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Decisão

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Passam-se mais dois dias chegando o sábado. Bem cedinho, o filho de Deus levanta-se, espreguiça-se, tira a roupa, veste uma toalha, pega xampu, sabonete, barbeador, creme de barbear e hidratante e dirige-se ao banheiro passando pelas duas salas e corredor da sua residência. Chegando ao respectivo compartimento, coloca os apetrechos necessários na pia, tira a toalha, abre o chuveiro e começa a inundar seu corpo com a água fria da cisterna o que é muito refrigerador.

Um instante depois, fecha a torneira, ensaboa-se e durante o exercício aproveita para pensar mais um pouco sobre o ocorrido há dois dias. Após uma análise breve conclui que era realmente interessante uma viagem a Jeritacó, um povoado esquecido no sertão do Nordeste e que abrigava uma criatura singular como Emanuel que o salvara da morte. Mesmo que fosse por gratidão, o visitaria e descobriria um pouco mais sobre ele e sua proposta. Estava decidido! Iria a Jeritacó.

Com esta decisão em mente, termina de se esfregar, passa mais sabonete e então abre o chuveiro novamente. O jato d’água lava suas impurezas, mas não retira de si suas dúvidas e inquietações frente ao novo desafio. Uma nova aventura se avizinhava.

Sentindo-se limpo, o filho de Deus dá por encerrado o banho. Então veste novamente a toalha, dá quatro passos que o colocam à beira da pia e inicia a segunda parte do serviço no banho: A sua barba por fazer. Coloca creme em todo o rosto e auxiliado pelo barbeador retira cuidadosamente seus pelos do rosto e do pescoço. Precisava ficar bonito para causar uma boa impressão por onde passasse. Em sete minutos conclui este trabalho, lava o rosto, limpa o barbeador e então sai do banheiro.

Agora o próximo passo é fazer as malas em seu quarto e rapidamente o mesmo chega a este ambiente depois de ultrapassar os mesmos obstáculos anteriores. Imediatamente pega a sua novíssima mala com rodas e começa a colocar na mesma seus objetos pessoais. Entre os objetos, estão roupas que variam de calças, calções, cuecas, pijamas, vestes de frio, Chapéus, bonés, sapato social e tênis, produtos de higiene pessoal como sabão, sabonete, xampu, creme dental, toalha de banho e de rosto; Rádio de pilha e seus inseparáveis crucifixo e bíblia. Leva também um pouco de dinheiro, três exemplares do seu livro publicado e o celular para o caso de alguma eventualidade.

Com tudo pronto, agarra sua mala, passa pelas duas salas e corredor e ao final chega à cozinha onde já se encontravam seus familiares. Indagado pela questão da mala, anuncia sua viagem a Jeritacó a qual é recebida sem surpresas pelo fato dele ser escritor apesar de não aceitarem nem acreditarem em seus dotes como profissional.

Após desejar bom dia a todos, senta e toma o seu matinal café com pão, requeijão e queijo. Como estava apressado, não demora mais que cinco minutos para terminar o desjejum e ao final despede-se de todos com lágrimas. Era mais uma separação momentânea e esperava que desta feita fosse mais breve do que as últimas sagas.

Após a despedida, atravessa os mesmos ambientes em sentido contrário, chega a porta de saída, respira e sai. Iniciava-se assim um novo desafio em plena manhã de sábado.

A passos regulares o filho de Deus atravessa a estradinha do sítio e em instantes chega até o perímetro urbano de sua cidade dirigindo-se em sentido Via BR 232.No momento, em seu coração predominavam um misto de expectativa, ansiedade e nervosismo o que era natural porque estava a empreender uma nova aventura e sozinho.

Dentro da cidade, caminha pelo centro cumprimentando os conhecidos em seu caminho, dobra à esquerda caminhando mais duzentos metros e então já está na pista. Agora faltava pouco para chegar ao ponto de lotação com primeiro destino à Arcoverde.

Nesta última parte do trajeto o filho de Deus aproveita para planejar mentalmente os próximos passos que eram deveras importantes. Haviam apenas duas possibilidades no momento: A ida a Jeritacó seria um furo de reportagem que o elevaria aos mais altos patamares ou então seria apenas um momento de distração ao lado do seu novo amigo. Ambas o agradavam e certamente o tirariam da monotonia recente após ter completado a quarta saga da série “O vidente” denominada “O testamento- O Código de Deus” que revelara um Javé diferente da maioria.

Com tudo planejado e nos eixos, Aldivan chega à beira da pista aproximadamente ás 07:00 Hs da manhã. Restava agora orar para que o transporte não demorasse muito pois o tempo urgia.

Quinze minutos depois, com sorte, passa uma besta cor cinza, quatro linhas de poltronas e apesar de vir quase cheia para em meio o aceno do nosso querido personagem. Delicadamente, o motorista chamado Evandro desce, abre a porta da besta e acomoda Aldivan num cantinho. Após, fecha a porta, vai para o seu lugar e retoma a viagem. O destino começava aí a se traçar e com seus complexos meandros poderia mostrar ao vidente novos horizontes. Era pelo menos o que se esperava diante dos esforços do mesmo.

O início de viagem apresenta-se normal, um movimento intenso na Rodovia BR sentido Recife-Sertão pela grande quantidade de pessoas que voltavam aos seus lares, de parentes, amigos ou conhecidos ou até a passeio. Dentro deste tráfego contínuo, Aldivan tenta distrair-se da melhor forma possível: Medita um pouco, observa seus companheiros de viagem e a vegetação exuberante e linda da região que incluía a caatinga, as montanhas, os vales, as fazendas imponentes com seus bois pastando e suas casas coloniais, os sítios, povoados e vilas à beira da Rodovia e não cansa de se encantar. Sem sombra de dúvida aquela era uma região belíssima digna de seu criador Javé, o seu pai por direito.

Quando se cansa deste exercício, puxa conversa com os vizinhos de lugares sobre notícias, futebol, mulheres, política, religião, sexo e relacionamento. Tudo é muito agradável naquele pleno sábado,01 de novembro de 2014.

O tempo passa rápido. Passam pelo povoado riacho do meio, o sítio quinze metros e logo à frente surge a metrópole do sertão, a querida Arcoverde de tantas histórias e tradição no interior de Pernambuco.

Neste momento, a velocidade do carro aumenta e alguns minutos depois já tem acesso à pista que os levaria ao perímetro urbano da cidade. Passando por boa vista, centro, especificamente no ponto de lotação é onde o vidente desce. Paga a passagem, despede-se dos seus novos amigos, atravessa o pequeno muro e se dirige ao ponto de Ibimirim e ao chegar lá tem muita sorte pois o carro completa com sua chegada. Imediatamente entra no carro, também uma besta de mesmo tamanho, mas de cor prata e então é dada a partida. Inicia-se assim a segunda de três partes do trajeto.

Durante este percurso com aproximadamente oitenta quilômetros faz as mesmas coisas do primeiro focando nas conversas e sente-se muito bem. Depois de vivida sua fase de noite escura em que as forças do universo o libertaram tornara-se um ser humano com uma nova visão de vida, mais gentil, humano e simpático diferente de antes em que era muito tímido e isto era realmente um avanço importante. Agora se sentia interligado com o mundo e não via a hora de gravar sua vitória embora fosse um processo bem demorado. Maktub, que assim fosse!

Uma hora e vinte minutos depois da partida a Arcoverde completa o percurso composto por dois trechos asfaltados das pistas BR 232 e 110.Adentram na pequena cidade, percorrem as primeiras ruas e ao chegar ao centro comercial, O vidente pede para descer, paga a passagem, despede-se e atravessa a avenida principal. Eram quase 09:00 Hs da manhã e então ele resolve procurar um restaurante simples a fim de comer alguma coisa e descansar.

Com uns cinco minutos de procura, localiza um local tranquilo chamado Raio de Esperança, composto por um prédio térreo estilo chalé e com terraço circundado de árvores onde ficam também as mesas.

Ao adentrar no estabelecimento o qual estava praticamente lotado, dirige-se a uma mesa disponível localizado do seu lado direito (No canto) e com apenas cinco passos da entrada já a alcança. Senta então na mesa, pega o cardápio disposto na mesa e começa a analisar as possibilidades disponíveis para lanche.

Em cinco minutos decide por pão com queijo acompanhado de suco de goiaba. Chama a atendente, faz o pedido e enquanto espera observa todo o movimento ao seu derredor. No estabelecimento, há casais, pessoas solteiras e grupos de amigos divididos em todas as classes sociais, cor, etnias, opção sexual e provavelmente religiões. Uma mistura comum dum Brasil de todos os povos e ele estava acostumado com isso em todas as suas andanças.

Um instante depois, a atendente volta, entrega-lhe o lanche e a nota do pedido, ele agradece e começa a degustar o lanche com muita vontade pois estava sedento de fome. Enquanto se alimenta, sua imaginação voa pelo passado, presente e principalmente futuro. Tudo podia ou não acontecer e isto encerrava o mistério da aventura atual.

Ao terminar de comer, levanta-se aproxima-se do caixa levando consigo o recibo. Pega uma pequena fila e quando chega a sua hora de pagar, enfia a mão no bolso e abre a carteira tirando uma de suas notas. Dez reais no total e ainda recebe o troco de quatro reais. Pronto. Agora estava liberado para continuar sua viagem.

Dirige-se então novamente à sua mesa, pega sua mala com rodas e finalmente sai do estabelecimento. Ao encontrar a primeira pessoa na rua, pede orientações sobre como conseguir um táxi e gentilmente a pessoa fornece um número de serviço.

Agradece a informação, pega o celular escondido na mochila e começa a discar o número. Tenta uma, duas, três vezes e nada, caindo na caixa de mensagem. Como era insistente, vai para a quarta tentativa e então começa a chamar. Uma pessoa o atende.

—Alô? Quem é?

—Oi, meu nome é Aldivan e estou precisando de um táxi urgente.

—Oi, Aldivan, meu nome é Wellington. Ligou para a pessoa certa. Qual o destino?

—O povoado de Jeritacó? Conhece?

—Sim, sim. Já fui várias vezes lá. Onde você está?

—Estou no centro da cidade, próximo ao Raio de Esperança.

—Ah, eu sei onde é. Espere um instante que já estou indo.

—Ok.

—Até.

—Até.

A ligação cai. O filho de Deus guarda o celular e começa a prestar atenção no movimento das ruas. Quando sua condução chegasse, sinalizaria com as mãos para uma localização mais rápida. Tomara que não demore, pensa com seus botões pois já eram 9:30 Hs da manhã.

O desejo do vidente é atendido pelos deuses. Cerca de dez minutos depois, sua condução chega, ele entra no automóvel (Um gol cor prata ano 2013) com suas mala e inquietações. Cumprimenta Wellington, o mesmo retribui e então é dada a partida rumo ao destino final: O povoado Jeritacó.

Com uns quinze minutos de partida, já saem do perímetro urbano da cidade, pegam uma estrada precária de terra e então Wellington aproveita para puxar conversa.

—De onde é você mesmo?

—Sou natural de Arcoverde-PE e você?

—De Ibimirim mesmo. Diga-me, qual vosso interesse no povoado?

—Nada de especial. Vou visitar um amigo que conheci e buscar uma nova história.

—História? Você é escritor?

—Sim. Sou autor da série o vidente que já tem quatro livros prontos.

—Ainda não ouvi falar. Quais os títulos e temas dos livros?

—Forças opostas o mistério da gruta é o livro de estreia que tem como pano principal a luta por um sonho e uma viagem no tempo buscando corrigir injustiças, ajudar alguém a se encontrar e reunir as forças opostas desequilibradas. O segundo título denomina-se a noite escura da alma e foi inspirada num momento difícil e crítico da minha vida. Traz como lição principal a força do perdão e a recuperação mesmo nas situações mais difíceis. “O encontro entre os dois mundos” é uma viagem ao passado buscando encontrar suas origens. Trata dos dons, da luta contra as elites e as injustiças e o valor da persistência. Por último, conclui recentemente “o testamento-o código de Deus” que traz a história de Phillipe, um ser humano marcado por uma grande tragédia, e seu encontro com um Javé-diferente das concepções tradicionais-que é capaz de mudar sua visão de mundo e dar-lhe as ferramentas necessárias para retomar sua vida. É o livro mais importante da humanidade.

—Muito interessante. Tem algum exemplar aí com você?

—Tenho o primeiro.

Aldivan vasculha por um instante a sua mala, encontra o livro e o entrega a Wellington. Como ele está ocupado o guarda no compartimento ao seu lado. Retoma então a conversa.

—Gosto muito de ler. O que não tenho é tempo pois trabalho o dia inteiro, mas na minha primeira folga lerei o seu livro. Eu prometo.

—Obrigado.

—De nada.

A conversa instantaneamente para e então os dois concentram-se nos seus respectivos ofícios. Enquanto Wellington dirige, o filho de Deus presta atenção na paisagem totalmente desconhecida. Logo à frente, a estrada converge próximo ás margens de um grande açude, tão grande que não se via fim. Aldivan não contem a curiosidade.

—Qual é o nome deste açude?

—Chama-se Poço da Cruz, o maior do estado.

—Caramba! Muito grande mesmo. Mas parece meio seco.

—Consequências das estiagens recentes e do uso irracional da água. No passado, gerou muita renda para região através de projetos de irrigação.

—Ahan, que pena que praticamente secou. Mas a natureza é sábia.

—Isto é o Nordeste. Temos que conviver com este problema, a estiagem, acredito que por muito tempo pois muitos projetos importantes do governo ainda não foram concluídos.

—Concordo. Mas não devemos só esperar ação do governo. Precisamos lutar com nossas armas.

—Quais, por exemplo?

—Uso racional da água, construção de cisternas, furar poços, ser um cidadão atuante na sociedade. Entre outros exemplos.

—Vou fazer isso.

—Ok.

Nova pausa na conversa. Continuam seguindo a estrada de terra com suas curvas e linhas retas, circundados agora tanto pelo rio Moxotó quanto pelo açude poço da cruz. Ao fundo, pequenas elevações de terra cobertas de caatinga, vegetação típica da região. O vidente impressiona-se cada vez mais com a beleza local, uma Europa no semiárido nordestino. Brasil que merece ser visitado e graças a sua profissão surgira esta oportunidade única.

Continuam avançando celeremente na estrada batida de chão circundando o rio Moxotó e o açude poço da cruz dos lados esquerdo e direito respectivamente. Durante o restante do percurso, retomam o bate papo legal entre os dois envolvendo vários assuntos a fim de se distrair. Com isto, nem percebem o largo tempo que se passa.

Exatamente uma hora depois concluem o percurso chegando ao rústico povoado formado por apenas uma rua central com casas espalhadas aqui e ali. Param no meio do povoado, o vidente paga a passagem, promete ligar para ele quando fosse voltar e finalmente se despede. Imediatamente o carro faz o retorno e agora Aldivan estava sozinho exceto a companhia invisível do seu pai que o protegia continuamente. O destino estava prestes a se revelar.

Caminha alguns metros, observa o relógio e verifica que são quase 11:00 Hs. Apressa então o passo e entra numa mercearia a fim de pedir informações. Adentra no estabelecimento que é composto apenas por um vão simples preenchidas pelo balcão e prateleiras contendo alimentos. Pede licença e vai falar com a única atendente disponível no momento.

—Oi, tudo bom? Meu nome é Aldivan e queria saber a localização da casa de Emanuel. Conhece?

—Meu nome é Pâmela. Sim, conheço Emanuel. Ele mora num casebre no final da rua no número trinta e cinco. É só seguir em frente. Posso saber por que vai procurá-lo?

—Sou amigo dele, mas o motivo que me trouxe aqui é particular.

—Ah, entendi. Desculpa.

—Não foi nada. Obrigado pela informação. Tchau.

—Tchau.

Sem mais, o filho de Deus sai do estabelecimento, volta a caminhar nas ruas e segue as orientações de Pâmela.Com cinco minutos já chega ao destino, um casebre baixo, feito de pau a pique cheio de rachaduras nos seus quatro metros de largura com seis de comprimento e dois de altura. Com alguns passos, encosta na porta e neste instante o seu coração acelera. O que o esperava? Sua intuição se confirmaria ou estaria diante de uma nova frustração? Estariam em casa? Estas e outras indagações passaram velozes por sua mente e só seriam resolvidas no momento em que tomasse coragem e batesse. E é exatamente o que nosso augusto personagem o faz com firmeza. Bate uma, duas, três vezes. Na última tentativa é que houve arrastar de chinelos. Alguém se aproximava.

Um instante depois, a porta se abre e de dentro dela surge um ancião de cor branca, sessenta anos aproximadamente, estatura média, corpo musculoso, mas normal, cabelos brancos sem tingimento, feições bonitas, mas enrugadas pelo tempo, usava calção largo, sandálias tipo praia e camisa de malha. Ao deparar-se com o filho de Deus lança um olhar misterioso e indaga:

—Quem é o senhor? O que procura?

—Meu nome é Aldivan Teixeira Tôrres e procuro um jovem chamado Emanuel. Ele mora aqui?

—Aldivan? Ah, sim. Emanuel é meu filho e ele o mencionou em uma conversa. Desculpe o jeito. Entre. A casa é simples, mas está sempre aberta para os amigos do meu filho.

—Obrigado. Licença.

Aldivan entra no casebre acompanhado do anfitrião. Interiormente, o barraco resumia-se a um vão único onde estavam espalhados uma estante com televisão, rádio e algumas imagens de santos. No começo do lado direito, uma poltrona velha de cinco lugares. No lado esquerdo, bem no centro, uma mesa simples com três tamboretes dispostos ao redor. No lado direito, ao final, duas camas de vara com colchão de capim, e no lado esquerdo, um fogão alimentado por carvão onde estavam várias panelas.

O anfitrião oferece um tamborete ao visitante e com bom grado o mesmo aceita. Como ainda estava cheio de dúvidas, Aldivan entra em contato novamente.

— Qual é o nome do Senhor?

—Messias Escapuleto.Minha família é de origem italiana.

—Ahan, que legal. E o Emanuel? Onde está?

—Está trabalhando, mas em breve chega. Olha, você poderia me dar licença? Estou com uma panela no fogo e tenho que cuidar senão a comida queima.

—Claro, à vontade.

Messias afasta-se por um momento. É o suficiente para o filho de Deus dar uma espiada melhor em volta. O que vê era a realidade de ainda muitos brasileiros que viviam na extrema miséria e isto aumenta mais a admiração por aqueles personagens. O fato de serem pobres não queria dizer que não se esforçassem por ter uma vida melhor pelo pouco que conhecia deles.

Um instante depois, Messias volta do que seria a cozinha com o intuito de fazer companhia à visita após terminar de preparar o almoço. Senta num tamborete ao seu lado e com gentileza retoma a conversa.

—Você é de onde mesmo?

—Sou natural de Arcoverde-PE e o senhor?

—Como disse minha família provém da Itália, região da Sicília. Após uma recessão em seu país meu avô e minha avó migraram para cá em busca de melhores condições de vida. Fixaram inicialmente residência no Sudeste, no interior de São Paulo. Prosperaram com o cultivo de café, mas após graves desentendimentos por lá tiveram que fugir e o destino escolhido foi o Nordeste. Herdei este barraco dos mesmos.

—Caramba! Quanta história! Você deve sentir orgulho.

—Sim. Tenho orgulho de ser honesto, íntegro e dedicado. O resto não me importa.

—Eu também. Somos parecidos.

Os olhos de seu Messias brilham pois algo estranho estava acontecendo: uma estranha química entre os dois apesar de não se conhecerem. Antes que voltassem a conversar, alguém bate à porta, ele pede licença e vai atender. Ao abrir a porta, depara-se com seu filho e juntos adentram no casebre.

Ao perceber a presença de Aldivan, Emanuel vai imediatamente cumprimentá-lo com um grande abraço. O vidente retribui o carinho. Seu Messias intervém:

—Vamos almoçar que a comida está esfriando.

Aldivan e Emanuel concordam. Estavam realmente sedentos de fome e não podiam mais esperar. Atendendo a convocação do chefe da casa, pegam seus tamboretes e os colocam à beira da mesa. Enquanto isso, Messias vai buscar a comida que estava em cima do fogão.

Em questão de segundos, ele volta e começa a servi-los. O cardápio era feijão com farinha, arroz e ovos estrelados e ninguém reclama. Pior era ficar com fome. Ao final, ele também se serve, senta-se à mesa e juntos os três começam a alimentar-se. O ambiente era propício ao triálogo e é isto que ocorre momentos depois.

—O que está achando do nosso querido povoado? (Emanuel)

—Muito simpático. Gosto do ar puro do campo e da tranquilidade. (O filho de Deus)

—Que bom. Eu pedi para que viesse aqui pela nossa proposta: O de escrever uma nova série instigante. (Emanuel)

—Sim. Qual sua ideia? (O filho de Deus)

—Sua presença é importante. Quero que me ajude a convencer a meu pai a revelar-se. (Emanuel)

—Como assim? O que esconde seu Messias? (Interessou-se o filho de Deus)

—Bobagens desse garoto. Não ligue. (Tentou esquivar-se o velho)

—Bobagens? E o que são aquelas luzes que espargem sobre o seu corpo á noite? E o fato de nunca ter conhecido minha mãe ou até mesmo o porquê de você nunca avançar na idade? (Replicou Emanuel)

—Como assim? (Espantou-se o vidente)

—É o que eu disse. Desde que eu era pequeno o conheci do jeito que ele é hoje. Pode falar, pai. Ele é o filho de Deus, digno de confiança. (Pediu Emanuel)

Messias enrubesce. Em sua longa vida nunca alguém o colocara contra a parede daquela forma. Será que estava na sua hora? Antes que pudesse resolvesse responder, investiga a aura do visitante usando seu poder secreto e fica espantando com o que constata. Ali, em sua frente, estava o ser mais puro do universo sem nenhuma mácula visível. Seria o mestre da luz prometido por Javé? Só havia uma forma de descobrir: Colocá-lo em teste e verificar a autenticidade do seu caráter.

—Tudo bem. Você venceu. Sou diferente sim e acho que tenho uma missão junto a vocês. Porém, quero a prova de que é mesmo o filho de Deus. (Sentenciou ele)

—O que devo fazer? (O vidente)

—Ficarás conosco por sete dias num treinamento comigo. Você e meu filho. Se forem aprovados, terão o necessário para iniciar a vossa série. (Messias)

—Está bem. (O filho de Deus)

—Uma troca justa. (Observou Emanuel)

—Agora cuidemos da comida. (Messias)

O almoço continua seguindo na paz. Ao término, o filho de Deus telefona para seu chefe e para casa avisando que vai ficar afastado dê suas funções por sete dias. Após, guarda sua mala e vai descansar um pouco num colchão improvisado. A sorte estava lançada.

Duas horas depois, o vidente é acordado por seus dois novos amigos. Ainda um pouco atordoado, levanta-se e então o contato é retomado.

—Está pronto, Filho de Deus? (Messias)

—Acho que sim. O que temos para hoje? (O filho de Deus)

—O nosso desafio é testar vossas potencialidades em sete pilares: Amor, misericórdia, justiça, caridade, tolerância, paciência e fé. Eu tenho uma suposição e quero tirar a prova. (Respondeu Messias)

—Entendi. Estou à disposição- respondeu ele.

—Pai, não me diga que está pensando que...? E se ele morrer? (Emanuel)

—Não se preocupe. Eu quase nunca me engano. (Messias)

—Assim eu espero. (Emanuel)

—Acho muito bom. Não me importo em correr riscos. (O filho de Deus)

—Muito bem. Acompanhem-me. (Messias)

Messias aproxima-se de sua cama de capim, abaixa-se e retira uma bolsa embaixo da cama. Abre o zíper principal retirando lá de dentro um grande cordão com crucifixo de ouro. Senta no móvel e faz sinal para que os outros façam o mesmo. Começa então a explicar:

As Vozes Da Luz

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