Читать книгу Memórias - Brandão Raul - Страница 8
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O Fialho descrevendo o Cardia, esse rapaz ingenuo, insinuante e espontaneo, que aos dezanove annos se lembra de estourar o coração com uma bala, por causa d'uma reles cantora de quarenta e dous annos—o Fialho diz:
—...era isto e aquillo e uma mão enorme atirada p'ra aqui e p'ra acolá a toda a gente, apertando a nossa.
O que nunca mais me esquece são aquelles olhos tristes e a bocca moça sempre a sorrir!...
Fevereiro—1904.
Hoje almoço em casa do Schwalbach com o Bulhão Pato, o Camara, João Chagas, Antonio Bandeira, etc. O Bulhão Pato é um homensinho secco e resistente, de cabeleira e pera branca—miniatura do alentado Pato caçador que todos nós imaginamos ao ler-lhe algumas paginas. Parte no dia 20 para S. Miguel, de passeio... Quando morrer desaparece com elle toda uma epocha:—Meu rapaz podes ter lido todos os philosophos, que se não tiveres sentimento... Minha mulher, uma velhinha lá fica... Não vae comigo, porque recolhemos em casa uma pequena pobre, pobrissima, e queremos-lhe como se fosse nossa filha. Sentamol-a á nossa meza... Bem sei que ha por ahi uns moços que dizem mal de mim. Não me importo. Quando vejo um rapaz de talento abro-lhe logo os braços.
No fim do almoço, beija a mão ás senhoras. Conviveu com o Herculano, ouviu-lhe dizer:—Isto dá vontade de morrer! «Que faria—accrescenta—se vivesse hoje!»—O Conservatorio lembra-lhe o Palmeirim—«que foi da minha creação»—É simpathico, vivo e cheira a outros tempos: conserva, como o linho guardado no fundo d'um armario, o perfume da maçã. E que contraste com os outros, com o Chagas, com o Schwalbach, sempre aflicto e sempre despreocupado, com o Antonio Bandeira, que, sob uma aparencia futil, é pratico como o diabo, e que conta que foi uma noite em Roma, com alguns portugueses, mulheres e guitarras, bater o fado para as ruinas do Colyseo! Depois, por blague, sustenta com o Chagas, que ninguem devia ter mais de duzentas e cincoenta grammas de principios.
Março—1904.
Encontrei hoje o Marcellino Mesquita: ventas largas, marcas de bexigas, barba com muitas brancas aparada rente, chapeu desabado, capinha curta e olho vivo. Tipo crestado do sol, materialista e secco.
—A gente quando chega a certa edade tem de se isolar para não viver n'uma perpetua irritação. Olhem agora se eu encontrava o Pequito ministro, o Pequito de quem a gente fazia troça em rapaz! E muitos outros, que aos quarenta annos começam a desafinar-nos os nervos... Vivo no Cartaxo, n'um descampado: a quinta fica entre duas estradas. Não passa lá ninguem... Leio, fumo, e trabalho. Tinha um moinho; primeiro acrescentei-lhe uma cozinha, depois um quarto: agora tenho lá uma casa. E já não posso viver sem o ruido das mós. O meu quarto fica mesmo por cima. D'aqui a oito dias, com as macieiras em flôr, aquillo é adoravel...
Abril—1903.
Vi o Marianno nas camaras. É um cadaver, com uma sobrecasaca riquissima de gola de veludo. Nunca phisionomia exprimiu maior cansaço, indiferença ou desprezo, a palpebra cahida, o olhar vazio de expressão.—Que me importa! que me importa!...—Parece um morto, farto de sofrimento e de goso, e, sob aquella apparencia de sceptico raros se magoam como elle. Toda a vida tem sido ludibriado. Contam que a mulher passa horas a descompol-o. Elle, sentado, escreve tiras e tiras de papel, a tarefa do jornal, sem dizer palavra nem levantar a cabeça. D'uma vez chamou-lhe tudo quanto lhe veio á bocca, e elle inalteravel, curvado sobre os linguados, sem lhe dizer palavra... Por fim ella, desesperada, berrou-lhe:
—És um estupido!
Elle então parou, ergueu a cabeça, e muito calmo:
—Teem-me chamado tudo, mas estupido é a primeira vez!
E continuou a escrever.
Por fóra uma aparencia de sceptico, por dentro uma sensibilidade enorme. Anda sempre metido em complicações e negocios, em caminhos de ferro, em pedaços de Africa, bahia de Lobito, etc., e afinal não passa d'um sonhador que tem as propriedades de Azeitão hipothecadas em quatorze contos de reis.
Setembro—1903.
O Antonio José de Freitas, homem de lettras mediocre, é um conversador admiravel. Se conseguisse escrever como fala, e désse á prosa aquella vida que dá á palavra, seria um grande escriptor. Pequeno, branco, na ponta dos pés, sempre a segurar as lunetas, todo elle nervos:
—Dei-me muito com o Castello-Melhor. Um dia começou a imaginar que estava pobre, porque no Banco de Portugal lhe não quizeram, como sempre se fez, descontar uma lettra só com o nome d'elle. Disse ao Barros Gomes:—Vae beber da merda!—E sahiu furioso. D'ahi começou a imaginar que tinha cahido na pobreza e alugou o jardim para o circo Whytoine. Uma vez sahi com elle d'um baile pela madrugada e acompanhei-o a casa.—Sobe.—Tenho ainda que escrever para o Brazil...—Insistiu, subi—e eil-o a clamar no quarto:—Que diriam meus avós se vissem alli o circo e os palhaços!...—Estava desesperado. Descompul-o.
Passaram-se annos e morreu de repente. Vestimol-o n'aquelle mesmo quarto, e, altas horas da noite, ouvimos, de repente, um clamor: era o circo Whytoine que ardia. E eu assisti ao espectaculo do cadaver, iluminado pelo clarão do incendio, alli onde o ouvira evocar com desespero os seus mortos. Foi tudo ao enterro. O povo abria alas, e quando chegamos ao cemiterio e quizemos pegar no caixão, veio de roldão uma chusma de cocheiros e vadios, que nol-o arrancaram das mãos, e, erguendo-o no alto dos braços, levaram-no até á cova...
*
—O Eça usou toda a vida bentinhos ao pescoço. Vi-lhos eu, que dormi por diferentes vezes com elle no mesmo quarto...
*
Depois fala no Resende:
—Se vivesse era decerto o chefe do partido conservador. Que homem encantador, polido e sceptico! E tinha uma poderosa ascendencia magnetica sobre nós todos. O medico, já quando elle estava muito mal, recomendou-lhe ares do mar. Passeava n'um bote no Tejo. Umas vezes ia eu com elle, outras o Soveral, e levavamos-lhe botijas com agua quente, porque sentia sempre um frio mortal. Estou a ver o Soveral, com uma botija em cada mão. O Rabecão, um jornal de caricaturas do tempo, disse que nós iamos emborrachar todas as noites para o rio. Muito nos rimos... Pois o Resende, atheu toda a vida, morreu como um crente.
Foi elle que se esmurrou com o Eça n'uma das piramides do Egypto. Nessa viagem ouviram ambos missa no tumulo de Jesus, em Jerusalem. O Eça cahiu logo de joelhos; quando levantou a cabeça para ver o quadro, dois ou trez mil peregrinos tinham como elle ajoelhado sob o mesmo impulso irresistivel: só a seu lado, de badine e sobretudo no braço, se conservava de pé, sem perder a serenidade nem a linha, um unico homem: o Resende.
*
Os vencidos da vida, depois que se juntaram diziam mal uns dos outros. Não se podiam ver.
Março—1900.
Ha mezes que Junqueiro não aparecia na Praça, onde outrora era certo á noite, rodeado de esbirros, e discutindo politica ou arte com alguns amigos mais intimos. Eil-o agora de volta, depois de umas febres palustres apanhadas n'essa longinqua quinta que replanta de vinha lá para a Barca d'Alva.
Vem curioso. Teem por acaso os senhores noticia d'um Junqueiro adunco e janota, mephistophelico, com ditos em braza explodindo sobre o ultimo acontecimento, e conhecem talvez a lenda da casa de hospedes celebre da rua dos Retrozeiros, d'onde em tempos sahiram gritos subversivos, pamphletos, versos, theorias philosophicas, satyras e revistas do anno, e onde—consta dos archivos da policia—morou o proprio Diabo em pessoa, na intimidade do poeta?... Lembram-se? Depois, n'outra phase da vida, viram-no talvez autoritario e feroz, com o mesmo perfil em bico d'aguia, sob um chapéo molle e gasto, atacar o velho Padre Eterno?... Pois ahi o teem agora philosopho e christão. Parece um prégador socialista-tolstoiano, um santo cavador, de barba negra e inculta: traz ainda terra pegada nas mãos e uma roupa velha, a que só faltam alguns remendos cosidos á ultima hora... Usa uma camisola de lã e diz assim:—Eu não me visto: cubro-me.
Chega da Barca d'Alva, um terreno enorme lá para a raia, entre pantanos, que reuniu leira a leira, depois d'uma scena, que dava um capitulo á Balzac. É elle mesmo que a evoca em meia duzia de traços, e a gente vê logo d'um lado os cavadores tartamudos e hesitantes, do outro o Senhor Poeta, como elles lhe chamam, com um livro de cheques na algibeira, encafuando-os a todos na sala do cartorio:—Se chegam a concertar-se era uma discussão para seculos. Pediam-me uma fortuna!—Um a um compareceram diante do tabelião:—Quanto quer? Assigne!—E sahiam logo por outra porta.
Já pouco a pouco a lenda se forma, discutindo-se a nova thebaida, que d'aqui a annos será visitada como Valle de Lobos e Seide. Que procuram os nossos grandes escriptores, desde Herculano a Fialho, na natureza, que pouco nos dá em troca do muito que lhe damos? Afastar-se dos outros ou esquecer-se a si proprios?Talvez as arvores e os montes nos preparem melhor para o sepulchro e para o verme, ainda que eu julgue que não ha como um 6.º andar, com livros e papeis, e um cinematographo no rez do chão, para acabar com a vida.
Seria um curioso estudo aquelle que comparasse Valle de Lobos, Seide e a quinta de Junqueiro, a decoração escolhida por tres homens superiores—o fundo de tres grandes retratos. Na Barca tem o poeta uma casota de cão, com os muros ainda em osso, e uma varanda onde passeia todo o dia infatigavelmente. De quando em quando escreve na cal da parede versos ou contas. Seide, n'um cahir de tarde outomniça, lembra a alma de Camillo. Ha lá um calvario d'arvores decepadas que parecem forcas. Ha lá uma casa tragica, pintada d'amarello. Um ermo, que, a meia legoa da estrada, fica ao cabo do mundo, e que parece escolhido de proposito para esconder uma desgraça ou combinar um crime. Peor: ficou na casa abandonada, no ambito, nas pedras, alguma coisa daquella alma dilacerada de sceptico e de crente, mixto doloroso que só tinha como solução o infortunio. O que se ouve são risos ou gritos de dor? Depressa! depressa!... Parece que elle anda ainda por aqui, sardonico e immenso, desgraçado e immenso. Valle de Lobos, se uma vez o avistaram, não emociona de uma forma toda diferente, e não diz bem com a alma de Herculano?... Quanto a Junqueiro, a sua paizagem querida é indubitavelmente a trasmontana, grave, revolta e grandiosa como o seu genio.
Camillo não encontrou decerto resignação nas arvores, nem nos montes, porque, para o mestre, em toda a natureza só o homem existia:—Não ha na sua obra uma arvore, nota o poeta...—Nem Guerra Junqueiro por ora se isola. Está na lucta, com os seus livros, as suas theorias, a sua maneira suprema de discutir e de encarar os problemas do universo.
—Para viver na aldeia é preciso, diz elle, ser João Brandão ou S. Francisco d'Assis.
De forma que a Barca d'Alva não é bem uma thebaida para o poeta. Os senhores vão agora conhecel-o sob este aspecto novo—agricultor. A Barca é-lhe mais que um refugio: é (palavras que fazem bater o coração de todos os homens) o futuro dos seus filhos. E Junqueiro, agricultor, tem ainda genio: inventa e descobre. Quatrocentos cavadores desbravam-lhe a terra, que deve produzir um vinho magnifico. O mosquito propaga a febre. O jornaleiro macilento bate o queixo com sezões. Elle ordena, dirige e resolve as questões agricolas muito melhor que os lavradores da região, de quem diz:
—Plantam vinhas, como quem joga na batota—ao acaso!
Ouçam-no! Desfilam os jornaleiros, que adquirem logo uma vida extraordinaria, as boccas que não falam, a Maria Colhôna, que tem filhos de toda a gente, filhos para o Brazil, filhos para soldados, filhos para a desgraça, os sêres deformados e enormes, os tipos que se transformam em simbolos... Descobriu um novo processo para evitar que a enxertia, essa operação cirurgica, como elle lhe chama, falhe, e, sob as suas ordens, trabalham alguns centos de homens, que se encostam ás enxadas para ouvirem o Senhor Poeta... Não é raro vel-o subito, tempo humido, perigo para as vides, abalar para a quinta com saccos de sulphato. Adivinha, presente melhor a natureza que os sabios—e cria. Tudo o que toca toma sob as suas mãos um aspecto novo, tão certo é que os homem de genio, como quer Carlyle, são sempre superiores e ineditos.
E de que maneira paradoxal elle expõe as suas theorias! Nervoso, pequeno, calcando o lagedo da Praça, a mordiscar a ponta do charuto, que giganteas formas de sonho não vae creando aquella magica palavra!... A sua phantasia é eminentemente decorativa.
—Sabem—dizia o poeta uma noite—sabem que scismo na fórma de transformar toda a agricultura? Acabaram-se os pobres, a fome, os annos tristes! Para o vinho, d'aqui em deante, não bastarão toneis como torres e para o pão arcas como predios. Uma carrada de bois será apenas suficiente para carregar uma abobora, e um simples cacho de uvas dará vinho para duzias de borrachões. Como? Aplicando ás arvores, ás vides, ás plantas emfim, o methodo de Brown-Séquard. O sabio dá a um organismo gasto uma vida assombrosa, injectando-lhe a vitalidade de coelhos. Calculem o resultado d'esse sistema aplicado na agricultura...
Um castanheiro dura seculos, tem uma vida extraordinaria. É mais que uma arvore—é uma força. Apodera-se dos montes. As suas raizes alastram, os seus ramos tocam no céo. Imagine que injecto polen de castanheiro n'uma vide... Obtenho logo uvas como as da Terra da Promissão. D'um pé de melancia tiro um fructo capaz de carregar um carro. Tres maçãs metem no fundo uma náu.
E eis, por uma noite de invernia, a natureza transfigurada, pelo poder da phantasia e do sonho. Flores são arvores abrindo lá em cima no céo em parasoes roxos; pinheiros transformam-se em montanhas; monstros erguem as suas corolas de veludo, e na verdade não passam de humildes flores bravias. Uma petala desaba com o fragor de penedos, e multidões sobre multidões sequiosas veem dessedentar-se n'este fructo colossal:—o morango. Ha que tempos que eu erro perdido n'esta floresta monstruosa de papoulas!...
Junqueiro na intimidade é prodigioso de genio, de imprevisto, de elevação. Vê os factos mais simples com um olhar que os engrandece. Assombra de pitoresco e de inedito. O homem de genio é, como todos os homens, filho da mesma lama, mas, por acaso, vão n'esse humus lagrimas, aguas correntes, detrictos de florestas, restos de nuvens e a emoção profunda da natureza. Por isso sabem tudo, sentem tudo... É pena que as suas conversas, os seus fragmentos, esses pedaços de sonho e de vida, atirados com febre, perdidos, e decerto esquecidos, se não possam juntar, porque dariam um dos aspectos mais extraordinarios do seu genio. Seria esse talvez o seu melhor livro. Assim, por exemplo, as cathedraes de Hespanha, onde Jesus está preso e a ferros, a explicação prodigiosa dos Christos de madeira—o Christo dos soldados, o dos ladrões, o dos cavadores, da sua sala de jantar, unicas obras d'arte de que não quer desfazer-se, e a sua philosophia, a maneira superior como encara o universo e ilumina o desconhecido...
Pois ahi o teem de novo no Porto, de barba hisurta, embrulhado n'um casaco coçado, com um ar iluminado de Santo. Direis que vae prégar ás multidões. Demais já ha annos que elle escrevia:
Tolstoi o meu sapateiro...
E um dia, ao saber Camillo sceptico, Camillo com noites de sombrio desespero, palpando a coronha do revólver, não foi de proposito procural-o para lhe prégar Deus?
Era n'uma dessas tardes tragicas de Seide, de que o grande escriptor fala nos Serões. A natureza chorava revolvida: a acacia de Jorge batia-lhe devagarinho nos vidros. Quem é que o chama? Atormentado de dores, ouve vozes, vê phantasmas, e sae do horror com blasphemias e sarcasmos. Junqueiro encontra-o mergulhado na dolorosa tinta do crepusculo, com a pala com que escrevia sobre os olhos, absorto, calado, desesperado, o rosto marcado de dedadas, «esboçado n'uma argila côr de mel», segundo o retrato de Ricardo Jorge. Eu tinha-lhe medo... O poeta tenta arrancal-o ao negrume que o envolve: desenrola theorias, explicações, argumentos; ataca-o a fundo, persuade-o talvez... Já o julga abalado e convertido, quando d'essa figura só osso e dor, saem emfim estas palavras ironicas:
...—Sim, sim, Junqueiro, você convencia-me se eu não tivesse ainda no estomago, desde o almoço, tres bolinhos de bacalhau, que me estão aqui como tres Voltaires.
Março—1904.
Veiu a Lisboa acompanhar, por solidariedade, os lavradores do Douro, o poeta Guerra Junqueiro. É outro homem, que perdeu talvez em exterioridades mas ganhou em funda emoção. Tendo-se-lhe um dia deparado universaes interrogações no caminho; tendo encontrado frente a frente, ao meio da vida, idéas abaladoras, que só o homem de genio pode encarar sem o pavor e o deslumbramento que o grande mistério comunica—as raizes do universo—elle mudou de rumo, tão simplesmente como se praticasse o acto mais banal da existencia. Sendo já um dos maiores poetas da Europa—quiz ser tambem um santo... Durante annos procurou como Fausto o segredo da vida no fundo dos laboratorios. E n'outra phase do seu espirito decorativo tendo entrevisto, pelo poder do genio, novas veredas a tentar, seguiu-as, fazendo experiencias que a sciencia d'hoje plenamente confirma.
Guerra Junqueiro está na mesma: alguns fios brancos a mais na grande barba de santo, começo de calva amarelada no alto da cabeça, chapéo baixo, uma simplicidade de trajo que vae bem com a simplicidade verdadeira ou ficticia da sua alma. E sobre isto os olhos terriveis que nos fitam e nos adivinham até ao fundo. A conversa é prodigio que evoca, ilumina, toca em todos os problemas da vida, dando-lhes uma grandeza e novos aspectos que entontecem.
Fala-se a proposito de um livro, e elle diz, não palidamente, nem decerto com as inexactidões com que reproduzo, o seguinte:
—É um livro interessante. O autor conseguiu deixar falar a parte de inconsciente que cada um de nós traz comsigo... Porque, meu amigo, a porção de infinito que cabe a cada homem é exactamente a mesma. O camiseiro alli defronte e um homem de genio teem na alma identico quinhão. Sómente o camiseiro não consegue encontral-a nem pode exteriorisal-a. Porque? Porque só pensa em camisas. O homem é o universo reduzido... Que cada um pudesse deixar-se narrar—e teriamos a mais maravilhosa historia do mundo!...
E como incidentemente se refira á sciencia, eil-o que se desvia por outro esplendido caminho:
—As ultimas descobertas modificaram completamente a sciencia. Foi um terremoto. E eu entrevi isto mesmo: ha annos que chegára ao seguinte resultado:—radiação universal e desassociação dos atomos. Fiz experiencias, que me de sciencia que não me quizeram atender. Um dia vim de proposito a Lisboa falar a Sousa Martins e expuz-lhe as minhas theorias. Ouviu-me... Quando me fui embora encolheu decerto os hombros. E no emtanto, passados annos, vejo confirmado experimentalmente tudo o que eu previra... Que quer?... Faltavam-me como comprehende os meios de verificação. Precisava de factos.
D. João da Camara.
Cala-se um momento e depois continua:
—Hei-de publicar, depois da Oração á luz, que sae brevemente, uma serie de memorias, com os resultados dessas experiencias. A vida—é o Amor e a Dor. Procurar as suas leis eis tudo. Seguir-se-ha a minha theoria philosophica. Adivinhei todo este terremoto que se deu ultimamente na sciencia. Hoje a materia não existe: já a definem—associação d'energias. O que é feito dos materialistas? A sciencia futura será portanto o estudo de energias. Por ultimo publicarei uma introducção á sciencia, visto que não posso escrever essa obra: seria a revisão dos trabalhos de Spencer—a tarefa de toda uma vida.
—E tem muitos documentos?
—Tenho tudo prompto. Necessito apenas de encontrar a fórma precisa, a fórma mathematica, para exprimir as minhas idéas.
Incansavel. É de ferro. Pequeno e mirrado passeia horas e horas, a conversar... Não conversa—monologa.
*
Da Barca d'Alva diz:
A minha casa de jantar tem uma meza e cadeiras de pinho. Depois de comer, quando quero um palito, corto-o na meza.
*
Ramalho definido por Junqueiro:—um pinheiro com uma melancia em cima.
*
Junqueiro na redacção do «Mundo»:
—D'aqui a pouco reparto a minha fortuna com as minhas filhas e o que me restar dou-o aos pobres.
*
Ha outro Junqueiro de que a caricatura se apoderou, o Junqueiro do bric-á-brac. O Junqueiro que a má lingua do Porto afirma que percorre disfarçado as ruas de Hespanha, com um burro pela arreata apregoando:—Ha por ahi quem tenha louça para vender?—O Junqueiro que foi procurado um dia no hotel, em Salamanca:—Está cá o grande poeta Guerra Junqueiro?—Não conheço,—disse o porteiro.—Mas elle vem sempre para aqui. É um homem de barbas...—teimou, explicou o outro.—Esse es Guerra el antiquario!...
Mas até no Junqueiro caricatural algumas linhas são indispensaveis para completar o retrato. Ha n'este grande homem uma mascara. Sinto uma parte que se deve ao arranjo—e que é a inferior e outra em que elle obedece á raça e que é a mais viva, a que tem raizes nos mortos. Melhor: o homem é sempre um tablado onde varios phantasmas se despedaçam. Ha mãos que nos puxam para o fundo, ha outras que nos procuram levantar cada vez mais alto. Deus nos livre de julgar os mortos!
*
Junqueiro, de volta do Bussaco, indignado:
—E não aparecer um doido, com um grande martelo, que deite tudo aquillo abaixo! Qualquer dia botam as arvores a terra e põem pedraria até á Pampilhosa!
Dezembro—1907.
Encontro-o hoje em Lisboa, emagrecido, com um velho casaco comprado n'um adelo, e muitas rugas, finas como linhas, ao canto dos olhos. E, como o José de Figueiredo lhe fale no Rodin:
—É verdade, passei um dia inteiro com o Rodin, a explicar-lhe a sua obra. Disse-lhe: você é um grande artista, mas exactamente, como em todos os grandes artistas, a melhor parte da sua obra é inconsciente. Porque em todos nós a razão é nada, o que é grande é o inconsciente. Aquella cabeça que você tem no Luxembourg, emergindo da pedra—é assim, é aquillo... Mas falta-lhe não sei quê de simbolico que ligue a cabeça á pedra. Assim choca, é brutal. É como o Pensador, a estatua que está no Pantheon. Toda a critica franceza tem tentado explicar aquella estatua, e ainda ninguem disse as palavras necessarias. Eu lh'as digo: Aquillo não é o Pensador, nem o Pensamento: é o primeiro pensamento em cabeça de homem. Dispa você um tipo de verdadeiro pensador, Kant, o Dante, por exemplo, e encontra um corpo deformado. Porque o pensamento peza mais de que montanhas. Devora. O que você fez foi uma besta, um gorilha, um homem capaz de arrastar calháos: Pois bem: inconscientemente fez uma grande obra d'arte: o primeiro pensamento na cabeça d'homem. Esse primeiro homem athletico, ao deparar com o primeiro pensamento, essa flor abstracta, fica dominado, subjugado: cae-lhe o Atlas em cima e esmaga-o... E adeus, são horas de partir para o comboio.
*
D. Carracida, professor de chimica biologica na Universidade de Madrid, homem ilustre e que conhece perfeitamente a literatura portugueza, diz assim de Junqueiro... (D. Carracida fala portuguez pausadamente).
—O senhor Junqueiro, grande poeta, é um mistico... Está agora no misticismo. O senhor Junqueiro e eu passeavamos juntos no jardim de Villa do Conde, de cá para lá—e o senhor Junqueiro prégava a piedade e o amor. Uns rapazinhos acendiam balões para uma festa, e eu e o senhor Junqueiro passeavamos de cá para lá... O senhor Junqueiro prégava a piedade e o amor, e um dos balões cahiu na cabeça do senhor Junqueiro, que levantou a bengala e deu com ella no rapazinho... E nós continuamos a passear de cá para lá, e o senhor Junqueiro a prégar a piedade e o amor...
Março—1903.
Fialho não é este janota de palio rico, com uma joia tão grande que parece falsa na gravata de veludo. Fialho era outro estranho tipo, intratavel e pobre, com o pêlo ralo e a bocca enorme cheia de sarcasmo. Um principe de gabinardo, que fazia cahir as peças do alto do galinheiro, a um gesto seu irrespeitoso. Seguia-o a malta atonita de matulas suspeitos e jornalistas de ocasião, que deslumbrou de sonho e atascou em sonho.—Fialho! Fialho!...—Esses aplaudiram-no e amaram-no... Esquecidos do frio e da pobreza, não despregavam os olhos d'aquelle sonho desconforme.—Fialho! Fialho!...—Depois sumia-se n'um terceiro andar, ou procurava os pobres que não pedem: só a mão sae da noite e implora. Havia uma velha—nunca mais me esquece—alli á porta do Monte Pio, que fazia parte do muro alto e espesso, e a quem elle, ao dar-lhe esmola, lhe afagava a cabeça... Depois, amargo, feroz, insuportavel, eil-o tornava com sarcasmos, transtornando as figuras decorativas, cheias de veneras, que á sua voz desatavam ás cambalhotas como palhaços. Vi-o exasperado, vi-o atordoado de phrases, como quem quer fugir ao proprio phantasma. Vi-o mergulhar n'uma absorpção dolorosa, e desaparecer na noite em correrias que duravam até de manhã pelos bairros escusos ou pelas azinhagas de crime, n'um debate perpetuo de que sahia livido, exhausto, e com a mascara transtornada. Este que fala do seu vinho:—Livros?... O que eu trato de editar é um vinhinho branco lá de Cuba...—este, que vem, de quando em quando, a Lisboa deslumbrar-nos com um novo e horrivel fato, é outro Fialho, que talvez tenha saudades d'essa vida absurda de outros tempos...
Fialho! Fialho!... Pronuncio este nome e diante de mim desfila o assombro, pamphletos, a obscenidade e o genio—farrapos arrancados a ferro e tão vivos que mal ouso tocar-lhes—o estoiro d'uma bexiga d'entrudo—ironia e esgares. E logo gritos! e agora gritos!... Ouço a dor, sinto a dor, sinto-a sempre atravez da forma imprevista, d'uma audacia e d'um rithmo incomparavel, escorrendo sonho, aflição, miseria, sinto-a até nos impetos de máo gosto, nos pontapés aos leitores surprehendidos e irritados. Está aqui diante de mim aquella bocca enorme, aquella figura de gabinardo e chapeu molle que nas noites de tristeza e abandono me dizia:—O que eu sofri! o que eu sofri!...—Vejo-o sempre invejar o barqueiro louro e sardento, de que fala nos Gatos, bello como um ephebo á prôa do seu barco.—Como eu queria ter saude e ser forte!—Deu-lhe Deus o mais rico quinhão que imaginar se pode, a lingua incomparavel para exprimir a chimera e a dor, e, esse macaco sem fé, esbanjou-a com o mais absoluto impudor: serviu-lhe para a chacota. Transtornou tudo, engrandeceu tudo, riu-se de tudo. As descripções perderam a proporção, as figuras a realidade, transformadas em figuras de dor ou de grotesco; a propria cidade resurgiu a uma tinta livida de antemanhã, com a casaria a escorrer vicio e aspectos tetricos... É isto sim, mas isto creou-o elle de pobreza e desespero, creou-o de gritos que nunca ninguem lhe ouviu.—E maior! ficou maior! A sua obra só tem outra que se lhe compare, a de Camillo. Exigem-lhe um livro harmonico—Os cavadores. Porque é que toda a gente reclama dos outros aquillo de que elles são incapazes? A obra de Fialho não podia ser senão esta, aos arrancos e enorme. Fialho via os pormenores atravez d'uma lente, e deturpava tudo, deformava tudo, dando genio á propria obscenidade. Nunca conheceu Barjona, nunca viu Barjona, e, com duas ou tres anecdotas, creou uma figura com um relevo que falta ao mediocre Barjona da realidade. Precisou sempre de se exagerar para se encontrar. Sacrificou o seu melhor amigo a um dito, é certo, mas começou por se sacrificar a si próprio. Foi sempre o primeiro a sofrer. Houve tempo em que alguem o definiu um doente com inveja das doenças dos outros... Desatou então a gargalhar com lagrimas nos olhos. Perdeu o pé. Arrancou as azas disformes ao Sonho e rojou-as com maldade no enxurro.—Encharcou-as de lama e empoou-as de estrellas... O vestido ficou mas era o d'um espectro... Não nos podemos medir todos pela mesma craveira. Fialho tem de tudo na alma: a casa de hospedes, a existencia reles d'estudante, a pobreza, as mil saburras, os pequenos nadas que gastam, desgastam e transformam, e uma alma vibratil, um feixe de nervos (capaz de tempestades que se domam com uma palavra) ligado a uma enchente de sonho e a um orgulho doentio, como os que sentem dentro de si, e o suportam, um mundo desconhecido e nunca dantes navegado. Fialho, se o virassem do avêsso, escorria ternura... É tambem um timido capaz de todas as audacias, e que sae da doença e do isolamento com desespero e escarneo. Esta figura tão conhecida de todos nós, não é a exacta expressão da sua alma. Ainda hoje ninguem se entende...
Eça de Queiroz.—Desenho de Antonio Carneiro.
Silva Telles, por exemplo, conheceu um estudantinho aplicado e mediocre, que se chamava José Valentim Fialho d'Almeida; ha ainda talvez quem se recorde d'um moço de botica reservado e triste; e, o que é mais extraordinario, de outro Fialho respeitoso, que não podia suportar o exagero alheio, e d'outro, noctambulo e feroz, com risadas estridulas de sarcasmo—e de outro, de outro maior, de outro espectro, que vem aqui sentar-se a meu lado na sua tragica mudez. No fundo talvez tudo aquillo fosse dor. No fundo, bem no fundo, quando irrompia n'uma phrase cruel, não era aos outros que dilacerava, era a si proprio que se dilacerava, e tão a serio que todos o viamos sangrar. Reparem: pouco a pouco a figura range de dor. Arfa atravez da sua obra. É o filho do professor d'instrucção primaria, d'aquelle homem severo, de quem dizia baixinho:—O meu pae foi duro! o meu pae foi tão duro! Era um homem sem ternura...—É o praticante de botica alheado e transido, o neto deformado de cavadores, que inveja a sociedade distante, e que só aos impetos se atreve a enchel-a de sarcasmos. Que inveja o grande escriptor, o desgraçado Fialho, o homem de genio que passou a vida a fazer chacota das veneras, das academias, das elegancias, dos grotescos cobertos de patacos—que lhe faziam falta? Tanta tinta, tanto desespero calcado e recalcado, tanta contradição e pobreza, e uma lucta de noites e noites de que sae amarfanhado—e com paginas soberbas! Mas tu não vês que no dia em que te roçares por elles estás perdido, como no dia em que a cobra perde o veneno? Vae-se-te o melhor do teu genio...—Não, eu rio-me, eu sofro...—Tantas paginas bellas!—Se soubesses como isso se paga!—Então explica-te...—Não posso, não sei. Até dos idolos postiços que deito abaixo me ficam saudades... Nem eu proprio sei o que quero.—Pobre Camillo, que estoirou a cabeça de desespero, pobre Anthero, exilado e em debate com uma sombra com que não podia arcar; pobre Fialho, pobre cavador de genio, em perpetua discussão com os seus mortos, em lucta comsigo e com os outros e no fundo um reverente—foi-o sempre—sahindo em farrapos d'este inferno a que se chama a vida!...
Da sua existencia oculta faz parte uma figura de dor calcada e recalcada, sobre a qual outra se encarniça com desespero. Talvez seja a verdadeira... Contentemo-nos em fixar duas ou tres aparencias, apontando n'este canhenho algumas anecdotas frivolas... Se elle podesse gritar gritava ainda. D'essa figura contraditoria restam farrapos—mas que farrapos! d'essa lucta suprema existem vestigios, que nunca encarei sem espanto... Vio-o algumas vezes ao amanhecer, n'um 3.º andar do Arco da Bandeira, quando elle cahia exhausto sobre a banca de tortura, á luz d'um candieiro de petroleo, com um frasco d'alcool ao lado e o cobertor enrodilhado nos pés. A mascara livida estava de todo mudada. Era outro! era outro! Surprehendi-o em noites, nos giros sem destino pela Graça, pela Penha, pelo Monte—quando o seu dedo apontava boqueirões de treva, tropeis de casaria, sitios ermos onde duas ou tres oliveiras torcidas se ajuntam para concertar um crime, ou, peor ainda, nas horas de amargo descalabro, em que, dorido e sem phrases, procurava fugir de si proprio para muito longe. Não queria então que ninguem o seguisse nas caminhadas que duravam até ao dia—elle e a dor, elle e a noite! Amigos, silencio...
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—O que eu sofri!—dizia elle.—Tiveram-me preso oito annos n'uma botica alli na Bemposta, ao pé da Escola do Exercito, na idade em que queria viver. Estragaram-me a vida, encheram-me de desespero. Quando me soltaram não imagina a minha alegria! Podia ter sido outro... Ter saude, ser forte!... O que eu sofri! D'uma vez, no Reporter, o Martins mandou-me escrever um artigo sobre uma kermesse de fidalgas. Fui e fiz uma troça, e elle rasgou-me os linguados na cara. Para me vingar, tirando um bocado ás noites, escrevi um artigo formidavel para publicar em folheto. Era na occasião em que essas peidorreiras arranjavam um bazar para os pobres, que rendeu oitocentos mil reis. Ora eu descobri por acaso um gallego, que se juntava com outros e tiravam todas as semanas meio dia de ganho, para irem ao domingo ao hospital dar cigarros aos doentes, penteal-os, cortar-lhes as unhas, untar-lhes a cabeça com banha de porco. É um velho, de barba de passa piolho, que está sempre no largo de Camões. Homem de poucas falas. Tratou-me mal. Tive prompto o folheto em que comparava essas mulheres, cheias de snobismo, com adulterios e infamias, com esse santo desconhecido... Imagine... Perdi o artigo.
E depois, falando da mulher Oliveira Martins:—Não era a mulher que convinha áquelle homem. E elle subordinava-se-lhe. Foi ella que o fez confessar á hora da morte. Contou-me o Sousa Martins que a sacudira de ao pé de si ao morrer...
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Fala do livro A Cloaca, um d'estes livros que se sonham e nunca se chegam a escrever:
O primeiro capitulo está feito: é uma festa da alta sociedade no claustro da Batalha... Aproveito a epoca do Burnay e do marquez da Foz, a lucta da finança, quando o Foz tinha palacios e o Moser carro a duas parelhas. Deram-se festas esplendidas... Tenho as figuras todas, homens de negocio e jornalistas, o Mariano e o Navarro... Um dia alugam um comboio especial e vão dar uma festa no claustro da Batalha. É uma ceia formidavel, com mulheres da grande roda, politicos, literatos, e, dentro do claustro, entre a grandeza e a severidade d'aquellas pedras, caem de bebados e mijam pelos cantos, nos tumulos. O principe tambem lá está, com o conde de Maricas—fedes: no fim do banquete, á sahida, a babar-se, escreve nas paredes monumentaes esta palavra obscena: p... Os outros riem-se, as mulheres aplaudem. Fora a multidão apupa. Outro capitulo ha de ser a noite em que os jornaes apregoaram em suplemento o escandalo Foz e a sua prisão:—Foi n'essas horas—dizia a marqueza—que os cabellos se me puzeram brancos da noite para o dia.
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Nunca terminou outro livro A Quebra, que chegou a trezentas paginas impressas, no editor Costa Santos. Tinha capitulos admiraveis. Acabou por o inutilisar:—A minha dificuldade é a falta de proporções. Perco-me n'um incidente, e quando mal me percato estou em quatrocentas paginas.—Sei tambem que escreveu alguns capitulos d'Os Cavadores. Talvez d'Os Ceifeiros pertencessem a esse livro, em que elle queria pegar no homem do campo e leval-o, sempre explorado, desde o baptismo até á morte...