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CAPÍTULO TRÊS

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Emily estava de pé no terraço, esperando ansiosamente pela volta de Daniel. Retorcia as mãos enquanto seus piores medos dançavam em sua mente. Ele havia prometido não fazer isso, não sair em sua moto sem avisar. Se estava quebrando aquela promessa, seria porque estava fugindo delas? Será que o dia que ele passou com Chantelle foi tão difícil que havia decidido abandoná-la para Emily cuidar? Não queria pensar coisas tão terríveis, queria confiar nele, mas ele já a havia decepcionado daquela forma antes.

Emily se apoiou na porta buscando apoio, com a respiração entrecortada. Quando Daniel chegou, na noite anterior, parecia um soldado voltando da guerra. Agora, enquanto Emily esperava por ele com um nó cada vez maior no estômago, sentia que estava esperando por aquele soldado mais uma vez.

Nesse instante, ouviu o som do motor de uma moto ao longe. Ela se esforçou para ouvir, com cada vez mais esperança. O som foi se tornando mais alto, até que ela se convenceu de que era realmente Daniel voltando para casa. Fechou bem os olhos com alívio e deu um profundo suspiro.

A moto apareceu na esquina e subiu a rua na direção dela, iluminando-a com a luz do farol, fazendo-a espremer os olhos. Então, ele parou. O motor parou e o silêncio os envolveu.

Emily desceu os degraus apressada, enquanto Daniel tirava o capacete. “Está acordada”, ele disse, com um sorriso. “Não sabia se você já havia se deitado.” Então, seu sorriso desapareceu ao ver a expressão de Emily.

“Seu idiota”, ela rosnou. “Onde estava?”

Daniel franziu o cenho. “Fui abastacer a moto. Só saí por uns 15 minutos”.

“Não pode fazer isso”, Emily gritou. “Sumir assim. Não tinha ideia de onde estava”.

“Desculpe”, Daniel balbuciou. “Você tinha caído no sono. Pensei em abastecer a moto rapidamente, no posto de gasolina”.

Emily respirou fundo, tentando se acalmar. Sentiu Daniel passar o braço pelos ombros dela.

“Não pode sumir assim”, Emily falou, sem ar. “Certo?”

“Certo”, ele disse, sobre a cabeça dela. “Entendi. Desculpe”.

Permaneceram assim, abraçados um ao outro sob a lua e as estrelas, por um longo, longo tempo.

“Não vou abandoná-la, Emily”, Daniel disse, por fim. “Precisa confiar em mim”.

“Nem sempre você facilita as coisas pra mim”, Emily replicou, saindo do abraço.

“Eu sei”, Daniel concordou. “Mas não vou a lugar nenhum. Agora moramos juntos, lembra?”

Emily assentiu. Era prova de seu compromisso, mas não a confortava plenamente.

Daniel continuou. “E enquanto estava fora, pensei na antiga garagem, e como podemos transformá-la num chalé, como você queria. Eu mesmo posso fazer todo o trabalho, como agradecimento por tudo que tem feito por mim e minha filha”.

Emily começou a se sentir bem novamente, a angústia que havia se formado começava finalmente a se derreter.

“Será uma ótima fonte de renda para você”, Daniel acrescentou. “Então, quando Chantelle entrar na adolescência, poderíamos deixá-la usar o chalé, dar a ela um pouco de espaço, longe da chatice da mãe e do pai.

As palavras dele tocaram-na profundamente. Daniel não conseguia projetar seu relacionamento mais do que alguns meses à frente. Agora, estava falando de décadas. Estava se referindo a ela como a “mãe”. Pela primeira vez, ele estava vendo-os como uma unidade, como duas metades de um time.

Mas enquanto Daniel e Emily dormiam um nos braços do outro naquela noite, os medos de Emily não paravam de surgir em sua mente. O pequeno incidente com a moto havia acordado novamente seu antigo medo do abandono. Há apenas poucas semanas, estava planejando uma vida sem Daniel. Agora, de repente, ele parecia comprometido com ela. Poderia mudar daquele modo, tão facilmente, tão rapidamente? E era porque ele realmente havia percebido como o relacionamento deles era importante?

Ou ele estava apenas sendo arrastado, por causa de Chantelle?

*

Na manhã seguinte, Emily acordou cedo, quase num sobressalto. Ao perceber que Daniel estava na cama a seu lado, relaxou e voltou a se afundar no travesseiro, respirando profundamente. Não deveria sentir alívio ao ver Daniel ao seu lado. Deveria se sentir feliz.

Fitou o rosto adormecido de namorado e sentiu a angústia derreter. Sentia-se tão bem ao tê-lo ali, de volta para ela, por estarem todos juntos. Não deveria ter duvidado dele quando falou que voltaria para ela. E não deveria ter exgerado daquela maneira em relação ao passeio de moto da última noite.

Daniel ainda dormia profundamente, então Emily decidiu deixá-lo dormir. Ele deve estar exausto da longa viagem e com todas aquelas emoções, e precisa recuperar o sono perdido. Estava certa de que era plenamente capaz de vestir Chantelle e preparar-lhe o café da manhã sozinha. Depois, poderia mostrar as galinhas à menina e passear com ela e os cães pela praia.

Animada, Emily rapidamente tomou um banho e vestiu-se. Pronta para o dia, saiu do quarto, deixando Daniel ainda adormecido para trás, e abriu a porta do quarto ao lado. Para seu horror, a cama de Chantelle estava vazia.

Emily se sentiu enjoada. Onde a garotinha poderia estar?

Tomada pelo pânico, Emily começou a imaginar um milhão de cenários em sua mente: Chantelle havia encontrado a porta aberta para a plataforma do teto e caído do telhado; encontrado um dos celeiros abandonados do terreno dos fundos e sido esmagada por algum entulho; podia ter ido até a praia e se afogado no mar. Mas antes que Emily tivesse a chance de gritar por Daniel, ouviu o som de risadas vindo de fora.

Emily correu para a janela e puxou as cortinas. No quintal, Chantelle brincava com Mogsy e Chuva, rindo e gritando enquanto os cães pulavam nela e corriam animados em círculos ao seu redor. Chantelle ainda vestia a grande camiseta que Emily lhe havia dado para dormir. Seus pés estavam descalços.

Desceu as escadas correndo. Não queria assustar a menina, mas também não pensava que era uma boa ideia ela estar do lado de fora sozinha e mal vestida. Apesar de sentir que Sunset Harbor era um lugar seguro, ela mesma tinha crescido na cidade de Nova York e sempre sentiria uma certa ansiedade em relação às coisas terríveis que as pessoas podiam fazer umas com as outras.

Apoiando-se na porta dos fundos, Emily gritou por Chantelle. A menina levantou os olhos, com um largo sorriso. Seus pés estavam verdes, de correr na grama úmida.

“Entre, querida”, Emily chamou. “Vou fazer panquecas”.

“Quero brincar!” Chantelle replicou.

“Daqui a pouco”, Emily disse, ainda tentando parecer calma e amigável. “Primeiro, você precisa tomar café da manhã. Depois de se vestir, podemos levar os cães para brincar na praia. Que tal?”

Chantelle franziu o cenho e ficou com o rosto vermelho. Pela primeira vez, Emily teve uma ideia dos problemas que Chantelle havia vivenciado. Em sua expressão sombria, ela viu raiva e amargura. Sabia que não eram direcionadas a ela, mas para esse mundo terrível, as pessoas terríveis que ela conheceu e as terríveis experiêncis que teve a infelicidade de viver. Estava provavelmente apenas aparecendo agora porque Emily e Daniel haviam oferecido um ambiente seguro no qual Chantelle poderia explorar aquele lado de si mesma sem o medo de ser punida.

De repente, Chantelle inclinou a a cabeça para trás e começou a chorar aos berros. Emily respirou fundo. Pensou nas milhares de mães que ela tinha visto na vida lidando com a birra de uma criança, suas expressões cansadas, o constrangimento misturado à raiva. Mas sabia que, se queria que Chantelle confiasse nela e crescesse feliz e bem ajustada, perder a calma não era uma opção.

Ela entrou no quintal e pegou na mão da menina. “Vamos, querida”, ela disse, apesar do choro de Chantelle quase perfurar seus tímpanos.

Nesse instante, Emily notou alguém se aproximando. Trevor. É claro. É típico dele aproveitar esses momentos para vir atormentá-la.

“O que foi, Trevor?” Emily sibilou, irritada demais para ligar para formalidades.

“O que acha que pode ser?” Trevor murmurou. “Não são nem sete da manhã e esta criança está fazendo uma algazarra no quintal. Ela está perturbando meu direito ao silêncio”.

Chantelle se calou imediatamente. Pegou na mão de Emily, quase que pedindo desculpas por tê-la colocado em apuros.

“Só estamos nos adaptando”, Emily disse com um suspiro, surpresa ao ver como se importava pouco com a acidez de Trevor ultimamente. “E Chantelle vai começar a escola amanhã, então, não acontecerá novamente”.

“Sempre haverá os finais de semana”, Trevor falou com sarcasmo.

“Vamos garantir que não o acordaremos antes das sete novamente”, Emily suspirou. “Não é, Chantelle?”

Mas quando baixou os olhos para a menina, viu que lágrimas corriam pelo seu rosto, e que ela estava tremendo de medo. Vê-la tão angustiada fez algo entrar em erupção dentro de Emily, um súbito instinto materno para defender sua filha.

Virou-se para Trevor, fuminando, sentindo o calor subir para seu rosto. “Sabe de uma coisa, Trevor? Chntelle pode brincar no quintal dela quando quiser. Minha casa, minha filha, minhas regras”.

Trevor pareceu pego de surpresa com a reação dela. Mas se recuperou rapidamente, voltando à sua expressão habitual de desprezo. “Mas ela não é sua filha, é?”

“Ela está sob MEUS cuidados”, Emily exclamou. “Sou responsável por ela, e farei tudo que puder para protegê-la de homens maus como você”.

Pela primeira vez, ele pareceu humilhado. Emily não estava preparada para ouvir mais nada vindo de Trevor, então agarrou Chantelle pela cintura e a tomou nos braços. A menina tremia tanto que Emily se angústiou. Ela já havia passado por tanta coisa em sua curta vida, a última coisa que precisava era testemunhar a monstruosidade de Trevor Mann.

Emily carregou-a para dentro e bateu a porta dos fundos. Nunca havia sentido tamanha explosão de emoção, do desejo de amar e proteger a menina sob seus cuidados.

“Desculpe!” Chantelle gritou imediatamente assim que entraram. Apertou Emily tão forte que Emily pensou que seu pescoço ia quebrar.

“Chantelle, tudo bem”, falou, gentil. “Trevor fica com raiva de tudo. E você não sabia que ia acordá-lo. Só que, da próxima vez, sempre peça permissão antes de sair, tá bom? Promete?”

Chantelle assentiu com a cabeça de uma maneira que sugeria que estava desesperada para fazer as pazes com Emily.

“A mamãe sempre me disse para brincar do lado de fora”, Chantelle disse, ainda chorando. “Não gostava que eu ficasse atrapalhando ela”.

O coração de Emily apertou. A pobre menina deve ter ficado muito confusa quando Emily disse para ela entrar. Sentiu-se mal por misturar as mensagens.

“Bem, eu e Daniel queremos brincar sempre com você”, Emily disse. “Certo?”

Chantelle assentiu. Pelo menos, suas lágrimas secaram e Emily colocou a menina no chão novamente.

Emily a levou para a cozinha, onde Daniel acabava de entrar. “O que está acontecendo?” ele perguntou. “Ouvi choro. Você se machucou, Chantelle?”

A menina balançou a cabeça.

“Estava justamente dizendo a Chantelle que eu e você queremos brincar com ela quando ela for lá pra fora, então, ela deve pedir a um de nós para ir junto”, Emily disse, olhando para Daniel de maneira a dizer a ele para não forçar mais o assunto.

Ele pareceu entender o que ela estava dizendo e concordou. “Fico feliz que estejam bem agora”, ele disse. “Posso fazer o café da manhã?”

Chantelle assentiu animadamente foi com Emily para a mesa, esperar pela comida.

“Então”, Daniel disse enquanto se sentava um tempinho depois, com uma pilha de panquecas. “O que vamos fazer hoje, já que as aulas só começam amanhã?”

Emily hesitou. Podia notar que Daniel estava perdido também pela expressão de leve pânico em seu rosto. Nenhum dos dois teve que cuidar de uma criança antes, e ambos sentiam a pressão de garantir que Chantelle se divertisse o máximo possível para compensar o terrível começo que teve na vida.

“Acho que Chantelle gostaria de ir para algum lugar com os cachorros”, Emily disse, olhando para a menina em busca de aprovação.

Chantelle assentiu.

“Tenho uma ideia”, Daniel disse. “Jason e Vanessa levaram sua bebê, Katy, para colher maçãs ontem na Fazenda Outonal. Gostariam de ir?”

“Nunca estive numa fazenda!” Chantelle disse, quase sem fôlego. “Eles têm animais? Eu adoro animais! Porcos são meus favoritos. Lá tem porcos?”

Os olhos de Emily se arregalaram. Nunca tinha ouvido Chantelle dizer tantas palavras de uma só vez. A ideia de passar um tempo com os animais estava lhe fazendo sair da concha.

“Eles têm um pequeno zoo”, Emily disse. “Com coelhos e porquinhos-da-índia”.

“Coelhos!” Chantelle exclamou. “Coelhos são meus favoritos mais favoritos”.

“Bem”, Daniel disse com um sorriso. “Acho que vamos para a Fazenda Outonal hoje”.

*

Mogsy e Chuva latiram, animados, durante todo o trajeto até a Fazenda. Emily e Daniel não os levavam com frequência para lugar nenhum além da praia e do parque, então, percebiam que algo empolgante estava acontecendo. Mas não importava o quanto os cães pareciam felizes, era pouco em comparação à alegria de Chantelle. Durante toda a viagem, ela ficou olhando pela janela com os olhos arregalados, aproveitando a vista das belas ruas alinhadas por árvores, as folhas começando a passar do verde para o laranja. Emily via com gosto a menina admirar, maravilhada, o cenário. Aquecia seu coração saber que a desconectaram do mundo de privação, salvando-a de sua vida terrível, e agora podiam mostrar para ela o quanto o mundo podia ser lindo.

Daniel parou no estacionamento da Fazenda Outonal, que não passava de um campo lamacento. Ja havia muitos carros, apesar de ser cedo; estava claro que todos os pais de Sunset Harbor e região haviam decidido que colher maçãs seria sua última atividade com os filhos antes da volta às aulas.

Enquanto Daniel estacionava, Chantelle rapidamente desafivelou o cinto e agarrou o trinco da porta.

“Calma, não tão rápido”, Daniel disse. “Precisamos pôr a coleira dos cachorros antes ou eles vão fugir, e nunca mais os veremos”.

“Desculpe”, Chantelle disse, enterrando sua cabeça entre os ombros, envergonhada.

Daniel olhou para Emily com um olhar suplicante. Ela apenas meneou a cabeça, comunicando silenciosamente para ele que não deviam exagerar as coisas, que não havia nada que pudessem fazer para a menina se sentir melhor, e que amor, tempo e paciência eram as únicas coisas que poderiam ensinar a Chantelle a não se sentir envergonhada de si mesma. Ela se sentiu mal por Daniel, por sua aparente falta de intuição nessas situações. Ele parecia tão deslocado às vezes, e ainda assim Emily sentiu que estava assumindo a maternidade com toda a naturalidade.

Emily prendeu as coleiras dos animais e todos saíram do carro. No lugar, havia muitas crianças rindo e brincando, correndo em círculos ao redor dos pais. Enquanto caminhavam para a entrada da Fazenda, cercados por outras famílias conversando, Emily teve uma súbita revelação ao perceber o quanto sua vida havia se mudado no último ano. Havia passado da espera de sete longos anos por um anel de Ben ao que começava a sentir ser o melhor relacionamento de sua vida.

“Vamos, Emily!” Chantelle gritou.

Ela levantou os olhos, saindo de suas divagações, e viu Chantelle e Daniel no quiosque, esperando para pegar sua cesta e colher maçãs. A menina puxava a mão de Daniel, assim como Chuva puxava sua coleira. Daniel estava rindo de uma maneira que Emily nunca tinha visto antes. Ele estava claramente muito feliz por estar com Chantelle, por estar ali, como uma família.

Emily apertou o passo até eles e pegou a outra mão da menina. Chegaram no quiosque e pegaram sua cesta, e então seguiram até o pomar.

“Vamos achar as maçãs mais vermelhas e suculentas”, Emily disse a Chantelle, num sussurro animado. “Aposto que estão mais para trás, nos fundos da plantação”.

Chantelle assentiu com olhos arregalados, animada com o tom conspiratório de Emily.

Emily olhou para Daniel. Ele a fitava com um sorriso largo e olhos que revelavam orgulho. Emily corou.

Quando começaram a encher suas cestas com suculentas maçãs, Emily percebeu que não se divertia tanto há anos. Daniel também estava rindo como um menino. Corria, pegava a filha nos braços e a girava, levantando-a no ar para pudesse alcançar os galhos mais altos. Emily nunca havia visto o lado brincalhão de Daniel. Vê-lo assim agora era uma alegria preciosa.

“Isto é divertido, não é?” Daniel disse, sem fôlego, enquanto corria até Emily.

“Acho que não me divirto tanto desde que era criança”, Emily replicou.

“Nem eu”, Daniel disse.

Uma onda de bem-estar passou pelo corpo de Emily. De algum modo, ter Chantelle com eles estava curando as feridas de suas próprias vidas traumáticas.

*

Depois de colherem maçãs, Emily decidiu que Chantelle precisava de roupas novas. A menina não podia dormir com as roupas de Daniel toda noite, sobretudo porque o inverno se aproximava. Precisava de pijamas e roupas de baixo, um casaco, luvas e roupas para a escola. Havia trazido uma mochila muito pequena, com poucas coisas, e Emily teria que comprar praticamente um guarda-roupa inteiro.

“Só as meninas podem ir”, Chantelle disse, quando chegaram no carro.

Emily sabia que o comentário magoaria Daniel, especialmente depois de se divertirem tanto na fazenda. Ver que agora Chantelle preferia excluí-lo era confuso e doloroso. E apesar de Emily notar que ele não queria perder essa oportunidade de se ligar à filha, ao mesmo tempo não queria ir contra a vontade de Chantelle e forçá-la a fazer algo que não queria.

Emily baixou os olhos para a menina, apertando bem sua mão. “Seu pai não tem muita noção de moda, tem?” brincou, tentando descontrair.

Chantelle começou a rir.

“Acho que vou deixar as duas fazerem compras sozinhas então”, Daniel falou, resignado.

“Vamos dar um show de moda pra você quando chegarmos em casa”, Emily disse, tentando levantar o ânimo de todos, incluindo-o na programação.

Emily e Chantelle se despediram de Daniel e dos cães, e então começaram a caminhar por Sunset Harbor. Não havia muitas lojas de roupas infantis na cidade, apesar de Emily conhecer uma que ficava escondida numa rua lateral e que vendia roupas vintage e infantis. Já podia imaginar como Chantelle ficaria linda em um sobretudo no estilo vitoriano, apesar de temer que a menina achasse o estilo meio ultrapassado. Emily não tinha ideia do que as crianças usavam hoje em dia.

Elas viraram numa rua lateral e entraram na loja.

“Se você não gostar das roupas que eu escolher, é só me dizer”, Emily disse a ela. “Não quero que vista nada que não goste ou que não seja confortável”.

Emily queria que Chantelle se misturasse com as crianças que encontraria na escola. Ela já estava em desvantagem, com uma infância tão negligenciada; a última coisa que Emily queria agora era que fosse excluída por causa de suas roupas!

“Owww, Chantelle, o que acha deste casaco?” Emily disse, levantando um sobretudo azul-marinho com grandes botões. Imaginou que era o tipo de casaco que Sara Crewe usava em A Princesinha.

Chantelle parecia impressionada. Segurou o casaco e então passou o tecido pela bochecha. O forro tinha uma linda montagem de flores em tons claros de rosa, verde e amarelo.

“Gostou do forro?” Emily perguntou.

Chantelle assentiu e Emily registrou mentalmente que seria bom comprar algumas roupas com estampa floral para ela.

A menina tirou o casaco do cabide e o vestiu. Assim como Emily havia imaginado, ela ficou absolutamente encantadora, como se tivesse saído de um livro de Dickens. Enquanto Chantelle se olhava no espelho, lágrimas começaram a brilhar em seus olhos.

“Não temos que comprar se você não gostou”, Emily disse, subitamente preocupada.

Chantelle balançou a cabeça. “Não é isso. Só não sabia que eu podia ficar bonita”.

Pela centésima vez desde que a menininha havia entrado em sua vida, Emily sentiu seu coração apertar. Chantelle havia passado a vida inteira sem ouvir de ninguém que era linda? Havia muito tempo perdido a recuperar para reconstruir a autoconfiança dela.

Emily e Chantelle passaram mais de uma hora na loja vintage, experimentando vestidos e blusas, lindas calças e suéteres de gola alta. Emily não podia dizer se ela estava apenas se deixando influenciar ou não, mas achou que a menina ficou incrível em todas as roupas, como uma modelo mirim. Era impressionante ver a transformação dela, não apenas fisicamente, mas também em sua postura, enquanto ficava mais à vontade, mais confiante e ousada em suas escolhas. Para uma criança pequena que nunca teve a chance de escolher como se vestir, ela tinha um bom gosto natural. Compraram cinco novos conjuntos.

“Melhor irmos até uma loja de departamentos agora”, Emily disse. “Para escolher roupas de baixo, meias e pijamas”.

Juntas, saíram da loja vintage, os braços de Emily carregados de sacolas, e foram na direção da loja de departamentos. Enquanto caminhavam, Emily viu Vanessa com sua bebê Katy no carrinho. Vanessa trabalhava na limpeza da pousada há semanas. Emily acenou pra ela do outro lado da rua.

“Chantelle, esta é minha amiga Vanessa”, Emily disse. “Ela trabalha na pousada, então, provavelmente a verá algumas vezes, de manhã”.

Vanessa pareceu um pouco surpresa. “Oi, Chantelle”, ela disse, de maneira um pouco artificial. Então, levantou os olhos para Emily. “É sua sobrinha?”

Emily sorriu e balançou a cabeça. “É a filha de Daniel”.

“Emily é minha nova mãe”, Chantelle disse, apertando o braço de Emily junto ao seu corpo e sorrindo.

Emily sentiu o coração derreter. Mas quando olhou para Vanessa, sua amiga parecia petrificada.

“A filha de Daniel, do Tenessee?” ela falou.

Emily assentiu, seu humor começando a azedar. Vanessa estava lá durante as semanas do abandono de Daniel, durante aquelas longas seis semanas em que Emily foi deixada num turbilhão, sem saber se ficava ou fazia as malas e voltava para Nova York, aceitava a oferta de emprego de Amy e a proposta de casamento de Ben, e fingia que toda aquela viagem para o Maine havia sido um sonho. Assim como Serena, Vanessa havia apoiado Emily, oferecido conforto e sua amizade, tentando reparar a desordem que Daniel deixara para trás. Ela claramente desaprovava Emily ter aceito Daniel e sua filha em sua vida sem nem hesitar.

“Chantelle, querida” Emily disse, “por que não vai até aquela loja comprar um pouco de doces? Tome”. Ela deu à menina algumas notas. “O papai prefere bombom de manteiga de amendoim coberto de chocolate”.

Assim que Chantelle se afastou, Emily se voltou para Vanessa. “Sei o que está pensando”, começou. “Acha que sou louca por deixar Daniel entrar em meu coração novamente sem brigar. Acha que estou sendo um capacho”.

Vanessa balançou a cabeça. “Não é isso, Emily. Sei que o ama. Qualquer um pode ver isso. Nunca duvidei que vocês dois ficariam juntos”.

“Então, qual é o problema?” Emily perguntou, sentindo-se ficar cada vez mais gelada.

“A menina”, Vanessa replicou. “Acha mesmo que está tudo bem em afastá-la de casa? De sua mãe?”

Emily cruzou os braços. “A mãe abriu mão da filha. É viciada em drogas e tem problemas mentais. Daniel tentou ajudá-la a se livrar do vício e começar um tratamento, mas não funcionou. Ela percebeu que Chantelle ficaria melhor conosco. Mas não vou excluir Sheila e fingir que ela não existe. Se quiser fazer parte da vida de Chantelle, pode fazer isso, assim que estiver livre das drogas. Não vou deixar uma viciada arruinar a vida dessa garotinha”.

Vanessa pareceu hesitar. “Só não sei se percebe aonde você se meteu”, ela falou. “Não vai ser fácil criar uma criança como Chantelle”.

“Estou ciente disso”, Emily disse, irritada, apesar de Chantelle ter sido encantadora até agora. “É claro que haverá desafios. Mas eu e Daniel estamos preparados para enfrentá-los juntos”.

“E os filhos de vocês? Seus e de Daniel? Vocês ainda poderão ter sua própria família enquanto estiver ocupada com os problemas de Chantelle? E quanto à pousada? É um lugar adequado para uma criança com dificuldades?”

“Chantelle não tem dificuldades”, Emily disparou, defensiva e subitamente protegendo a menina que começava a ver como filha. “Ela precisa de amor e cuidado. Daniel e eu somos as melhores pessoas para dar isso a ela”.

Vanessa suspirou profundamente. “Não duvido”, disse, resignada. “Só acho que você não pensou bem sobre isso. Tem visto como Katy me deixa exausta às vezes, e ela é sangue do meu sangue. Escolhi tê-la. Chantelle foi empurrada para você. Ela é quase um ultimato de Daniel. Você nunca pediu por isso. Só acho que precisa recuar um pouco e refletir se é isso que você quer”.

Ela apertou o braço de Emily. Nesse momento, Chantelle voltou com uma sacola de papel cheia de doces e barras de chocolate.

“Uau”, Emily disse, “olha quantos doces”.

Mas sua voz não estava tão alegre e descontraída como antes. As palavras de Vanessa a perturbaram, haviam sido como uma faca afiada cortando sua felicidade e deixado uma pedra de dúvida dentro dela. Seria realmente capaz de cuidar de Chantelle?

Para Sempre, com Você

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