Читать книгу Os bastidores da verdade - Tobias G. Alte - Страница 7

Оглавление

Prólogo

Tratar vidas em desalinho é grande aforro com laivos de desaforo. Passeiam-se vielas esconsas, calcorreiam-se ruelas estreitas, percorrem-se avenidas, descobrem-se miradouros, tentam evitar-se becos sem saída. Viajam-se lugares desconhecidos em terra familiar e lugares familiares por terra desconhecida…

O mundo é, ao mesmo tempo, inóspito e anfitrião, o tempo é frio e habitado de calor, os dias alternam entre percursos corriqueiros por encontros inesperados e trajectos aventureiros por encontros adiados. As alegrias e as tristezas são o tempero de um alimento existencial que se banqueteia à entrada de portas sem saída e à volta de ancoradouros de chegada por saída. Alinham-se jeitos e trejeitos de dor e descoberta, receios de amor e certezas de desafecto, entre arremedos de esperança e impulsos de desalento, à beira da desistência. Propõem-se afazeres, arranjam-se temperanças e negoceiam-se ganhos e perdas em “lutos” de amores transviados e desesperanças de sonhos irrealizados.. Em cada dia espera-se a noite e a cada noite antecipa-se o dia… é sempre assim, a noite anterior e o dia seguinte. E o tempo é longo, à beira do desencanto, e curto, sempre muito curto, à espreita de um alento que desperte o desejo e inspire a alma. É um aqui-não-vai e ali-já-vem de curso contínuo e percurso variante em direcção (invariante) a destino incerto. Só a pouco e pouco se divisam figuras em fundo e se alumiam existências sombreadas em poses brumosas.

É um tempo infindável de desafios, alertas, sustos e relentos em que se entretecem esquecimentos e lembranças, sonhos e fadigas, cansaços e mudanças. Sim, os protestos de mudança… sempre renovados, depois adiados ou perdidos nas andanças de um tempo que flui sem sossego, às vezes por espaços esconsos que a esperança não visita e em que a vida pouco se detém. Momentos de chegada e de partida, de encontro e desencontros, de cafés, infusões, néctares e libações, entre copos, entre corpos, entre vidas. Amizades sem fulgor, namoros sem amor, inimizades sem causa ou razão, amores “em saldo” e sexo sem viço, ideias sem fluxo e ideais em refluxo. Percepções, emoções, sensações, impressões e dúvidas… muitas dúvidas sem pensamento que as sustentem da verdade certeira que poderia, enfim, solvê-las. E no fim, sempre provisório, o recomeço de um novo dia de amores e de desamores, de esperanças e de temores, de sonhos e de dissabores.

O princípio é fim e o fim é princípio num escoar dos dias inacessível aos destinos singulares dos seres que povoam a vida das cidades e as esquadrinham incansavelmente em hábitos de crepúsculo e fôlegos de vontade ausente… dia a dia, noite a noite, por entre sombras à espreita da luz, por dentro da vida ao alcance da morte … sempre!

Os bastidores da verdade

Подняться наверх