudo o que me permitisse saber para onde devo ir se quiser chegar ao meu destino.
Embora no começo, quando eu estava começando a fazer trilhas, não desse muita importância, a experiência e o fato de ter enfrentado dificuldades imprevistas me fizeram valorizar esses pequenos truques dos alpinistas, tão úteis quando você não sabe para onde está indo ou quando vai querer retornar ao local de partida.
É provável que, por esse motivo, eu tenha desenvolvido um gosto pela observação da natureza, uma paisagem tão diferente da que estava acostumada a ver do meu apartamento no meio de uma imensa cidade, o que, por vezes me deixava apática, fria e impessoal.
Por outro lado, quando estou na natureza, tudo é tão diferente, como se fossem dois mundos separados, quase opostos, e a fumaça que envolve a cidade dá lugar ao ar puro; os tons de cinza e preto característicos dos prédios antigos são alterados pelas cores vivas e brilhantes das plantas e flores; e o barulho incessante das obras e a buzina dos motoristas desesperados são substituídos pelo som das folhas balançadas pela brisa suave.
O que me chamou mais a atenção foi um grande lago em frente à vila, ficava em um vale formado por duas colinas altas que poderia ter sido a passagem de um grande rio agora extinto.
Provavelmente, as águas do lago não são o produto de uma nascente subterrânea como em outras localidades que eu já visitei, mas sim das chuvas de outono ou do degelo das nascentes das montanhas circundantes.
E de toda a extensão daquele grande lago que ocupava boa parte do horizonte até onde os olhos podiam ver, um pequeno detalhe me intrigou, que talvez tivesse passado despercebido a outros: a cor de suas águas, uma tonalidade que me lembrou a do petróleo, uma cor tão escura que competia com o tom de qualquer uma das montanhas rochosas que nos rodeava.
Eu estava acostumada com a transparência das águas cristalinas das lagoas e do orvalho da manhã, ou com os tons azulados dos fiordes ou lagos mais profundos, e até com a cor esverdeada que indica a presença de líquen ou algas; mas essa água totalmente negra me pareceu, no mínimo, desconcertante.
Aproveitando a presença de um dos moradores locais que passava, pedi a ele que interrompesse sua caminhada lânguida.
― Bom dia, homem simpático, você poderia me dizer se sabe por que o lago tem uma cor tão escura?
― Vejo que você é turista. ― ressaltou, fazendo uma pequena careta com o rosto quando parou para me ajudar.
― Sim, cheguei ontem à tarde. ― respondi satisfeita com sua suspeita.
― E vai ficar muito tempo? ― ele perguntou enquanto tirava o chapéu típico da região, e aproveitava a oportunidade para sacudi-lo um pouco.
― Eu não sei, só estou de passagem. ― respondi, surpresa pelo interesse dele.
― É uma pena! Seria bom se os turistas ficassem por um tempo. ― comentou, recolocando o chapéu e se preparando para continuar a caminhada.
― Sobre o lago… ― comentei rapidamente, lembrando-o do motivo da nossa conversa.
― Não sei como dizer, talvez por causa da cor das entranhas das rochas que formam essas montanhas, tudo que sei é que a água não é potável. ― continuou ele, enquanto começava sua lenta caminhada pelas ruas da cidade.
― É uma suposição! ― exclamei meio perturbada e nem um pouco convencida, porque, pelo que sei, as águas provenientes do subsolo, como no caso de nascentes e fontes termais, que formam muitos lagos, em geral são encontradas em locais especiais e contêm certos elementos na composição, como minerais ou sais que conferem certas propriedades terapêuticas.
É justamente nesses locais que costumamos encontrar spas, tão recomendados para idosos ou para tratar certas doenças reumáticas e até asmáticas, com o objetivo de aproveitar essas propriedades especiais da água, tornando-se uma referência e um dos maiores atrativos da região.
Uma cidade que esteja perto de um lugar assim pode ser considerada abençoada, uma vez que, em torno desses spas, que são lugares projetados para se recuperar a saúde ou simplesmente descansar e relaxar, todos os tipos de negócios surgem para atender a qualquer necessidade ou capricho que o cliente possa ter.
Mas, neste caso, não há construção alguma perto do lago que pudesse tirar vantagem das águas, nem mesmo um pequeno cais onde os turistas possam se aproximar para contemplar sua extensão, não havia um único barco para servir de meio de transporte de turistas em busca de diversão.
Olhando para todos os lados, percebi que a pequena cidade de no máximo vinte casas parecia um pouco negligenciada, diria até que abandonada, com paredes e tetos um tanto lascados, com sinais óbvios do desapego de seus habitantes. É como se eles não tivessem muito interesse em promover aquela aparência quase idílica que outras aldeias almejam para atrair o turismo de fim de semana ou como no meu caso, turismo de montanha.
Como se não tivessem pressa pelo muito desejado progresso e prosperidade econômica. Um pequeno investimento em reformar as fachadas, pavimentar melhor a rua principal e, assim, tornar a cidade mais atraente, seria muito recompensado com o fluxo maciço de visitantes e, por conseguinte, viriam comerciantes, prestadores de serviços e todos os tipos de classes caça-fortuna dispostos a comprar, alugar e investir para colocar estandes de lembrancinhas, hotéis, bares e restaurantes.
Mas essas pessoas não demonstravam o menor interesse em mudar, viviam como seus pais e avós, desconectados do mundo exterior e, o pior de tudo, sem interesse algum em saber o que estava acontecendo lá fora.
Essa percepção me levou a verificar e descobrir que em nenhum dos picos adjacentes era possível ver uma dessas antenas telefônicas tão controversas, porque, embora ainda não houvesse veredicto científico claro; parecia que eram a causa do aumento de doenças tão sérias quanto o câncer, ainda mais entre a população mais indefesa, como crianças, mulheres grávidas e idosos, que levou vários países a promulgar leis contra essas instalações perto dos centros de estudo e creches.
Também não encontrei nenhuma daquelas antenas de televisão horrendas nos telhados das casas, que são tão feias e danificam bastante a paisagem. É bem comum que ao observar o céu em algumas cidades ou quando se sobe nos telhados, constatar como o horizonte foi literalmente tomado por milhares desses artefatos de metal.
E, para minha surpresa, não havia nem mesmo os postes de iluminação, tão necessários, que se tornaram uma parte indispensável da paisagem nos campos e nas cidades; pela necessidade de que a eletricidade chegue a qualquer casa e, assim, perceba, se cozinhe, lave roupas, etc. Que se realizem as infinitas tarefas que, de outra forma, seriam impossíveis pelo menos em um local civilizado.
Esse aspecto um tanto negligenciado do lugar e a ausência de qualquer indício de modernidade contrastavam com a aparente boa saúde de seu povo, e que até mesmo os mais idosos pareciam ágeis e sem dores, ninguém carregava uma única bengala ou muleta, e olha que o chão era bastante escorregadio, cheio de pedras usadas como paralelepípedos nas ruas, o que seria garantia de pelo menos uma entorse se não se tomasse cuidado.
Mas eles pareciam tão alheios a todas essas ausências, andando de um lugar para outro com tanta tranquilidade que duvido que a maioria precisasse cumprir alguma obrigação, porque com a pouca pressa com que se mudavam, não teriam tempo para cumpri-la.
Aproximando-me de uma das mulheres, vestida com roupas escuras, e que cobria a cabeça com um lenço preto, sentada em uma cadeira de balanço de sua casa, tomando banho de sol em paz, tentei obter mais informações sobre esta aparente falta de interesse das pessoas à beira do lago.
― Bom dia, senhora. Posso fazer algumas perguntas? ― falei com ela sem saber se ela estava acordada, pois seus olhos estreitados não me deixaram adivinhar.
― Minha nossa, uma turista! ― ela exclamou sem demonstrar o menor choque, e sem abrir os olhos.
― Sim, cheguei ontem à noite. ― respondi, como fiz com o morador anterior, um tanto surpresa com a atitude dela.
― O que trouxe você aqui? ― ela me perguntou antes que eu pudesse interrogá-la sobre o lago, e iniciou um movimento repetitivo de balanço que foi acompanhado pelo rangido característico de sua cadeira.
― Gosto de montanhismo, e essa era uma área que eu não conhecia. ― respondi, ainda sem saber onde estava.
― Não me surpreende. ― ponderou ela, colocando a mão na frente do meu rosto para cobrir o sol e me ver melhor, enquanto abria aqueles olhos cinzentos.
― Bem, eu gostaria de saber mais sobre o lago, porque sua cor chamou minha atenção… ― tentei jogar a pergunta de forma rápida.
― Vai ficar por quanto tempo? ― a mulher me interrompeu sem me deixar explicar, fazendo um movimento para se levantar, enquanto parava o balanço lento e silenciava o ruído de sua cadeira de balanço.
― Eu não sei, um ou dois dias. ― respondi meio em dúvida, sem saber muito bem o que traria tanto interesse, já que a outra pessoa com quem conversei fez a mesma pergunta.
― Uma pena! Se tivesse tempo, se pudesse ficar até a próxima lua, então veria como o lago é bonito. ― ela comentou com um sorriso largo, enquanto se recostava e recomeçava o movimento oscilatório.
― Bem, não sei quando será, mas voltando ao assunto, saberia dizer por que o lago é dessa cor? ― perguntei na tentativa de retomar o assunto que me interessava.
― Eu não sei sobre essas coisas, apenas que é assim. ― disse ela, indiferente, enquanto fechava os olhos para continuar seu sono e repouso.
― E você sabe por que a água não é potável? ― eu insisti, lembrando das informações que o morador anterior havia me dado, chateada pela passividade da mulher.
― A única coisa que posso dizer é que é um lugar sem vida e, portanto, não é adequado para uso, por isso preferimos deixá-lo como está. ― concluiu ela, um pouco irritada porque a conversa tornara-se muito longa, e moveu a mão com parcimônia, de um lado para outro, um gesto para que eu fosse embora.
Depois de agradecê-la por suas palavras, me voltei intrigada em direção ao lago, para vê-lo mais de perto, permanecendo pensativa ante aquelas breves palavras escutadas dos habitantes que pareciam não se preocupar em ter um lago tão grande na frente deles e, também, sem poder aproveitá-lo de nenhuma maneira.
Eu já havia lido sobre alguns tipos de águas que não são boas para o consumo porque contêm certos microrganismos ou simplesmente porque possuem altos níveis de substâncias tóxicas para o corpo humano, seja arsênico, enxofre ou qualquer outro elemento nocivo presente nos confins da Terra.
Chegando quase à margem, subi em algumas rochas que podiam servir de assento improvisado, e assim contemplar aquele estranho fenômeno em estado líquido, do qual mal consegui obter algumas palavras dos habitantes locais, não muito mais que ideia repetida de que a água não é boa para consumo.
Fiquei sentada em frente ao lago por algumas horas, admirando a cor que nos impedia de adivinhar o que havia nas profundezas de suas águas, sendo o comprimento a única característica óbvia, pois não havia nada que indicasse um rio ou cachoeira nas proximidades que fornecesse água corrente, mas, ainda assim, algo me surpreendeu, porque mesmo à curta distância em que eu estava, ainda não havia notado nenhum efeito negativo em minha saúde, nem mesmo o mau cheiro que costuma ser tão característico de áreas com substâncias perigosas ou em lagoas e reservatórios com águas estagnadas.
Logo fiquei encantada vendo as nuvens fluírem em um ritmo lento através das fendas das montanhas, ou acima de seus picos, e não pude evitar a comparação com a caminhada dos habitantes daquele lugar que pareciam despreocupados com a passagem do tempo, alheios ao pulso frenético de uma cidade.
Aqueles conglomerados espumantes de água evaporada formavam imagens curiosas, às vezes fáceis de identificar como um animal, e que mudavam ao capricho do ar, refletindo-se como se a superfície negra daquele lago fosse um espelho.
Mas, por mais que eu insistisse, não consegui ver o menor vislumbre de movimento em sua superfície, como se a água daquele lago estivesse imune aos influxos da brisa que, em qualquer outro lago provocaria pequenas ondas, suaves e espumosas, que bateriam contra a margem, mas não havia vestígios da menor perturbação, como se as águas fossem uma substância viscosa e impenetrável, mais parecida com componentes oleosos como o óleo.
Além disso, não havia nada vivo ao redor, nenhuma planta, por menor que fosse, crescendo nas proximidades de lugares úmidos ou líquen nas rochas onde eu estava, ou algas na superfície daquele lago, não se via nada vivo perto de mim.
Isso em relação ao que vi, mas mesmo acostumada às mudanças entre a cidade e o interior onde os sons são mais sutis, não conseguia ouvir o menor ruído naquele lugar que era, sem dúvida, propício para se descansar e relaxar, mas não se ouvia nem sapos nem pássaros.
O que, sem dúvida, me confundiu bastante, porque em locais calmos, por mais baixo que seja o ruído produzido, ele se expande por longas distâncias, enquanto na cidade, às vezes você precisa gritar para que a pessoa ao seu lado entenda suas palavras.
Tanto é assim que, para verificar se, por algum motivo meus ouvidos estavam comprometidos disse o que as crianças com tanta euforia fazem quando veem alguma gruta ou cavidade que possa gerar eco e gritei “Eco” e, depois de alguns instantes… Nada, tentei novamente mas virada para outro lado, desta vez com mais força e… nada.
Bem, pode ser que, por ser um local aberto, eu não tivesse a sonoridade necessária para formar o eco, o que havia ficado claro era que eu escutava bem. Estava segura de que não estava com os ouvidos entupidos nem nada parecido.
Mas, por não ter vida no local, nem mesmo aqueles animais pequenos e inoportunos, que costumam estar prontos para atacar tudo o que se move ou pelo menos incomodar como: moscas, mosquitos e uma série de insetos que vemos em ambientes rurais assim.
E de todas essas inconsistências, isto era o que mais me impressionara, porque em muitos lugares onde há acúmulo de água, se concentra muitos insetos, alguns atraídos pela vida que é gerada ao redor e outros esperando por visitantes desavisados para dar as boas-vindas. Não notei nenhum deles, mas durante todo o tempo em que estive lá, não vi nenhum, por menor que fosse. Tal descoberta me encheu de medo por um instante, tanto que até me fez dar um pulo enquanto eu me perguntava: “E se fosse verdade que a água era tóxica?”, talvez eu tivesse me apressado em me aproximar sem tomar nenhuma precaução, porque embora eu não apresentasse sintomas como asfixia ou tontura, eu não conseguia adivinhar o que causaria a ausência de animais voando na área. Bem, decerto prefiro pensar que as aves haviam migrado e não que morreram todas por envenenamento.
Depois de olhar para todos os lados e verificar se eu estava sozinha e que parecia não haver sinal de perigo, sentei-me na rocha, onde me sentia segura, porque apesar de estar perto da margem era uma distância boa o suficiente para não cair por descuido.
E abandonei qualquer ideia de que, quando o sol tórrido atingisse seu auge, talvez conviesse entrar no lago para banhar-me, ou pelo menos refrescar os pés na beira sem precisar entrar totalmente.
Algo tão inocente que eu já havia feito tantas vezes sem problemas era agora visto por mim como um possível risco para a saúde, pois não sabia se o simples contato com a água negra era suficiente para me deixar doente ou se apenas a ingestão era maléfica.
Eu estava no alto da pedra, deitada e relaxada, os olhos semicerrados e quase adormecida, meu olhar observava as nuvens quase que em hipnose, quando percebi algo muito estranho, era um som abafado, como se ouvisse a voz de alguém com a orelha grudada em uma porta.
Tal foi o susto que pensei que algumas pessoas haviam me visto e que haviam se incomodado, e que de alguma maneira eu provocara um escândalo e que deveria ir embora dali.
Olhei rapidamente para todos os lados, meu coração ainda estava apreensivo, mas não vi ninguém, e não tinha ideia de onde vinha aquele barulho contundente. Eu estava sozinha naquele lugar, sentada na pedra sem ninguém por perto quando aquela sensação voltou, talvez até mais forte.
Agora eu estava bem atenta, mas não conseguia descobrir de onde vinha, e se eu não soubesse que era impossível acharia que alguém estava batendo na rocha por baixo, porque eu podia sentir o tremor.
Fiquei um pouco preocupada com isso, me mantive em alerta, olhei para todos os lados, sem identificar nada de diferente, me preparei para sair de lá às pressas quando acontecesse de novo, é como se a rocha estivesse oca e a tivessem atingido com violência; mas não podia ser, não havia ninguém lá e rocha me parecia sólida.
Naquele exato momento, talvez por reflexo, olhei para o lago para ver se havia ondas na superfície em decorrência do tremor, como acontece quando uma pedra é lançada na água, e percebi que algo muito estranho estava acontecendo, a superfície que até aquele momento permanecia calma e imóvel, parecia estar abaulada e começava a afundar no centro. É como se tivessem retirado a tampa de uma banheira e o ralo drenasse com força, mas a calma do lago não foi interrompida por muito tempo, o formato côncavo se sustentou apenas por alguns segundos e depois voltou ao estado normal.
Tal percepção me deixou alarmada, não entendia o que estava acontecendo, erai a primeira vez que via algo assim, como se algo debaixo da terra se deformasse e refletisse na superfície.
Assustada com o que ouvi e vi, corri em direção à cidade, não muito longe, tão destrambelhada que quase caí da boca ao descer das pedras grandes, mas consegui impedir a queda no último instante ou meu rosto ficaria gravado no solo. Depois de me levantar, e sem me importar com as mãos machucadas pelo acidente, continuei correndo, a respiração entrecortada, não ousei olhar para trás.
Corri o mais rápido possível nos trechos que serviam de rua, mesmo correndo o risco de cair de novo, sem saber o que estava procurando, explicações ou abrigo.
Procurei em todos os lugares para ver se encontrava um morador para pedir ajuda, porque afogada pelo esforço não conseguia produzir o menor som que pudesse soar como um pedido de ajuda. Mas, apesar de me afastar daquele lago o mais rápido que podia e desse estranho perigo, eu ainda tinha aquela sensação avassaladora de que não estava bem.
Como pude, continuei correndo para onde ficavam as casas e, quando cheguei, não vi ninguém, algo ainda mais estranho, porque, quando saí, havia cerca de uma dúzia de vizinhos, entre os que andavam de um lugar para outro e os que sentavam-se tomando banho de sol na tranquilidade, mas agora, agora… tudo estava deserto.
Talvez eles estivessem tão assustados como eu e se trancaram em suas casas, refugiando-se, esperando que acabasse, fosse o que fosse, eu não tinha tempo para mais nada, nem queria descobrir esse mistério, estava mais preocupada em me salvar.
Cheguei na casa de quem me recebera na noite anterior, cujo dono estava preparando a comida quando saí; era um homem velho, que os vizinhos me disseram, à minha chegada, ser o único que possuía um quarto vago, porque sua filha havia deixado a cidade há muito tempo, havia se apaixonado em uma viagem de estudos. Então a casa dele se tornou uma pousada improvisada, onde eu poderia ficar o tempo que precisasse.
Procurei por ele em todos os cômodos e não consegui encontrá-lo, seja na cozinha ou em qualquer outro lugar, o que me deixou muito mais nervosa, pois pensei que estaria segura ali, mas agora também duvidava que assim fosse.
Corri para o meu quarto e fui imediatamente para a cômoda. Eu procurei ansiosamente entre as gavetas sem encontrar o que estava procurando em meus pertences. Abri as pequenas portas com a chave que permanecia na fechadura e, procurando nos meus pertences, por fim encontrei minha mochila.
Respirei fundo, olhei dentro, esperançosa, atrás do pequeno aparelho que poderia salvar minha vida, o telefone celular e ligar para a emergência.
Eu nem me lembro de ter tido esse necessidade antes, porque tive a sorte de nunca me envolver uma situação que a gravidade demandasse tal auxílio, pelo menos não desde que comprei um, pensei enquanto um véu grosso era tirado de minhas lembranças, trazendo-me momentos amargos à tona. Uma vida que eu havia me esquecido.
Assustada, perdida e agora entristecida, eu não conseguia me acalmar o suficiente para me acostumar com aquilo, apalpei todos os lugares até apertar o botão de ligar, digitei a senha e depois, fiquei parada, imóvel, não tinha certeza de que era capaz de encontrar uma explicação para a situação estranha que estava vivenciando.
Mal havia pressionado os três números, pensei ter ouvido o primeiro toque, o segundo… mas não era o que estava acontecendo. Olhei para a tela e vi a inexplicável mensagem de “Fora da área de cobertura”.
Não se dizem que funcionam no mundo todo? Contrariada, desliguei e voltei a tentar outra vez, esperando obter um resultado diferente, mas a mesma mensagem voltou à tela.
Tremendo, tentei ligar para qualquer número da minha lista, tentei entrar em contato com qualquer pessoa que pudesse pedir ajuda, mas nada, a mesma mensagem.
Eu estava com tanto medo, pois até então, sempre que eu usava o telefone, havia alguns amigos do outro lado com quem eu podia compartilhar meus momentos bons ou ruins, mas agora, que eu tanto precisava, não havia ninguém.
Irritada, joguei o aparelho na cama com desprezo, e tentei deixar a casa para seguir a outro lugar mais seguro, na corrida frenética que só fora interrompida pelos breves minutos que tentei usar o telefone.
Eu quase caí quando cheguei à rua de paralelepípedos, quando pensei ter reconhecido um grande edifício branco, que se destacava em altura em meio às demais casas por conta de seu campanário. Eu corri, meu corpo envolto em suor e a respiração acelerada, queria me refugiar naquele templo, onde supus que sempre deveria haver alguém, em uma celebração ou apenas rezando.
À medida que me aproximava, suas dimensões aumentavam e, com muita estranheza, eu me senti mais calma e segura, tanto que até diminuí o passo antes de chegar às portas.
Puxando os anéis que ficavam no centro das grandes portas, abri-as depressa e entrei em busca de um dos moradores locais, porque o susto que havia sentido no lago havia se tornado uma estranheza e depois em medo pela ausência de qualquer vida naquela cidade.
E para minha surpresa também não havia ninguém lá, depois de inspecionar o confessionário, corri por entre os bancos e fui à sacristia para ver se pelo menos o padre estava lá, mas também não o encontrei.
Sozinha, exausta e assustada, parada no meio da igreja, minhas forças me derrotaram e deixei meu corpo cair, como chumbo, em um daqueles bancos longos. Chorando de nervosismo, com as mãos machucadas pela queda, fiquei onde estava, tremendo pelo esforço feito.
E naquele momento de desespero, com fiz tantas vezes quando era criança, olhei para o Cristo, que havia sido pregado na cruz, e estava pendurado no alto do teto, suspenso sobre o altar. Inspirei fundo, fechei os olhos devagar e me preparei para rezar e pedir por ajuda, quando de repente… senti que algo ou alguém estava tocando meu ombro enquanto ouvia,
— Acorde, senhora! Está na hora de comer. — sussurrou uma voz rouca, falhada pela passagem do tempo.
— O quê? Onde? O que aconteceu? — perguntei, intrigada quando me recuperei, olhando em volta.
Depois de alguns segundos, quase o suficiente para me recompor, percebi que tudo havia sido uma espécie de sonho, embora parecesse mais um pesadelo, porque eu estava sentada em frente ao lago, na mesma pedra em que fiquei por horas, aquela pedra que antes me pareceu oca.
Olhei em volta e não vi nada no lago, nenhuma imperfeição em sua superfície e do outro lado, a cidade e seu povo à distância, esse morador ao meu lado, e era o homem que me havia recebido em sua casa que agora me avisava que a comida estava pronta.
Não sabia o que dizer, porque não conseguia entender o acontecido, não me lembrava de ter passado por tal experiência antes, nada que pudesse ser comparado. Bem, sonhava como todo mundo, mas tudo havia sido tão real que fiquei surpresa por não ter de fato acontecido, mas é claro que não poderia ter me vindo tão rápido da igreja até aqui, então aceitei que era sonho.
Olhei para as mãos e não havia vestígios dos hematomas que arrumei ao descer da pedra, inspecionei minhas roupas e não havia a menor sugestão da queda, apesar de sentir uma estranha aceleração na respiração.
Toquei uma das carótidas com a mão, as artérias que percorrem a face externa do pescoço de cada lado e que costumamos sentir para medir o pulso. Depois da contagem de um minuto, percebi que estava acelerado demais. Quase excessivo. Isso poderia explicar por que eu estava encharcada de suor, apesar de tudo indicar que eu não havia saído daquela rocha.
Depois de me certificar de que tudo estava como antes do sonho, desci com cuidado daquela rocha, para evitar cair e fui com o homem até a cidade. Fiquei tão feliz por poder ver alguém que me dava a sensação de segurança, de modo que, durante todo o caminho de volta, eu o segurei pelo braço, algo que o homem não parece ter se importado, porque não fez nenhum gesto de desaprovação, pelo contrário, parecia feliz com a minha decisão.
Apesar da intensa e detalhada experiência que tive, eu não sabia se deveria contar a alguém, quem iria acreditar em mim? Nem meus amigos entenderiam tudo o que eu havia sentido naqueles momentos de grande solidão e desespero.
Havia tantas emoções e memórias vívidas que eu me senti estranha. O sonho havia despertado sentimentos que eu pensava terem sido esquecidos e outros da infância que considerava perdidos no tempo.
A angústia vital causada pela solidão, por não encontrar quem me entendia e compreendia; o desespero para encontrar uma saída, de fazer o meu caminho na vida, apesar dos muitos obstáculos e preconceitos que tive que superar; a dor da perda abandono dos entes queridos; a devoção religiosa em que fui educada e que não pratiquei mais… tantas emoções vieram ao presente como um dilúvio sem poder entender o motivo disso.
Mesmo com essas sensações à todo o vapor, quando chegamos ao chalé, larguei o braço daquele homem e fui depressa ao meu quarto fazer aquilo que fiz durante o sonho de instantes antes, pegar meu telefone.
Tirei da mochila, liguei, disquei o número de emergência, e o coloquei no ouvido. Um toque, dois toques…
— Bom dia, emergência, como podemos ajudá-lo? — era a voz de uma mulher de meia idade do outro lado da linha.
Fiquei surpresa pela saudação, suponho que seja o que deveriam dizer, mas, como já havia tentado sem sucesso, nem sequer havia preparado o que dizer.
— Desculpe, estava testando o aparelho. — respondi hesitante. Não aconteceu nada, desculpe.
Dito isto, desliguei sem dar tempo para que a senhora me dissesse mais alguma coisa, coloquei o telefone no peito e respirei fundo. Fiquei tentada a ligar para um de meus amigos, mas não vi a necessidade de incomodá-los apenas para ouvir a voz de um deles, pois já havia verificado que o celular funcionava bem, sinal forte a e boa comunicação com o mundo exterior.
Depois de trocar de roupa, fui para a cozinha, onde o homem havia me deixado um prato de comida pronto, surpresa com a atitude de ir me buscar para comermos juntos.
— Muito obrigada, mas fiquei com fome enquanto preparava. — disse o homem, recusando meu convite.
Dito isto, ele pegou uma cadeira e saiu de casa para ficar ao lado da porta e, sentando-se sossegado, começou a aproveitar o sol, me deixando sozinha na cozinha para que eu pudesse comer.
Embora o café-da-manhã tivesse sido bastante escasso, a comida de agora parecia desproporcional. Além de outro pedaço do mesmo pão duro, havia o que parecia uma sopa de legumes, embora parecesse água com pedaços quase transparentes de cebola flutuante.
Nada a ver com a multiplicidade de vegetais esmagados, como cenoura, tomate, cebola, pimentão ou couve-flor, que poderiam estar ali para torná-la uma verdadeira sopa juliana e não um caldo simples de cebola. Deveria ser um consomê típico da região ou algo assim.
Então, em vez de uma salada abundante e brilhante, com todos os tipos de vegetais cortados em pedaços grandes, com alface, pimentão, pepino, tomate, cebola, cenoura e salsa, havia apenas uma pequena escarola com azeite
No prato principal, por mais que eu chafurdasse, não havia sinal de nada, nem um bife feito na grelha, nem peixe fresco fumegante e grelhado, ou nem mesmo um ensopado simples com linguiça e bacon.
E ainda por cima, não vi nada para a sobremesa, apesar de gostar de uma fonte colorida de uma variedade de frutas de todas as cores imaginadas, com peras, maçãs, laranjas, tangerinas, bananas, damascos, pêssegos, uvas, melancias, melões, abacates, nêsperas, cerejas, morangos, cerejas, figos… ou qualquer outro fruto selvagem, mas não havia nada.
Acho que o homem também comeu pouco, pois para compensar a escassez, encontrei um punhado de pinhões, como se fossem um pedido de desculpas ou algo parecido.
Acredito que foi por causa da minha chegada imprevista àquela cidade que meu anfitrião se viu obrigado a improvisar e não tivesse alimentos suficientes para me receber, como seria normal em outra hospedagem. Mas, em vez de comprar outra coisa para me oferecer, ele estava sentado pacificamente ao lado da porta, então, temo que ele não tenha muito interesse em resolvê-la, então prevejo um jantar bem ralo à minha espera esta noite.
Embora fosse possível, que esta era a única coisa que comiam nesta cidade, por ser tão alto e com uma terra tão austera e cheia de pedras, talvez fosse difícil para o campo produzir qualquer coisa.
Não seria de esperar que eles pudessem tirar muito proveito daquelas árvores circundantes, além dos pinhões, pois não era lugar propício à árvores frutíferas.
Além disso, estando tão isolados e sem uma estrada adequada, seria muito difícil chegar cargas com regularidade e, portanto, se acostumaram a lidar com a escassez, a fim de sobreviver entre cada distribuição.
Com uma dieta como essa, não me surpreende que os habitantes desta cidade pareçam tão bem de saúde, porque, apesar da idade que aparentam, se movem com bastante agilidade, tanto que podem até competir comigo.
O dono da casa, que apenas alguns minutos atrás havia me deixado na cozinha, me trouxe tão rápido desde a rocha que eu quase pensei que estávamos competindo. Um passo constante e acelerado que me custou para seguir de braços dados com ele. Ele manteve o ritmo durante a caminhada sem mostrar sinais de fadiga.
Algo me incomodava com essa situação, de que a comida rala era me dada de forma intencional para eu não me recuperar e continuar com minha viagem. Poucos alimentos que, apesar de bem preparados, não eram um manjar para os olhos.
Eu era uma daquelas pessoas que, mesmo sem comer demais, precisavam da ingestão de muitos nutrientes diariamente, não poderia faltar frutas e legumes em meu prato, e mesmo assim nunca ganhei peso.
Minha figura, quase estilizada, não era o resultado de uma daquelas dietas que costumam ser seguidas pelas modelos, na qual elas se alimentam de um único alimento, seja uma fruta ou vegetal, apenas ele quantas vezes você desejar por dia, como a dieta de bananas, maçãs ou melões.
A esse respeito, ouvi dizer que, embora aparentemente os resultados desejados possam ser alcançados, pois perdemos rapidamente muitos quilos, a descompensação que ocorre no corpo através da remoção de substâncias necessárias para o bom funcionamento pode levar a problemas, até graves, para a saúde.
Também não sou uma dessas mulheres que passam horas e horas na academia, tentando queimar qualquer indício, por menor que seja, do acúmulo de gordura que poderia ser produzido. Além disso, eu não teria paciência suficiente para realizar exercícios com pesos todos os dias, apesar das mudanças por causa dos grupos musculares trabalhados; nem acredito que seria capaz de cumprir um desses circuitos exaustivos, nos quais a cada cinco minutos você deve passar de um dispositivo para outro, que, se você andar pela esteira pela primeira vez, depois pedalar com a bicicleta, então… exercitar o maior número de músculos do corpo em um único dia; eu não conseguia nem terminar uma só com sucesso, e sem me perder pela metade, uma daquelas sessões de aeróbica ou em qualquer uma das modalidades modernas que surgiram com base no mesmo princípio de realizar numerosos movimentos coordenados no menor tempo possível e tudo frente ao espelho.
Sou simplesmente assim, uma mulher delgada, como toda a minha família, então suponho que tenha muito a ver com a genética. Portanto, manter a linha sempre foi algo que nunca me preocupou em excesso, ao contrário de alguns de meus amigos, que estão sempre discutindo o mesmo tópico, analisando o que podem comer ou não e quantas calorias tem em cada refeição, quais alimentos comer para saber se não vão exceder o máximo permitido por dia.
Também acho que ajuda a me manter em forma o fato de que quase todo fim de semana vou fazer caminhadas nas montanhas e, por qualquer motivo, não me apetece ir tão longe, ou se está chovendo e com mau tempo, faço uma rápida sessão de caminhada na pista coberta do centro esportivo ao lado de minha casa.
Um pouco de exercício sempre me ajuda a me sentir bem comigo mesma e, se puder ser no meio da natureza melhor ainda, é algo que me revitaliza e me enche de energia, expelindo do meu corpo qualquer toxicidade que possa ter acumulado durante meu dia de trabalho.
Mas eu não como fora de hora, nem petisco já que tento trazer algum equilíbrio para a vida, valorizo o que faço e como, guiada por essa máxima nutricional que gosto de lembrar pelo menos uma vez por dia, “mens sana in corpore sano”, cuja tradução seria “mente saudável e corpo saudável”.
Apesar de ter tido provas, em mais de uma ocasião, que eu posso comer qualquer coisa, proteína, carboidratos ou gorduras, pois tudo se queima rapidamente com minhas atividades diárias. E se restava alguma reserva, eu a eliminava nas minhas escapadas de fim de semana, nas quais o corpo consumia tudo o que podia.
Por isso, me acostumei a boa comida, não que fosse muito exigente em termos de variedade de pratos, mas em relação à quantidade, tentando comer pouco, mas tudo.
Para mim, a pior coisa quando se tratava de comer e, portanto, que eu costumava evitar ao máximo eram aquelas saladas cheias de grandes folhas, tão pesadas para digestão e com tão poucos nutrientes.
Então, com tudo à minha frente, fiz coragem e comecei a comer devagar, sabendo que o velho havia preparado com o pouco que deveria ter, então não queria desprezá-lo.
Além disso, como havia feito no café-da-manhã, fui para meu quarto quando terminei tudo e complementei com alguns dos alimentos ricos em minerais que trouxe na mochila.
Desde que descobri uns biscoitos desidratados que os militares costumam consumir nas competições e que são recomendados nos manuais de sobrevivência, nunca me deixei ficar sem eles e os levo comigo aonde quer que eu vá, na mochila quando vou caminhar, na bolsa do trabalho ou no bolso da calça em uma rápida saída para compras.
Para mim, era um tipo de seguro-saúde, porque era uma fonte de energia nos momentos em que eu sentia as forças me escapando por causa do esforço ou, simplesmente, para reunir uma boa quantidade delas durante o descanso.
Eles eram tão importantes para mim que eu sempre trazia muitos, a data de validade era longa e pesavam tão pouco, que eu não precisava calcular tanto a quantidade e correr o risco de ficar sem.
Especialmente porque nas montanhas é comum compartilhar suprimentos com outros viajantes ou alpinistas que se encontra no caminho, que por qualquer motivo perderam ou consumiram todos os seus recursos. Por esse mesmo motivo, sempre carregava o dobro da quantidade de água necessária para a viagem de ida e volta. Dessa maneira, antes mesmo de sair, era possível minimizar os efeitos de qualquer imprevisto que possa surgir, daí o ditado “mulher cautelosa vale por duas”.
Depois que terminei de comer o que podia e com a sensação de estômago pesado, fui para o meu quarto suplementar meus nutrientes com os biscoitos desidratados. Algumas pessoas riam porque parecia comida de cachorro, mas eu preferia compará-los à comida dos astronautas.
Depois de recolher tudo no meu quarto, quis dar um passeio, porque o costume quase religioso de tirar uma sesta após o almoço me parecia quase que perda de tempo, porque o corpo, pelo menos o meu, se recupera da fadiga à noite e não ao meio-dia.
É possível que, em alguns países mais quentes, perto do equador, ou perto de algum deserto, esse costume seja uma espécie de defesa natural para evitar a exposição ao sol nas horas de maior intensidade, mesmo que seja bom para facilitar uma digestão pesada como a que eu estava sofrendo agora; mas não era costume para mim ou minha família, então não o fazia.
Saí com cuidado para não interromper o sono profundo de meu anfitrião improvisado, que dormia pacificamente sentado em uma cadeira ao lado da porta, e olhei para os dois lados da cidade para decidir qual caminho seguiria.
À minha esquerda, o caminho das pedras descia como uma rua, para fora da cidade e seguindo até chegar ao lago grande e preto, uma ideia que eu logo descartei, porque ainda sentia calafrios ao me lembrar dos momentos vividos antes de comer.
Do outro lado, subia a estrada para a parte superior da cidade, que eu ainda não havia explorado, porque, quando cheguei, mal tive que percorrer alguns metros antes de descobrir onde dormiria. Também era um pouco tarde e à luz do sol estava para desaparecer por detrás dos penhascos das montanhas circundantes, então eu preferi me abrigar e descansar para hoje.
Eu não precisei pensar demais para decidir sobre a segunda opção. Sem me despedir do meu anfitrião e tentando não fazer muito barulho ao sair, ele ainda soava aquele cântico inconfundível de inspirações forçadas e sons bufantes, o que denotava alguma paz interior e absoluto desprezo pelos problemas mundanos.
Caminhei com calma pela avenida de paralelepípedos ladeada de casas, sem parar demais para contemplá-las, pois do lado de fora eram todas iguais, então, quem via uma, via todas. Casas de um pavimento com telhado alto e telhas duplas. Telhas comuns a lugares que nevam muito com certa frequência. Evitam o acúmulo dos flocos no telhado e o problema que isso traz por causa do peso.
Além disso, é claro, todas tinham uma chaminé fina e alta de um lado, o que garantia a sobrevivência de seus inquilinos quando a temperatura caía vários graus abaixo de zero, fundamental para as noites frias de inverno.
Quase que por instinto, olhei para o céu claro acima da minha cabeça e imaginei, por um momento, como seria uma daquelas raridades da natureza daqui, um presente caprichoso da vida que apenas alguns têm o privilégio de poder contemplar, uma aurora boreal. Iluminando o céu frio de inverno, quebrando a monotonia da escuridão da noite, limpando o horizonte com as estranhas mas maravilhosas silhuetas.
Um dos fenômenos da natureza mais atraentes em que tanto a Terra e o Sol se envolvem em termos iguais. O produto da colisão de elétrons do vento solar com os da atmosfera da Terra. Uma dança indescritível de cores maravilhosas, mais típica de histórias ou sonhos de crianças, que cativa e até hipnotiza quem tem a sorte de contemplá-la e que não se cansa ou se exaure, por mais que esteja sendo observado. Aqui, entre esses picos majestosos e diante de um céu claro, certamente seria uma experiência extraordinária e inesquecível, especialmente se as imagens daquelas ondas sinuosas de cores vivas e luminescência fulgurante fossem refletidas na superfície polida do lago, retornando parte de sua cativante imagem, iluminando assim todo o contorno das montanhas adjacentes, tornando-se um espelho espetacular na escuridão da noite, exatamente como eu havia visto com a passagem das nuvens. Um jogo de cores digno de ser contemplado, onde a imagem poderia ser confundida com um reflexo, formando uma sucessão de luzes e sombras entre as árvores e rochas circundantes, sem dúvida causando uma das experiências mais cativantes e irreais que se possa ter.
Após essa viagem da minha imaginação, olhei para baixo e lembrei que algo assim nunca poderia ocorrer nesta cidade, porque apesar de estar localizada no hemisfério norte, acima do Trópico de Câncer, ainda era longe das latitudes mais ao norte, onde era comum visualizar esse fenômeno atmosférico fascinante. Uma imagem tão idílica quanto a que eu estava fantasiando, só poderia ser produzida em alguns lugares com latitudes muito próximas aos polos.
Em minha vida, só tive a oportunidade de vê-lo em uma ocasião, quando fui a uma dessas viagens de aventura organizadas pela Lapônia, lugar que se escuta muito na infância, embora não saibamos muito bem onde localizá-lo no mapa, apesar de ser a terra natal de um personagem cativante que todos os pequeninos anseiam, e que uma vez por ano, alegra o espírito e desperta a ilusão de adultos e crianças. Em alguns lugares, ele é conhecido pelo Papai Noel; em outros, ele é chamado de Santa Claus, mas todos os que ouvem falar dele lembram que a estação fria está chegando e que em breve receberão os muito desejados presentes.
Uma tradição de generosidade para com os pequenos que se tornam o centro dessas celebrações, os adultos buscam surpreender e satisfazer os pequenos, seja com brinquedos simples de madeira ou com os mais sofisticados dispositivos de última geração. Tudo desperta interesse, alimenta a curiosidade e as crianças com seus olhos expectantes ficam cheias de emoção na expectativa de terem sido lembradas e receberem um belo presente.
Apesar de tudo, considero que a Lapônia, um território bem grande compartilhado por três países: Noruega, Suécia, Finlândia e parte da Rússia, ainda é atualmente um lugar desconhecido para o público em geral, digno de ser descoberto por suas muitas atrações durante o ano todo. Talvez seja por isso que suas paisagens encantadoras se mantém intactas, onde se pode sentir em um belo oásis congelado, cercado apenas pela natureza em seu estado mais puro, longe do dia-a-dia agitado e apressado, dando lugar a uma extensa quietude, que parece parar até o tempo, apenas modificado pela passagem do vento gelado vindo do Polo Norte.
Onde a imaculada cor branca cobre todos os lugares, graças à sua copiosa queda de neve, que muitas vezes esconde qualquer caminho traçado pelo homem, e com um frio intenso que congela tudo, mostrando belas impressões matinais com aquelas cortinas de gelo que pendem das árvores e telhados à espera de derreter gota a gota. O branco imaculado e o frio polar tornam-se partes indispensáveis da vida cotidiana, com presença constante em tudo que acontece.
Seus habitantes acostumados a sobreviver em condições tão adversas, vivem fervorosamente suas tradições profundamente enraizadas, mantendo os costumes quase intactos desde tempos imemoriais.
Uma experiência enriquecedora e extraordinária diante de uma natureza selvagem, mais selvagem do que nunca, com seus imensos vales nevados, cachoeiras congeladas que parecem vidro ou belas árvores com seus galhos derrubados pelo peso da neve acumulada.
E se tudo isso não bastasse, havia o incentivo de poder admirar, durante boa parte da noite, um dos fenômenos mais perturbadores e maravilhosos que podem ser vistos da Terra, a aurora boreal.
Mais uma vez, me deixei levar pelas belas lembranças de uma bela experiência, e olhando para os dois lados, voltei para onde estava, parada entre aquelas casas de piso único, enquanto avançava morro acima pela estrada de paralelepípedos que também era a rua principal da cidade.
Acompanhando as chaminés familiares e como parte indispensável da paisagem, as centenas de toras cortadas empilhadas, ao lado da porta ou na lateral da casa, tão necessárias para garantir o calor da casa ou como combustível na cozinha.
Continuando a avançar, e sem perceber muito do que os vizinhos estavam fazendo, fiquei muito surpresa ao ver como a cidade pela qual passava era exatamente como eu vi no sonho que tive antes do almoço à frente do lago. As mesmas casas, as mesmas pedras do chão, tudo parecia estranhamente familiar, eu quase podia dizer que era exatamente como eu me lembrava, talvez com a ressalva de que nessa ocasião havia pessoas na rua e sentadas na varanda de suas casas.
Pode ser um desses eventos estranhos, chamados extrassensoriais, que não podem ser explicados de maneira muito clara e convincente, e que determinados jornais e programas de televisão sensacionalistas tratam com tanto alarde. Algo chamado de paramnésia ou “Déjà vu”, que pode ser traduzido como “já visto, já vivido”. Uma experiência pela qual a pessoa acredita que reconhece detalhes de um local em que nunca esteve, mas que pode fornecer detalhes surpreendentes, que não deveria saber, se não, porque já havia visitado o local antes.
Pelo pouco que sei sobre o assunto, ainda não foi possível chegar a uma explicação por unanimidade, esclarecedora o suficiente para responder como ou por que esse fenômeno misterioso ocorre, permitindo assim o surgimento de várias tentativas de uma explicação mais ou menos convincentes, cada uma mais incomum que a anterior.
Da ciência mais conservadora, há autores que defendem a posição de que é um fenômeno fácil de explicar; seria como uma espécie de autoilusão do cérebro, provavelmente devido a certas disfunções nas conexões neurais que alterariam o processamento normal do cérebro. Uma falha que confunde o que está sendo armazenado na memória naquele momento com a experiência de recuperação de informações, tornando possível sentir como familiar tudo o que está sendo vivido pela primeira vez.
Uma explicação que, ao meu entender, é bastante complexa e até complicada, e que deixa perguntas tão importantes sem resposta, já que algumas pessoas são capazes de fornecer detalhes exatos de lugares, edifícios ou objetos, mesmo antes de chegar ao local e, portanto, sem ter tido a experiência prévia de vê-los.
Os parapsicólogos, enquanto isso, tentam resolver esse enigma, afirmando que ainda se está longe de ser capaz de desvendar os limites das capacidades do nosso cérebro. Uma prova confiável disso seria justamente este caso, onde há evidências da existência de um tipo de capacidade que não compreendemos, questionando tudo o que acreditávamos até então. Seria um tipo de sexto sentido, que nos alertaria com antecedência, impedindo-nos de nos aproximar do perigo muito antes que ele ocorra. E é precisamente, graças a esse sentido, que podemos conhecer os detalhes de lugares que não conhecemos. Em que a pessoa, através deste sentido, teria visitado o local em momento anterior, de alguma forma, para saber se algum tipo de perigo ronda o local antes da visita propriamente dita, e, portanto, é capaz de reconhecer estes lugares ao visitá-los fisicamente pela primeira vez.
Por outro lado, há que considere isso uma prova inevitável da existência de um tipo de segunda vida, que chamam de reencarnação, algo que milhões de pessoas no mundo acreditam, como os seguidores do hinduísmo. Por meio dessas crenças, afirma-se que, depois de que esta vida se finde, o corpo seria deixado e algo dentro dele passaria para uma nova vida, no ventre de uma mulher grávida. Apesar de ser um novo ser que nasce, acredita-se que ele retenha parte do modo de ser e de pensar da pessoa anterior, há quem afirme que pode até transmitir claramente características físicas identificáveis. E é nessa experiência de ser, quando um tipo de má conexão entre a pessoa que viveu antes e a pessoa que agora vive que, de alguma forma, se pode acessar essas experiências passadas, a pessoa torna-se capaz de se lembrar lugares e de detalhes vividos nessa outra vida.
Existem aqueles que, baseados na premissa de que pode haver uma transmissão de informações de uma vida para outra, não admitem que ocorra entre estranhos que nada têm a ver um com o outro, admitindo apenas a possibilidade de que ocorra entre pais e filhos de maneira descendente, pois consideram que essas memórias estão contidas no DNA e, portanto, farão parte das novas gerações. Esse fenômeno seria explicado porque um parente direto esteve no mesmo lugar em algum momento do passado.
Qualquer que seja a explicação para esse fenômeno, tenho certeza de que, neste exato momento, está acontecendo comigo. Enquanto continuo a caminhar, reconheço cada um dos lugares por onde passo, o que me causa uma sensação de estranheza e até inquietação, com uma convicção tão profunda que me faz parar. Eu não tinha mais certeza do que via, tudo era tão vívido, cheio de luz e cor como eu havia experimentado no sonho tido na pedra que não podia ter certeza se continuava a sonhar ou não, então fiz a única coisa que me ocorreu para conferir: me beliscar.
A forte dor que me causou até me fez surgir lágrimas e me permitiu me certificar de que eu estava ali no meio daquelas casas e não em frente ao lago, algo que não deixou nada além de um sentimento agridoce de desconfiança sobre o motivo de eu reconhecer tal lugar. Depois de alguns instantes e vendo que, se eu não seguisse em frente, não chegaria a lugar algum, continuei subindo a ladeira até chegar ao topo, onde o último edifício da cidade, na parte mais alta, e sem surpresas lá estava a igreja de paredes brancas, com o grande campanário, exatamente como no sonho.
Ninguém ficaria indiferente a isto, e minha estranheza aumentou, porque não me lembrava de ter chegado tão alto no dia anterior, dada minha exaustão naqueles momentos da tarde em que apareci nas proximidades da cidade, completamente perdida e sem noção.
— Boa tarde. — cumprimentei o primeiro aldeão que vi que estava colhendo alguns galhos.
— Boa noite, senhorita. — ele respondeu com óbvios sinais de surpresa. — O que a traz aqui?
— Eu me perdi e estou procurando um lugar para passar a noite antes de continuar o meu caminho. — eu disse com um sorriso tímido enquanto colocava minha carga pesada de sempre no chão.
— Vai ficar na cidade? — ele perguntou, estranho, enquanto deixava cair a pilha de lenha que havia coletado.
— Sim, claro. — eu disse sem entender a reação dele.
— Quanto tempo? — ele me perguntou novamente e sem reagir à perda dos itens coletados.
— Eu ainda não sei, pelo menos hoje à noite. — respondi, tentando ser o mais gentil possível, apesar do cansaço acumulado e das pernas começando a vacilar.
— Siga-me. — ele respondeu e começou uma caminhada frenética até a cidade.
Naquele momento, pensei em deixar minha mochila lá e buscá-la depois, porque não tinha vontade de levá-la às costas outra vez, mas como não sabia para onde estava indo, preferi carregar, dada a falta de cortesia daquele homem que nem sequer ofereceu-se para levá-la para mim.
Posso ter me acostumado a galanteria, algo que, por outro lado, não me incomoda muito, mas quando alguém é tão abrupto e desatento me incomoda, o que custa às pessoas terem um pouco mais de cuidado?
Tentei alcançá-lo quando, de repente, ele entrou em uma casa em cuja porta parei para esperar por informação, não sabia o motivo da entrada dele, pois deveria me levar a um lugar para dormir, um hotel mesmo modesto, ou pelo menos um abrigo, mas não havia indicação de qualquer tipo de acomodação naquela casa.
Olhei em volta, com a pouca luz que ainda existia e pude supor que havia duas fileiras de casas, uma de frente para o outra, formando um corredor no que seria a rua principal. Sem uma palavra, o homem saiu quase que correndo e foi para outra casa na frente daquela, e depois de um breve momento, ele disse:
— Aqui!
— disse o homem ao sair da segunda casa, me dando instruções com a mão.
Aproximei-me sem saber muito bem o que estava acontecendo e, quando estava prestes a chegar, um homem mais velho saiu da casa, e eu o cumprimentei.