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Capitulo 3 ─ Encontro com Toya

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Shinbe inclinou-se para frente com o semblante sério e olhos ametistas quase brilhando: “Algumas pessoas aqui são normais e existem os que têm bolsas de estudo, como eu e Suki. Outros têm bolsas, mas todos têm alguma habilidade especial, um poder que pessoas normais não têm”.

“O meu é a telecinese. Posso mover objetos com minha mente. E também a telepatia, o que significa que posso falar com outros usando minha mente.” Ele disse essas palavras sem som algum, pois sabia que ela podia ouvi-lo telepaticamente.

Kyoko ficou boquiaberta quando notou que não via seus lábios moverem, mas que podia ouvi-lo dentro de sua cabeça. De repente ela se sentiu quente, como se a voz dele, ou algo estivesse lá. Sua expressão relaxou e seu olhar suavizou enquanto ela olhava para ele.

Shinbe tentou disfarçar uma carranca curiosa enquanto conectava sua mente com a dela. Tinha empregado todo seu poder de concentração só para fechar a conexão. Era como se o poder dele quisesse ficar com ela. Tentando abalar o sentimento, ele continuou. “Posso também lançar feitiços; vim de uma longa linhagem de monges". Ele parou quando viu Kyoko explodindo em risada.

Suki deslizou para ficar ao lado de Kyoko de novo sem perder o ritmo da conversa: “Sei que é difícil de acreditar, mas ele realmente vem de uma linhagem de monges”. Ela sorriu e seu olhar tornou a ficar sério: “Já o vi lançar objetos sem tocá-los, e ele é demais em todos os tipos de artes marciais".

“Talvez a gente deva informar a adorável Kyoko sobre todos os meus talentos”, disse Shinbe sugestivamente.

Suki virou-se e encarou Shinbe, “Não, não vou lhe dizer que você é bom NISSO!” Ela deu-lhe um coque com o nó dos dedos na cabeça por via das dúvidas.

"Ainda assim, ele age como se fosse apenas humano", disse uma voz sarcástica, vinda não se sabe de onde; Shinbe endireitou o corpo, mexendo-se para dar lugar à voz.

Kyoko olhou para cima e seu olhar ficou preso nos profundos olhos dourados. O dono da voz tinha a aparência mais atraente que ela jamais tinha visto. Cabelos negros com destaques de prata caiam em longas ondas da cabeça dele. Sua pele morena de sol tinha luzia saudável no corpo atraente. Entretanto seus olhos a mantinham cativa, mesmo quando ele não olhava diretamente para ela.

Suki bufou e cruzou os braços na frente do peito, dando ao recém-chegado um olhar irritado. "Boa, você era só o que faltava para afugentá-la".

Shinbe sorriu com esforço para Suki e deu uma olhada para Kyoko para fazer as apresentações, "Este é Toya. Toya, esta é Kyoko. Hoje é seu primeiro dia aqui."

Toya virou-se para Kyoko dando-lhe um olhar avaliativo e isso deixou-a aborrecida. Kyoko deu-lhe uma olhada estarrecida.

“Então, você é uma sacerdotisa?” Toya resmungou e virou a cabeça num gesto de descrédito enquanto se sentava.

Os olhos de Kyoko voltaram-se para ele enquanto suspirava. Ninguém sabia que ela era uma sacerdotisa. De fato, somente sua família mais próxima sabia.

“Como é que você sabe disso”, gritou Kyoko furiosa.

Toya sentiu seu sangue ferver. “Droga, não grite como uma maluca. Posso ouvir perfeitamente”.

Tanto Suki como Shinbe tiraram o corpo fora enquanto Kyoko e Toya se engalfinhavam verbalmente.

Os sentidos de Toya começaram a se manifestar numa onda ponderosa com a raiva de Kyoko e ele foi ficando tenso, pensando que talvez ela afinal tivesse um pouco de poder naquele corpinho encantador, embora nunca ele lhe diria como sabia que ela era sacerdotisa.

Silenciosamente, ele avaliou a aparência dela. Seu cabelo ruivo brilhou em torno de um belo rosto em forma de coração. Seu olhar esverdeado que agora o miravam em fúria deixou-o ligeiramente excitado. Ele gostava de mulheres com coragem e ela, obviamente, tinha muita, mas por alguma razão isso o colocou deixou tenso. O que ele não gostava era de ser encarado por ela daquela forma; ele devia dar um jeito nisso depressa.

Ele olhou firme para ela tentando intimidá-la. “Você conseguiu uma bolsa, certo? E ELE afirmou que você é uma SACERDOTISA!” Toya rosnou perto de seu rosto, aproximando-se mais a cada palavra, até quase encostar seu nariz no dela. Ele cruzou os braços dentro das mangas soltas da roupa bufando indignado. "Aposto que você nem sabe o que é um demônio", murmurou, de repente percebendo que ela estava ficando mais atraente a cada segundo, o que o perturbava.

Kyoko vacilou, seu mau humor aumentando. Ela sabia o que os demônios eram. Tinha os estudado a vida toda e sua família estava certa, havia até conhecido alguns, embora não pudesse recordar. Ainda assim, não estava gostando da atitude altaneira e poderosa de Toya, então, apenas arqueou uma sobrancelha, como se lhe perguntasse silenciosamente se ele queria apostar nisso.

Suki parecia querer defender Kyoko, "Toya, será que você não pode ser um pouquinho mais bem educado? Ela só está aqui há poucas horas e antes que você a afugente, eu gostaria de convencê-la a ficar". Parecia meio triste com a ideia de perder Kyoko tão depressa.

Toya levantou um sobrolho aborrecido, encarando Suki ─ "bem, ela nem ao menos respondeu minha pergunta. Você acha que ela é capaz de enfrentar a questão?" ele tornou a encarar Kyoko.

"Posso enfrentar qualquer coisa que você me mande babaca", disse Kyoko em tom cortante.

Suki e Shinbe se entreolharam. Nunca tinham ouvido ninguém, a não ser eles próprios e o dono da universidade, enfrentar Toya assim, exceto Kotaro, talvez. Ambos sorriram sem jeito, certos que, definitivamente, iam acabar gostando dessa garota chamada Kyoko.

Um garçom apareceu com pratos prontos para servir a mesa e Kyoko voltou-se desviando a atenção de Toya para ele. O sujeito encarou Kyoko um pouco mais que o necessário, despertando seus sentidos que a alertavam para algo acontecendo. Ela olhou para os olhos negros que pareciam não pertencer ao rosto infantil do jovem.

Alguma coisa sobre ele atraiu Kyoko, embora ela não estivesse certa de estar gostando do que sentia. Claro, ele tinha uma aparência atraente, mas alguma coisa sobre ele a deixava ligeiramente pouco a vontade. Ela piscou tentando se livrar do feitiço que o jovem parecia irradiar sem nem mesmo tentar. O clima acabou sendo quebrado quando ela ouviu um grunhido baixo vindo do lado dela.

Toya sentiu uma frieza rastejando sob a pele e rosnou para o sujeito, parecendo sacudi-lo de seu torpor. Quando o rapaz focou os olhos de Toya de novo, eles pareciam mudar de um brilho negro como azeviche para um azul prateado enquanto ele se virava e fugia da mesa.

Kyoko deu um olhar confuso para Suki, mas Suki apenas encolheu os ombros, dando outra garfada no prato. Ao lado dela, Shinbe tossiu abafando com mão e tentou disfarçar o humor enquanto estranho da situação observava o sujeito correr atravessando a sala. Kyoko estava captando vibrações esquisitas desse Toya e estava disposta a não sossegar até que descobrisse qual era o problema dele. Ela se recostou na cadeira e examinou-o por um momento.

Seu cabelo comprido era da cor mais estranha da meia-noite, com grossos reflexos prateados correndo revoltos por ele e seus olhos eram lindos. ELE era belo. “Uma nota para si mesma, belisque-se por pensar nisso”. Seus olhos eram de um dourado flamejante, sem dúvida alguma. Ele seria mais atraente ainda se não fosse a forma como a olhava.

Suki suspirou. Ela precisava ter uma conversa com Kyoko sobre como tirar Toya do sério. Não era bom que ele ultrapassasse seus limites. E não era justo que Kyoko não desconfiasse que estava enfurecendo um guardião.

Shinbe quebrou o silêncio da mesa ─ “Descobri que se você brincar com fogo, você acaba se queimando”. Foi recompensado com um olhar gelado geral antes que todos o ignorassem.

Toya deu mais uma olhada em Kyoko. Então, era essa quem se esperava que ele protegesse? Kyou devia estar brincando. Kyou tinha lhe falado sobre ela de manhã e lhe avisado que ele deveria protegê-la e ter certeza de sua segurança a todo momento.

Ele semicerrou os olhos pensando sobre o rapaz que tinha acabado de estar em pé perto da mesa. O modo como ele tinha ficado encarando Kyoko o enfurecera. Será que a sacerdotisa estava mesmo correndo perigo? Porque Kyou estava tão interessado na segurança de um mero ser humano? Kyou nunca tratou ninguém respeitosamente, então, por qual motivo essa moça pequenina era diferente?

Algumas vezes Toya detestava o fato de Kyou fosse seu guardião designado, mas tinha de admitir que devia muito a ele desde que o aceitara. Ele também sabia que Kyou sempre tinha um bom motivo quando fazia alguma coisa; só isso já era motivo para deixá-lo pensativo sobre essa garota chamada Kyoko.

Shinbe, que tinha reparado que dava para cortar com uma faca a tensão reinante na mesa, olhou para Suki com olhos de uma animal de estimação. Sabendo que era capaz de fazer Kyoko rir de novo com suas palhaçadas, ele começou a fazê-las com convicção.

“Então Suki, você ainda vai ao clube comigo hoje à noite? É noite de sábado, não gostaria deixar de dançar com você para dançar com uma dúzia de estranhos”. Shinbe fez um olhar aturdido como para demonstrar o que seria dançar com uma multidão de mulheres.

Suki deu-lhe uma olhada considerando se valia a pena dar-lhe um tapa para que ele parasse com aquele olhar estúpido. Virou-se então para Kyoko. “Kyoko, preciso de uma acompanhante”, disse sorrindo. “Você me fará companhia, não é? É muito perigoso sair sozinha, apenas na companhia dele...”, deu olhou Kyoko, suplicante.

Kyoko contraiu os cantos dos lábios os lábios e viu Shinbe sair do olhar atordoado e piscar para ela de novo. “Suki, gostaria muito de sair com vocês. Assim poderei dar uma mão a Shinbe se ele sair do controle”.

Ambos olharam firme para Shinbe que soltou um gemido. Kyoko não conseguiu segurar o riso mais uma vez. Ela realmente estava gostando desses dois.

Toya observou Kyoko pelo canto dos olhos. Droga, como ela era bonita quando ria assim! Ele gemeu internamente. De onde vinha essa sensação? Ele se jogou na cadeira irritado com essa linha de pensamentos. “Droga!” Agora ele tinha que ir ao clube a noite só para tomar conta dela. Ela ainda estava sorrindo para Shinbe e Suki quando virou para trás.

Quando olhou para ele seu pulso falhou uma batida e seu sangue circulou mais rápido. Toya compreendeu que ela emanava mais força agora que estava feliz do que há um momento quando ele a tinha enfurecido. Há muito tempo ele não se sentia tão pouco a vontade.

Kyoko parou de rir e disse para Suki “Hei, nem sei quais aulas vou ter segunda-feira ou para onde terei que ir. Você sabe aonde posso me informar?”

Antes que Suki pudesse dizer alguma coisa, Toya respondeu a pergunta olhando-a de perto. “Todos os estudantes com bolsa recebem a mesma informação. Assim, você, Suki, Shinbe, bem como todos os outros, estarão nas mesmas salas de aula. As únicas aulas separadas serão aquelas com o proprietário da escola. Sua voz ficou preguiçosa enquanto ele se recostava na cadeira.

Kyoko franziu o sobrolho: “Quais são as aulas que o proprietário leciona?”

Dessa vez Shinbe respondeu, seus olhos ametistas luzindo com a intriga: “Para cada um de nós é diferente. É por isso que ele nos ensina separadamente. Ele nos ajuda a desenvolver nossas habilidades especiais.” Ele se recostou na cadeira com ar pensativo e acrescentou sorrindo: ”Acho que você terá um reforço nos seus poderes de sacerdotisa”.

A raiva de Kyoko despontou de novo, imaginando como diabos o dono sabia que ela era uma sacerdotisa. A bolsa de estudos não falara nada sobre isso. Ela tinha passado os últimos anos tentando soterrar esses mesmos poderes pelos quais o dono tinha lhe concedido a bolsa de estudos. Queria ir ao fundo dessa questão o mais cedo possível.

Com o olhar fixo no prato, Kyoko falou com voz tensa: “Talvez haja algum engano. Será que vou poder falar com o proprietário da escola agora mesmo?”

Toya semicerrou os olhos. Kyou havia lhe avisado que ela poderia pedir para vê-lo. Embora ele nunca tivesse querido se encontrar com alguém fora da sala de aula, tinha dito a Toya para trazê-la diretamente a ele, caso ela começasse com perguntas.

“E aí, ficou com medo?”, disse Toya para mexer com ela, ganhando em troca um olhar furioso que mostrava seu aborrecimento. Então, essa garota pensou que poderia manobrá-lo. Bem, ia ser divertido vê-la olhando daquele jeito para Kyou. Ele já tinha visto o medo que Kyou era capaz de instilar instantaneamente em alguém sem ter que dizer uma palavra.

“Ótimo, eu levarei você assim que estiver pronta”, disse Toya, lançando o desafio para ver se el mordia a isca.

A raiva de Kyoko diminuiu um pouco ao ouvir isso. Empurrando o prato ela disse que sim com a cabeça, satisfeita por desmascarar o blefe dele. “Estou pronta quando você estiver”. Ela arqueou uma sobrancelha para ele.

“Qual é a pressa?” Toya ficou de pé com um sorriso. “É melhor você abafar seu temperamento com uma tampa ou ele vai perceber”, disse rindo, pois ela não tinha ideia de onde estava se metendo.

Kyoko semicerrou os olhos para ele e levantou-se encarando Suki e Shinbe. “Falo com vocês depois que tiver terminado, se vocês vierem me apanhar. Estarei em meu quarto esperando e poderemos fazer planos para hoje à noite”. Ela piscou para Suki e olhou de novo para Toya, acrescentando com uma voz inexpressiva. “Isto é, se eu decidir ficar”.

Ele se afastou dela zangado e ela, observando sua retirada, acenou para os outros por cima do ombro enquanto o seguia. Rapidamente ela notou como os outros estudantes saíam apressadamente do caminho de Toya e se afastavam com ar pensativo. “O que ele era?” O valentão da escola?”

Kyoko não ia lhe dar a satisfação de sair correndo para se emparelhar com ele, foi andando no seu próprio passo, propositalmente ficando para trás. Ligeiramente zangada ainda, ela quase corou quando se surpreendeu mirando o traseiro de Toya. A visão do cabelo dele roçando o assento de suas calças e dando-lhe um vislumbre da nádega firme que estava por baixo, só a deixava mais irritada. Irritante e atraente não passava de uma péssima combinação.

Sacudindo a cabeça mentalmente, ela continuou a segui-lo maldizendo seus olhos errantes. “Só mesmo um completo idiota poderia imaginar que alguém que você não suporta pode ser atraente! Murmurou entredentes. “Irritante... Hostil e, talvez arrogante, mas nunca atraente”, pensou ela sorrido e já se sentindo melhor.

A conscientização de algo estanho subiu por sua espinha e seu olhar disparou para um ponto acima dela ficando preso em olhos escuros que perfuravam os seus. O sujeito estava se apoiando na parede no topo da escada observando-a. Seus cabelos de ébano desciam pelos seus ombros e costa em ondas e seus olhos negros meia-noite eram intensos. Ele parecia muito atraente, mas, ela se sentiu ameaçada.

Desviou o olhar dele. ´Kyoko, controle-se. Pare de analisar todo o mundo que você vê´─ disse para si mesma severamente, embora tentasse olhar para cima para encará-lo com seus olhos verde-esmeralda.

“Aí está a garota mais bonita do campus”.

Kyoko sentiu um braço forte em torno de seus ombros e virou-se para olhar, reconhecendo a voz de quem tinha mostrado qual quarto era o seu na parte da manhã. Percebeu as pontas de seu cabelo novamente fazendo cócegas no rosto e uma brisa vinda de parte alguma pareceu acariciar suas bochechas.

Ela lhe deu um sorriso caloroso, mas ao mesmo tempo deu um jeito de escapulir e tirou o braço dele. “Kotaro, é bom vê-lo de novo. Obrigado pela sua ajuda de manhã, falou Kyoko com voz nervosa querendo que ele agisse com menos familiaridade com ela. Ela o achava legal, mas nunca disse que ele podia pôr o braço no seu ombro.

Kotaro agia naturalmente e, tomando a mão dela entre as suas, disse: “Posso acompanha-la a algum outro lugar, Kyoko?” Olhou fundo em seus olhos verde-esmeralda sabendo que eles os tinha visto antes, em algum lugar. E tinha uma vaga lembrança de ter mergulhado com muita alegria neles.

Kyoko olhou para cima e viu que Toya tinha parado e estava olhando irritado para trás. Ela poderia jurar que o tinha ouvido resmungar para ela ou para Kotaro, estava na dúvida para quem.

Toya não sabia que Kotaro também estava a fim, mas não gostou do jeito tão amigável dele com Kyoko. Rosnou do fundo do peito enquanto dizia: “Deixe por minha conta Kotaro, a menos que você queira levá-la até Kyou”. Olhou firme para Kotaro, sabendo que ele nunca chegaria perto de Kyou salvo se fosse por alguma aula ou se fosse chamado.

Kotaro soltou a mão de Kyoko: “Espero que tudo esteja bem, Kyoko”. Deu a Toya uma olhar de desaprovação e virou-se para ela: “Cuidado para não ter queimaduras de frio aqui”. Se você não puder controlá-lo, eu dou um jeito nele para você”. Kotaro deu um olhar presunçoso para Toya, assentiu com a cabeça para Kyoko e desceu a escada.

Kyoko ouviu Toya resmungando e ficou olhando enquanto ele se afastava pelo corredor, percorrendo o mesmo caminho que ela tinha feito de manhã.

Dessa vez ela se apressou e emparelhou com ele bem a tempo de vê-lo entrar pelas portas com o aviso NÃO ENTRE. Kyoko ficou imaginando para onde eles teriam ido. Enquanto ela seguia seu marchar militar, lhe ocorreu que ele a levava outra vez para seu próprio quarto. Quando ele por fim parou em frente de sua porta, Toya virou-se para ela que retribuiu encarando-o com raiva até que ele acenou para a porta em frente e bateu com o nó dos dedos.

Kyoko estava chocada. O proprietário estaria na sala bem em frente dela? Ela lembrou-se novamente das palavras de seu irmão. “Incrível!” Sem esperar por uma resposta, Toya abriu a porta e a empurrou para a frente.

Imediatamente, Kyoko voltou-se para ele. “Não sei qual é o seu problema, mas você poderia parar de me empurrar” ─ falou para espantá-lo ─,”ou de encostar em mim. Não te fiz nada!” Sentiu os cabelos da nuca ficarem arrepiados quando percebeu que Toya a encarava.

Kyoko murchou, vendo o que tinha feito. Será que tinha sempre que perder a calma sem pensar ou considerar quem podia estar olhando?

Toya viu Kyoko ficar tensa e deu um risinho baixando os olhos para a garota que lhe parecia ser tão pequena de repente. “Você não queria falar com alguém?”. Quando Kyoko não respondeu, Toya olhou para Kyou e semicerrou os olhos quando viu que Kyou estava encostado na porta da sala, olhando Kyoko como se estivesse em transe.

“O que será isso?” Pensou Toya consigo mesmo. Por que Kyou olhava para ela com se estivesse vendo um fantasma? De certa maneira, ele não queria admitir a inveja que aquilo lhe causava. A cena lhe dava uma sensação de arrepio fazendo-o querer ficar entre eles e bloquear Kyoko da visão de Kyou. Ele queria protegê-la.

Kyou ficou momentaneamente sem palavras, vendo Kyoko de tão perto e pela primeira vez depois de mais de mil anos. Até mesmo o ar em torno dela zumbia tão forte como ele se lembrava, a mesma força inegável que o atraíra no passado e que não desaparecera.

Seus olhos dourados examinaram o guardião atrás dela meio com marcada indiferença. “Toya, deixe-nos.” Podia-se ouvir o tom ameaçador de sua voz.

Um grunhido se formou na parte de trás da garganta de Toya e seus punhos se cerraram com raiva enquanto um sentimento cada vez mais forte se apoderava dele vindo de algum lugar desconhecido, escondido profundamente dentro de sua memória. Sem dizer mais nada, Toya virou-se e saiu bruscamente pela porta, batendo-a atrás dele,

Kyoko observou Toya partir enquanto por sua mente passavam pensamentos caóticos sem cessar. De repente sentiu o impulso de correr atrás dele. Resolvendo não ser covarde ergueu o queixo, encontrou coragem e virou finalmente o corpo apenas para não acreditar no que via.

Em vez do idoso em terno engomado que esperava ver, encontrava-se frente a frente com um par de olhos dourados que a queimavam e a faziam sentir impotente para desviar o olhar. Seu cabelo prateado cobria seus ombros naquela corpo perfeitamente esculpido. Ele era alto, belo, com um toque de arrogância em torno de um corpo verdadeiro e de um rosto que só poderia ser um presente do céu.

Kyoko fechou os olhos instantaneamente. “O que houve com ela?” Ela veio aqui para fazer perguntas, não para salivar de encantamento. Quando ela abriu os olhos de novo ele estava bem mais próximo. Ela instantaneamente recuou um passo afastando-se da nobreza e superioridade que o cercavam e procurou sentir o amparo firme da porta contra suas costas.

Sem perceber o que estava fazendo, Kyou andou na direção dela. Mas quando notou que ela se retraía, ele levantou a sobrancelha elegantemente e estendeu a mão apontando o sofá. “Gostaria de se sentar, Srta. Hogo?” Ele sabia que ela tinha perguntas para ele. Ficaria desapontado se não tivesse.

Kyoko engoliu em seco, mas altivamente levantou o queixo, abriu caminho até o sofá e manteve-se na maior distância possível entre eles, se não fosse por nada pela esperança que seu cérebro voltasse a funcionar normalmente. Interiormente deu uma risada trêmula.

“Primeiro quero que você me diga o que o faz pensar que eu sou uma sacerdotisa?” Ela olhou para ele cautelosamente e quase surtou quando ele se sentou ao lado dela no sofá, e não na cadeira do outro lado da mesa de café. Kyoko endireitou o corpo e virou-se para observá-lo, afastando-se mais dele e mostrando seu medo.

´Então ela quer brincar´, pensou distraidamente, mas rapidamente expulsou o pensamento intrigante. “O que a faz pensar que eu poderia não saber que você é uma sacerdotisa? perguntou numa voz artificialmente calma. Ao se debruçar sobre ela tornou-se evidente como ela era pequena comparada com ele.

Kyoko observou os planos de sua face perfeita procurando algum indício de emoção e ficou surpreso ao não encontrar nenhum. Ele parecia uma escultura de perfeição e calma, e isso a irritou ao extremo.

“O senhor sempre responde uma pergunta com outra pergunta, senhor...?”, ela gaguejou nem menos sabendo como chamá-lo.

Kyou sorriu, mas apenas interiormente para que ela não visse. Bem, ele poderia dizer que a vida ainda estava presente nela e isso não o desapontava. Somente fazia com que ele quisesse ver mais. “Sr. Lord, mas você pode me chamar de Kyou, salvo se preferir Lord”. Ele a encarou com um olhar caloroso.

Kyoko devolveu-lhe o olhar caloroso, “Por que...eu...estou aqui?”. Ela disse essas palavras lentamente, uma de cada vez, como se estivesse falando com uma criança. ´Pronto, vamos ver como o senhor se sai dessa, seu Sr. Lord cretino.´ Kyoko reprimiu sua contrariedade, mas não tirou o olho dele

Tendo lido a mente dela, os olhos de Kyou brilharam ao se fixarem semicerrados nos olhos cor de esmeralda de Kyoko. Ele se debruçou aproximando-se mais, consciente do efeito intimidador disso sobre ela. Ele sentiu pelo olfato.

“Seus poderes de sacerdotisa são fracos e estão fora de forma, ou você saberia por que eu sei que você é sacerdotisa”, disse ele, quase sibilando e perdendo a compostura por apenas um momento antes que sua fachada calma voltasse. “Vou lhe ensinar artes marciais e fortalecimento, nos pontos em que você estiver deficiente.”

Para Kyoko, o que ele disse por último soou quase como um insulto. E sendo bem conhecida pelo seu estopim curto, ela se pôs quase cara a cara com ele e usou o máximo de sarcasmo. “Talvez eu somente esteja escondendo meu verdadeiro poder até expô-lo num alvo que valha a pena.” A raiva estava deixando-a sem medo, ou estúpida, no momento ela não sabia bem qual dos dois.

Kyou aproximou-se dela mais ainda, mergulhando os lábios perto dos dela para que sua respiração quente acariciasse seus lábios. Ele sussurrou numa voz sombria: “Sacerdotisa”.

O Coração Do Tempo

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