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Capítulo 4
ОглавлениеO beco ficou um pouco mais escuro do que o resto da cidade e Misery desceu sobre ele para verificar a fenda na parede dimensional que tinha criado com o sangue de Kane. Ela gostava do facto dos humanos não a verem, embora tivesse a certeza que alguns com um sexto sentido mais apurado evitariam o beco.
Deixando a escuridão implodir, avançou, escolhendo a forma de uma criança enquanto se ajoelhava ao lado da abertura. Não se atreveu a tocar nela com medo que a arrastasse através da barreira, mas agora podia sentir os demónios a reunirem-se do outro lado. Aqueles demónios conseguiam ver a fenda e era esse o propósito da sua criação. Misery deixou que alguma da sua própria maldade deslizasse do seu corpo em forma de tentáculos de fumaça e ria-se enquanto a via penetrar a fenda.
Dentro de instantes, aconteceu a mesma coisa, mas desta vez, ao contrário. As costas de Misery se arquearam e os seus olhos ficaram vermelhos como o sangue quando a escuridão serpenteou, subindo pelo seu corpo e depois afundando-se na sua aura. O outro lado esperaria até que Misery lhes desse um sinal… então teriam um ataque mais forte do outro lado.
A expressão de Misery tornou-se travessa. Tinha sido cuidadosa até agora… sentindo o sangue puro do caído a seguir os seus movimentos. Agora não era hora para se tornar descuidada, mas precisava do poder que fosse necessário para romper o portal. A raiva lentamente tomou conta da expressão de Misery quando sentiu uma presença atrás dela.
Explodindo numa nuvem de escuridão, mudou de forma enquanto fixava a forma do seu cadáver em torno do demónio que a espiava. “A Misery vai mostrar-te de mais perto.”
Zeb não hesitou enquanto o braço apodrecido apertava o seu pescoço e de repente estava a olhar para a fenda. “Banirias o Zeb por oferecer a sua ajuda?” Os seus lábios carnudos contorceram-se com um sorriso de escárnio. “Quanta luxúria eu sinto de ti. É porque a Misery tem fome?”
“Posso ter o que preciso dos humanos… porque é que precisaria da tua ajuda com isso?” Misery passou uma mão pela cabeça careca do baixote e depois libertou-o apenas para cercar o seu corpo inchado.
“Porque não vês por ti mesma?” Zeb mal tinha terminado o convite quando os dedos ossudos de Misery perfuraram a carne onde ele costumava esconder-se.
Misery conseguia sentir o demónio interior e sorria sadicamente enquanto lia a sua alma. Este demónio estava na cidade há muito tempo e tinha sido esperto o suficiente para ser discreto. Ela podia sentir o medo dos caídos que viviam aqui, juntamente com o medo de outras criaturas de quem nada sabia.
Zeb era um demónio fraco e inútil numa lutar. Seria fácil de matar, mas Misery podia sentir os seus outros poderes… poderes que ela poderia explorar para se adequarem aos seus propósitos.
Este demónio conseguiria detetar a luxúria dentro de um humano e ampliar isso para medidas deliciosamente más. Como um marido ciumento que perde as estribeiras e mata a mulher… ou um empregado furioso que leva uma arma para o trabalho por vingança… ou até mesmo um homem desesperado que rouba um banco e é atingido ao sair porta fora.
Zeb podia fazer um humano faminto comer até que as suas tripas se abrissem, ou fazer alguém deprimido se suicidar. Podia até ir mais longe ao ponto de fazer um drogado ou um alcoólico ter uma overdose do seu próprio veneno de eleição… tudo fora do seu controle. Zeb fazia as pessoas terem fome do que quer que ansiavam, dos seus segredos mais obscuros e Misery poderia alimentar-se do mal gerado a partir deles.
“A Misery vai usar-te,” ela silvou enquanto puxava a mão para fora da carne dele.
“Eu sei,” Zeb sorriu quando o seu sangue derramado voltou a entrar no seu corpo como uma cascata invertida… selando a ferida.
Se fosse humano, teria sido rotulado como um homem de negócios de sorte. Fazer acordos com outros demónios foi a forma como sobreviveu tanto tempo. Se ele se aliasse a Misery e a alimentasse com o poder que ela queria para trazer mais demónios para a cidade, então ele não seria tão percetível aos caídos.
*****
Chad olhou para a cena do crime com horror enquanto mantinha a arma apontada ao homem que já estava algemado e a ser arrastado para fora da sala de operações. O departamento da polícia tinha-o chamado porque já era a terceira vez hoje que encontravam algo tão perturbador. O que diabo levaria um homem a fazer uma coisa destas? Pelo amor de Deus, ele era médico… deveria estar a salvar vidas e não a tirá-las.
“Só queria ver como seria,” gritou o médico enquanto lutava por conseguir mais um vislumbre antes de ser levado. “Ela agora está perfeita.”
Chad sentiu a náusea surgir e teve de desviar o olhar. Ali, na mesa de cirurgia, jazia a obra-prima do homem. Tinha ido buscar uma senhora idosa, acamada, cujo corpo estava a começar a falhar e substituiu-lhe as entranhas… incluindo o cérebro, com partes de uma jovem que tinha dado entrada nas urgências com uma dor de ouvidos há apenas algumas horas atrás.
Ouvindo um suspiro feminino atrás dele, Chad virou a cabeça e viu Angelica, Zachary e Trevor a entrarem no quarto e franziu a testa. “Eu já ia-te ligar.”
Trevor abanou a cabeça. “A Angelica tem andado a rastrear o nosso demónio o dia todo e já estivemos nas outras cenas de crime.”
Angelica olhou para baixo, para a jovem que tinha sido arremessada para o chão como se fosse uma boca de trapos vazia. Estavam um passo atrás de Misery e ela sentia o poder do demónio aumentar, mas o que mais a perturbou foi o facto de que, apesar de Misery se poder alimentar com isto… não podia provocar aquilo.
“Custa a acreditar que um demónio seja capaz de causar tanto caos,” disse Trevor, mantendo-se de costas voltadas para a carnificina. Nunca tinha sido do tipo de se meter em casos de demónios e desejava que agora não fosse diferente. Sentiu-se mal pela perda de um bom médico que provavelmente tinha estado no lugar errado à hora errada.
“Não é só um demónio,” Angelica tentou ignorar os arrepios que lhe subiram pela espinha. “E receio que isto seja apenas o começo.”
Zachary puxou do telemóvel e saiu da sala. Marcando o número de Storm, esperou até que a chamada fosse direcionada para o sistema de mensagens do PIT. Não foi a primeira vez que deixou mensagem para Storm hoje. O que mais o incomodava era que o seu destemido líder normalmente sabia o que ele queria antes de lhe ligar e, na maior parte das vezes, aparecia antes mesmo de terminar de digitar o número.
*****
Micah tinha passado as últimas horas no escritório de Warren a ser informado de tudo o que lhe tinha escapado. Era demasiada informação para absorver, mas o facto de as suas famílias estarem mais uma vez unidas, era algo pelo qual estava grato. O seu olhar desviou-se para Quinn e Kat, sabendo que eram os laços que os uniam.
“É bom ter todos juntos novamente,” disse Quinn perante o silêncio de Micah.
Micah esfregou as têmporas perguntando-se se todos se tinham esquecido por completo de que Alicia existia. Para sua surpresa, foi o mais novo membro da família que a mencionou.
“Onde está a Alicia?” Jewel perguntou a Steven, questionando-se porque é que ela não estava aqui.
“A passar uns dias com uma amiga do colégio interno,” respondeu Quinn e depois acrescentou: “Talvez fosse melhor encontrarmos uma faculdade para a enviarmos para lá por um tempo.”
Michael reparou que os nós dos dedos de Micah começaram a ficar brancos enquanto segurava o braço da cadeira onde estava sentado. Sinceramente, concordou com a raiva de Micah. Se não tivessem passado tanto tempo a manter Alicia afastada, talvez ela não se tivesse metido em tantos sarilhos para tentar fazer as coisas sozinha.
“Já falei com a Alicia,” Micah olhou para o irmão. “Ela passou anos à espera de voltar para casa e a última coisa que quer é que lhe digam que não é bem-vinda aqui. Ela fartou-se disso quando o Nathaniel estava vivo.”
“Não foi isso que quis dizer e tu sabes disso,” Quinn rosnou em legítima defesa. “Ela só tem dezoito anos. Achas mesmo que o Night Light é o lugar mais seguro neste momento, sabendo a confusão em que estamos metidos?”
“Não, é por isso que já a mandei ficar a viver com o Michael.” Micah sorriu, sabendo que ninguém discutiria com a sua lógica. “Assim, ela continua aqui e faz parte da família, mas espero que fora da linha de fogo direta.”
O telemóvel de Envy escolheu aquele momento para começar a tocar, para alívio da maioria dos que estavam na sala. Agarrou rapidamente no telemóvel e tentou silenciar a música que tinha escolhido para saber que era Chad a ligar. Deu uma cotovelada nas costelas de Devon quando ele começou a cantar: “Lutei contra a lei e a lei venceu.”
“Chad,” ela sorriu, “na altura certa, como sempre.”
“Talvez não digas isso quando te disser porque é que liguei.” Chad passou os dedos pelo cabelo. “Foi um dia e tanto.”
Envy levantou a mão para silenciar a terrível proeza de Karaoke de Devon. “O que se passa?”
“Estou a ouvir o Devon aí no fundo. Mete o telefone no altifalante,” Chad suspirou.
Envy clicou no altifalante. “Ok, mas não é só o Devon, o gangue inteiro está aqui.”
“Ótimo,” disse Chad e então começou a dar-lhes um resumo dos acontecimentos de hoje. Quando terminou, acrescentou: “O Trevor trouxe uma perita em demónios e ela quer falar com o Dean sobre o demónio, se lhe puderes dar o recado. Também pensei que talvez pudesses falar com o Kriss a ver se descobres mais alguma coisa.”
“Eu trato disso.” Envy assentiu, “e Chad… tem cuidado.”
O tom de voz de Chad mudou quando isso lhe fez lembrar de algo. “Ei, Devon?”
“Sim?” Devon franziu a testa.
“Se voltares a deixar a minha irmã ser alvejada, eu juro que te…” Os olhos de Envy se arregalaram e ela desligou a chamada, cortando a voz do irmão.
“O…kay,” Devon deu um sorriso indiferente ao ouvir algumas das risadinhas do grupo.
“Não querendo mudar o tema do Devon levar um pontapé no rabo, mas…,” Warren abanou a cabeça. “Estou a contratar mais transmorfos para o Moon Dance e o Quinn concordou em fazer o mesmo no Night Light. Agora que cortámos a cabeça ao lobisomem alfa… e a máfia…”
“Temos de estar preparados para quando os dois voltarem a crescer no seu lugar.” Nick terminou por ele.
O telemóvel de Quinn tocou e ele sorriu para Devon. “Bom, pelo menos todos os parentes da Kat estão a uma boa distância.” Olhando para o identificador de chamadas, reparou que era o puma que tinha deixado no comando. Harley podia tomar conta de qualquer coisa na sua ausência, por isso ele sabia que era importante.
Levantando a mão para calar a multidão, respondeu:” Sim, Harley, o que se passa?”
“Quinn, a não ser que tenhas encomendado um puma morto em vez das bebidas normais que servimos, então temos um problema.”
*****
Boris tinha passado a manhã com o advogado de Anthony a acabar a papelada que fez dele o novo gerente de um dos maiores bares da cidade… o Love Bites. Quanto a quem seria o novo dono… ambos decidiram que o parente mais próximo de Anthony era a forma mais inteligente, legalmente e logicamente. Titus Valachi era um dos lobos mais fortes e justos que Boris já tinha conhecido. Odiava o tio e recusava-se a fazer qualquer coisa que estivesse relacionada com a máfia.
Boris sorriu, sabendo que tinha acabado de ajudar o advogado a colocar mais de metade das matilhas de lobos no nome de Titus sem que Titus soubesse disso. Agora tudo o que tinham de fazer era convencer Titus a tornar-se o novo alfa antes de Lucca ter a oportunidade de o reclamar.
Quanto ao Love Bites, o antigo proprietário tinha perdido o clube para Anthony há apenas algumas semanas, e uma vez que o advogado de Anthony era um dos seus lobos, ele estava a tratar da papelada o mais rápido possível caso os federais congelassem todas as propriedades de Anthony.
A maioria do clã tinha trabalhado para Anthony de alguma forma, mas como o alfa já não existia, isso deixou muitos dos lobos desempregados. Lobos com demasiado tempo em mãos nunca foram uma boa ideia e Boris já começava a ouvir falar em retaliação contra os pumas pela morte de Anthony.
A maioria desses lobos andava com Lucca Romano que era o protegido de Anthony em muitos aspetos. Eram esses lobos que ele não queria por perto.
Lucca era forte. Anthony sentiu isso e usou Lucca para a maior parte do trabalho da máfia. Isso, e Anthony não confiava completamente em Lucca, por isso pensou que manter Lucca por perto e sob o controlo de uma das secções de laços da máfia o manteriam ocupado o suficiente para não tentar derrubá-lo. O problema era… que se Titus não se chegasse primeiro ao ‘prato’, então Lucca o faria.
Com isso em mente, Boris tinha sido exigente ao contratar membros da alcateia para ajudar a gerir o Love Bites. Era um passo à frente de passar a maior parte do seu tempo a dar castigos a quem quer que tivesse irritado Anthony o resto do dia. Mas era quem ele era… o justiceiro. E tinhas de ser o braço direito do alfa para te tornares o justiceiro, para que a maioria dos lobos lhe obedecesse sem pensar muito. Agora ele era o braço direito de Titus e era aí que ele queria ficar.
Olhando em volta do bar, ouviu alguns dos lobos gozarem das decorações góticas, mas Boris salientou que a comunidade gótica da cidade estava cheia de universitários ricos com um fetiche pelo estilo cinematográfico de vampiros que estavam cheios de dinheiro. Isso parecia atrair a atenção deles. Pois, era sempre a mesma coisa com os lobos… o dinheiro era tudo.
Sentindo o poder de um verdadeiro alfa entrar no bar, Boris olhou na direção das portas através da janela do escritório. Sorriu ao ver Titus parar depois das portas para olhar em volta. Tinha que admitir que este lugar era um pouco surpreendente para qualquer pessoa que nunca tinha estado ali. Ficou surpreendido por Titus ter chegado aqui tão depressa. Ele ainda estava em Malta quando lhe ligou durante a madrugada.
Avançando, Boris carregou no botão do sistema de intercomunicador. “Titus, há um lance de escadas do teu lado esquerdo. Vem para o escritório.” Fechou os olhos sabendo que tinha o equivalente a dois minutos para decidir como dizer a Titus que ele tinha acabado de herdar a maioria das propriedades de Anthony.
*****
Alicia estava farta de estar amuada sobre isso. Se tinha que ficar aqui, então mais valia aproveitá-lo ao máximo. Além disso, tinha fome e todos já tinham saído. A casa era tão grande que demorou alguns minutos para achar a cozinhar… isso e o facto da porta da cozinha estar fechada. A maioria das pessoas nem sequer tinha uma porta na cozinha, mas lá está… não eram pessoas que viviam nesta casa.
Os transmorfos não comiam tanto como os humanos porque não envelhecem ao mesmo ritmo. Podiam até passar meses sem que isso os afetasse, embora a maioria dos transmorfos gostasse o suficiente de comida para participar dela todos os dias. Viver no meio dos humanos era uma forma de escapar ao paranormal. No entanto, havia algumas coisas que fariam um transmorfo ficar com fome… ferimentos, lutas, sexo… ou a necessidade de sexo… AKA calor. E de momento, ela estava a morrer de fome.
Ao abrir o frigorífico, franziu a testa… havia muito para beber, mas não tinha comida. Ao verificar os armários foi igualmente deprimente. Tudo vazio, a menos que se contasse as teias de aranha nos cantos e as cinco latas de café. Agora ela percebia porque é que a porta estava fechada.
Ouvindo algo atrás de si, Alicia virou-se e viu Damon entrar na cozinha com os braços cheios de sacos de compras.
Damon conteve o sorriso e manteve uma expressão relaxada. “Calculei que tivesses fome.” Pousando os sacos em cima do balcão, voltou atrás para ir buscar o resto.
Alicia ficou estupefacta. Damon tinha ido às compras… por causa dela? Ao olhar para dentro dos sacos, os seus olhos se arregalaram com toda a comida… e comida boa. Retirou um saco de uvas brancas sem sementes e começou a mastigar enquanto retirava a comida.
Revirou os olhos apercebendo-se de que Damon tinha voltado a fazer o mesmo… deixá-la sem palavras ao ponto de se esquecer de lhe agradecer. Ele devia pensar que ela era a miúda mais ingrata do mundo. Alicia soprou a franja da frente dos olhos pensando como lhe poderia retribuir por tudo o que tinha feito. Precisava arranjar uma maneira de retribuir aos três.
Damon voltou a entrar na cozinha, colocando o resto das compras em cima do balcão. Agarrou em alguns enlatados e caminhou lentamente na direção dela.
Alicia voltou-se e viu-o aproximar-se, mas por mais que se esforçasse, não conseguia mexer-se. Ó, ele foi um menino muito mau quando se inclinou contra ela e colocou as latas no armário por cima dela. Foi uma boa sensação… ter o corpo dele pressionado contra o seu, fazendo as suas coxas ficarem em chamas. Talvez não fosse de comida que ela estivesse com fome.
“Não podes fazer isso,” a voz de Alicia era baixa. Tentou afastá-lo, mas ou ele era como uma parede ou ela não estava a tentar o suficiente. Olhou para as suas mãos traidoras quando estas permanecem pressionadas contra o peito dele.
“Admite,” Damon estava de repente com vontade de a tirar do sério.
“Admitir o quê?” Alicia sentiu o medo deslizar através dela como se fosse uma carícia íntima e perversa.
“O que sentes quando estás a sós comigo… o que ambos sentimos,” pressionou Damon.
“Não interessa o que eu… o que nós…” Alicia ergueu o olhar vendo que ele tinha percebido de forma indireta o que ela tinha acabado de admitir.
“Queremos,” terminou Damon por ela, a sua voz a ficar mais sombria. Alguém bateu à porta. Ele não se mexeu um milímetro quando ela deslizou por baixo do seu braço e foi em direção à porta da entrada. Ao ouvir uma voz masculina, Damon voltou a cabeça em direção ao som e franziu os olhos. Aquele irmão dela começava a irritá-lo.
Damon encostou-se à porta da entrada da sala vendo Micah pousar a mala no chão e, em seguida, puxando-a para outro abraço.
A primeira coisa que Micah notou foi que Alicia estava a arder… e então o cheiro da excitação atingiu-o com força. Apertando o abraço, os seus olhos ergueram-se lentamente para o vampiro do outro lado da sala.
Alicia afastou-se rapidamente de Micah quando o ouviu inalar o seu cheiro. ‘Oh Deus, por favor não o deixes perceber.’ Rezou silenciosamente.
Olhando para ele, ela percebeu pela cor dourada que sangrava nos seus belos olhos azuis. Ele sabia… todos os transmorfos machos saberiam, a menos que já tivessem uma companheira. Em pânico, ela começou a falar animadamente sobre colocar a mala no seu quarto e quase subiu as escadas com ela.
Micah fechou a porta atrás dele com mais força. Sabia que ela já não era uma criança… mas isto estava a ir um pouco longe demais para seu gosto. A emoção que o percorria era mais como a que um pai sentiria quando percebesse que a sua filha tinha acabado de descobrir o que era o sexo e tinha começado a namorar com o rufia do fim da rua.
“Alicia!” Micah gritou e saiu disparado escadas acima atrás dela.
Damon ficou sem palavras enquanto olhava para o lugar vazio onde Micah tinha estado de pé. Mas que raio foi isto? Passou novamente a cena pela cabeça para tentar perceber. Micah abraça Alicia e ela o empurra, afastando-o, e depois corre pelas escadas acima… isso deve ter irritado o Micah, porque agora estava zangado e a ir atrás dela. Algo assim era demasiado Jerry Springer para entender.
Teve um flashback de Alicia a dizer que amava Micah… e na altura parecia que ela estava a falar sobre um amante e não sobre um irmão. Talvez esse sentimento distorcido fosse mútuo e precisasse de ser cortado. Numa questão de segundos, Damon estava a ouvi-los através da privacidade do seu quarto e das paredes finas.
“Não digas!” Alicia ordenou no momento em que Micah invadiu o seu quarto.
“Eu não preciso de dizer nada,” Micah ironizou enquanto batia com a porta do quarto atrás de si. “Qualquer transmorfo macho que se aproximar de ti saberá.”
“Então ainda bem que não vou ficar a viver no Night Light,” ela disse sarcasticamente. “E juro que se contares a uma única alma sobre isto, eu…” não conseguia terminar a frase e olhar para ele ao mesmo tempo.
Micah colocou a mão atrás do pescoço dela e puxou-a contra ele para que pudesse meio rosnar e meio sussurrar-lhe ao ouvido: “O que estás a fazer numa casa com três vampiros machos?”
Damon esforçou-se para ouvir as palavras mal sussurradas, mas só conseguia ouvir uma sílaba aqui e outra ali, não o suficiente para juntar as peças. Malditos transmorfos com a sua audição apurada, podem ser quase tão silenciosos como um vampiro.
Alicia virou a cara e pôs os seus lábios perto do ouvido dele para que pudesse dar o mesmo que estava a receber. “Porque eles são vampiros, são imunes ao meu cio.” Tentou afastar-se quando os lábios dele tocaram na concha da sua orelha com as seguintes palavras severamente sussurradas:
“Promete-me que não será um deles,” exigiu Micah, sabendo que ela estava a percorrer um caminho perigoso se tivesse um vampiro como companheiro. Apertou-a ainda mais quando ela começou a dar luta.