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CAPÍTULO I
1817

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Os lacaios de cabeleiras empoadas e libres guarnecidas de alamares apagaram as velas no salão, deixando acesas apenas as dos lampadários dourados à mesa de jantar.

A claridade das seis velas formava um oásis de luz, cujo reflexo atingia não só a luxuosa decoração mas a própria mesa. Esta, de acordo com a moda instituída pelo Príncipe Regente, não carecia de toalha, pois era envernizada e tal qual um espelho, refletia tudo que havia sobre ela.

O mordomo colocou em cima da mesa uma garrafa de vinho do Porto e outra de conhaque, em suas respectivas salvas lavradas. Após relancear um olhar pela sala, retirou-se, acompanhado pelos lacaios.

O Duque de Kingswood recostou-se confortavelmente em sua poltrona e dirigiu-se ao cavalheiro sentado ao lado:

−Bevil, você esteve singularmente calado esta noite. Existe alguma coisa que o esteja preocupando?

O cavalheiro ao qual se dirigia hesitou um momento, antes de responder:

−Você me conhece tão bem, Nolan, que eu nunca imaginei que suspeitasse que realmente eu teria algo a contar-lhe.

O Duque aguardou, com uma expressão cética no rosto. Para qualquer um que o observasse, ele teria revelado a sua certeza de que nada que lhe fosse dito o surpreenderia. Talvez fosse até mesmo duvidoso que pudesse interessá-lo.

Era estranho que um homem, dono de uma fortuna imensa, e que na realidade podia ordenar qualquer coisa que desejasse, parecesse tão blasé e tão entediado com a vida.

Não apenas seus amigos, mas também mulheres distintas e encantadoras, que tentavam conquistá-lo e prendê-lo em suas redes, julgavam quase impossível captar a atenção do duque durante muito tempo.

Já seu companheiro era muito diferente.

O major Bevil Haverington, que na realidade tinha a mesma idade do Duque, parecia mais jovem. Isto talvez ocorresse devido à sua alegria de viver e à sua natureza simples e desinibida, que o faziam sentir-se satisfeito com tudo.

De certo modo, era estranho que os dois fossem tão amigos, mas juntos, tinham estado em Eton e Oxford, e depois haviam servido no mesmo regimento, durante os longos e extenuantes anos passados na Península Ibérica.

Essa fora uma campanha que poderia ter feito com que um homem amadurecesse mais depressa, e, talvez, como no caso do duque, daí por diante passasse a encarar a vida com certo pessimismo.

Quanto ao major Haverington, participara com satisfação de cada batalha.

Como verdadeiro soldado que era, não pretendia abandonar seu regimento, agora que estavam em paz.

Por outro lado, conquanto o Duque fosse um dos mais jovens comandantes no campo de batalha, vira-se obrigado, por ocasião da morte do pai, a desligar-se do serviço militar e a assumir o controle de todos os seus bens.

Voltara para a pátria a fim de administrar as suas propriedades e apresentar-se não só na Câmara dos Lordes, mas no condado e na corte,

O Príncipe Regente recebera-o de braços abertos, bem como muitas outras pessoas pertencentes à alta sociedade, principalmente movidas por algum motivo egoístico.

Não era costume o Duque permanecer sozinho, apenas com um amigo fazendo-lhe companhia em Kingswood. Entretanto, após receber inesperadamente uma carta de seu procurador, decidira que sua presença lá era necessária, e assim convidara Bevil Haverington para acompanhá-lo, ao sair de Londres.

O major Haverington sentira-se muito grato com o convite. Preferia ficar a sós com o amigo, quando podiam conversar sobre as batalhas enfrentadas lado a lado, e outras lembranças, que de certa forma sabiam ser incrivelmente maçantes para a maioria de seus conhecidos.

A partir do momento em que haviam chegado àquela casa magnífica, que pertencera à família Wood desde a época de Carlos II, o Duque sentira certa reserva e uma sensação de intranqüilidade no major. Isso chamara-lhe a atenção, por ser contrário aos hábitos dele.

Agora, sabia que estava prestes a ouvir a explicação. Tinha certeza de que, se lhe dissesse respeito, seria, quando não desagradável, certamente nada que lhe viesse proporcionar qualquer satisfação no decorrer da noite.

Tomou um gole de vinho do Porto, antes de dizer:

−Vamos, Bevil! Fale de uma vez! Se há uma coisa que não me agrada é adiar o pior!

−Não é tão ruim assim− respondeu o major Haverington−. Mas, ao mesmo tempo, você não ficará satisfeito.

−Não é uma novidade− replicou o Duque ironicamente.

−Trata-se de Richard.

−Devia ter adivinhado!

−Ele está fazendo um papel ridículo.

−O que certamente não é nada extraordinário.

−Desta vez, porém, é mais grave. Ele pediu Delyth Maulden em casamento, e ela aceitou!

Pelo modo como o Duque se empertigou, era evidente que ficara surpreso. Seu olhar tornou-se duro, ao exclamar:

−Sempre soube que Richard era um idiota, mas não a ponto de casar-se com Delyth Maulden!

−Ele é um partidão para que Delyth queira perdê-lo− observou o major simplesmente. Deu uma batidinha no cálice e continuou:

−Você sabe que, desde que Gosport recusou-se a desposá-la, está tentando encontrar alguém importante que possa substituí-lo.

−A mãe dele conseguiu salvá-lo no último momento− replicou o Duque−. Quase na porta da igreja.

Os dois permaneceram em silêncio, enquanto pensavam no tímido e bem-humorado jovem Marquês de Gosport, que se atirara, bem como seu título, aos pés da mais famosa beleza de Londres, e certamente a mais astuta. Ele estivera prestes a ligar-se a ela pelo resto de sua vida.

Lady Delyth Maulden, filha do Duque de Hull, um nobre libertino e arruinado, irrompera há cinco anos no mundo social.

Não havia dúvidas quanto à sua extraordinária beleza e os dândis e galanteadores de St. James, sempre propensos a ficarem fascinados por um rosto novo e bonito, haviam-na declarado uma “incomparável”, e bebiam à sua saúde em doses bem maiores do que as habituais.

Evidentemente, tinham sido os anfitriões importantes os primeiros a descobrirem que Lady Delyth era tão libertina quanto o pai, e que seus conceitos de moral, mesmo numa época imoral, não podiam ser aceitos sem protestos.

Seus amantes se sucediam. Embora tentasse manter certa discrição em torno de seus amores, no White’s Club eram feitas constantes -apostas sobre quem seria sua próxima vítima.

O Duque ouvira dizer que Richard Wood, seu jovem primo e provável herdeiro, apaixonara-se loucamente por ela. Contudo, não dera ouvidos a esses boatos.

Julgara que o rapaz não se prejudicaria ao aprender o modo audacioso pelo qual Delyth lhe arrancaria cada centavo que tivesse, e muitos outros que ele não possuía. Caso esse procedimento o decepcionasse, não havia dúvida de que isso o tornaria mais cuidadoso ao escolher a pessoa adequada para confiar seu coração.

Mas nunca lhe passara pela cabeça que Delyth tencionasse realmente casar-se com o rapaz. Percebeu então que fora tão tolo quanto seu herdeiro.

Era lógico que Delyth Maulden considerasse Richard um bom partido, ainda mais por ter o duque dito não uma, mas inúmeras vezes, que não pretendia casar-se.

Aquela fora uma declaração tão sensacional, partindo de um homem de uma posição social elevada, que era quase impossível as pessoas não se sentirem curiosas sobre o motivo que o levara a desejar continuar solteiro, além do que, de acordo com todas as regras e tradições da nobreza, ele deveria estar ansioso por ter um filho.

Entretanto, o Duque nada fizera para atenuar essa curiosidade.

Limitara-se a dizer que não sentia nenhuma vontade de ter uma esposa e que, ao morrer, o que não ocorreria por muitos anos, Richard o substituiria de forma irrepreensível.

Ninguém podia acreditar que ele continuasse firme nessa decisão.

Contudo, quatro anos já se haviam passado desde que ele herdara o título. Seus casos amorosos eram sempre com mulheres lindas e sofisticadas, mas invariavelmente casadas.

Entretanto, o Duque sentia um grande orgulho da família.

Quando jovem, jamais esperara herdar o título, pois seu pai fora o segundo filho. O tio, por sua vez, tinha um filho, e portanto, um herdeiro, além de toda a probabilidade de aumentar a família, à medida que os anos passassem.

Mas as várias e estranhas artimanhas do destino, acidentes e doenças, tinham levado o duque a instalar-se no poder quando menos esperava.

Embora sua vida íntima, por ele considerada sua propriedade, fosse ligeiramente condenável, seu aparecimento em público conservava toda a dignidade e a importância de sua categoria.

O Duque cumpria as obrigações escrupulosamente e com uma inflexibilidade que às vezes chegava a inspirar temor.

Conseqüentemente, a idéia de que alguém igual a Lady Delyth Maulden pudesse vir a ser a Duquesa de Kingswood, e a castelã da mansão na qual se encontravam agora sentados, foi para ele um choque maior do que seu amigo Bevil Haverington havia imaginado.

−Que diabo!− exclamou em voz alta−. Por que casamento?

−Foi Delyth quem tomou a iniciativa. Como já lhe disse, Richard está apaixonado a ponto de tentar dar-lhe a lua e as estrelas, caso ela as pedisse.

−Quando ouviu essa notícia?− perguntou Nolan, com os lábios crispados.

−Ontem à noite, e pensei que seria melhor ocultar-lhe essa informação até que pudéssemos discuti-la a sós e tranqüilamente.

−O que há para discutir?− perguntou o Duque, encolerizado−. Delyth Maulden conseguiu arrancar uma promessa de casamento de Richard e não permitirá que ele volte atrás.

−Receio que não− concordou o major Haverington.

Nolan estava imóvel tal qual uma estátua, e seu amigo sabia o que estaria pensando.

Já observara aquela mesma expressão em seu rosto, quando enfrentando um inimigo que os excedia em número e colocado estrategicamente numa posição impossível de ser atingido.

Todavia, várias vezes nessas circunstâncias vira o Duque evitar que as forças que comandava fossem destruídas, e as levara à vitória unicamente pelo poder de sua força de vontade.

Ao mesmo tempo, o major pensava, desanimado, que a guerra era uma coisa e o amor outra, e que Richard estava comprometido até o pescoço.

Como o Duque permanecesse em silêncio, após alguns instantes ele disse espontaneamente:

−Na verdade, no momento, eles não estão muito longe daqui. Encontram-se hospedados no Castelo Tring.

−Tring era um bom soldado− observou o Duque automaticamente.

−Mas desde que a guerra terminou, ele se tornou muito dissoluto− acrescentou o major Haverington−. Assisti a uma das festas no castelo e achei que era demasiadamente tumultuosa para meu gosto. Esse, porém, é o tipo de reunião que agrada a Delyth.

O Duque teve uma súbita visão do tipo de festas que o major estava descrevendo e que poderiam ocorrer em Kingswood. A idéia fê-lo estremecer.

Cerrando o punho, bateu-o com toda força sobre a mesa, o que fez com que os copos de cristal dessem um pulo.

−Não tolerarei isso! Está me ouvindo, Bevil? Não permitirei que Richard se case com essa mulher!

−Mas como pode impedi-lo?− perguntou o major asperamente.

−Dê-me uma idéia. Você costumava ter uma porção, quando estávamos combatendo em Portugal.

−Se estivéssemos lá− respondeu o amigo−, poderíamos certamente fazer com que Delyth fosse seqüestrada ou mandarmos Richard de volta num navio bem lento! Mas acontece que Portugal é uma coisa, e a Inglaterra uma outra.

O olhar do Duque assumiu uma expressão sombria, ao dizer:

−Tem que haver algo que possamos fazer. Você sabe que ela arruinou Morpeth e o pobre rapaz teve que se retirar para o campo.

−Sem um só centavo em seu nome− acrescentou o major−, e Morpeth não foi o único, mas no que diz respeito a Richard, Delyth pretende ser sua esposa, e embora possamos não gostar dela, você tem que admitir que embelezará os brilhantes de Kingswood.

−Não, se eu jogá-los no lago com minhas próprias mãos!− exclamou o Duque violentamente.

Seu copo estava vazio, e estendeu a mão para pegar a garrafa de vinho do Porto, mas mudou de idéia e pegou a de conhaque.

−Se existe algo que me faz sentir completamente incivilizado e disposto a cometer um assassinato, é a idéia de que Delyth Maulden está fazendo Richard de tolo… e a mim também.

−Existe uma solução muito simples.

−Qual é?

−Que você se case e tenha um herdeiro!

Mal disse isso, viu um lampejo de ira nos olhos do amigo e embora conhecesse o Duque tão bem, sua expressão era assustadora.

Verificou-se um silêncio. Logo em seguida, Nolan disse calmamente:

−Não me casaria, nem mesmo para salvar Richard ou evitar que Kingswood se transforme num bordel célebre!

−Mas por quê? Por que assumiu uma atitude tão ridícula no que se refere ao matrimônio?

Enquanto falava, pensou que ridícula ainda era uma palavra muito moderada.

O Duque não era apenas um dos homens mais ricos da Inglaterra, e as suas propriedades não se igualavam às de outros aristocratas. Ele era de fato tão sedutor e bonito que as mulheres que o perseguiam não o faziam somente por causa de sua condição social ou pela riqueza.

A maioria amava-o por ele mesmo e ao olhar agora para o amigo, o major parecia ainda ouvir uma mulher dizer-lhe magoadamente:

−Amei Nolan. Amei-o com todo o meu coração. Quando me aban

donou, compreendi que jamais voltaria a ser feliz.

Ele lhe perguntara:

−Por que ele a deixou?

−Gostaria de saber− respondera, com um suspiro−. Nele existe algo de obstinado e secreto, que nenhuma mulher pode atingir. É como um bloco de gelo que ninguém consegue derreter.

A ideia parecera-lhe extraordinária, mas a mesma história fora-lhe repetida tantas vezes que começava a acreditar nela.

Sabia, por suas próprias observações, que ao mesmo tempo que o Duque se mostrava disposto a aceitar os agrados dispensados por uma bela mulher, em troca nada dava de si mesmo.

Era generoso de modo quase esmagador, mas aquelas que o amavam não se contentavam com brilhantes e pérolas; queriam seu coração. Este, porém, nunca tinham uma chance de possuir.

Como se nada mais tivesse a dizer sobre o assunto, o Duque ergueu-se, sem sequer ter tocado no copo de conhaque em cima da mesa.

O major seguiu-o. Caminharam pelos amplos corredores em cujas paredes estavam pendurados quadros lindíssimos, e dirigiram-se para a grande biblioteca, na qual o Duque costumava sentar-se quando estava só ou com alguns de seus companheiros.

As poltronas largas e confortáveis, o ambiente calmo, formado pelos livros que eram a inveja dos eruditos, a pintura do teto, a balaustrada dourada da galeria da parte superior das paredes, representavam um deleite para os olhos.

O major sempre achara que aquela era uma das salas mais lindas que já conhecera, e, principalmente, apropriada para servir de cenário a seu dono.

O Duque foi sentar-se numa poltrona em frente ao consolo de pedra da lareira, levado pelos artífices da Itália para a Inglaterra no início do último século.

Embora estivessem em maio, as noites continuavam frias e a lareira estava acesa.

O major permaneceu de pé em frente ao amigo. Após alguns instantes, disse:

−Sabe, Nolan, estou arrependido de ser o portador de más notícias. Talvez fosse melhor se você viesse a descobrir sozinho o que está acontecendo.

−Pois prefiro ouvi-las de você do que de qualquer outra pessoa− replicou o Duque.

Isso é o que esperava que me dissesse− observou o major com naturalidade.

−Pelo menos, podemos ser francos um com o outro. Sabemos que se o Richard casar com Delyth Maulden, brevemente descobrirá que a sua vida tornou-se um inferno na terra.

−Porque ele a ama− atalhou o major.

−É justamente o que estou dizendo. Richard é leal e idealista.

Fez uma pausa e seus lábios se crisparam num sorriso cético, antes de continuar.

− O que deixei de ser há muito tempo, bem antes de ter a idade dele.

−O que aconteceu?

−Isto é uma coisa que não pretendo contar a você ou a qualquer outra pessoa. Para mim, basta compreender o que ele está fazendo.

−Então, o que pode fazer para evitar isso?− perguntou o major.

−Tem que haver algo que eu possa fazer− resmungou o Duque.

Três horas depois, ambos continuavam a dizer mais ou menos as mesmas coisas, para qualquer um dos dois, era impossível encontrar outro assunto que lhes despertasse a atenção.

Embora tentassem, seus pensamentos voltavam inevitavelmente para Delyth Maulden e sua última conquista.

Na realidade, ela já tentara usar das mesmas artimanhas com o Duque e o major. O primeiro ficara imune aos seus encantos, ao convite provocante de seus olhos imensos e dos seus lábios rubros.

O major Haverington não recebera toda a carga explosiva do fascínio de Lady Delyth Maulden pelo simples motivo de não ser importante ou bastante rico. Ela se limitara a flertá-lo numa reunião no Castelo Tring, o mesmo ao qual se referira pouco antes.

Lembrava-se ainda do quanto estava encantadora à luz do luar, após ter insistido para que ele a levasse até o terraço.

Ao se inclinarem sobre a balaustrada, olhara para ele e chegara ainda mais perto. Ele sentira o perfume sedutor de seus cabelos e admirara o longo decote de seu traje de noite.

Estivera prestes a sucumbir, e agir conforme ela esperava que o fizesse, mas fora salvo pelo acesso de riso de algum bêbado, numa sala por trás deles.

Ele a segurara firmemente e a obrigara a voltar para perto de seus amigos barulhentos. Sentira que Delyth ficara furiosa, e, depois disso ela se tornara realmente uma inimiga implacável.

Interrompeu seus devaneios ao ouvir o relógio sobre o consolo da lareira bater uma hora, e exclamou:

−Já é tarde, e, se vamos montar a cavalo logo nas primeiras horas da manhã, vou deitar-me!

−Uma decisão sensata− replicou o Duque−. Gastamos muitas palavras esta noite e continuamos tão longe de resolver o problema como quando começamos.

−Talvez eu sonhe com uma solução, mas não acho provável.

Dirigiu-se para a porta, e ao ver que Nolan não se levantara, perguntou:

−Vai continuar aqui?

−Sim, mais um pouco. Quando estive no Exército, habituei-me a dormir só algumas horas e acho difícil romper esse costume.

O major bocejou.

−Confesso que estou cansado. Boa noite, Nolan.

−Boa noite, Bevil.

Uma vez a porta fechada por seu hóspede, ele pegou um jornal que estava sobre o banco em frente à lareira. Abriu o Times, mas deixou-o sobre os joelhos e pôs-se a pensar.

«O que poderia dizer? Como convencer seu primo de que estava cometendo o maior erro de sua vida?»

Lembrou-se do rapaz quando ainda recruta inexperiente sob suas ordens. Sentiu a mesma necessidade de protegê-lo, como sentira antes por tantos rapazes que tinham saído da Inglaterra.

Haviam sido obrigados a enfrentar o fogo destruidor do inimigo e as privações de uma campanha ingrata. No decorrer dela, uma noite, encontravam-se acantonados em algum galpão infestado de pulgas, numa aldeia portuguesa, na outra, estariam acampados numa encosta árida, sem um arbusto ou uma árvore para protegê-los contra as forças da natureza.

Entretanto, ele compreendera que não era apenas um inimigo desconhecido ou o medo da morte que os assustava, mas o receio de ficarem desmoralizados ante os olhos de seus camaradas. Lembrou-se, então, de como andava no meio deles, falando-lhes, apoiando-os e encorajando-os.

Todavia, um recruta novato tinha que obedecer a suas ordens. Richard, porém, agora era um homem livre.

Relanceou o olhar pela biblioteca e achou que não só era linda, mas sossegada. Como poderia tolerar que as pessoas que formavam o círculo de relações de Delyth Maulden transformassem aquela sala tranqüila num lugar tumultuoso, como acontecera em outras casas igualmente grandiosas?

O caráter turbulento dos jovens dândis, que vinha piorando progressivamente desde o começo do século, fora censurado pelos membros mais sensatos da sociedade.

Contudo, tornava-se difícil para eles fazer maiores comentários, quando o comportamento que tanto condenavam fora estimulado pelo Príncipe de Gales, antes de ter sido feito regente. Atualmente, já mais velho, tornara-se mais circunspecto, embora a sua extensa lista de amantes na idade madura fosse venenosamente escarnecida pelos carica turistas.

Um sistema de vida social, uma vez começado, era difícil de ser controlado. O comportamento desses rapazes fizera com que o duque desejasse tê-los sob suas ordens e pudesse tratá-los com a severidade que mereciam.

Delyth Maulden liderava certo tipo de mulheres atraentes, que haviam desprezado a sua própria feminilidade para participarem de festas extravagantes, fugas insensatas e certos deslizes que no passado tinham sido a marca característica das atrizes e prostitutas.

A futura Duquesa de Kingswood!

Ela sabia perfeitamente que o casamento com Richard significaria que muitas portas agora fechadas para ela abrir-se-iam, e seria recebida nos círculos sociais, nos quais anteriormente teria sido tratada com pouco caso.

−A Duquesa de Kingswood!

Essas palavras encerravam toda a sua cólera. Virou a cabeça, surpreso, ao ver a porta abrir-se. Um lacaio ali permanecia de pé, à espera de sua atenção.

−O que há?− perguntou o Duque.

−Lorde Tring veio vê-lo, Excelência.

−A esta hora?− exclamou o Duque−. Faça-o entrar.

Passaram-se alguns segundos, antes que o lacaio aparecesse anunciando:

−Lorde Tring, Excelência!

Bastou um olhar para seu visitante e o Duque compreendeu que acontecera algo errado.

Lorde Tring permanecia com seus trajes de noite, mas calçara as botas de montaria por cima da calça muito justa, que eram presas por baixo do peito do pé. A gravata, atada com um nó complicado, estava ligeiramente desarrumada.

Seus cabelos, que evidentemente deveriam ter sido penteados “ à ventania”, segundo a moda do momento introduzida pelo príncipe regente, estavam um pouco em desordem e caídos sobre a testa.

−Boa noite, Tring− disse o Duque calmamente, sem demonstrar nenhuma pressa−. O que o traz aqui a esta hora da noite?

O rapaz olhou por cima do ombro, esperando que o lacaio fechasse a porta e disse então, num tom de voz vacilante:

−Tinha que vir, sir! O senhor é a única pessoa que saberá o que fazer e capaz de enfrentar a situação.

O Duque compreendeu que ele falava como um jovem soldado dirigindo-se ao seu comandante. Em seus olhos havia uma expressão de confiança, que lhe era quase comovedoramente familiar.

−Tome um drink− sugeriu ele−, e conte-me o que aconteceu.

Como se sentisse uma necessidade premente de tomar algo, Lorde Tring dirigiu-se para a mesa, sobre a qual havia uma bandeja com várias garrafas e copos.

Serviu-se de uma boa dose de conhaque e bebeu-o de um só gole, e m seguida, com a mão trêmula, afastou os cabelos da testa e caminhou na direção do Duque.

−Trata-se de… Richard, sir!

−Richard?!− exclamou o Duque−. O que aconteceu com ele? Percebeu que Lorde Tring respirou, antes de responder:

−Ele matou sir Joceline Gadsby e tentou suicidar-se!

O Duque permaneceu bastante calmo. Seus olhos perscrutavam o rosto de Lorde Tring, como se procurasse concretizar as palavras que acabara de ouvir. Passaram-se alguns segundos, antes de tornar a falar calmamente:

−Sente-se! Você parece que veio a galope.

−Quando vi o que aconteceu− disse Lorde Tring, deixando-se cair numa poltrona, como se suas pernas não mais o aguentassem−, compreendi que a única pessoa que poderia auxiliá-lo seria o senhor.

−Por que Richard matou Gadsby?− perguntou o Duque.

Lembrou-se então do baronete como um sujeito maçante, um sócio do White Club excessivamente falador, do qual sempre procurara se esquivar. Julgava-o um intruso e perguntava a si mesmo como poderia ter sido admitido como sócio. Ao pensar isso, sabia o que Lorde Tring responderia.

−Richard... o encontrou…− respondeu o rapaz, um tanto constrangido−, com… Lady Delyth.

−Onde?

−Na… na cama, sir!

O Duque, que permanecera de pé, sentou-se numa poltrona, como se precisasse de apoio.

−Conte-me tudo, desde o começo!− ordenou.

−Richard chegou há dois dias, para ficar hospedado em minha casa. Naquela mesma noite, durante o jantar, anunciou seu casamento com Lady Delyth. É evidente que fizemos um brinde, desejando-lhe toda a felicidade.

−É claro!− replicou o duque ironicamente.

−Muitos dos cavalheiros presentes protestaram, alegando que estavam muito tristes e, num tom de brincadeira, tentaram convencer Lady Delyth a mudar de ideia.

O Duque pensou que seria pouco provável que ela o fizesse, enquanto Lorde Tring continuava:

−Deduzi que sir Joceline era… um velho amigo e portanto, sentira-se um pouco melindrado com aquela notícia.

O Duque percebeu que ao dizer “um velho amigo”, o rapaz estava deixando subentendido que sir Joceline, igual a muitos outros, fora amante de Delyth Maulden.

Tinha certeza de que ele era o tipo de homem que não aceitava um não como resposta, mesmo que ela estivesse comprometida com qualquer outro.

−E o que aconteceu esta noite?− perguntou.

−Fomos nos deitar cedo, uma vez que quase todos deveriam sair a cavalo amanhã de manhã. Fui o último a subir e ainda não me despira, por estar discutindo com o meu criado de quarto a respeito da roupa que deveria usar amanhã− fez uma pausa e continuou−. Foi então que enquanto conversávamos, de repente ouvi um estampido. Por um instante pensei que me enganara, depois, julguei que o ruído viera de um quarto no primeiro andar, não muito distante do meu. Seguiu-se outro estampido. Abri a porta e saí correndo pelo corredor. Vi que a porta do quarto de Delyth estava aberta. . .

Sua voz extinguiu-se, como se achasse difícil continuar a falar.

−Conte-me o que viu− insistiu o Duque.

−Evidentemente, Richard estivera parado ao pé da cama, enquanto Lady Delyth e Gadsby estavam… juntos− disse Lorde Tring, em voz baixa−. Gadsby estava morto e havia sangue esparramado pelos lençóis.

−E Richard?− perguntou o Duque.

−Estava estendido no chão, com um ferimento a bala perto do coração!

Fez um esforço para engolir, como se a lembrança da cena o deixasse enjoado.

O Duque tornou a perguntar:

−E o que você fez?

−Primeiro, abaixei-me para examinar Richard. Percebi que, embora estivesse sangrando devido ao ferimento no peito, ainda estava vivo. Como deve saber sir, já vi muitos homens feridos para compreender que não me enganara.

−Sim, eu sei, mas continue!

Fui buscar meu criado particular para ajudar-me. Nós o pegamos e o carregamos para os seus aposentos, que não ficavam longe. Tornei a voltar para aquele quarto.

−O que estava fazendo Lady Delyth, quando você voltou?

−Ela saíra da cama e vestira alguma coisa para agasalhar-se. Estava muito pálida, porém tranqüila. Foi então que ela me disse: “Joceline está morto e a não ser que você possa pensar em algum modo de tirá-lo dessa embrulhada, Richard será enforcado”. Eu lhe respondi: “Não fale com ninguém e fique com a porta fechada’’. E, então, resolvi vir procurá-lo, sir.

Mais uma vez, Lorde Tring olhou para o Duque com a expressão de quem se sente aliviado por poder dividir sua responsabilidade com outra pessoa.

O Duque ergueu-se.

−Muito bem. Pode confiar em seu criado para cuidar de Richard em sua ausência?

−Ele esteve comigo no regimento, sir. Tem prática em ferimentos e sabe como tratá-los muito melhor do que alguns de nossos médicos.

Isso não seria difícil, pensou o duque intimamente, mas disse em voz alta:

−Mandarei selar um cavalo e voltarei com você. Levarei apenas

alguns minutos para trocar de roupa. Sirva-se de outro drink.

Atravessou o vestíbulo, ordenou a um de seus lacaios que providenciasse o cavalo, e subiu depressa mas com dignidade os degraus da escadaria imponente.

Seu criado particular esperava-o no quarto.

−Hawkins, vou ao Castelo Tring para buscar o Sr.Richard. Ele sofreu um acidente e precisará de cuidados especiais. Eu o deixarei em suas mãos.

−Mas o que aconteceu, Excelência?

−O Sr. Richard foi ferido− respondeu o duque cautelosamente.

−Num duelo, Excelência?

−Sim, Hawkins, está certo… num duelo.

O cavalo que mandara selar encontrava-se em frente à porta principal, alguns instantes antes de o Duque descer a escada.

Lorde Tring esperava-o no vestíbulo. Ainda estava pálido e um tanto abalado, mas penteara os cabelos e arranjara a gravata. Ao vê-lo, o Duque compreendeu que instintivamente ele se aprumava, como se fosse entrar em ação.

−Traremos Richard para cá em uma de suas carruagens ou na minha?− perguntou-lhe.

−A minha está inteiramente à sua disposição, sir.

−Muito bem. Mande prepará-la assim que chegarmos− respondeu o Duque.

Dirigiram-se a cavalo pela alameda de carvalhos e passaram pelo imenso portão de grades com pontas douradas, com guaritas ao lado.

Atravessaram a estrada principal, tomaram o caminho das campinas e dirigiram-se em linha reta para o Castelo Tring.

Cavalgavam tão depressa que era impossível conversar. Como ambos fossem ótimos cavaleiros, e montavam o que havia de melhor em matéria de cavalos, nada se ouvia a não ser o barulho dos cascos e assim os quilômetros entre as duas grandes mansões foram rapidamente ultrapassados.

O luar facilitava o caminho e iluminava o antigo Castelo, ao qual alguma coisa fora adicionada pelas sucessivas gerações. Sua aparência atual era muito romântica.

O Duque, porém, pensava que, no momento, ocultava alguma coisa sórdida e degradante. Um escândalo que teria de ser encoberto a todo custo.

O Duelo era admitido como modo honroso de decidir uma rixa, mas o assassinato de um homem casado era castigado com a morte.

Caso fosse humanamente possível, Nolan não tinha intenção de permitir que Richard pagasse por um crime que, ele sabia, fora inteiramente provocado por uma mulher que não fora fiel desde a primeira noite de seu noivado.

Ao chegarem à porta principal do Castelo, Lorde Tring apeou do cavalo precipitadamente, enquanto o duque agia calmamente, como se não tivesse pressa.

No vestíbulo, estavam dois lacaios, que logo se adiantaram para pegar seus chapéus e luvas.

Lorde Tring deteve-se, como se esperasse que o duque lhe dissesse como proceder.

−Não vai mandar preparar a carruagem?− lembrou-lhe ele.

−Ah, sim, é evidente!− respondeu o rapaz e deu ordens a um dos lacaios, que logo se dirigiu para as cavalariças. Em seguida, o duque subiu a escada e Lorde Tring conduziu-o por um corredor comprido que ia dar nos quartos da ala principal.

O Duque sentiu-se chocado ao ver que o aposento que fora ocupado pela mãe de Lorde Tring, até a morte, fora designado a Delyth Maulden.

Era uma das atrações do Castelo. Contavam que a Rainha Elizabeth nele dormira em uma de suas viagens pela zona rural, quando a grandeza de seu séquito e as comemorações dispendiosas para reverenciar sua presença haviam praticamente arruinado seus anfitriões.

Lorde Tring bateu à porta e, sem esperar resposta, entrou no quarto.

Delyth Maulden, que vestia um négligé lindíssimo, estava sentada à penteadeira, em frente ao espelho.

Seus longos cabelos pretos esparramavam-se sobre os ombros. O rosto, que virou para os dois ao entrarem, parecia muito tranqüilo, e, como o duque teve que admitir, enraivecido, incrivelmente bonito.

Estendido na cama, jazia sir Joceline, morto com uma bala que atingira diretamente seu coração.

Ignorando Lady Delyth, o duque dirigiu-se à cama e ficou olhando para o morto.

−Mande alguém vesti-lo− disse Lorde Tring−. Deverá ser levado para o corredor. Os lençóis deverão ser trocados e destruídos. Seu criado particular pode fazer isto sem que mais ninguém da casa fique sabendo.

O Duque virou-se na direção da porta.

−Agora gostaria de ver Richard.

−Sim, é claro− respondeu Lorde Tring.

−Não tem nada para me dizer?− perguntou lady Delyth.

O Duque permaneceu parado, respondendo em seguida:

−A senhora deverá declarar que houve um duelo no corredor entre dois homens que beberam demasiadamente durante o jantar− fez uma pausa e continuou−. Dirá que estava completamente vestida quando isso ocorreu. Que a discussão começou enquanto os três subiam a escada, sendo motivada por alguma banalidade… como, por exemplo, qual deles a acompanharia amanhã no passeio a cavalo.

O duque olhou-a bem e acrescentou:

−Quero deixar bem claro que não estou inventando essa história para salvar sua reputação, mas unicamente para evitar que Richard seja preso por assassinato.

−Ele é um idiota histérico!− exclamou Delyth desdenhosamente.

−Concordo− replicou o Duque−, e também cego e completamente estúpido. Caso contrário, saberia o que a senhora é realmente… uma prostituta!

Sua voz soou como uma chicotada. Virou-se e saiu acompanhado por Lorde Tring.

Ao entrarem no quarto para o qual Richard fora levado, o Duque viu que seu sobrinho estava deitado na cama, ainda vestido. Apenas a camisa fora aberta na frente e seu peito estava envolto numa atadura feita pelo criado particular de Lorde Tring.

Estava muito pálido, mas quando o duque pôs a mão em sua testa notou que a pele estava quente. Tomou-lhe o pulso e sentiu as pulsações, embora muito fracas.

−Eu o levarei para casa− disse a Lorde Tring−, e quando eu for embora, e o corpo de sir Joceline estiver vestido, monte em seu cavalo e vá falar com o xerife. Ele foi amigo de seu pai e sei que fará o que puder para auxiliá-lo.

−Farei o que disse. Muito obrigado, sir.

−Depois que eu partir− tornou a falar o Duque−, você e aquela mulher precisam ter certeza de que contarão a mesma história sobre o que aqui ocorreu. Não importa o que disserem, pois nenhum dos con-tendores estará em situação de contradizê-los.

Sua voz era áspera, pois compreendera que Richard estava gravemente ferido e talvez até morresse de um ferimento que ele mesmo se infligira.

Ao mesmo tempo, e embora fosse perigoso removê-lo, o Duque sabia que era preferível entregá-lo aos cuidados de Hawkins do que aos de qualquer outra pessoa.

Do mesmo modo que Harris Tring, Hawkins combatera ao lado de seu amo, mas o primeiro era mais jovem e Hawkins estava com ele há dez anos.

Abandonando seu pensamento, perguntou:

−A carruagem já chegou? Podemos levar Richard para baixo.

Ao ver que Lorde Tring já estava saindo do quarto, acrescentou:

−Não se esqueça de que quando o xerife chegar para ver Gadsby, este deverá estar segurando uma pistola usada em duelo e deflagrada há pouco tempo.

−O senhor pensa em tudo, sir!− exclamou Lorde Tring, com admiração.

−Pelo menos estou tentando− replicou o Duque,

Ao voltar lentamente por aquelas estradas sinuosas da região, o Duque sentara-se na carruagem, de costas para os cavalos.

Ao olhar para Richard, que jazia inconsciente no banco de trás, pensou que teria sido mais justo se ele tivesse empregado a segunda bala em Delyth Maulden, e não em si mesmo.

Sua experiência com as mulheres revelava-lhe que, enquanto ela parecia calma e imperturbável ante o que ocorrera, na realidade sentia-se acovardada. Mas, ao mesmo tempo e com seu habitual egoísmo, só pensava nela.

Não perdera só um admirador, mas dois. Sir Joceline era rico, porém sem nenhuma probabilidade de algum dia tornar-se duque.

O fato de que um duelo fora travado por causa dela não surpreenderia a ninguém, e como ele mesmo já afirmara, não deixaria sua reputação mais prejudicada do que já estava.

Além disso, era sabido que nenhuma mulher decente e bem-educada se permitiria ser causa de um duelo.

Ainda que algumas vezes elas fossem envolvidas, os cavalheiros tomariam todo o cuidado para ocultar o verdadeiro motivo da rixa e a atribuiriam a qualquer coisa, mas nunca à dama em questão.

Entretanto, pensou o Duque sombriamente, Lady Delyth, com seus amigos ordinários e indecorosos, certamente consideraria o que acontecera como mais uma de suas vitórias.

Contudo uma coisa era certa, no momento: não seria provável que algum outro, com a posição social de Richard, viesse a propor-lhe casamento. Perguntou a si mesmo se, depois de tudo o que aconteceu, ela tentaria obrigá-lo a manter a palavra quanto ao noivado. Este fora um dos motivos pelo qual resolvera afastar o primo imediatamente do Castelo Tring.

Se Delyth Maulden conseguisse sair daquele caso sórdido com o futuro garantido, ela o faria.

Nolan pensou que, estando Richard instalado em Kingswood, seria mais fácil evitar que ela o procurasse. Ao mesmo tempo, a sua ausência daria a entender que o noivado tivera um fim inesperado.

«Diabos a levem», pensou, ao olhar para o rosto inconsciente de seu herdeiro. «Maldita seja ela e todas as mulheres! Por baixo da mesma camada externa, são todas exatamente iguais!»

O Duque e a Filha do Reverendo

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