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Capítulo 2

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O príncipe herdeiro, o xeque Ilyas de Zayrinia, nascera para ser rei.

E fora só isso.

Os pais não tinham tido nenhum desejo de ser pais e não tinham extraído nenhum prazer do seu filho.

Tinham tido o herdeiro de que o país precisava e, depois, tinham tido outro para o substituir, pelo sim pelo não.

Ilyas vira-os muito poucas vezes fora dos eventos oficiais e fora criado numa zona afastada deles no palácio enorme. Tivera amas que o alimentavam e lavavam e idosos que lhe davam aulas.

Fora uma vida ocupada e totalmente desprovida de afeto.

Quando tinha quatro anos, Hazin nascera, mudando o tio que odiava o pai para o terceiro lugar na linha de sucessão. Dois meses depois, Ilyas aparecera na varanda real ao lado dos pais e só então é que percebera que o bebé que a mãe tinha ao colo era o seu irmão. Virara a cabeça para o ver, mas tinham-lhe dito para olhar em frente.

– Posso vê-lo? – perguntara à mãe, a rainha, quando saíam da varanda.

Mas a mãe abanara a cabeça.

– O Hazin tem de ir comer – declarara, antes de dar o bebé a uma ama –, e tu tens de ir para as tuas aulas, embora o rei Ahmed queira falar contigo primeiro.

Tinham-no levado ao pai, que estava a falar com Mahmoud, o seu vizir.

– Muito bem, Alteza – elogiara Mahmoud, pois congregara-se uma grande multidão fora do palácio para cumprimentar o novo príncipe.

O rei mostrara-se menos impressionado com o comportamento de Ilyas na varanda.

– No futuro, não te mostres tão inquieto – avisara.

– Só queria ver como é o meu irmão.

– É apenas um bebé – replicara o rei. – Lembra-te, no futuro, olha sempre em frente, independentemente do que se passar à tua volta.

Os irmãos tinham estado quase sempre afastados. Tinham considerado que Ilyas estava demasiado avançado nos seus estudos para ser atrasado. Hazin, que era apenas um suplente, acabara numa escola de Inglaterra.

Fora Ilyas que nascera para ser rei.

Nas suas primeiras duas décadas de vida, absorvera os ensinamentos e a sabedoria dos mais velhos e todos presumiam que estava de acordo com eles porque cumpria bem com os seus deveres.

Os pais achavam que a disciplina rígida da sua educação funcionara bem, mas aquilo não era obediência filial. Não entendiam que era o próprio Ilyas que era disciplinado, que escolhera cumprir as regras.

Naquele momento.

Quando fizera vinte e dois anos, a tragédia atingira o palácio. O pai e o conselheiro tinham decidido que um casamento real animaria os habitantes do país e que era hora de Ilyas se casar. Tinham convocado uma reunião para o informar da sua decisão.

Mas Ilyas mostrara-se em desacordo.

– Não há necessidade de me casar.

O rei Ahmed franzira o sobrolho, presumindo que Ilyas entendera mal, pois o rei estava habituado a que se cumprissem as suas exigências.

No entanto, Ilyas mantivera-se firme no assunto do casamento.

Aceitara o conselho do pai de olhar para o futuro e tinha muitos planos, mas não havia ninguém com quem pudesse arriscar-se a partilhar esses planos.

Ninguém.

O casamento não era algo que queria considerar naquele momento, por isso rejeitara a sugestão do pai. O rei insistira.

– Um casamento, seguido de um herdeiro, agradaria ao nosso povo.

– O povo chorará quando chegar o momento – replicara Ilyas. – Vou casar-me quando for o momento oportuno, não quando tu decidires.

Nesse momento, olhara para Mahmoud, que empalidecera ao ouvir aquele desafio à autoridade absoluta do rei.

– Disse que quero que te cases! – gritara o rei.

– O casamento é um compromisso para o resto da vida e não estou disposto a fazê-lo agora. Por enquanto, basta-me o harém. – Ilyas voltara a olhar para Mahmoud e seguira em frente com a reunião. – Ponto seguinte.

Ilyas era rígido, mas justo; equilibrado, mas frio e o povo de Zayrinia adorava-o e desejava em silêncio que chegasse o dia em que seria rei.

À medida que a saúde do rei se deteriorava, o poder de Ilyas aumentava, embora não o suficiente para o seu gosto. Porém, naquela sexta-feira em particular, quando Mahmoud anunciou que uma nova crise ameaçava ao palácio, foi Ilyas que assumiu o controlo.

– Já lidámos com ela – informou ao seu pai, com calma, embora o tom âmbar dos seus olhos cor de avelã brilhasse de irritação. Porque raios falara da última indiscrição do irmão mais novo à frente do rei?

– Mas que tipo de festa era? – perguntou o monarca.

– Era apenas uma reunião – indicou Ilyas, com suavidade. – Tu próprio disseste que querias que o Hazin viesse a casa com mais frequência.

– Sim, mas para cumprir os seus deveres reais – respondeu o rei. Olhou para o assistente. – Que tipo de festa deu no seu iate?

Ilyas conseguia adivinhar perfeitamente que tipo de reunião depravada acontecera.

O irmão era famoso por elas.

Quase.

O palácio esforçara-se para esconder os escândalos que Hazin deixava atrás ele e o rei decidira que já estava farto. O rei Ahmed al-Razim estava mais do que disposto a deserdar o filho mais novo e privá-lo dos seus privilégios e do título.

Muitos diriam que Hazin merecia.

Mas Ilyas não se deixava influenciar pelos outros. Nem sequer pelo pai.

– Falei com o Hazin antes de se ir embora – disse. – Garantiu-me que foi apenas uma saída de um dia com amigos antes de regressar a Londres.

– E recordaste-lhe que, se houver mais um indício de escândalo, já não poderá usar o apartamento de Londres? Disseste-lhe que cancelarei as suas contas e não terá acesso aos iates ou aos aviões privados da família?

– Disse-lhe, sim.

– Talvez, se tivesse de trabalhar para viver, gastasse o dinheiro com mais sabedoria.

– O Hazin é rico por direito próprio – disse Ilyas ao pai.

– Poucos são suficientemente ricos para manter os seus hábitos – resmungou o rei. – Mais vale que se emende, Ilyas.

O rei saiu do escritório. Mahmoud falou com preocupação.

– O seu pai tem de saber que estão a chantagear o palácio para não tornar os segredos do Hazin públicos. Se isto se souber, será um desastre – insistiu. – O Hazin já teve demasiadas oportunidades.

– Disse que me encarregarei disso – avisou Ilyas.

– O rei Ahmed tem de saber! Temos de pagar a essas pessoas. Fui o seu conselheiro durante quase meio século…

– Já deve ser hora de te reformares – interrompeu Ilyas e Mahmoud soprou de indignação. – O palácio não deve ceder às ameaças. – Encolheu os ombros. – Não acho que exista um vídeo sexual.

– Não tenho assim tanta certeza – replicou Mahmoud. – Se não pagarmos antes do meio-dia de segunda-feira, tornarão o vídeo público. A mulher voltou a entrar em contacto.

Ilyas leu as mensagens que, há uma semana, chegavam ao servidor privado, mas as exigências eram mais específicas agora, estabeleciam a soma de dinheiro que queriam e onde e quando tinham de o depositar para impedir a publicação do vídeo.

– É muito atrevida – disse Mahmoud.

Ilyas não estava de acordo com isso.

– Não – respondeu. – Se a tal Suzanne acha que pode chantagear-me, é uma estúpida.

Examinou as fotografias anexas à mensagem e soube depressa que tinham sido tiradas a bordo do iate do irmão.

Uma ruiva esplêndida de olhos verdes e grandes e pele pálida de aspeto delicado fora fotografada com um biquíni verde.

Havia outra fotografia, granulosa, como se a tivessem tirado de longe, que a mostrava deitada numa cama quando Hazin entrava no que Ilyas sabia que era o camarote real.

A mensagem avisava que as imagens mais explícitas tiradas dentro do camarote seriam perturbadoras, mas Ilyas não acreditava.

– Se tivessem mais, tê-las-iam enviado.

– Têm mais – afirmou Mahmoud.

Ilyas passou para a fotografia seguinte, em que aparecia o irmão de frente, numa posição muito pouco majestosa.

Hazin estava completamente nu, embora para ser justo, Ilyas parecesse estar a tomar banho, presumivelmente, depois de ter nadado.

– Isto não é nada que o nosso público sofrido não tenha visto. Na Internet, circulam incontáveis fotografias do Hazin nu. Não é nada.

Na verdade, era muito. Hazin parecia-se com o irmão nesse aspeto e isso era evidente na fotografia.

Mas havia outro assunto.

– Esta fotografia foi tirada nas águas da Zayrinia – indicou Mahmoud. – Até pode ver-se o palácio ao longe. O rei prometeu ao povo que não haveria mais escândalos do Hazin.

Nesse caso, o parvo era o pai.

Hazin e Ilyas podiam ser parecidos em certos assuntos, mas eram de naturezas muito diferentes. Ilyas simplesmente não lidava com sentimentos e encontrava-os tão raramente que, quando isso acontecia, tinham pouca influência sobre as suas decisões. Era um homem muito lógico e concentrado, enquanto o irmão optava por ter a vida de um playboy. E, no entanto, Ilyas tinha a certeza de que, depois do aviso que lhe fizera antes da sua visita, Hazin, daquela vez, não se teria portado mal tão perto de casa.

Naquele momento, ia a caminho de Londres num avião privado e desconhecia os últimos acontecimentos.

– Não faças nada – disse Ilyas a Mahmoud. – Se houver mais algum contacto, quero que me informem, não ao meu pai.

Percebeu que o vizir ainda continuava com dúvidas sobre se devia informar ou não o rei. Ilyas examinou novamente as fotografias. Apesar das suas palavras, só a imagem em que aparecia nu podia fazer danos. As pessoas costumavam esquecer as transgressões de Hazin no estrangeiro, mas não seriam tão magnânimas se trouxesse o escândalo para casa.

Depois, olhou para a mulher. Não sabia se seria a tal Suzanne ou se era apenas o isco com que tinham tentado Hazin.

Entendia perfeitamente que o irmão o tivesse mordido.

Ela era espetacular.

O vento deitava o seu cabelo ruivo para trás, comprido e ondulado, e o seu corpo não era como os corpos das mulheres que iam a esse tipo de festas.

Era incrivelmente branca, com sardas nos braços e nas coxas. O seu corpo era esbelto e as suas curvas subtis e muito femininas. Os seus lábios eram grossos e, na fotografia, estavam entreabertos num sorriso.

No entanto, o sorriso não chegava aos olhos e Ilyas tinha a certeza de que era falso.

Sim, ela era o assassino sorridente.

– Não faças nada sem as minhas instruções – repetiu Ilyas. – E contacta-me se for necessário. Agora vou ao hammam.

– Alteza… – Mahmoud assentiu e fez uma inclinação de cabeça antes de sair.

O palácio era fantástico.

O edifício gigantesco de mármore parecia, de fora, estar situado por cima de um canhão vermelho, à beira do Golfo Pérsico. Olhava de cima para a cidade que fervia de atividade, exceto pelo lado oeste, que dava para o deserto.

O palácio era uma verdadeira obra de arte e fora construído ao redor de um oásis natural que ainda continuava a existir. Era vasto e continha muitas residências, assim como zonas para funções formais e espaços para a oração.

Mas guardava mais segredos, pois não estava simplesmente situado por cima de uma falésia, fora esculpido de dentro.

Os túneis que havia por baixo do edifico estavam decorados com desenhos antigos e mosaicos detalhados. Ilyas desceu primeiro os degraus esculpidos em mármore, que depressa deram lugar a outros esculpidos nos alicerces.

Lá, o ar era mais fresco. Ilyas dirigiu-se para o seu túnel privado, onde círios gigantes iluminavam o caminho. O som da água a cair ao longe fazia-o confiar que não demoraria a desaparecer a preocupação que o corroía.

O hammam era divino e algumas zonas eram acessíveis por diferentes caminhos, mas poucos podiam aventurar-se por onde estava Ilyas naquele momento.

Era um mundo que poucos sabiam que existia.

A peça central era uma gruta com uma cascata e a corrente contínua oferecia um fundo audiovisual espetacular. Havia vários lagos e cataratas mais pequenas, que caíam em lagos maiores por baixo do hammam. Quando a luz era apropriada, a entrada para um das grutas estanque emitia um brilho vermelho profundo por causa dos rubis do subsolo. De dia, entravam raios de sol que criavam uma catedral natural, de noite, eram as estrelas e a lua que banhavam a água com a sua luz. Na verdade, era um refúgio digno de reis.

Ilyas tirou o robe e mergulhou num lago profundo. Mas a tensão continuava presente nele quando saiu para a superfície.

Apesar da sua calma aparente à frente de Mahmoud, estava muito preocupado.

Sabia que parecia tão frio e indiferente como o pai, mas não fora cortado pelo mesmo padrão.

Não queria que deserdassem Hazin, mas sabia que esse dia se aproximava. Apesar dos seus esforços, dava a impressão de que nada conseguiria mudar isso.

Não havia nada que pudesse fazer, exceto estar vigilante, mas, por enquanto, podia tentar relaxar.

Era muito estranho dispor de um fim de semana completo para fazer o que queria.

Normalmente, tinha vários compromissos e, com frequência, viajava para o estrangeiro, tanto para forjar novas relações como para tentar reparar as que o reinado do seu pai destruíra.

Chamou uma das massagistas e aproximou-se da mesa grande de mármore que havia no centro da zona onde se deitou de barriga para baixo para que lhe esfregassem a pele com sal.

Depois, levantar-se-ia e passar-se-ia por água na cascata. Olhou para o deserto daquele ponto de vista privilegiado. Poucos sabiam que existia, mas havia uma vista sem interrupções da areia do deserto e do céu.

Mais tarde, chamaria uma mulher do harém.

O pai continuava a pressioná-lo regularmente para que escolhesse uma esposa, mas Ilyas recusava-se.

E quem podia culpá-lo?

Ao longo de um dos túneis, conseguia ouvir as gargalhadas distantes do harém e, por cima dele, havia um cordão de veludo que podia puxar quando quisesse. Deitado ali, com a cabeça no antebraço e a pensar em sexo, recordou a mulher da fotografia que Mahmoud lhe mostrara.

Mãos peritas trabalhavam na parte inferior das suas costas, mas não foi a habilidade da massagista que fez com que Ilyas mudasse de posição na laje fria de mármore.

O que o excitou foi pensar na mulher com uma labareda de cabelo avermelhado e pele pálida e sardenta.

– Alteza… – O som da voz de Mahmoud não foi nada bem-vindo. – Peço desculpas por o incomodar.

– O que se passa agora? – perguntou Ilyas, com raiva.

– A mulher da fotografia. Descobri que continua no país. Aparentemente, esta noite, inscreveu-se para um passeio.

– Então, é verdade que é estúpida – resmungou Ilyas. Pois ninguém com sensatez permaneceria num país que ameaçara de um modo tão explícito.

– Rastreámos o telemóvel dela e parece que irá ao passeio das estrelas.

– Esta noite, haverá poucas estrelas, visto que se espera um simum. – Só o esperavam no dia seguinte, mas o vermelho do céu já era um presságio. – Esta noite, não devia haver turistas no deserto.

– O passeio saiu. Ela está lá fora, Alteza – disse Mahmoud e apontou para o deserto.

Ilyas sabia que alguns operadores turísticos ignoravam os avisos. Era um problema recorrente, mas não era o que o preocupava naquele momento.

– Traz-ma.

– Aqui? – Mahmoud parecia surpreendido. – Se o rei descobrir…

– Aqui não – interrompeu Ilyas. – Faz com que a levem para a casa do deserto. Vou falar com ela lá.

– Pode ficar isolado por causa da tempestade.

Ilyas estava habituado aos truques do deserto e desfrutava sempre da sua estadia lá. Procurava força e sabedoria e a ideia de ficar isolado não o preocupava.

– Talvez essa tal Suzanne devesse ter considerado isso antes de fazer as suas ameaças – declarou.

Despediu-se de Mahmoud com um gesto, levantou-se da mesa de mármore e aproximou-se da cascata.

Ocupar-se-ia daquela mulher impossível e, depois, escolheria uma do harém.

Cativa entre os seus braços

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