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KIRA

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Princeton, Kentucky, 12 de julho de 2014


— Não tolero mais essa situação! Não me importa se Darren Scott é o mandachuva da cidade! Sim, eu entendi… Sim… sim… Absolutamente não! Com certeza não vou desistir… Não me importa se essa guerra já dura quatro anos! Estou cansada de deixar aquele monstro estragar a infância de um menino! Sei que ele já ameaçou me demitir… Ele está tentando há muito tempo, mas felizmente sou muito boa no meu trabalho, então ele não conseguiu a autorização do Prefeito… Eu entendo… Sim… Ok, mas não aguento mais este estado de coisas! Lucas está mais uma vez na minha cozinha. Ele está ferido e minha filha está cuidando dele! Ele tinha um ferimento no lábio no mês passado, agora tem um corte profundo na sobrancelha esquerda! — Elizabeth Madis continuava gritando ao telefone. Ela estava trancada em seu escritório, certa de que os dois jovens em sua cozinha não poderiam ouvi-la, mas infelizmente sua raiva e frustração pareciam prestes a derrubar as paredes. Ela vinha discutindo com seu chefe há alguns anos sobre as medidas que eles poderiam tomar em relação ao poderoso Darren Scott, mas parecia que todas as pessoas que moravam em Princeton tinham parentes trabalhando para ele ou alugando uma casa em um dos prédios decadentes de apartamentos. Todos deviam algo a Darren Scott, então temiam as consequências. Até o chefe da Polícia.

Apesar disso, Elizabeth nunca desistiu. Ela era famosa porque sempre obtinha os melhores resultados no seu trabalho e pelo seu incrível sexto sentido que a fazia descobrir o que havia de podre em cada família da cidade. Após quatro anos, ela ainda estava tentando obter justiça para aquela criança miserável que ela muitas vezes teve que hospedar e curar, junto com sua filha Kira, que nunca havia deixado Lucas sozinho desde que o conheceu.

Mesmo que Kira ainda fosse muito jovem, ela havia assumido os problemas do seu melhor amigo e estava muito ocupada procurando um curativo naquele momento, então não estava ouvindo o telefonema da sua mãe, mas ela já sabia de cor o discurso.

— Você provavelmente vai ter uma cicatriz. Sente-se e continue apertando a gaze — ordenou ela a Lucas, sentindo-se irritada e nervosa por não ter conseguido evitar aquela nova violência contra o menino.

— Está doendo! — reclamou Lucas, sentado no banquinho em frente ao balcão da cozinha, onde todos os tipos de remédios, gaze, algodão e curativos estavam espalhados.

— Apenas espere um momento e sente-se confortavelmente! Não consigo alcançar — continuou Kira bufando e tentando colocar o maior curativo que conseguiu encontrar na sobrancelha do menino.

— Não é minha culpa se você é pequena — provocou Lucas, enquanto achava engraçado o olhar ameaçador de Kira: quando ela semicerrava os olhos, parecia um personagem de mangás japonês.

— Você é apenas sete centímetros mais alto do que eu e, a propósito, gostaria de lembrá-lo que você era um verdadeiro baixinho no ano passado — enfatizou Kira de imediato. Ela percebeu recentemente que todos os seus colegas de classe tinham crescido muito e ela era a mais baixa agora, embora costumasse ser a mais alta no passado. Até suas melhores amigas Jane e Roxanne eram alguns centímetros mais altas que ela.

— É melhor eu pegar a cesta mais uma vez — pensou ela, sentindo-se irritada por não ter crescido nos últimos dois anos.

— Tire sua camiseta agora. Está manchada de sangue — ordenou ela logo em seguida, pensando na grande quantidade de sangue escorrendo de sua ferida quando ela foi visitá-lo naquela tarde de feriado. Ela teve que se conter e evitar se sentir mal, após ter ido para cima do pai de Lucas, chamando-o de “açougueiro viciado em álcool” e “Jack, o Estripador”. Apenas a chegada de sua mãe foi capaz de salvá-los da raiva furiosa daquele homem, que estava em um atordoamento alcoólico.

— Mas o que devo vestir então? — Lucas ficou nervoso e incomodado por estar seminu, principalmente porque as marcas da violência do seu pai ainda estavam nitidamente visíveis em suas omoplatas.

— Minha mãe e eu compramos uma camiseta para você no mercado ontem. Mãe queria dar a você no seu novo período escolar, mas eu vou fazer isso agora! Eu a escolhi — exclamou Kira entusiasmada, fazendo Lucas corar até as orelhas, mas ela apenas o ignorou e, pegando-o pelo braço como sempre fazia, ela o levou para o quarto dos pais, onde sua mãe havia escondido o presente na gaveta de meias do marido.

Quando entraram no quarto, Kira e Lucas se trancaram lá dentro.

— Aqui está!

— Obrigado — murmurou ele, sentindo-se comovido e desembrulhando o presente.

Havia uma camiseta azul dentro, com o Goomba do Super Mario no centro, como no Nintendo de Kira e seu nome, Lucas, estava impresso debaixo dele.

— Assim que vi, pensei em você, porque sempre jogamos Nintendo quando passamos o domingo juntos. Você realmente ama Super Mario Bros e pular sobre os cogumelos do jogo.

— Eu normalmente pulo sobre eles enquanto você colide com eles e é morta — lembrou Lucas. Ele considerava Kira um gênio na escola, mas uma absoluta lerda em videogames.

Como resposta, Kira mostrou a língua para ele e Lucas sorriu feliz.

— Então, será que isso vai caber em mim? — perguntou ele, mudando o assunto da conversa antes que Kira começasse a listar os campos em que não tinha problemas em vencê-lo.

Ela odiava julgar de maneira imprudente e não criteriosamente, então ela colocou as mãos nos quadris com seu ar altivo habitual e começou a olhar para ele com atenção.

A camiseta serviu nele perfeitamente e Kira não pode deixar de notar seus músculos, que não estavam ali pouco tempo antes. Ela sempre guardou silêncio sobre isso, mas havia percebido que era sempre a perdedora quando eles lutavam com os travesseiros agora, quando se empurravam no sofá ou jogavam basquete no pátio. Embora Lucas sempre tivesse sido muito magro, não havia sobrado muito do menino de nove anos que Kira conhecera quatro anos antes.

O tempo havia passado e Lucas estava ficando mais forte. Ele estava crescendo e ficando cada vez mais ousado e valente. Ele não temia mais os golpes do pai, aprendera a aceitá-los sem derramar uma lágrima.

Kira ficou olhando para ele por muito tempo e ficou fascinada pelo seu rosto como sempre acontecia. Ela tinha que amá-lo, mesmo se sua aparência fosse com frequência diferente por causa dos golpes do seu pai.

Seus olhos castanhos eram sempre brilhantes sob a pilha de cabelos castanhos bagunçados, apesar da sombra melancólica que Kira vira com frequência em seu olhar.

Saber que seu amigo estava sofrendo a deixava muito triste, então ela sempre tentava fazer com que ele se sentisse melhor e feliz quando passavam algum tempo juntos.

Ela até caiu no choro nos braços de sua mãe uma noite, pensando em Lucas.

— Você ainda é jovem demais para carregar esse fardo, mas como é atenciosa o suficiente para perceber, apenas tente fazê-lo sorrir o máximo possível. Kira, se você deseja ajudar Lucas, não deve chorar. Você precisa ser forte por ele! — Sua mãe havia lhe dito naquele dia. Ela não entendeu muito bem o que sua mãe quis dizer com essas palavras na época, mas vinha se esforçando ao máximo para estar sempre alegre e carinhosa com seu melhor amigo desde aquele momento.

E agora, depois de alguns anos, ela podia ver um Lucas muito diferente na sua frente: muito mais alto, mais forte e muito bonito.

— Então? — incitou Lucas, sentindo-se nervoso. Com certeza, ele não estava acostumado com o silêncio de Kira. Ela era a garota que falava de maneira mais mordaz e enfática da escola.

Graças a ela, ninguém jamais se atreveu a provocá-lo, mesmo quando descobriram que ele achava a escola difícil por causa de uma leve dislexia, que a fonoaudióloga e psicóloga da escola não conseguiram atestar porque o pai do menino abafou isso assim que começaram a falar sobre professores de reforço e exames facilitados para ajudar seu filho a enfrentar melhor sua deficiência.

Essa palavra, deficiência, foi exatamente aquela que provocou uma confusão, enviando a fonoaudióloga para o hospital com um nariz quebrado

Nesse dia, o poderoso Darren Scott não conseguiu escapar com facilidade e foi obrigado a pagar muito dinheiro a fim de evitar ser denunciado formalmente.

— Você está muito bonito — declarou Kira, mantendo os olhos na camiseta.

— Bonito? — repetiu o menino, divertido e desconfortável, pois não estava acostumado a tais elogios.

Kira se arrependeu imediatamente de usar essa palavra.

— Jane diz que você é bonito — enfatizou ela, muito envergonhada pois acabara de revelar o segredo da sua amiga.

— Jane? Jane Hartwood?

— Sim. Acredito que ela gostaria de namorar você — sussurrou Kira, continuando se xingando e se perguntando como diabos estava contado essas coisas para Lucas.

— Sério? — Lucas perguntou, de repente ficando sério.

Essa mudança em sua voz irritou profundamente Kira, que de repente se sentiu muito irritada e zangada.

— Você não gosta dela, não é? Lucas, não me diga que você também quer namorar com ela! Você quer beijá-la e… — gritou ela, com uma voz estridente e delirante.

— Não, não quero! Estou apenas curioso. Não achei que Jane gostasse de mim — interrompeu Lucas.

Se essa é a questão, Roxy também é louca por você , Kira pensou em responder, mas um sentimento venenoso de ciúmes fechou seus lábios.

— Qual é o problema agora? — Lucas ficou imediatamente preocupado pois sabia o que aquela pequena boca em formato de coração podia esconder quando ficava ainda menor e mais fina.

— Nada.

— Você está zangada. — Lucas podia entender já que a conhecia muito bem.

— Não estou nem um pouco zangada!

— É por culpa de Jane? Acho que ela é legal, mas ela não é a garota certa para mim.

De todas as suas palavras, Kira só conseguiu ouvir “legal”.

— Então, você gosta dela!

— Apenas disse que ela é legal, não que gosto dela!

— Bem, então consiga sua próxima camisa do Super Mario dela! — explodiu Kira furiosa, sua mente estava confusa e ela saiu do quarto batendo a porta.

— Kira! — chamou Lucas, chateado. Kira nunca o deixou sozinho em todos aqueles anos que passaram juntos, então ele estava se sentindo profundamente culpado naquele momento, como se fosse responsável pela sua reação.

Kira não conseguia entender o próprio comportamento, mas se sentia sufocada enquanto seu peito doía.

Quando chegou ao seu quarto, ela começou a chorar.

Ela se jogou na cama, sentindo-se miserável e perdida por causa das suas emoções profundas.

Alguém bateu à porta logo depois.

Ela não respondeu, mas a porta se abriu mesmo assim.

Sua mãe estava lá.

— Você pode me dizer o que aconteceu, querida? Lucas estava chorando quando foi embora! Fazia muito tempo que eu não o via chorar… Kira, você também? Você está chorando! — Elizabeth ficou imediatamente preocupada, porque não estava acostumada a ver sua filha derramando lágrimas. Kira sempre foi muito zen e não muito emotiva, exceto diante de alguma injustiça.

— Não estou chorando! — soluçou ela, o rosto encharcado de lágrimas.

— Kira, querida, o que aconteceu com você? Você e Lucas brigaram?

— Não sei… eu… eu não sei o que se apoderou de mim. — Kira tentou explicar e continuou chorando. — Dei a ele a camiseta que compramos no mercado e então… ele disse que acha Jane legal e eu… eu…

— Você está com ciúmes de Jane? — sugeriu sua mãe, tentando conter um sorriso divertido diante do que parecia ser uma cena de ciúme. Ela vinha se perguntando no fundo do coração em que se tornaria aquela amizade muito particular entre Kira e Lucas, quando os dois saíssem da puberdade e entrassem na adolescência. O carinho de sua filha por ele aceitaria a presença de outra garota ao lado de Lucas? Algum dia ele seria capaz de se separar da sua melhor amiga?

Ela tinha ficado cada vez mais segura nos últimos anos que o vínculo entre essas duas crianças nunca poderia se desfazer e mais cedo ou mais tarde, ela os encontraria se agarrando atrás da cerca viva do jardim.

E agora, ao ver que sua filha tinha caído vítima do ciúme e estava sofrendo suas primeiras dores de amor, ela não pôde deixar de sorrir e sentir-se satisfeita com sua excelente intuição que nunca a desapontou.

— Não estou com ciúme! — resmungou Kira.

— Então, por que você está chorando? Me diga a verdade, você está se apaixonando por Lucas? — supôs Elizabeth, fingindo estar indiferente ao rubor evidente no rosto pálido da filha.

— Não, não estou! O que você está dizendo, mãe?

— Estou apenas dizendo que ficar tão zangada porque Lucas gosta de outra garota é muito estranho… Aliás, você cresceu e isso tinha que acontecer mais cedo ou mais tarde. Para ele ou para você… — provocou ela.

— Lucas é meu! — Kira ficou abatida e começou a chorar de novo. — Não vou compartilhá-lo com ninguém!

— Kira — sussurrou sua mãe, comovida e preocupada.

— Não quero perdê-lo! Eu o amo, mãe.

— Eu sei, querida — suspirou Elizabeth e abraçou a filha para confortá-la.

Elas continuaram se abraçando por muito tempo, até que a garota parou de chorar.

— Lucas estava realmente chorando? — perguntou Kira após um tempo.

— Sim, ele estava. Fazia muito tempo que eu não o via chorando — disse sua mãe com tristeza, fazendo com que a filha se sentisse terrivelmente culpada. — Você deveria se desculpar com ele.

— Sim, você está certa. Não queria fazê-lo chorar — murmurou ela, pois sentia-se muito envergonhada do seu comportamento.

— Que tal fazer biscoitos de banana com gotas de chocolate e levá-los para ele? — sugeriu sua mãe, tentando animá-la.

— Lucas adora esses biscoitos!

Enxugando a tristeza, Kira e sua mãe começaram a preparar uma grande assadeira cheia de biscoitos em forma de flor. Ao ficar ocupada fazendo os biscoitos perfeitos, Kira esqueceu a conversa com Lucas e apenas se concentrou em fazer as pazes com ele.

Os biscoitos estavam quase perfeitamente assados no forno uma hora depois e Kira estava realmente ansiosa para tirá-los e levá-los imediatamente para seu amigo. Ela mal conseguia esperar para limpar sua consciência, que estava pesando sobre ela.

— Que cheiro delicioso de biscoitos! — retumbou uma voz masculina atrás delas.

Elas se viraram de repente e viram a figura imponente e condecorada de Kenzo Yoshida.

— Papai! — gritou Kira, que estava no sétimo céu e correu para abraçar o pai. Ela não o via há quase um mês. Mesmo levando apenas uma hora de carro para chegar à base, Kenzo poderia voltar para a família apenas algumas vezes por mês ou até menos.

— Querido! — Elizabeth a seguiu, correndo para os braços do marido. — Por que você já está de volta? Você disse que não voltaria para casa antes de agosto.

— Estou de licença e tenho ótimas notícias para todos nós! — respondeu Kenzo sorrindo.

— Conte-nos tudo, por favor.

— Estamos voltando para Tóquio! — exclamou o pai de Kira.

— O que você quer dizer? — perguntou sua esposa intrigada.

— Você me entendeu, Ely. Eles me transferiram de novo, estão me mandando de volta para a embaixada americana em Tóquio. Kira, você está feliz? Você vai ver a vovó de novo. Tenho certeza que ela está ansiosa para abraçá-la novamente.

— Não quero voltar para o Japão! — explodiu sua filha assim que percebeu o que a notícia significava.

— Kenzo, eu tenho um emprego aqui e não acho…

— Ely, você não entendeu como as coisas estão. Isso não é negociável, são ordens de cima e você pode agradecer ao seu querido amigo Darren Scott — explicou o homem com uma voz gelada.

— Que desg…

— Não fale assim na frente da criança — interrompeu seu marido, pois não queria que sua filha ouvisse palavrões.

— Não sou mais criança e não quero voltar para Tóquio! — Kira se intrometeu novamente, à beira das lágrimas.

— Quero partir antes que o novo período escolar comece. Vou dividir meu tempo entre casa e a embaixada, enquanto você pode ficar na casa da minha mãe, como antes. Já entrei em contato com a antiga escola de Kira e eles têm uma vaga para ela. Ela só vai ter que passar no exame e poderá frequentar o ensino médio — continuou seu pai despreocupado, deixando sua filha muito ansiosa. Ela parecia à beira de um colapso nervoso.

— Não, não, não, não, não! — A jovem continuava gritando, fechando os ouvidos.

— Kira, você sabia que ficaríamos aqui apenas quatro anos! — Seu pai tentou fazer com que ela usasse a cabeça, segurando seus ombros, mas ela começou a se contorcer e chorar desesperadamente.

— Não, não, não! Não quero ir embora! Quero ficar aqui! Em Princeton! Com Lucas!

— Sinto muito, meu bem. Mas isso é impossível!

— Não, eu não quero — gritou Kira com toda força, empurrando o pai com violência para longe, saindo correndo pela porta dos fundos até a garagem para pegar sua bicicleta.

Os gritos de reprovação do pai e os gritos desesperados da mãe foram completamente inúteis.

Ofegando e com terror no fundo do seu coração pelo que estava acontecendo, a garota pegou a bicicleta e antes que seu pai pudesse alcançá-la, ela correu para a rua e começou a pedalar com todas as suas forças. Ela sabia que a casa do menino que ela amava ficava a cinco quilômetros de distância.

Quando ela chegou à suntuosa e majestosa villa da família de Scott, todos os músculos das suas pernas estavam queimando e ela sentia dor na garganta por causa do esforço.

Felizmente, havia um vento fraco naquele dia, então cada lágrima que ameaçavam escorrer pelo seu rosto, secavam antes de cair.

Usando a pequena passagem que Lucas fizera três anos antes ao quebrar uma parte da cerca, Kira conseguiu entrar furtivamente na villa e correu sem fôlego até a mansão.

Ela sabia que o pai de Lucas nunca permitiria que ela entrasse, como sempre aconteceu naqueles quatro anos, mas ela conseguiu identificar a janela do quarto do amigo, então correu por baixo e o chamou, com o pouco de fôlego que lhe restava.

Após gritar o nome de Lucas sete vezes, ela ficou abalada pelas lágrimas e caiu de joelhos no cascalho, rezando para que fosse apenas um pesadelo terrível.

Ela pulou e de repente se levantou assustada quando sentiu um toque leve no ombro.

Ela temia que pudesse ser Darren Scott ou sua própria mãe, mas, felizmente, assim que se virou, ela viu o rosto abatido e triste de Lucas.

Ela olhou para ele, tentando enxugar aquelas lágrimas irritantes que faziam o mundo de verdade ao redor dela piscar.

Lucas havia retirado o curativo, então Kira podia ver o ferimento entre os pelos da sua sobrancelha. No entanto, ela ficou ainda mais abalada com seus olhos inchados e vermelhos, já que não estava mais acostumada com eles.

De maneira instintiva, ela procurou por um lenço no bolso, para que pudesse enxugar seu ar assustado, mas ela havia se esquecido de tudo quando fugiu de casa.

— Kira — sussurrou o menino. Ele ficou devastado quando viu sua amiga chorando. Isso era algo inesperado e fez com que ele se sentisse muito mal novamente.

— Lucas… — Kira saltou, jogando-se em seus braços. Ela o abraçou com toda força, como se temesse que o vento pudesse levá-lo para longe dela.

Ela sentiu os braços de Lucas retribuírem o abraço, abraçando-a completamente.

— Desculpe, Kira — murmurou o menino abatido, abafando suas palavras por entre os cabelos compridos e sedosos dela.

— Oh, Lucas! Por favor, me perdoe. Não quero perdê-lo — soluçou Kira, abraçando-o ainda mais forte.

— Nem eu — Lucas estava tremendo.

Kira podia ouvir o coração do amigo batendo cada vez mais rápido enquanto a respiração ficava irregular.

Ela sabia que ele estava chorando e isso a fez desmoronar.

Ela esteve cuidando dele por anos e passou a conhecê-lo, amá-lo e apoiá-lo. Então, naquele momento, ela não conseguia acreditar no que diria a ele logo em seguida.

— Meu pai foi transferido de volta para Tóquio. Ele quer que minha mãe e eu voltemos para o Japão com ele. — Ela conseguiu dizer sem se afastar de Lucas, mas, de repente, ele deu um passo para trás, assim que percebeu o que ela quis dizer.

Kira estremeceu por causa dessa separação repentina. Então ela viu Lucas olhando para ela com uma expressão destruída.

— Eu não quero, mas… — Kira tentou explicar

— Então não faça isso! Não vá. Não me deixe sozinho… você também não. Estou te implorando — gaguejou Lucas e começou a tremer. Ele já tinha perdido a mãe e perderia sua melhor amiga em breve.

Por que todas as mulheres que ele amava o abandonavam mais cedo ou mais tarde?

— Não quero deixá-lo sozinho — declarou Kira séria, tentando recuperar um pouco de clareza.

— Então não volte para o Japão! — implorou Lucas com uma voz tão dolorida que pareceu uma punhalada no coração de Kira.

A resposta escapou dos seus lábios antes que ela pudesse pensar sobre isso.

— Tudo bem — respondeu ela, começando a matutar para encontrar uma solução.

O sorriso que finalmente se espalhou no rosto de Lucas valia mais do que mil presentes de Natal.

— Você promete?

Elizabeth geralmente dizia a filha para que não fizesse promessas que não pudesse cumprir, mas Kira não tinha dúvidas sobre o que aconteceria: ela tentaria ficar em Princeton com Lucas, por bem ou por mal.

— Prometo — disse ela, fazendo uma cruz no coração.

A felicidade crescente no rosto de Lucas tornou-se imediatamente contagiosa. Enquanto se abraçavam mais uma vez, Kira jurou para si mesma que faria qualquer coisa para ficar perto do seu melhor amigo.

Infelizmente, sua mãe buzinou do seu carro, que estava estacionando no lado de fora do portão da propriedade, interrompendo-os, então Kira tinha que voltar para casa.

— Coloque seu curativo de novo ou vai ficar com uma cicatriz — disse Kira preocupada, roçando o dedo indicador na sua sobrancelha machucada. Te vejo amanhã. Em casa.

— Vamos ter uma ótima partida de Super Mario , ok? — sugeriu Lucas, sentindo-se mais sereno, antes que sua amiga saísse pela passagem secreta que usou para entrar.

— Vou arrasar você! — Kira o desafiou alegremente antes de entrar no carro, mas assim que Lucas desapareceu da sua vista, ela sentiu algo quebrando dentro de si, bem no meio do peito.

Ela seria capaz de cumprir sua promessa a Lucas?

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