Читать книгу Cativa entre os seus braços - Carol Marinelli - Страница 5

Capítulo 1

Оглавление

– Nunca teria ido se me tivesses dito.

Maggie Delaney estava incomodada quando se dirigia de volta à hospedaria de Zayrinia com Suzanne, a sua companheira de quarto.

Maggie, ruiva e de pele muito branca, apanhara demasiado sol na Arábia, mas não era isso que a preocupava naquele momento, era o passeio inocente de barco que esperara que fosse algo muito diferente.

– Era praticamente uma orgia! – protestou.

– Não sabia que ia ser assim – justificou-se Suzanne. – Achava sinceramente que íamos fazer snorkel. Oh, vá lá, Maggie, relaxa um pouco!

Maggie ouvira isso muitas vezes na sua vida, especialmente no último ano.

Não era amiga íntima de Suzanne. Tinham-se conhecido há alguns meses, quando trabalhavam no mesmo bar, e tinham-se encontrado por acaso em Zayrinia.

Para Maggie, era o fim de um ano inteiro de férias a trabalhar e fora o ano mais incrível da sua vida. Viajara pela Europa e pela Ásia e poupara dinheiro suficiente para sair um pouco do caminho trilhado na viagem de regresso a casa. Incluíra uma paragem em Zayrinia na última etapa da viagem e apaixonara-se pelo lugar, mesmo antes de aterrar.

Pela janela do avião, vira que o deserto dava lugar a uma cidade espetacular, em que contrastavam arranha-céus reluzentes com uma cidadela murada antiga. E, depois, na manobra de aproximação final, tinham sobrevoado o oceano reluzente e o porto desportivo cheio de iates luxuosos. Maggie apaixonara-se por Zayrinia à primeira vista.

Naquele dia, era o aniversário da morte da mãe e acordara um pouco triste. Depois, Suzanne dissera-lhe que tinha um bilhete para um passeio de barco ao recife de coral.

A inquietação de Maggie começara antes de entrar a bordo.

Em vez de um barco de snorkel, tinham-se aproximado de um iate de luxo, mas Suzanne desprezara a preocupação de Maggie.

– Eu ofereço – dissera, sorrindo –, antes de voltares para Londres. Estás desejosa de ir para casa?

Maggie não tivera tempo para responder antes de Suzanne interromper.

– Desculpa, é uma pergunta inoportuna, tendo em conta que não tens ninguém à tua espera lá.

Essa desculpa insensível fora mais dolorosa do que o comentário inicial, mas Maggie não soubera o que responder. Há muito tempo, contara à amiga que estivera em muitas casas de acolhimento desde os sete anos e que não tinha família.

– Ou há alguém à tua espera? – insistira Suzanne. – Continuas em contacto com alguma das tuas famílias de acolhimento?

– Não!

A resposta de Maggie fora rápida e um pouco dura. Sentia-se muito consciente de que, às vezes, parecia brusca. Fora algo em que tentara trabalhar durante esse ano. Mas não era fácil abrir-se com as pessoas e Suzanne tocara num ponto fraco. Quando tinha doze anos, tinham prometido muitas coisas a Maggie. Durante uns meses, achara que fazia parte de uma família. Já acontecera uma vez antes.

Um ano depois da morte da mãe, fora acolhida por um casal jovem, mas o casamento acabara e ela voltara para o orfanato. Por um tempo, recebera presentes de aniversário e de Natal, mas isso acabara. Magoara-a, é claro, mas nada comparado com o que acontecera alguns anos depois, quando fora acolhida por outra família. Maggie já não esperava nada, mas Diane, a mãe adotiva, esforçara-se para lhe dar tudo só para voltar a tirar depois friamente.

Maggie esforçava-se para não pensar naquilo. Não contara a ninguém o que acontecera naquele dia horrível, nem sequer a Flo, a melhor amiga.

– Tenho amigos – declarara, esforçando-se para não parecer à defesa e para que Suzanne não percebesse que a magoara.

– É claro que sim. Mas não é o mesmo, pois não?

Maggie não respondera.

Suzanne, com frequência, feria os seus sentimentos sem se aperceber. Maggie tentava ser mais confiante e aberta com as pessoas, mas não lhe saía facilmente. Sentia-se muito consciente de que era um pouco cínica e de que estava sempre de pé atrás, algo que fora útil em alguns dos lugares onde vivera.

Mesmo assim, tentava.

Por isso, em vez de explicar que o comentário a magoara e perguntar a Suzanne onde conseguira o convite, entrara a bordo.

Quando o iate zarpara, tornara-se cada vez mais claro que não iam fazer um passeio ao recife de coral. O que havia no barco era uma festa muito exclusiva e parecia que elas estavam lá como acompanhantes.

Contudo, a menos que quisesse saltar para o mar, já havia pouco que Maggie pudesse fazer. Vestida com um biquíni e um pareo, sentia-se vulnerável. Ao princípio, tentara sorrir e aguentar, mas sentira-se demasiado consciente dos olhos que percorriam o seu corpo e isso fizera-a sentir-se extremamente incomodada e irritada, embora Suzanne não parasse de lhe pedir para relaxar.

Maggie recusara o champanhe gratuito que fluía sem cessar, mas, farta de água e precisando de algo doce por causa daquele sol feroz, pedira um coquetel sem álcool.

Deram-lhe uma bebida com sabor a especiarias e a canela, que lhe soube muito bem, até, quando ia a meio, começar a sentir-se doente e enjoada.

Pensara que podiam ter entendido mal o seu pedido, embora fosse duvidoso, e sentira-se agradecida quando Suzanne a tirara do sol e a levara para um camarote para se deitar.

– Demoraste séculos a voltar – comentou Suzanne, quando já se via a hospedaria. – Vá lá, conta-me. O que é que o príncipe sensual e tu fizeram?

Maggie parou.

– Nada – respondeu. – Como podia saber que estava no camarote real?

– E como é que eu podia saber? – inquiriu Suzanne, com calma. – Foi um erro, garanto-te.

Maggie encolheu os ombros e fez o possível para esquecer o assunto. Embora parecesse que, com Suzanne, tinha de fazer isso com frequência. Mas ficou em silêncio novamente, preferindo acreditar que fora um simples mal-entendido e agradecida por não ter acontecido algo grave. De facto, fora agradável esconder-se durante algumas horas na frescura do camarote, ainda que, ao princípio, fosse estranho ver o príncipe entrar e encontrá-la deitada na sua cama.

Suzanne presumia que acontecera mais alguma coisa.

Não era verdade.

Com ela, nunca acontecia.

Às vezes, questionava-se porque a sua libido era tão baixa, pois nem sequer ver um príncipe sensual com apenas uma toalha ao redor das ancas conseguia excitá-la.

Ao princípio, fora estranho. Desculpara-se, é claro, e tinham acabado por falar.

Não acontecera mais nada.

Quando entrou na hospedaria, Maggie só queria tomar banho, comer alguma coisa e responder a algumas mensagens de correio eletrónico. Paul, o chefe no café em que trabalhara antes de ir de viagem, tinha poucos empregados e pedira-lhe para lhe dizer quando chegaria a casa e se queria o seu antigo emprego.

Também queria enviar uma mensagem à sua amiga Flo que, sem dúvida, se riria ao imaginar Maggie sozinha num quarto com um príncipe sensual e que ambos se tinham limitado a conversar.

Depois disso, só queria ler em paz.

Talvez fosse pedir muito, tendo em conta que se hospedava num quarto de quatro camas na hospedaria, mas Suzanne inscrevera-se para o passeio para ver as estrelas e as outras duas mulheres tinham-se ido embora naquela manhã.

Com sorte, não teriam chegado mais.

– Maggie!

Chamavam-na da receção. A jovem dirigiu-se para lá enquanto Suzanne ia para o quarto.

Tazia, a rececionista, esboçou um sorriso de desculpa.

– Acabámos de saber que o passeio de amanhã para ver as estrelas foi cancelado porque está prevista uma grande tempestade de areia. Posso devolver-te o dinheiro.

– Oh, não! – Maggie suspirou. Tinha muita vontade de fazer aquele passeio.

– Lamento – desculpou-se Tazia, quando lhe devolvia o dinheiro. – O máximo que posso fazer é inscrever-te para segunda-feira, mas até isso dependeria de a tempestade acabar antes.

Maggie abanou a cabeça. O seu voo saía na segunda-feira de manhã, portanto, aquilo não lhe servia.

– E esta noite? – perguntou, embora estivesse muito cansada.

– Está cheio. Falei com mais dois operadores, mas com o tempo tão imprevisível, a maioria já não sai com turistas esta noite.

Era uma grande desilusão e Maggie arrependeu-se de não ter optado por fazer o passeio naquela noite, mas quisera fazê-lo sozinha e não com Suzanne.

– Obrigada na mesma – agradeceu. – Se houver algum cancelamento, avisa-me, por favor.

– Não contaria com isso – replicou Tazia. – És a décima na lista de espera.

Simplesmente, não estava destinado a acontecer.

Maggie foi ao quarto buscar o nécessaire antes de ir para os duches.

– O que é que Tazia queria? – perguntou Suzanne.

– A viagem de amanhã ao deserto foi cancelada. – Maggie suspirou. – Vou tomar banho.

– Enquanto o fazes, emprestas-me o teu telemóvel? Só quero mandar uma mensagem ao Glen.

O telemóvel de Suzanne molhara-se e usava o de Maggie há alguns dias.

– Está bem – acedeu.

O duche não era um luxo, mas, depois de um ano em hospedarias, Maggie estava mais do que habituada. A água era fria e refrescante, portanto, ficou algum tempo por baixo do jorro, lavando a quantidade enorme de creme solar que pusera porque tinha a pele muito branca. Depois, pôs acondicionador nos caracóis ruivos e pensou no que acontecera nesse dia.

Sentia-se muito consciente de que, no terreno sexual, estava muito atrás das suas amizades.

Não era por falta de oportunidades. No café em que trabalhava antes, havia muitos clientes que queriam sair com ela. Maggie aceitava um encontro de vez em quando, mas sempre com o mesmo resultado. A soma total do seu repertório sexual era alguns beijos incómodos.

Mesmo assim, embora não tivesse havido atração, fora interessante falar com Hazin. Apesar da sua beleza e dos seus privilégios, parecia um homem pragmático. Normalmente, quando dizia a alguém que não tinha família, mostravam-se compassivos com ela. Hazin sorrira e dissera que tinha sorte, para depois continuar a falar dos seus pais e da frieza com que tinham criado o seu irmão Ilyas e a ele.

Maggie perguntara-lhe se estava muito unido ao irmão e Hazin respondera que ninguém podia estar unido a Ilyas.

Sim, fora interessante e, agora, desejava escrever a Flo e contar-lhe tudo. Fechou a torneira e pegou na toalha.

Por sorte, o creme solar fizera o seu trabalho e só tinha os ombros um pouco rosados. O resto estava tão branco e sardento como sempre.

Era incapaz de se bronzear e há muito que deixara de tentar. De facto, parecia que acabara de sair de um inverno inglês e não de um verão no Médio Oriente.

Vestiu umas calças claras de ioga e uma t-shirt de manga comprida. Embora os dias fossem quentes no deserto, as noites eram frias. Quando voltou ao quarto, viu que Suzanne fazia a mala.

– Preparas-te para esta noite? – perguntou Maggie.

– Não. Houve uma mudança de planos. Vou ter com o Glen ao Dubai.

– Oh! Esta noite?

– Tenho de ir buscar o bilhete ao aeroporto.

– Caramba! Bom, suponho que tenhamos de nos despedir aqui, então.

Suzanne assentiu com um sorriso.

– Foi agradável passar tempo contigo.

– Estou de acordo – confirmou Maggie, com cortesia. Nenhuma das duas se ofereceu para continuar em contacto.

Maggie estava habituada às despedidas. Ainda recordava uma em que fora a correr para casa da nova escola para ver o novo cachorrinho e, em casa, encontrara uma assistente social, que lhe dissera que estava na hora de voltar ao mesmo de sempre.

Maggie nunca esqueceria os olhos azuis frios de Diane quando lhe pedira para ver o cachorrinho.

– Posso despedir-me do Patch? – perguntara.

– O Patch não está aqui – respondera a assistente social.

Maggie não chorara quando punham as malas no carro da assistente social e também não o fizera ao sair daquela casa.

As lágrimas não ajudavam. Se o fizessem, a mãe ainda continuaria viva.

Sim, estava habituada às despedidas e a de Suzanne era um alívio.

– Eh! – exclamou ela, de repente. Abriu a carteira. – Podes usar isto.

Maggie olhou para o bilhete para o passeio daquela noite.

– Tens a certeza?

– Não vou usá-lo. Tencionava deixá-lo na receção e pedir que me devolvessem o dinheiro…

– Não o faças. – Maggie deu-lhe o dinheiro que Tazia lhe dera. – Estou muito abaixo na lista de espera.

– Então, terás de usar o meu nome. Também paguei para andar de camelo. – Suzanne sorriu. – Despacha-te, o autocarro sai às oito.

Maggie tinha o tempo exato para prender o cabelo num rabo de cavalo e fazer uma mala pequena para aquela noite.

– Vou-me embora – disse Suzanne.

– Boa viagem.

– Igualmente. E não te esqueças de que, por esta noite, és a Suzanne.

Cativa entre os seus braços

Подняться наверх