Читать книгу Eu Odeio Amar Você - Victory Storm - Страница 4
1 Audrey
Оглавление— Ótimo trabalho, Srta. Larson, — Peter Anderson murmurou rapidamente, vendo-me correr de volta para a cozinha e pegar mais uma ordem para levar até a mesa.
— Obrigada, — sussurrei animada pelo elogio, antes de sair para a elegante sala de jantar do prestigiado restaurante, minhas mãos carregadas de pratos.
— Não acredito! Anderson acabou de te elogiar. Você já pode se considerar contratada! Parabéns, Audrey! — Sharon, minha colega de trabalho, exclamou em voz baixa, enquanto eu tentava não esbarrar nela ao me mover entre as mesas atribuídas a mim.
Naquele dia, o Prestige estava cheio. Todas as mesas estavam ocupadas, exceto uma. Até o balcão do bar estava lotado e por todos os lugares havia pessoas indo e vindo em todas as direções. O risco de colidir com alguém era extremamente alto e esse era um risco que eu absolutamente não podia arcar com as consequências.
Esse era o meu terceiro dia de trabalho como garçonete do Prestige e o último dia do meu período de experiência, antes de decidirem se me contratariam permanentemente ou me dispensariam caso não fosse adequada para o trabalho no restaurante.
Na verdade, eu nunca quis ser garçonete. Era formada em Marketing com especialização em Administração e Relações Públicas. Além disso, tinha estudado publicidade. Esse sempre foi o meu mundo.
Trabalhei para agências de publicidade toda a minha vida, até meu divórcio e minha mudança para Gatesville para ficar perto do meu pai, que acabou em uma cadeira de rodas depois de um terrível derrame que o paralisou do pescoço para baixo.
Agora, estava de volta a Chicago, que eu considerava a minha cidade, o lugar onde todos os meus sonhos sempre se realizaram.
No entanto, logo descobri que, devido aos quatro anos que passei longe, muitas portas tinham se fechado para mim. Depois de anos em Gatesville, cuidando do único parente que eu tinha vivo, Chicago tinha mudado.
As demandas, experiências e competitividade atingiram níveis que fizeram minha reintegração, na profissão que eu tinha atuado desde sempre, quase impossível. Aparentemente, ninguém se importava que eu tivesse planejado e organizado campanhas publicitárias influentes. A única coisa que todos reparavam era aquele intervalo de quatro anos durante o qual eu tinha sido cortada do mundo trabalhista.
E agora, aqui estava eu, sendo garçonete em um restaurante de luxo, cercada por prédios que reuniam os escritórios de algumas das maiores empresas de publicidade e TI da cidade.
Tinha procurado desesperadamente por trabalho depois da morte do meu pai, sobrecarregada pelos custos hospitalares que ainda precisavam ser pagos.
Todas as minhas economias e o dinheiro que o meu pai tinha deixado de herança tinham acabado. Tudo o que me restava fazer era voltar a trabalhar em Chicago, a única cidade que eu conhecia e que poderia me oferecer oportunidades que uma cidade pequena como Gatesville nunca poderia me proporcionar.
Por causa dos meus vários problemas financeiros, não podia me dar ao luxo de esperar até encontrar o emprego perfeito, então tive que aumentar o leque de opções e, por fim, decidi encontrar um emprego que me permitisse entrar em contato com o mundo de luxo, sem deixar evidente, claro.
Ser garçonete no Prestige significava isso para mim.
Não eram só os belos uniformes que me fizeram sentir à vontade, mas a possibilidade de conhecer os novos donos do mundo da publicidade que despertavam o meu interesse.
Agora, a única coisa que restava fazer era passar o período de experiência de três dias e conseguir esse emprego, e enfim poder pagar o aluguel da casa, que já estava três meses atrasado. Precisava começar a sondar o caminho para o meu futuro também.
Naquele dia eu soube que tinha feito a escolha certa.
Enquanto servia as bebidas, bem como os deliciosos pratos elaborados, ouvi conversas extremamente interessantes: uma certa Savannah, estava irritada com o trabalho publicitário que ela havia solicitado para sua linha de cosméticos. Uma diretora criativa havia renunciado, deixando a Marshall Company em uma situação difícil, já que eles não sabiam agora como satisfazer os pedidos de novos clientes. Um certo Farlight estava discutindo com uma mulher o desejo de renovar o logotipo da sua marca de seu licor…
Em suma, na minha frente, haviam infinitas possibilidades de ter contato com o cliente certo e conseguir um emprego de Relações Públicas em uma empresa de publicidade barganhando algumas das dicas que tinha descoberto. Sabia muito bem que haviam pessoas que pagariam muito por essas informações.
Eu me sentia no sétimo céu. Apesar do esforço pela enorme e exigente clientela, sempre com pressa, não diminuí o ritmo nem pedi por uma pausa.
— Leve isto para a mesa sete, — Anderson ordenou de repente, entregando uma bandeja cheia de aperitivos.
Esta era a última das mesas que estavam livres. Olhei para o relógio, mais algumas horas e meu dia de trabalho terminaria.
Ziguezagueando entre uma mesa e outra, entre um cliente e um funcionário, cheguei às mesas atribuídas a mim, mas assim que me virei rapidamente para a direita para evitar o cachorro de um cliente que tinha escapado da coleira, me vi de repente em frente a uma figura de preto. Antes que eu pudesse virar ou focar meu olhar no que estava acontecendo, senti a bandeja bater abruptamente contra aquele obstáculo, derrubando todas as taças de cristal no chão, que se despedaçaram em mil pedacinhos.
— Ah meu Deus! — Sussurrei em desespero, diante do tapete de vidro quebrado, enquanto meus olhos subiam pela silhueta da figura na minha frente. — Eu sinto… sinto muito… não te vi… o cachorro me distraiu e… — continuei a gaguejar em choque, olhando para a camisa branca do homem, agora encharcada e manchada por várias bebidas.
Eu continuava a balbuciar minhas desculpas, quando finalmente tive a coragem de olhar para cima e encarar o olhar furioso do homem.
De repente, senti meu coração acelerar.
Assim que meus olhos se encontraram com os azuis dele, não consegui recuperar o fôlego e não consegui me recompor por vários segundos.
— Zane, — eu disse, ainda incapaz de respirar, enquanto cada parte do meu corpo que havia sido tocada e beijada por ele no passado parecia despertar.
— Audrey, — ele respondeu de forma seca e irritada.
— O que está fazendo aqui? — Consegui perguntar, incapaz de pensar em qualquer outra coisa, exceto naquela coincidência azarada, que só poderia levar a duas coisas: o risco de perder meu emprego e trazer de volta as memórias de nossa vida de casados que tentei, por quatro anos, apagar da memória.
— Sr. Thunder, estou mortificado, — disse o dono do local imediatamente, seguido por outros dois funcionários que vieram imediatamente limpar o dano e remover o vidro do chão antes que pudesse ferir alguém.
— Anderson, eu pensei que você era mais cuidadoso na escolha de seus funcionários, — Zane sibilou severamente, limpando seu paletó e camisa com um guardanapo.
Aquela fala me atingiu como um soco no estômago. Lembrei-me daquele tom inflexível e severo de quando ele está maquinando algo.
Olhei perplexa para o meu ex-marido e o que vi me fez sentir como se estivesse pairando sobre um precipício.
Ele olhava para mim enquanto falava com meu chefe. O que notei não foi mera irritação, mas também uma satisfação velada, mascarada por um sorriso ao ouvir as palavras de Anderson quando tentei consertar o dano.
— Peço desculpas pelo que aconteceu, se eu puder fazer alguma coisa… — Tentei dizer, tentando não pensar o quanto estava me custando me desculpar com a pessoa que destruiu nosso casamento.
— Miss Larson, só há uma coisa que você pode fazer, pegar suas coisas e sair daqui. Imediatamente, — respondeu Anderson furiosamente, sem sequer me olhar.
Ah, não! Perdi o emprego!
Chocada e incapaz de reagir, olhei para Zane pela última vez. Ele não estava sorrindo, mas tinha um brilho de triunfo em seus olhos.
— Você fez isso de propósito, não fez? — Tinha acabado de perceber naquele momento. — Eu preciso deste trabalho, — acrescentei, apesar de seu silêncio.
— Como se atreve? Saia já daqui! Você me ouviu, ou vou precisar chamar a polícia? — Meu ex-chefe interveio, entre mim e Zane.
— Estou indo, — me rendi, arrasada.
Quatro anos tinham se passado desde o meu divórcio, desde o dia em que Zane acabou ganhando e me tirando tudo o que tinha. Depois de todo esse tempo, pensei que minha sorte tinha mudado, porém… Zane tinha vencido novamente, ele acabou fazendo com que me demitissem, com toda certeza, aquela situação tinha sido intencional.
Às pressas, fui para os fundos, tirei meu uniforme e esvaziei meu armário. Nem notei que tinha começado a chorar, um choro de pura frustração, raiva, medo, decepção e amargura… Eram lágrimas de derrota.
Ver Zane me perturbou muito, até demais. Muito mais do que eu poderia imaginar.
Eu não o via há anos, e quando decidi voltar para Chicago, sabia que a agência de publicidade dele estava localizada ao norte da cidade, então me impus a nunca ir lá.
Na verdade, tinha procurado uma casa no sul e um emprego no sudoeste. Esperava nunca encontrá-lo, mesmo repetindo várias vezes para mim mesma que depois de todos esses anos não sentia mais nada por ele, a não ser uma indiferença fria e sincera.
Enxuguei minhas lágrimas.
Audrey, ele não é mais seu marido e não pode mais te machucar.
Correndo, peguei minhas coisas e fugi do restaurante, sem dizer adeus a ninguém.
— Audrey. — Ouvi a voz rouca de Zane atrás de mim. Ouvir a voz dele chamando o meu nome foi puro veneno para o meu coração.
Virei e o vi. Ele também tinha deixado o Prestige.
— Não basta me fazer perder o emprego? O que mais você quer Zane? Não foi o suficiente para você ter tirado tudo de mim quatro anos atrás? — Explodi furiosamente, tentando parar minhas lágrimas.
— Eu tirei tudo de você? — Ele rosnou, aproximando-se tanto que eu podia sentir sua respiração na minha pele e seu cheiro marcante.
Eu não conseguia responder, estava atordoada demais com aquela proximidade e pelas sensações que o cheiro de sua pele sempre conseguiu desencadear.
Por que não pude esquecer o seu perfume?
Como era possível que, depois de tantos anos, seu cheiro ainda conseguisse me fazer prisioneira como antes?
Zane não pertence mais a você. Lembre-se disso.
Eu acenei levemente com a cabeça.
— Audrey, foi você quem começou, destruindo nosso casamento e fugindo de mim. Você realmente pensou que poderia fazer o que fez sem sofrer as consequências? — Ele sibilou ameaçadoramente, sua mandíbula contraída, e seus olhos cerrados.
— Você já não se vingou o suficiente?
— Vingança? Não, baby , eu só peguei o que era meu.
— Seu ou nosso? Gostaria de te lembrar que nós fundamos a Thunder Company juntos e depois disso, você me expulsou.
— Você foi embora!
— Eu sei e é por isso que eu concordei em deixar tudo e não pedir por metade da agência. Só peguei de volta o dinheiro que me pertencia antes de me casar. — Eu o lembrei com raiva.
Sim, parti porque não podia mais me sentir sufocada em um casamento sem amor e compromisso, desde que nós fundamos a nossa agência de publicidade. O que era para ser um sonho que se realizou se transformou em uma obsessão, com o sucesso de Zane e uma completa revogação do tempo dedicado ao nosso amor.
— Você pegou o que merecia. Agradeça por eu não ter tomado isso de você também, você não merecia nada.
Não faço ideia do que aconteceu comigo, só vi minha mão se mover por conta própria e dar um tapa na cara dele. Nunca fui uma pessoa violenta, mas estava com os nervos à flor da pele.
Em um ano tinha perdido meu pai, a casa da minha família, tinha finalmente me mudado de Gatesville para Chicago, e não conseguia encontrar um emprego na minha área, além disso estava cheia de dívidas. Agora, Zane e esta demissão.
— Por favor, me desculpe… não quis… — eu sussurrei me sentindo culpada. Nunca tinha ido tão longe, nem mesmo durante as terríveis brigas do nosso último ano de casamento ou no processo de divórcio.
— Uau! Então, este é o resultado do ódio que você acumulou nos últimos quatro anos, — murmurou Zane com raiva, esfregando sua bochecha vermelha. — Não basta eu ter perdido um cliente importante com o qual tinha que assinar um contrato? Não… agora você até me bate na frente de todos, no meio da rua.
Olhei ao redor e notei alguns transeuntes nos encarando horrorizados. — Me desculpe, — murmurei, minhas bochechas queimando de vergonha. Como pude fazer isso? Como poderia ter batido no homem que eu amei por sete anos e com quem tinha cortado todas as relações por longos quatro anos?
— Não sei o que fazer com as suas desculpas — Zane retrucou secamente, virando para a rua e parando o primeiro táxi disponível que passou. Não consegui nem me despedir, ou dizer qualquer outra coisa na verdade. Zane tinha partido. a…