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Capítulo Dois

Stewart Glen, Escócia — Verão de 1513 — Oito anos depois

— Imploro que perdoe meu filho, Parlan.

Davina Stewart-Russell parou ao som da voz do sogro e ficou perto da porta que estava prestes a atravessar, da sala de estar da casa de sua infância. O rápido olhar que lançou no cômodo, antes que recuasse para se esconder, proporcionou o momento que ela precisava para ver a cena. Seu pai, Parlan, estava diante da lareira de pedra construída com as rochas irregulares da região, os braços cruzados e as costas para a sala. Munro, o sogro, estava ao lado direito da lareira, as mãos cruzadas e apoiadas no punho da espada, falava com o pai dela. Seu marido, Ian, estava mais para trás, entre os dois homens, a cabeça baixa e os ombros curvados em uma posição nada característica de submissão. Todos estavam de costas para Davina, então não a viram se aproximando nem a retirada apressada. Ainda detrás da porta, protegida pela madeira entreaberta, ela espiou por entre as dobradiças.

Munro continuava sua petição em nome do filho, falava como se Ian não estivesse presente.

— Como discutimos por um longo tempo, o montante de responsabilidade não é bom para Ian. Agradeço sua paciência e disposição de trabalhar comigo para ele se estabelecer no papel de marido e pai.

— Não farei esforços para apresentá-lo a nenhum contato real até que Ian mostre sinais de amadurecimento. — Parlan se virou para Munro e cruzou os braços, uma posição que Davina conhecia tão bem e mostrava a solidez quanto ao assunto. — E você faria bem em fechar os cofres para ele. Como sabe, ele já gastou todo o dote de Davina.

— Sim, Parlan. Eu…

— Pai, por favor! — Ian protestou.

— Segure essa língua, rapaz, ou eu a cortarei! — Munro olhou para Ian até que a cabeça do mais jovem se curvasse.

O coração disparado de Davina a deixou sem fôlego pelo medo de ser descoberta e devido a rara demonstração de tamanha subserviência do marido. Davina quase desmaiou com a mistura de empolgação e apreensão que a invadiu. Quantas vezes o marido a fez se sentir da mesma maneira? Quantas vezes ele a silenciou com uma mão pesada? Ver Ian sujeito a outra autoridade a fez querer pular de alegria. No entanto, seus membros tremiam ante a ideia de Ian descobri-la testemunhando este momento e vangloriar-se, em privado, ao discipliná-la. Ela lutou para permanecer em uma audiência silenciosa.

A testa de Parlan se enrugou, pensativa, enquanto estudava Ian e Munro. Quando Munro pareceu satisfeito com o silêncio do filho, ele voltou-se para Parlan.

— Temo que você esteja certo, Parlan. Eu esperava que ele restringisse os próprios gastos e gostaria de poder dizer para onde o dinheiro está indo… — ele olhou para o filho. — Contudo, concordo com o curso de ação sugerido.

— Pai, eu tentei! — Ian contestou. — Não provei ser um marido melhor?

Munro deu um passo à frente e deu um tapa no rapaz, fazendo com que a cabeça de Ian tombasse para o lado, espirrando sangue no chão de pedra. Uma medida de culpa pulsou na consciência de Davina por gostar da situação do marido. Ao mesmo tempo, ela ponderou o significado por trás de “um marido melhor”. Em verdade, Ian tornara-se ainda mais brutal nos últimos quatro anos e pouco. Ele acreditava que disciplinar a esposa com mais severidade era o que o tornava um bom marido? Munro ergueu o punho, e Ian se preparou para outro golpe.

— Chega! — Parlan gritou. — Agora posso ver onde seu filho aprendeu técnicas de disciplina.

Munro se ergueu, esticando o peito em desafio.

— Disciplina severa é a única maneira de ele entender, Parlan. Confie em mim.

— Talvez, pois não conheço seu filho o suficiente, mas conheço Davina, e essa forma de punição não é necessária com ela. Embora possa ser bastante dramática, ela é uma mulher razoável e uma conversa basta. Sei que um homem tem o direito de fazer o que quiser com a esposa, e algumas mulheres precisam ser disciplinadas com um elemento de força, mas minha filha não.

Davina lutou para continuar a enxergar através das lágrimas que inundavam seus olhos ante a defesa do pai. Ela não sabia que seu pai sabia. O orgulho e um alívio maior em seu peito decerto a fariam explodir!

— Firmamos esse contrato de casamento para benefícios mútuos. — continuou Parlan. — Como sou primo de segundo grau do Rei James, você conseguiu conexões valiosas. Os Russell têm riqueza para investimentos e oportunidades de negócios para mim e meu filho, Kehr. — ele deu um passo em direção a Munro, ameaça em seus olhos e a voz quase em um sussurro, e Davina se esforçou para ouvi-lo. — No entanto, não aceitei brutalidade com a minha filha como parte da troca.

Munro voltou a olhar para o filho.

— Mais uma vez, Parlan, devo implorar que perdoe meu filho. — ele se virou para o pai dela, mais arrependido. — E imploro que me perdoe por tudo o que eu possa ter feito para contribuir para o zelo excessivo de meu filho como marido.

Um arrepio percorreu Davina.

Embora Munro possa ter soado sincero, e a expressão de aceitação no rosto de seu pai indicava que ele acreditava no homem, o mesmo tom de humildade fingida vinha de Ian com frequência. No entanto, essa humildade sempre se provou ser um baile de máscaras elaborado. Até mesmo as palavras indicavam que ele não se considerava culpado de nada: “O que quer eu tenha feito…” Nos quatorze meses que Davina e Ian estiveram casados, ela notou esses sinais velados destinados a atrair simpatia e rendição, mas que, na verdade, indicavam a verdade por trás da fachada.

Munro voltou os olhos penetrantes para Ian enquanto falava.

— Para mostrar meus esforços em consertar a situação, Parlan, eu farei como sugere e fecharei meus cofres para meu filho.

Um sabor sutil de satisfação presunçosa tocou as feições de Munro enquanto ele mantinha esta posição de poder quanto ao filho. Davina reconheceu com facilidade o corpo de Ian tremendo de raiva oculta, os punhos cerrados atrás das costas. Um terror agourento fluiu através dela, como a água gelada de uma corrente de inverno levando-a para baixo em sua escuridão tenebrosa. Ela com certeza seria o alvo da frustração dele, assim que estivessem sozinhos e voltassem para mansão fria somente deles.

Mantenha essa imagem de força, Davina entoou para si, como já fizera inúmeras vezes antes, sendo a voz e o rosto de Broderick essa força. Sempre que a tristeza ou o desespero ameaçavam consumi-la e deixá-la louca, ela se concentrava naqueles cabelos ruivos e flamejantes, em seu peito largo e nos braços fortes, envolvendo-a em um casulo de segurança, os lábios cheios pressionando um beijo reconfortante na testa dela. Broderick nunca a trataria como Ian, e ela encontrou refúgio na fantasia de ser a esposa do cigano. Naquele mundo, naquele reino de fantasia, Ian não poderia tocá-la, quebrar seu espírito, nem destruir seu orgulho.

Girando nos calcanhares, Munro encarou Parlan mais uma vez e deu um breve aceno de cabeça que chamou a atenção de Davina.

— Um conselho muito sábio, de fato, e estou envergonhado de não ter pensado nisso.

— Responsabilidade envolve mais do que a gestão das finanças, Ian. — Parlan estava diante do genro, olhando carrancudo para o topo da cabeça baixa do rapaz. — Davina é de bom coração, tem uma alma amorosa…

— Mais um motivo para eu estar muito feliz com a união. — interrompeu Munro, ficando ao lado de Ian. — Ela é a doce mão que vai acalmar a besta que vive dentro de meu filho. Tenho certeza de que você viu sabedoria nisso, por isso concordou com a união. Davina terá sucesso em tornar meu filho um marido e pai amoroso.

O rosto de Parlan ficou sombrio, e se aproximou dos dois homens. Estudando-os, seus olhos pousaram em Ian, que encontrou seu olhar.

— É difícil se tornar pai, Ian, quando se espanca aquela que vai carregar seus filhos.

Davina usou a manga do vestido para segurar as lágrimas de alegria. A solidão havia sido sua única companhia sob as mãos brutais do marido, e o filho que ela perdeu foi uma dor mais triste do que ela poderia suportar. Ela não fazia ideia de que o pai sabia do que ela sofrera. Ian a ameaçava repetidas vezes, dizendo que só cumpria o dever de um marido disciplinando uma esposa indisciplinada, que se ela dissesse algo a alguém acerca da constante correção merecida, ela se arrependeria. Depois que lutar contra ele provou trazer mais de seu lado dominante à tona, ela começou a acreditar ser a culpada, e que sim, ela mesma atraía a ira dele para cima dela. Afinal, muitas de suas primas falaram sobre a disciplina que todas as mulheres devem suportar nas mãos dos maridos, até mesmo os métodos cruéis que alguns escolhiam para levá-las para a cama. Por que sua situação deveria ser diferente?

Os humores inconsistentes de Ian a deixavam cautelosa o tempo todo. Em um momento ele demonstrava atenção amorosa, sussurrava promessas; e, no seguinte, a culpava por qualquer razão que o fizesse perder o bom humor. A mente dela girava com a torrente de várias acusações e razões para as mudanças de humor dele. Às vezes, Davina mal conseguia distinguir altos e baixos, e todas as racionalizações eram insuficientes para o caos de suas circunstâncias. Ao ver seu pai vir em sua defesa e saber que ele enxergava a verdade, ela agarrou-se à parede para firmar as pernas, dobrando-se de puro alívio.

Ela não estava louca! Não era culpada!

— Segure seu dinheiro, então, Munro, até que Ian possa provar ser mais gentil com Davina, ela voltará para minha casa, e aqui o cortejo recomeçará.

Ian virou a cabeça na direção do pai, e Munro deixou a boca se abrir.

— Agora, Parlan, creio que está indo longe demais. Não há necessidade de incomodar Davina a ponto de trazê-la de volta para cá, para suportar a instabilidade de uma vida doméstica inconstante.

— Uma vida doméstica segura e amorosa é melhor do que as duras penas que ela suportou sob seu teto. Vou providenciar para que os pertences dela sejam trazidos de volta agora mesmo. — Parlan estreitou os olhos na direção de Ian. — Se quer ter acesso à coroa, rapaz, é melhor provar ser um marido amoroso, digno dos meus futuros netos.

Davina lutou para acalmar as batidas fortes de seu coração que agora estava em total descompasso. Ela voltaria para casa!

— Parlan. — Munro colocou uma mão reconfortante no ombro do pai dela. — Posso garantir que Davina estará segura sob meu teto. Agora que estou ciente da situação…

— Os maus tratos estavam ocorrendo sob o seu nariz, e você não foi capaz de enxergar! — Parlan rugiu.

Munro baixou a cabeça, recuando e assentindo.

— Está certo, Parlan. Não posso expressar o pesar de minha ignorância pela dor que causei a sua preciosa filha. Hoje vejo Davina como a filha que sempre quis, e lamento que minha esposa não tenha vivido para conhecê-la. — Munro se virou e iniciou uma passada acelerada, um vai-e-vem, as mãos atrás das costas, uma visão de arrependimento. — Creio que se Ian tivesse a influência amorosa de minha esposa, ele poderia ter aprendido a ser um marido mais gentil. Temo que minha atenção a questões de propriedade e riquezas tenha me dado pouco tempo com ele, então falhei em meu dever de ensinar certas coisas. — voltando os olhos tristes para Parlan, Munro defendeu seu caso. — Entendo sua decisão, e se deseja mantê-la, não lutarei com você. No entanto, imploro que me dê a chance de consertar isso. Meus olhos estão abertos, e eu serei o protetor de Davina. Vou manter Ian sob controle.

Davina esperou, a respiração presa no peito, enquanto ousava ter esperanças na segurança que seu pai oferecia. Os momentos se prolongaram por uma infinidade de tempo enquanto ela observava Parlan considerar as palavras de Munro.

Com um suspiro profundo, ele assentiu.

— Concederei.

Davina abriu a boca, e seu coração mergulhou para as profundezas de seu âmago.

— Com uma condição: todos ficarão aqui, como nossos hóspedes, por quinze dias ou mais. Desejo passar um tempo com minha filha, e que ela tenha uma chance de alívio. Assim como um período de observação para seu filho. — Parlan apontou um dedo para o rosto de Munro e rosnou: — Entretanto, se eu vir o menor sinal de tristeza nos olhos da minha filha, qualquer indício de marcas em seu corpo, se eu não vir seu comportamento mudar para o de uma mulher contente e feliz em pouco tempo, eu anularei este casamento, não importa o escândalo ou o prejuízo que tal ação me traga.

Munro apertou a mandíbula, e seus olhos ficaram frios.

— Sim, tenho certeza de que escândalo é algo com que está bem-acostumado a lidar, considerando seu histórico.

O rosto de Parlan ficou vermelho.

— Mesmo desconsiderando de onde venho — ele rangeu os dentes. —, ainda sou aquele que tem conexões com a coroa, e não apenas através do meu nascimento ilegítimo. Ser primo e ter crescido lado a lado daquele que está hoje no trono tem seus privilégios.

Os dois homens se encararam em uma competição silenciosa, mas um largo sorriso por fim apareceu no rosto de Munro.

— Não se preocupe, meu amigo! Não ficará desapontado. Ian será um genro modelo e teremos muitos netos dos quais nos orgulhar!

Os tapas vigorosos de Munro nas costas de Parlan não fizeram nada para apagar a linha determinada da boca de Parlan, mas ele ainda assentiu.

Davina engoliu em seco as novas lágrimas de consternação que ameaçavam delatá-la. Afastando-se da porta, ela caminhou em silêncio pelo corredor, para longe desta reunião de homens, esta dominação masculina que gerava um destino cheio de condenação para a vida dela. Enquanto cambaleava pela cozinha, ia até o pátio vazio e passava atrás dos estábulos, seu coração afundou ainda mais com a ideia da proteção de Munro na qual ela não tinha fé. Ela nunca disse uma palavra ao pai, e Parlan sabia que Ian a estava maltratando pelas poucas visitas que os pais haviam feito, ou nas breves visitas deles à casa do pai. Como Munro pôde ficar ali, fingindo ignorar o que acontecia sob seu próprio teto? Ela afundou em uma pequena pilha de palha atrás de alguns barris para coleta da chuva, puxou os joelhos contra o peito e enterrou o rosto nos braços, deixou as lágrimas rolarem.

Nenhuma vez durante esse horror e farsa de casamento ela confidenciou ao irmão Kehr. Mesmo agora, ela não podia ir até ele, já que ele estava em Edimburgo, a pelo menos três dias de viagem da casa deles em Stewart Glen. Por que ela nunca compartilhou nenhuma de suas angústias em relação a Ian com o irmão? Ela não conseguia raciocinar neste momento. Compartilhava tudo com ele, incluindo as fantasias de ser a esposa do cigano vidente. Não os detalhes íntimos, é claro, mas a ideia de ele voltar e declarar seu amor por ela. Ela sentia-se grata porque o irmão aceitava os devaneios dela, embora a provocasse de vez em quando. Kehr sempre a apoiou, mas a alertou para não ficar muito presa aos sonhos. Afinal, era uma fantasia.

Respirando fundo, ela acalmou o coração que batia forte e apertou as mãos, buscando suas fantasias para aliviar a preocupação. Que impressão ele causara nela, o gigante vidente cigano. Ela havia aproveitado muitas viagens ao acampamento cigano durante a última estada deles aqui, conversou com Amice, tomaram chá perto do fogo. Quase sem olhar para Davina, Broderick ia e vinha, contando o futuro e cuidando de seus negócios. Muito tímida para se dirigir a ele de maneira direta, Davina aproveitava cada oportunidade que o via, a paixão crescendo. E quando ele se dirigia a ela, ela não conseguiu formar mais do que duas palavras sem uma onda de risos. Contudo, memorizou cada traço do rosto de Broderick: a curva de seu nariz aquilino, o ângulo bonito das maçãs do rosto, a linha definida da mandíbula quadrada. Na tenra idade de treze anos, a inocência e a inexperiência temperaram seus devaneios com passeios pelas florestas enluaradas e beijos roubados. Conforme ela crescia, essas fantasias amadureceram e queimavam com abraços cheios de paixão. Amice disse que eles voltariam. Nos oito anos desde que ela o conheceu, cada caravana de ciganos que viajava pela pequena vila de Stewart Glen colocava seu coração em chamas, que logo se apagavam pela decepção por ele não estar entre eles. Quando seu pai firmou o contrato de casamento com Munro, dando a mão dela a Ian, ela se forçou a abandonar os sonhos, e chegou à conclusão realista que precisava deixar os caprichos de lado, como seu irmão encorajou.

A realidade sombria da união com Ian, entretanto, ressuscitou tais fantasias, e ela se agarrava como se pudessem salvar sua vida.

Gatinhos miaram em algum lugar nos estábulos, gritinhos indefesos chamando a atenção dela e fazendo curvar os lábios em simpatia. Ela suspirou. Pelo menos seu coração parou de retumbar acelerado, e as mãos estavam firmes mais uma vez.

Apoiando a cabeça contra a estrutura de madeira dos estábulos, ela olhou para as pedras da parede do perímetro do outro lado… pedras que seu pai colocara com suas próprias mãos. Ela sorriu ao se lembrar da tentativa dele de projetar a abertura secreta localizada no lado norte da parede do perímetro, na parte de trás do terreno, à sua esquerda. Ele reclamou como os mecanismos eram imperfeitos. Kehr e Davina adoravam usar a passagem secreta para se divertir ao longo dos anos, embora com a severa advertência do pai para não revelar o local exato. Mesmo que a casa não tenha sido projetada para ser uma fortaleza formidável contra um exército, os muros os mantinham seguros por levar todo o tráfego para os portões da frente. Parlan sempre se preocupou com a família, como um pai responsável deve fazer.

Ela se assustou com um barulho do outro lado da parede que se encostava e levou a mão ao peito, forçando a respiração a desacelerar. Sem mover um músculo ou ousar respirar, ela esperou por qualquer outro som para revelar o que aconteceu. O sangue sumiu de seu rosto quando os resmungos de Ian chegaram aos ouvidos dela. Protestos profundos e nervosos ecoaram dos cavalos nos estábulos enquanto Ian chutava o que parecia ser baldes ou bancos.

— Megera! É tudo culpa dela! — o tilintar de fivelas e arreios soou em meio à comoção. — Fique quieto, seu animal estúpido!

Davina se agachou ainda mais no chão e espiou pelas fendas nas venezianas da abertura acima dela. Ian se atrapalhava para selar seu cavalo. Ela estremeceu a cada puxão e empurrão que o cavalo suportava do mestre, até que o cavalariço Fife pigarreou ao se aproximar da baia.

— Posso ajudar, Mestre Ian?

Ian recuou ao ouvir a voz de Fife e respirou fundo para se acalmar, afastando-se do cavalo.

— Sim, Fife, eu agradeceria.

O coração de Davina se contraiu ao ver o belo sorriso de Ian e o ar encantador. Ele agira assim com ela, durante o namoro, mas agora mostrava esse lado de sua personalidade a todos, menos a ela. As pessoas não suspeitavam do homem cruel por trás de um exterior atraente.

— Algo o incomoda, Mestre Ian? — Fife esfregou o nariz grande e redondo, semicerrando os olhos marcados pela idade enquanto dava tapinhas no pescoço do cavalo e contornava o outro lado para prender as tiras de couro.

— Oras, só um pequeno desentendimento com meu pai. Nada grave. — Ian sorriu e balançou a cabeça. — Será que em algum momento deixamos de ter desentendimentos com os nossos pais, eu me pergunto?

Fife riu e balançou a cabeça, baixando a guarda.

— É uma batalha sem fim que devemos suportar a vida toda, rapaz. Uma vida inteira. — ambos compartilharam uma risada ante tal sabedoria. Fife passou as rédeas para Ian. — Pegue leve com ela, Mestre Ian. Corra um pouco para aliviar a tensão dela, e volte na hora do jantar.

Ian balançou a cabeça com bom humor e subiu na sela de maneira elegante.

— Sinto que tenho mais de um pai por aqui com a maneira como você e Parlan me amam.

— Só estou cuidando de você, Mestre Ian. — Fife acenou enquanto observava Ian virar o cavalo e se dirigir ao portão da frente. — Bom rapaz. — ele sussurrou enquanto arrumava os estábulos.

Davina mordeu o lábio inferior em frustração. Ela era a única que via a crueldade de Ian? Cerrando os punhos, ela saiu de trás dos estábulos e voltou para o castelo, Fife lançou um olhar perplexo quando ela fechou a porta. Não, ela não era a única. O pai dela tinha olhos atentos, e ela estava certa de que ele conhecia a extensão da brutalidade de Ian.

Ela voltou direto para a sala de estar, mas a encontrou vazia, o fogo ainda queimando na lareira. Girando nos calcanhares, ela quase trombou com a mãe.

— Ora! Davina, você me deu um susto! — Lilias levou a mão ao peito e prendeu a respiração. — Seu pai me mandou buscar você.

— Estava procurando por ele agora mesmo.

Pegando a filha pela mão, Lilias conduziu Davina pelo andar térreo da casa até o primeiro andar, que comportava os cômodos privados. A cada pedra que passavam no caminho para o quarto dos pais lembrava Davina do orgulho que sentia pelos esforços do pai e da confiança em sua sabedoria para ouvir seus apelos.

Quando a mãe abriu a porta do quarto deles, Lilias conduziu Davina, fechou a pesada porta atrás delas e sentou-se no sofá perto da lareira, assumindo um lugar tranquilo, mas de apoio ao lado do marido. Parlan estava de pé junto à lareira, de costas para a porta, da mesma forma que na sala de estar.

— Não tenho certeza do quanto você ouviu fora da sala, Davina, mas lamento que a conversa tenha lhe causado tanto sofrimento. — ele se virou para encará-la, as sobrancelhas franzidas de tristeza. — Não tenha medo, fui o único que testemunhou sua retirada chorosa. As últimas palavras foram um sussurro reconfortante.

Davina puxou o lábio trêmulo entre os dentes para controlá-lo e manter-se firme diante do pai.

— O senhor não me causou nada, pai. Sinto-me grata por saber que está ciente da minha situação. — a voz dela tremeu, mas ela limpou a garganta e manteve as lágrimas sob controle. — Eu estava a caminho da sala de estar, para buscar meu bordado quando meu sogro implorava perdão a você por meu marido.

As sobrancelhas de Parlan se ergueram, parecia surpreso por ela ter ouvido tanto. Ele assentiu.

— Então você sabe da punição de Ian por sua incapacidade de gerenciar suas responsabilidades.

Ela assentiu.

Depois de uma longa pausa, ele disse:

— Sei que dada a condição desse arranjo parece que estou mandando você de volta para a cova dos leões. — Parlan estudou o couro marrom macio de suas botas antes de voltar seu olhar para ela. — Ian não está nada feliz com o esvaziamento de seus bolsos, algo em que eu confio que Munro irá cumprir. É por isso que insisto que fiquem aqui sob meu teto, para que eu possa lhe dar uma parcela de segurança e garantia de que você estará protegida.

Davina soltou a torrente de tristeza.

— Pai, por favor, não me deixe suportar mais um momento desta união! Não podemos fazer como disse e dissolver este casamento?

Parlan apertou a mandíbula e voltou os olhos tristes para a esposa. Lilias agarrou a mão dele, parecendo dar-lhe apoio.

— Davina, os Russell oferecem imensas oportunidades de negócios, tanto para mim quanto para seu irmão, e não posso contar com meu primo Rei para sempre. Devemos fazer esforços para aumentar nosso patrimônio por conta própria. — concentrando-se mais uma vez em Davina, ele deu um passo na direção dela e envolveu as mãos dela com as dele. — Lamento que tenha sofrido mais do que qualquer mulher com a mão pesada de seu marido. Agora que não posso mais negar o tratamento que ele dispensou a você, espero que me perdoe por não a ter defendido antes. Vou tomar medidas para garantir que esteja protegida e, com sua ajuda, creio podermos fazer isso funcionar.

Davina fez um grande esforço para falar, apesar do nó que se formava na garganta.

— Ser a mão gentil que domará a besta. — ela sussurrou, repetindo as palavras do sogro.

Parlan assentiu.

— Está óbvio que Munro fez um péssimo trabalho em ensinar a Ian como ser um homem. A sua estada, e a deles, aqui será indefinida. Ian e Munro ficarão nos quartos de hóspedes acima, e você terá, mais uma vez, seu quarto só para você neste andar. Fiz pressão em Munro quanto a isso, e nós dois estaremos atentos ao comportamento de Ian nas próximas longas semanas. Munro aceitou, com humildade, minha orientação como pai e de Lilias como mãe, para colocar Ian no caminho certo. Apenas quando virmos melhorias, você poderá se aventurar a estar de volta à casa deles. Somente quando eu estiver certo de que você será querida e cuidada como a mulher preciosa que é, você terá permissão para ir com eles.

Embora aliviada com o fim das surras e dos compromissos sexuais cruéis, o mundo de Davina ainda desmoronava acima dela.

— Pai, você não conhece o verdadeiro Ian. Ele é um mestre em vestir uma máscara de charme para esconder o monstro que é. Ele…

— Davina, de jeito nenhum vou deixar que ele a machuque. Concordo que ele leva as responsabilidades longe demais ao exercer seu domínio como marido, mas ele não é um perigo para sua vida. Caso eu considerasse que sim, acabaria com este casamento agora. Nós iremos protegê-la. — Davina odiou perceber que a família acreditava que ela era dramática. Ele a beijou na testa e puxou-a para um abraço apertado. — Não vou deixar que ele a machuque. Deve fazer isso por sua família. Um dia, quando Ian aprender bem o papel e deveres de um marido, você aprenderá a perdoá-lo e amá-lo. Se não, ao menos terá consolo nos filhos que terão um dia.

Ela deixou suas lágrimas rolarem, molhando a túnica do pai e segurando-o com força enquanto se submetia às ordens dele. Ela seria o cordeiro sacrificial para a estabilidade do futuro de sua família.

* * * * *

O aço colidindo com o aço ecoou no ar, ricocheteando nas paredes e no teto alto do Salão Principal, que se misturava aos grunhidos, ofegos e gemidos de Kehr e Ian enquanto duelavam. Kehr defendeu o impulso de Ian, se virou e golpeou o lado aberto de Ian, provocando um grunhido dele. Com um sorriso no rosto, Ian empurrou Kehr para frente, e Kehr retribuiu o sorriso com seu próprio impulso. No entanto, Ian obteve um bloqueio efetivo ao usar o escudo.

— Bom! — Kehr encorajou.

— Obrigado! — Ian disse com outro golpe da espada, que Kehr se esquivou.

Davina sorriu para o irmão, animada com a presença dele. Por fim ele voltava para casa depois de uma longa estada em Edimburgo visitando a corte. Havia chegado tarde na noite anterior, e embora ela antecipasse a chegada dele e a oportunidade de passar um tempo juntos, a notícia da aparição do rei James a fez desanimar.

Toda a Escócia estava alvoroçada com a experiência do rei, e Kehr contara a história com uma grande encenação na sala. Com o fogo alto na lareira que lançava sombras sinistras pelo cômodo, a família se sentou em um círculo, concentrada na encenação dramática de Kehr.

Curve-se perante o Rei da Escócia!, o conselheiro do rei berrou enquanto perseguia o homem que invadiu as câmaras de oração privadas do rei. — Kehr imitou o marechal, John Inglis, correndo atrás do intruso. — Entretanto, o rei levantou a mão e interrompeu seus conselheiros porque o homem parou antes de alcançar Sua Majestade.

Ondas de riso circularam pelo cômodo, e Davina colocou a mão na boca para abafar as próprias risadas.

— E vocês dizem que sou eu que tenho uma queda por drama! — ela provocou.

Kehr riu da interrupção, mas continuou.

Basta, disse o rei, deixe-o falar, e depois que eles se encararam por um longo período de silêncio, o homem avançou… — Kehr imitou as ações do intruso, inclinando-se com o punho diante dele. — … e puxou Sua Majestade pela túnica, dizendo: Senhor Rei, minha mãe me enviou a você, desejando que não vá aonde se propõe. — a testa de Kehr se franziu com a grave mensagem que o homem entregou ao rei. — Caso faça isso, não se sairá bem em sua jornada, nem ninguém que esteja com você.

Kehr caminhou em frente das pessoas sentadas ao redor da sala, olhando cada uma delas nos olhos. Davina balançou a cabeça ante a pausa que ele usou para causar efeito. Kehr centrou-se diante da audiência.

— E assim, do nada… — Kehr estalou os dedos. — O homem desapareceu como em um piscar de olhos! — a família arfou e murmurou entre si. Kehr encolheu os ombros. — E então o rei decidiu não declarar guerra à Inglaterra.

Davina se acalmou enquanto a respiração deixava o peito de uma só vez… enquanto todos os outros aplaudiam, torciam e celebravam a grande ocasião. Agarrando seu hidromel, Kehr acenou com a cabeça para Davina e ergueu a caneca. Ela retribuiu o aceno com um sorriso forçado. O irmão dela sentou-se em meio aos aplausos, e a família o parabenizou pelo desempenho e pela notícia maravilhosa.

Davina havia feito de tudo para parecer feliz, assim como agora, lutou para manter o sorriso como uma máscara, agarrada ao conhecimento de que, afinal, Kehr e seu pai não iriam para a guerra. Felizmente, falar de guerra sempre a mantinha longe da corte, lugar em que ela detestava estar. Além disso, ela queria Ian no campo de batalha… não seu irmão e pai.

— Aguente firme, Ian. — Kehr avisou e desencadeou um ataque de balanços, confrontos e avanços que fizeram Ian recuar por toda a extensão do cômodo. Sem prestar atenção aos próprios passos, Ian tropeçou e caiu para trás, mas logo recuperou o equilíbrio e se virou para evitar o ataque de Kehr.

— Fascinada pela empolgação, minha sobrinha?

O irmão de sua mãe, Tammus, parou ao lado de Davina.

Davina percebeu estar agarrada ao encosto de uma cadeira enquanto observava o irmão e o marido se engajando na batalha simulada, parte do treinamento de Ian. Ela só percebeu a dor em seus dedos ao soltar a madeira dura. Olhou para o tio, cujo rosto brilhava com um tom quente e laranja à luz das tochas colocadas no corredor.

— Sim, tio. Eu me preocupo com os dois. — ela mentiu.

Tammus colocou um braço quente sobre os ombros dela e a abraçou de lado.

— Ora, não se preocupe, moça. Uma simulação de batalha com certeza difere do combate real, que no final, felizmente, não precisamos vivenciar.

— Sim, tio. — ela sorriu e voltou a prestar atenção ao par que duelava.

Quando Kehr piscou para ela, de costas para Ian, o marido deu um tapa no traseiro de Kehr com a parte plana de sua espada, fazendo seu irmão gritar. Ian ergueu as sobrancelhas fingindo surpresa, e Kehr começou a perseguir Ian, que fugiu gritando como uma garotinha, circundando a vasta extensão do cômodo. Todos explodiram em gargalhadas com a cena cômica, exceto Davina.

A exibição de Ian a deixava nauseada. Ao longo das últimas seis semanas, desde a punição recebida que lhe custou o dinheiro que recebia, Ian demonstrava um desempenho estelar em conquistar a família dela em todas as oportunidades. Embora não permitissem que os dois ficassem sozinhos, para grande alívio dela, nos raros momentos em que ele podia lançar um olhar para ela, ou encurralá-la no castelo, ele a deixou ciente de que, em particular, tudo o que ele estava passando voltaria para assombrá-la assim que ele alcançasse o objetivo de retomar o controle e o dinheiro.

— É um jogo delicioso de gato e rato, não é? — ele perguntou uma vez em uma dessas emboscadas.

— Não será capaz de enganar minha família. — disse Davina, segura de si.

Ele se aproximou dela, fazendo-a encostar-se no canto da escada e apoiando os braços nas paredes.

— Eles pensam que me controlam… — ele sibilou. — que sou uma marionete presa aos dedos deles, distribuindo porções escassas de moedas? Vejamos se gostarão de ser controlados. Há demasiada confiança neles, assim como em você.

Ele a amaldiçoou com um sorriso maligno e se afastou. Ela começou a carregar uma adaga na bota depois daquele encontro. Observando a família agora, comendo nas mãos de Ian, a declaração dele parecia bastante verdadeira. Ian gostava dessa mascarada, gostava de manipular as pessoas para que pensassem e agissem da maneira que ele queria, um jogo que ele adorava aperfeiçoar. Até onde ele iria?

Kehr conseguiu fazer Ian tropeçar, e ele se esparramou no chão de pedra. Todos correram em seu socorro, Kehr à frente da multidão, se desculpando. Ian ficou atordoado por um momento, e Davina se permitiu um sorriso secreto. Recuperando a compostura, Ian limpou o sangue do lábio inferior e olhou para ela. Erguendo uma sobrancelha, ele deu um breve sorriso, apenas o tempo suficiente para que ela percebesse, antes de seu rosto ficar sombrio. Ian baixou o olhar como se estivesse com o coração partido. Olhando para Davina, ele se levantou do chão e espanou as calças. O leve gesto fez com que seu irmão e seu pai se voltassem para Davina. Antes que ela soubesse o estratagema de Ian, Davina foi pega se regozijando pelo acidente de seu marido, exatamente como Ian queria.

Calor subiu em suas bochechas. Parlan olhou para ela, fazendo com que o resto do grupo também se virasse na mesma direção. Pedindo licença para sair da cena, Davina saiu do Salão Principal e foi para o corredor que passava pela sala, pela cozinha e seguia na direção dos estábulos, sempre sufocando os soluços. O crepúsculo se instalava ao redor do castelo, lançando tons de cinza em tudo. Halos de luz âmbar circundavam as tochas colocadas no terreno, iluminando ao menos o bastante para guiar o caminho. Ela adentrou os estábulos aos pisões e chutou um balde vazio no chão. A comoção acordou os gatinhos, e eles se mexeram.

— Como eles podem acreditar na farsa dele? — ela sibilou e cruzou os braços sob os seios, cerrando os punhos e andando de um lado para o outro.

Após o primeiro incidente, Davina procurou seu pai para explicar o plano de Ian, e ele acreditou nela. Mas quando Ian foi levado perante Munro, Parlan e Davina para dar explicações, Ian alegou que Davina o entendera mal e se desculpou por escolher mal as palavras, por não explicar corretamente. No início, até ela acreditava que não ouvira bem, até que ele a encurralou outra vez. Não havia engano em nada. Depois de um tempo, seu pai passou a acreditar que Davina estava tentando desacreditar Ian enquanto ele tentava, com afinco, mudar. No entanto, essas falhas não a desencorajaram de continuar tentando.

Três gatinhos emergiram de debaixo da caixa na parte de trás da área de trabalho de Fife. Davina parou e ficou olhando, esperando. Onde estavam os outros gatinhos? Ela se agachou nos calcanhares, perscrutando a escuridão. Mais um gatinho saiu se arrastando, miando. Cresceram tanto nas últimas seis semanas…, mas apenas em tamanho. O número cada vez menor de filhotes era o que preocupava Davina. Quando ela viu os gatinhos pela primeira vez, ela contou oito. Uma semana depois, uma semana após o início da punição e supervisão de Ian, a contagem foi de sete. Ela descartou a diferença de números como um erro na contagem anterior dela. Quando o segundo gatinho desapareceu na semana seguinte, ela imaginou que a pobre criatura poderia ter sido agarrada por uma coruja ou outro predador.

Outro predador, de fato.

Fife contou do terceiro gatinho desaparecido duas semanas depois, dizendo que Ian o trouxe para ele quase com o coração partido. A cabeça havia sido esmagada… por um cavalo, supôs Fife. Davina tentou contar a Fife de suas suspeitas, mas com tom de conselho paternal, ele disse que ela estava sendo muito dura com o Mestre Ian, que precisava aprender a perdoá-lo pelas transgressões passadas, e contou como Ian confidenciou as tentativas de ser um marido melhor.

Muitos gatinhos desapareceram para ela não suspeitar, apesar do que Fife dizia. Ela se agachou, esperando que o quinto gatinho emergisse da caixa. Nada ainda. Tirando uma das tochas da parede, ela trouxe a luz para a escuridão crescente da noite que caía, para a área de trabalho de Fife. A caixa estava vazia. Quatro gatinhos vagavam ao redor dela. Quatro de oito. Onde estava o quinto?

Ela recolocou a tocha no lugar e deu duas voltas completas ao redor da área em frente às baias antes de entrar no portão de seu cavalo, Heather. Agarrando a sela, ela a ajustou no lombo de Heather.

— Indo a algum lugar? — a voz de Ian a fez pular, estocadas de gelo dançara pela espinha dela.

Ela fechou os lábios, e se concentrou em puxar as tiras de couro com força, esforçando-se para ouvir as ações dele acima das batidas incessantes de seu coração. Arrastando-se para o outro lado do animal, o pé dela pousou em algo macio, e ela saltou para trás com um grito, pensando que tinha pisado em um rato. Nada se moveu. Com a ponta da bota, ela tocou a palha onde pisou. Ainda sem se mexer, ela se ajoelhou, estendeu a mão trêmula e ergueu a palha. O quinto gatinho.

— Ahhhh. — Ian disse, parecendo desamparado, mas quando ela o viu espiando por cima da baia, viu o sorriso dele. — Outro?

Ela ficou abismada de terror em como ele conseguia fazer a voz soar amorosa ou preocupada sem tirar o sorriso tão ameaçador do rosto. Ela sentiu os pelos na nuca se arrepiaram.

— Por quê? — ela choramingou. — Por que está fazendo isso?

Ele olhou por cima do ombro e sorriu.

— Ingênua até o fim. — ele sussurrou e piscou.

Ela pegou um pedaço de pano pendurado na parte de trás da baia e pegou o corpo frio. Soluçou enquanto mostrava o gatinho para ele.

— Tem tanta raiva dentro de você que deve descontar em animais inocentes, já que não pode descontar em mim?

— Davina, o que está dizendo? — Ian deu um passo para trás em direção à abertura dos estábulos. — Está me dizendo que eu… — Ian balançou a cabeça, parado do lado de fora da entrada do estábulo. Os olhos dele se encheram de tristeza e refletiram a luz bruxuleante da tocha, aumentando a aura demoníaca em torno dele. — Sei que fiz mal a você, mas não fiz tudo o que podia para provar que mudei? O que mais…

— Calma, calma, Mestre Ian. — disse Fife, entrando nos estábulos. — O que o deixou tão chateado, rapaz?

— É isso que você pensa de mim, Davina? — Ian disse, abatido pela tristeza.

— Fife! Olhe! Outro gatinho! — ela soluçava de forma incontrolável. Temia o resultado de tudo isso. — É como eu disse a você! Ele me viu encontrar o gatinho e não demonstrou remorso!

Fife a olhava boquiaberto, e então olhou para Ian com pesar. Davina passou correndo por eles, deu a volta nos estábulos e colocou o gatinho sobre uma pequena pilha de palha. Chorando, ela lavou o sangue das mãos e jogou a água fria do barril de chuva no rosto para tentar acalmar a mente. Descansando as mãos na borda do barril, ela ofegou, tentando pensar em como lidaria com a situação.

Era só... isso não poderia estar acontecendo! Por que isso está acontecendo?

Na borda do barril de chuva, uma crosta marrom parecia uma impressão palmar parcial. A marca de uma mão ensanguentada.

Ian a agarrou pelos ombros e a girou tão depressa que sua cabeça girou. Segurando-a contra a parede de trás do estábulo, ele disse alto o suficiente para que Fife ouvisse, em uma voz cheia de afeto tão sincero que ela quase acreditou nas palavras dele… se não fosse pela expressão sinistra em seu rosto.

— Você é tão delicada quanto aqueles gatinhos. Eu odiaria ver algo assim acontecer com você. Eu ficaria destruído. Ele apertou os ombros dela com mais força ao dizer a palavra “destruído” para dar ênfase.

Através das janelas à sua esquerda, acima do barril de chuva, passos recuando enfraqueceram, e Ian esperou que Fife estivesse fora do alcance da voz.

— Ingênua até o fim, Davina. — ele zombou. — Farei com que me aceitem na sua família, e será você que se verá controlada. Pode ser até que a considerem louca quando eu terminar.

O mundo se fechava em torno dela, ela o empurrou e correu em direção ao castelo. Entrado como um raio pela cozinha, ela disparou pelo corredor até a sala de estar e parou na porta. Sua família estava sentada e espalhada, os olhos arregalados e questionadores. Fife estava à sua esquerda, ao lado do pai, esmagando o chapéu nas mãos nervosas, culpa no rosto.

— Fife, o que contou?

Davina pousou as pontas dos dedos frios nas bochechas úmidas e vermelhas.

O pai cruzou os braços.

— Que história é essa de Ian estar matando gatinhos?

Ela correu para agarrar o antebraço de seu pai.

— Pai, ele está descontando a raiva nesses pobres animais indefesos em vez de em mim. — ela não conseguia controlar os soluços enquanto implorava.

— Agora, Senhora Davina. — Fife advertiu baixo. — Mestre Ian disse que não poderia machucar aqueles gatinhos tanto quanto não poderia machucar a senhora. Apenas entendeu mal o que ele disse.

— Obrigado por me defender, Fife, mas creio ser inútil continuar tentando. — Ian parou na porta, a tristeza puxando os cantos de sua boca. — Creio que ela está certa, Parlan. Devemos dissolver essa união. Ela nunca vai me perdoar, não importa o quanto eu tente mudar.

— Por que está fazendo isso? — ela gritou na cara de Ian.

— Agora você me quer? Qual é o seu jogo, Davina?

Ian ergueu as mãos em frustração e se arrastou até o centro da sala para defender seu caso, deixando Davina à porta.

— Não, não é isso que eu quero dizer, sabem bem disso! Por que você está tentando fazer minha família me ver como louca?

Ian deixou cair o queixo como se tivesse levado um tapa. Fechando a boca e depois os olhos, ele assentiu.

— Parlan, eu tentei. — ele olhou para o pai dela com tanta tristeza que a mãe soluçou. — Eu amo sua filha e esperava que pudéssemos fazer essa união funcionar, mas está claro que ela não vai me perdoar. — Virando-se para o pai, Munro, ele disse: — Vou ao meu quarto arrumar meu baú. É melhor partirmos amanhã. — de frente para Davina, ele deu um passo, ainda de costas para a sala, e abriu aquele sorriso particular e maligno que jamais era traído pela voz. — Adeus, Davina. — ele sussurrou, e partiu.

Munro o seguiu, mostrando uma carranca para ela ao sair.

Davina ficou perplexa com os olhares acusatórios de sua família. Parlan suspirou e marchou até a lareira, virando de costas para ela. Lilias soluçou no lenço que puxou da manga. Kehr deu um passo à frente, as sobrancelhas baixas.

— Davina, é hora de deixar de lado o amante cigano de seus sonhos. Nenhum homem, muito menos você Ian, será capaz de fazer jus a essa fantasia, jamais. Está na hora de crescer.

Parlan se virou com expressões fluidas que alternavam entre confusão e raiva. Davina quase se engasgou com o nó que se formou na garganta. Até seu amado Kehr a traía, pensava que ela estava louca! Correndo da sala, ela voltou para os estábulos. Puxando Heather da baia, Davina montou e disparou pelo terreno, saiu pelo portão da frente, para longe da loucura. Suas bochechas, molhadas de lágrimas, ficaram frias quando o vento soprou e emaranhou seus cabelos. Em uma clareira onde costuma conseguir encontrar a solidão, ela puxou as rédeas de Heather e saltou, caindo no chão coberto das folhas do outono passado, úmidas do orvalho da noite.

Ajoelhada no meio da floresta enluarada, Davina soluçava nas folhas. Quão certo estava seu amante cigano dos sonhos! A desgraça que Broderick previu para a vida dela quando ela era uma menina agora a dominava. E por que razão isso estava acontecendo? Ela só queria continuar a vida feliz que vivia antes de conhecer Ian. Por que Deus a uniu a este louco que se regozijava com a manipulação e o controle? Ela só queria uma família e alguém para amar. Com um impulso para se levantar, ela colocou as mãos trêmulas na barriga. Perder o primeiro filho provocara uma grande tristeza em seu ser, contudo, no fim não foi melhor ter perdido a criança? Davina não suportava ver sua própria carne e seu sangue obrigados a se submeter ao mesmo destino que ela, a esse frenesi que suportava. Curvando os joelhos contra o peito, ela puxou as pernas para perto, abraçando o bebê que se aninhava dentro dela. Ela perdera dois cursos mensais: um antes da punição de Ian e este último mês, portanto, engravidara antes que ela e Ian fossem colocados em quartos separados. O que aconteceria então a este bebê se a vissem como uma lunática? Balançando-se para frente e para trás, a testa apoiada nos joelhos, ela deixou o rio de lágrimas fluir.

A dobra de seu braço tocou a adaga que carregava na bota. Ela prendeu a respiração, congelada por uma ideia que tocou sua mente. Subindo a bainha do vestido, ela puxou a arma do esconderijo e sentou-se sobre os calcanhares. Seu coração guerreava devido a tal decisão.

Sou louca, mas que outra escolha me resta?

Ela apertou as mãos em torno do cabo da adaga, a ponta da lâmina posicionada na pele, na direção do coração. Com os nós dos dedos brancos e trêmulos, as mãos latejavam de dor. Se ela agarrava a faca por medo ou por força, não estava claro. Uma brisa suave tocou suas bochechas manchadas de lágrimas, esfriando a carne no ar da noite. Não queria chegar a este ponto, tirar a própria vida e a vida de seu filho ainda por nascer… mas como ela poderia enfrentar a loucura que os esperava? Como poderia enfrentar a traição da própria família? Ou era apenas uma desculpa covarde?

Ela soltou um grito de frustração e cravou a lâmina na terra úmida e macia, caindo no chão. Seu corpo se debatia com soluços e o cheiro de terra se misturava às folhas velhas e podres, como uma sepultura.

— Tão perto. — ela choramingou. — Tão perto de ser uma viúva. Tão perto da liberdade. Devido a uma decisão do rei, todas as esperanças dela se despedaçaram como pingentes de estalactites contra pedra. Até mesmo este membro de sua família, seu primo de sangue Real, a traiu. A aparição de James parecia ter sido enviada apenas a ela, apenas para atormentar sua existência. Davina soluçou mais forte enquanto a desesperança a engolfava.

Heather bateu com os cascos e sacudiu a cabeça. Davina lançou um olhar ao redor da floresta escura em busca da fonte da agitação do animal. Ela se sentiu revirar de medo.

Meu Deus! Haviam ido atrás dela?

Ela empalideceu.

Ian poderia tê-la perseguido… sozinho.

Exceto pelo leve farfalhar das árvores ao vento, apenas o silêncio sepulcral a rodeava. Ela perscrutou o terreno, mas não viu nada. Após mais um momento de silêncio, ela deu um suspiro hesitante e o alívio a banhou. Ninguém vinha com cavalos para agarrá-la e levá-la de volta. Davina pôs-se de pé, enxugou o nariz, e rastejou em direção à montaria, ainda olhando ao redor.

— Calma, calma. — ela apaziguou a égua com a mão estendida.

Antes que pudesse colocar os dedos no flanco de Heather, uma força invisível tirou o ar de seus pulmões, e ela bateu com a cabeça no chão. O rosto de Davina foi empurrado para as folhas, a cabeça latejando, e alguém esmagou seu corpo. Incapaz de respirar ou pensar, ela lutou para forçar o ar de volta aos pulmões quando o pânico se instalou.

— Relaxe, moça. — uma voz profunda sussurrou em seu ouvido. — Sua respiração voltará em um momento.

Em um giro, seu agressor a colocou de pé e a virou para encará-lo, as mãos dele apertavam os hematomas nos braços dela, feitos por Ian quando ele a segurou contra a parede dos estábulos. Com a visão turva e a mente ainda cambaleando com o encontro, ela conseguiu se equilibrar, e logo o ar da noite de verão encheu seus pulmões mais uma vez. Ela respirou em lufadas famintas.

— Aí está, moça.

Medo sacudiu seu corpo, e ela lutou com o homem que a mantinha presa contra ele. Um brilho como prata derretida nas pupilas dos olhos dele a atraiu para suas profundezas, e ela se acalmou. Uma onda de curiosidade e confusão a inundou quando o olhar dela pousou no rosto familiar, aquele nariz aquilino, aqueles olhos verde-esmeralda, os cabelos vermelho-fogo. Seu Broderick havia, por fim, voltado para resgatá-la? Ela empurrou o peito dele para ganhar alguma distância de seu rosto e ter uma melhor visão dele.

Não. Este rosto parecia mais jovem, a mandíbula não era tão larga, as maçãs do rosto não eram tão cinzeladas.

Eu perdi a cabeça!

Ela deveria estar apavorada a ponto de perder os sentidos nos braços de seu agressor, mas ainda assim se perguntava se ele era o homem por quem ansiava desde a juventude.

O perigo nos olhos dele se transformou em confusão quando o estranho escuro examinou o rosto dela. Agarrando-a pelos cabelos, ele puxou a cabeça dela para trás. Um grito escapou de seus lábios quando ele puxou o cabelo contra o caroço em sua cabeça. Ela foi forçada a ficar boquiaberta para o céu negro e a lua cheia acima. Ela prendeu a respiração quando a boca dele se fechou em sua garganta, e dentes afiados perfuraram a pele tenra. Uma breve dor… então um inesperado fluxo quente de prazer fluiu por suas veias, e ela desabou contra ele com um gemido, caindo em euforia.

Este homem — esta criatura — sondou sua mente, uma invasão sedutora em seus pensamentos, enquanto bebia, ele descobriu tudo que poderia ser desvendado. Em poucos instantes, ela reviveu os prazeres da infância, as frustrações da juventude e as fantasias com o amante cigano em seus sonhos. Essas memórias distantes de Broderick vieram correndo e a cercaram… o aroma exótico do incenso, a presença inebriante do calor dele, a vibração que sentiu por dentro ao vê-lo.

Davina reviveu a noite em que conheceu Broderick.

— O que vê, senhor?

Seus rostos estavam muito próximos enquanto a voz profunda a advertia.

— Não posso mentir para você, moça. Seria um desastre.

— Um desastre?

— Sim. — aqueles olhos cor de esmeralda perfuraram os dela. — Tempos nada agradáveis estão para chegar. Mas não deve perder a fé. Você possui muita força. Use essa força e segure com firmeza o que lhe é mais caro, pois é isso que a ajudará a atravessar os tempos difíceis que estão por vir.

— O que está para acontecer, senhor? — ela o pressionou.

— É desconhecido para mim. Não sei os detalhes. As linhas na palma da mão não revelam detalhes mais específicos, apenas dizem que há conflitos em seu futuro. Basta lembrar o que falei. Mantenha-se firme em sua força.

O resto das memórias dela que levaram a este momento no tempo, aceleraram e a trouxeram de volta ao desespero que ela experimentara hoje.

Até agora. Deixe esse estranho beber a vida que flui pelo meu corpo. Deixe-o fazer o que não consigo fazer. Enfim terei paz e morrerei nos braços do homem que imagino, no momento, ser aquele que amo. Nos segundos desde o momento em que ele agarrou a garganta dela até este instante, serenidade a envolveu.

O estranho se separou dela e a jogou no chão. O pescoço de Davina latejava. Sua cabeça se agitou com as memórias rápidas que giravam em sua mente, exibindo sua própria vida como uma peça mal interpretada.

Examinando a imagem nebulosa dele começando a clarear, ela o viu inclinar a cabeça para trás e rir como um louco.

— Após duas décadas de procura, eu enfim encontrei o que queria! — ele se ajoelhou diante dela e envolveu o rosto dela com as palmas das mãos. — Deus não vê bem a minha espécie, então só posso dar crédito ao próprio Lorde das Trevas por me trazer tal prêmio! — ele respirou fundo, o sorriso crescendo. — Tão doce quanto o seu sangue é você, minha querida senhora. — o homem lambeu o sangue dos lábios. — Eu a deixarei com sua vida trágica.

O brilho de prata derretida desapareceu dos olhos dele.

As perguntas girando em sua mente desapareceram no desespero familiar movendo-se por ela e agarrando seu coração. Que jogos distorcidos os destinos estavam jogando com ela? Por que reviver todos aqueles momentos, com a Morte tão perto em seus braços, apenas para ter sua chance de liberdade arrancada dela. Ela estendeu a mão para ele, mas a fraqueza dominou seu corpo.

— Não. — ela tentou dizer mesmo com o nó em sua garganta, sufocando as lágrimas ardendo em seus olhos. — Não pode me deixar assim. Por favor… termine.

Ele passou um dedo sob o queixo dela.

— Tudo ficará bem.

Ele colocou a palma da mão na testa dela, e a mente de Davina se tornou uma névoa. Tudo ficou preto.

* * * * *

Estrelas borrifavam o céu acima com a lua no alto. Davina sentou-se, a cabeça girando e tocou o caroço latejante na parte de trás do crânio.

— Graças a Deus! — uma voz de homem, grave, exclamou. Uma figura nebulosa ajoelhou-se ao lado dela, e ela lutou para clarear a visão e tentar identificá-lo. — Em que estava pensando?

Ela franziu as sobrancelhas em confusão, sua mente uma bagunça sem fim.

— O quê…?

— Peço desculpas. Posso ter sido um pouco zeloso ao tentar salvá-la de você mesma. — quando ela tentou se levantar, as mãos quentes dele em seus ombros a empurraram de volta para baixo. — Acredito que precisa ficar sentada por mais um momento. Sabe onde está?

Davina esquadrinhou a área, o mundo aparecendo.

Ela estava sentada no meio da floresta, na clareira que costumava buscar para ficar sozinha. Heather estava parada a certa distância, mordiscando algumas folhas de um arbusto. Por que ela estava aqui? Olhando para as mãos trêmulas, esperava encontrar as respostas. Seus olhos vagaram, e na mão do estranho, ela reconheceu a própria adaga. Ela viu o estranho, os olhos verde-esmeralda cheios de preocupação na luz prateada da lua. Quão familiar ele parecia. A respiração dela ficou presa na garganta. Muito parecido com amante cigano dos sonhos dele, mas não como ele.

— Você se lembra… — ele disse balançando a cabeça. — Tem muita sorte de eu ter vindo, senhora. O que a possuiria para tirar a própria vida, só Deus saberá, mas pelo bem de sua alma, espero que não tente repetir essa tarefa medonha.

— Senhor, por favor. — ela colocou uma das mãos no braço dele, implorando. — O que aconteceu?

— Ora, pensei que você se lembrava. — ele limpou a garganta. — Estava prestes a tirar a própria vida, e eu a impedi. No processo, você bateu com a cabeça. Espero que possa me perdoar. — ele revirou os olhos e murmurou: — Eu poderia ter terminado o processo por você dada a minha falta de jeito.

— Não gostaria de ser portadora de más notícias, senhor, mas eu gostaria que você tivesse terminado o que eu estava fazendo.

— Bobagem! — ele inspirou e pareceu ganhar controle da própria explosão. — Por que acha que estou aqui, jovem senhorita?

— Não tenho certeza se entendi o que quer dizer, senhor.

— Ousarei dizê-lo, por mais loucura que minhas palavras pareçam. — ele segurou as mãos dela e a olhou fixamente nos olhos. — Não foi por acaso que vaguei por esta floresta esta noite. Digo isso após ter salvado sua vida, mas duvidei da minha sanidade no início. Eu estava passando por sua humilde cidadezinha lá embaixo e essa floresta me chamava. Uma mensagem veio à minha mente enquanto eu procurava, sem saber o que procurava. A mensagem dizia: “Deve dizer que ele voltará, que a salvará. Deve insistir para não perder a esperança e se apegar a essa visão de força.”.

Davina arfou.

— Sabe o que isso significa?

Ela assentiu.

— Bom, porque eu decerto não sei. — o canto da bela boca dele se ergueu quando ela não deu nenhuma explicação. — Bem, não importa. Estou feliz por não estar maluco, afinal.

— Eu também, senhor. — respondeu ela com admiração e uma nova esperança floresceu no peito de Davina. — Agradeço ao Senhor que você O estava ouvindo esta noite. Obrigada por me impedir.

Ela resistiu ao impulso de abraçar o estranho sombrio, que se tornou seu salvador e mensageiro na forma do homem que ela amava, e em vez disso beijou os nós dos dedos em gratidão.

— Bem, isso é mais recompensa do que já recebi e poderia ter esperado.

Ele a ajudou a se levantar, sem soltar sua mão até que ela provasse estar bem de pé e garantisse que ela era capaz de cavalgar. Assim que ela montou em Heather, ele estendeu a adaga para ela, oferecendo-lhe o cabo. Quando ela estendeu a mão para pegá-lo, ele a puxou de volta.

— Entrego isto com muita hesitação, querida senhora. Promete que nunca mais terá esta lâmina apontada para o seu coração?

— Sim, senhor, eu prometo. — ele devolveu a adaga, e ela a enfiou na bota. — A mensagem que me entregou me deu uma razão para viver.

— É um grande alívio. — ele deu um tapinha no joelho dela. — Pode cavalgar de volta por conta própria, não é?

Ela assentiu e seu rosto ficou vermelho de vergonha.

— Sim, tenho certeza de que minha família não sabia de minhas intenções quando parti em tal torpor. Ter que explicar como você me salvou de mim mesma nos colocaria em uma posição estranha.

— Com certeza. Por mais que eu queira acompanhá-la de volta, tenho outros assuntos urgentes. Espero por além há bastante tempo, e creio que não terei que esperar mais. Você também me deu um sinal, minha cara senhora. No entanto, tenho certeza de que voltaremos a nos ver. — ele deu alguns passos para trás e acenou antes de se virar para ir embora. — Boa noite, bela senhora!

— Ora, senhor. Qual é o nome do meu salvador para que eu possa incluí-lo em minhas orações?

— Angus! — ele gritou sem perder um passo.

Conquista Da Meia-Noite

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