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Capítulo 1

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Kate estava a despedir-se dos seus alunos antes de começar a «Semana Branca», quando o director a chamou.

– Podes fazer-me um grande favor? – perguntou-lhe Bill Vincent.

– Claro que sim. O que se passa?

– Poderias ficar um pouco com Abby Cartwright? O seu pai está ao telefone, do hospital…

– A mãe de Abby já teve o bebé?

– Ainda não, mas está em trabalho de parto.

– Mas faltavam-lhe algumas semanas…

– Daí o pânico. Felizmente, os avós chegam hoje. O tio de Abby foi ao aeroporto de Heathrow e vem buscá-la quando estiver de volta.

– Então suponho que vai demorar muito – suspirou Kate.

– Eu ficaria com ela, mas tenho uma reunião…

– Não te preocupes, levo-a para minha casa.

O director sorriu, aliviado.

– Muitíssimo obrigado. Não te importas de o dizer a Tim Cartwright? Eu fico com a tua turma.

Suspirando, Kate dirigiu-se ao escritório para falar com o preocupado senhor Cartwright.

– Estou numa cabina do hospital, menina Dysart, de modo que serei breve. A Julia está muito preocupada com Abby e quer que eu vá para casa, mas não quero deixá-la sozinha…

– Não, claro que não.

– O senhor Vincent disse-me que a senhora tomaria conta da minha filha, mas provavelmente o meu cunhado chega tarde. Importa-se?

– Claro que não, senhor Cartwright. O senhor fique com a sua mulher, que eu levo a Abby para minha casa. É a casa Laurel, no fim da vila… por favor, diga-o ao seu cunhado.

Depois de desligar, voltou para a sua sala para dizer a Bill Vincent que estava tudo resolvido.

Enquanto os outros meninos saíam ruidosamente para começarem as férias, Kate sentou-se na mesa de Abby. A menina olhou-a, com os olhitos azuis cheios de ansiedade.

– O teu pai não pode vir buscar-te. Acaba de levar a tua mãe para o hospital e…

– Mas o meu irmão ainda não pode nascer, menina Dysart! É muito cedo! – exclamou a menina.

– Não te preocupes. O menino tem um pouco de pressa, mais nada. O teu tio virá buscar-te, quando voltar do aeroporto.

– Foi buscar os meus avós?

– Penso que sim.

– Mas então terei que esperar no colégio até que chegue.

– Não, levo-te para minha casa.

Depois de guardar as suas coisas na pasta e comprovar que não ficava nenhum menino escondido debaixo de alguma mesa, Kate levou Abby pela mão até ao seu carro. O colégio era tão pequeno que não tinha parque de estacionamento, de modo que o deixava na rua.

Quando estava a tirar as chaves, um homem saiu de um carro estrangeiro estacionado ali perto.

Kate olhou-o, atónita, convencida de que estava a ter visões.

Mas Alasdair Drummond, mais alto do que se lembrava, era uma figura demasiado sólida para ser uma visão.

– Olá, Kate.

– Alasdair, que grande surpresa. O que estás aqui a fazer?

– Vim ver-te – respondeu ele. – Sei que deveria ter-te telefonado, mas venho de um funeral e ocorreu-me passar pelo colégio para ver se te via.

Kate voltou-se para a menina.

– Porque não entras no carro enquanto eu falo com este senhor, Abby? Não me demoro.

Depois de apertar o cinto de segurança, voltou-se para Alasdair Drummond, muito séria. Há tempos teria dado qualquer coisa para o ver, mas isso tinha sido há muito tempo.

– É uma das tuas alunas?

– Sim, por isso não posso demorar-me muito tempo. Nem sequer posso pedir-te que venhas a minha casa tomar um café.

– Eu esperava mais do que um café – suspirou ele, olhando-a nos olhos. – Tem piedade de um velho amigo, Kate. Janta comigo esta noite.

– Desculpa, Alasdair. Tenho muitas coisas para fazer. Amanhã vou a casa dos meus pais e…

– Eu sei. O teu irmão disse-me.

– Viste o Adam?

– Está a arranjar uns móveis para mim.

E Adam não lhe tinha contado?

Kate viu então a carita angustiada de Abby pela janela.

– Desculpa, tenho que me ir embora.

– Telefono-te mais tarde – disse ele, apertando-lhe a mão. – Adam deu-me o teu número de telefone.

Kate murmurou uma despedida e entrou no carro, tentando manter a calma.

– Desculpa, Abby.

– Não faz mal, menina Dysart.

Mas tinha-o dito com os olhos cheios de lágrimas.

– O que foi, querida?

– Dói muito ter um filho, menina Dysart?

– Não posso falar por experiência própria, mas os meus sobrinhos chegaram ao mundo sem problemas. Não te preocupes, Abby. Vai tudo correr bem.

A casa de Kate ficava na periferia da vila. Na província de Herefordshire, Foychurch era um local muito agradável, com pessoas tão acolhedoras que logo se sentiu como se estivesse em sua casa.

Quando chegaram, abriu a porta e fez um sinal à sua pequena convidada para entrar.

– Que casa tão bonita, menina Dysart.

– Está bem para uma pessoa sozinha – assentiu ela, pegando no casaco da menina. – Vou fazer um chá, apetece-te?

O telefone tocou quando estava na cozinha.

– Menina Dysart? Sou Jack Spencer, o tio de Abby.

– Olá, senhor Spencer.

– Estou no aeroporto e, pelos vistos, o voo está atrasado.

– Não se preocupe. Abby e eu iamos agora tomar um chá.

Kate desligou depois de lhe dar a sua direcção.

– Era o meu tio?

– Sim. Vai demorar um pouco, porque o avião em que vêm os teus avós atrasou-se.

– Lamento incomodá-la – desculpou-se a educada menina.

– Não me incomodas nada.

– O tio Jack é irmão da minha mãe. Dedica-se à construção.

Aquela palavra invocou uma imagem de calças de ganga e peito musculoso, que combinava muito bem com a voz que tinha ouvido pelo telefone.

– Tenho que telefonar à minha mãe. Fica a vigiar a cafeteira, está bem?

– Está bem.

Kate subiu para o seu quarto, para explicar à sua mãe porque não chegaria a Stavely à hora prevista.

– Se vierem buscar Abby muito tarde, não posso levantar-me cedo.

– Pobre mulher – suspirou Frances Dysart. – Espero que o parto corra bem.

– Eu também o espero. É verdade, esta não foi a única surpresa do dia, mamã. Não imaginas quem estava à minha espera à porta do colégio. Alasdair Drummond.

– Ah, sim, Adam disse-me que se tinham encontrado.

– Sabias? A sério, mamã, podias ter-me dito.

– Alasdair queria fazer-te uma surpresa.

– E fez.

– Vais jantar com ele?

– Não, tenho outros planos. Abby, lembras-te?

– E Alasdair ficou desiludido, suponho.

– Não acho. Desenrascou-se muito bem sem mim durante todos estes anos – replicou Kate.

– Tenho que dizer-te uma coisa… Adam pediu-lhe para vir ao baptizado.

– O quê?

– Querida, o teu irmão pensou que ficarias feliz.

Kate esboçou um sorriso.

– Não te preocupes. Não serei muito dura com o novo papá. Como está Gabriel?

– Muito bem. O seu filho deixa-a dormir de vez em quando…

– Suponho que Adam muda as fraldas.

– Sim, sim, está dependente do menino. Bom, querida, liga-me amanhã quando saíres de casa.

Kate ficou a olhar para o telefone, aborrecida com Adam por ter convidado Alasdair para o baptizado do filho.

Alasdair tinha sido o seu primeiro amor e, depois de tantos anos, continuava a incomodá-la. Mas negava-se a jantar com ele assim, de repente, quando decidia estalar os dedos. Sempre tinha sido um homem muito seguro de si mesmo e, nesse aspecto, não parecia ter mudado nada.

Mas ela sim. E depressa se daria conta de que Kate Dysart já não era a estudante apaixonada que tinha sido no passado.

– Menina Dysart? – Ouviu uma voz trémula. Kate desceu as escadas a correr.

– Desculpa, Abby. Estava a falar com a minha mãe.

– Posso ir ao quarto de banho?

– Sim, claro. A cafeteira já apitou?

– Há um bocadinho.

– Muito bem. Enquanto vais ao quarto de banho, eu vou mudar de roupa e depois faremos o jantar. Está bem?

– Está bem.

– Não demoro nada.

Kate correu de novo para o piso de cima. Gostaria muito de tomar um longo banho de espuma, mas… Cinco minutos depois, de calças de ganga e blusa, desceu de novo para a sala. Abby olhou-a, admirada.

– Menina Dysart, que bonita fica com o cabelo solto.

– Tirei o puxo, gostas?

– Tem um cabelo tão bonito…

– Muito obrigada – sorriu Kate. Na verdade, estava muito orgulhosa do seu comprido cabelo escuro. – Que tal se tomarmos o chá enquanto fazemos o jantar?

– Muito bem.

– Gostas de cozinhar?

– Às vezes ajudo a minha mãe – sorriu a menina.

– E gostas de massa?

– Adoro! Posso ralar o queijo?

– Claro.

Tim Cartwright telefonou pouco depois para dizer que estava tudo bem, mas o parto demoraria horas. Falou durante um pouco com a sua filha e, quando desligou, Abby deixou escapar um suspiro.

– O meu pai disse-me para lhe agradecer por me deixar ficar em sua casa.

– De nada – sorriu Kate, tirando uma colherada da panela. – Prova o molho de tomate, para ver se gostas.

– Está muito bom. Igual ao da minha mãe.

– Obrigada, Abby. Temos que o comer todo, porque só tenho queijo e fruta para depois.

Jantaram na sala, falando sobre o colégio e os professores.

– Onde vai passar as férias, menina Dysart?

Kate explicou que iria a Stavely durante uma semana para estar com a sua família.

– Vou ao baptizado do meu sobrinho. Sou a madrinha, de modo que serei eu a pegar-lhe enquanto o padre lhe deita a água benta.

– Mas vai chorar.

– Se isso acontecer, devolvê-lo-ei imediatamente à sua mãe.

– Como se chama?

– Henry Thomas, mas chamam-lhe Hal.

– Já o conheceu?

– Não, foi por isso que o meu irmão decidiu que o baptizado fosse durante as férias.

– Menina Dysart, posso perguntar-lhe uma coisa?

– Sim, claro.

– A senhora acha que a minha mãe continuará a gostar de mim da mesma forma, quando nascer o meu irmão?

– Garanto-te que sim, Abby. Eu tenho três irmãs e um irmão e a minha mãe gosta de nós da mesma forma.

A menina pareceu tranquilizar-se um pouco depois de ouvir aquilo e Kate decidiu que uma dose de televisão era o melhor para esquecer as preocupações.

Dispuseram-se a ver uma comédia, mas antes que terminasse soou a campainha. Era um homem alto, de ombros largos, cabelo loiro e expressão simpática.

– Boa noite, é aqui que vive a menina Dysart?

– Eu sou Katharine Dysart…

– Tio Jack!

– Desculpe ter chegado tarde – riu-se ele, tomando a menina nos braços. – Sou Jack Spencer. Falámos pelo telefone.

– Sim, claro. Entre, por favor.

– Agradeço-lhe muito por ter ficado com a minha sobrinha.

– Não foi nada. Estivemos muito bem, não foi, Abby?

A menina assentiu.

– Ajudei-a a ralar queijo para o jantar e depois vimos televisão. E o papá telefonou, mas disse que o bebé ainda não nasceu…

– Está bem, palradora. Depois contas-me. Vamos?

Enquanto Abby foi ao quarto de banho, Kate aproveitou a oportunidade para falar com Jack Spencer.

– Pensa que a sua mãe não vai gostar dela quando nascer o bebé. Talvez devesse comentá-lo com a sua irmã… já sabe, para falar com ela.

– Estes miúdos… – riu-se o homem. – Não se preocupe, assim farei.

– Obrigada.

Abby apareceu nesse momento.

– Obrigada por me ter dado de jantar, menina Dysart.

– De nada. Foi um prazer. Vemo-nos para a semana que vem no colégio.

Jack Spencer meteu a sua sobrinha no jipe e apertou o cinto de segurança.

– Muito obrigado, menina Dysart. Não sei o que faríamos sem a senhora.

– De nada. Posso pedir-lhe um favor?

– Claro.

– Importar-se-ia de me telefonar quando nascer o bebé?

Jack Spencer sorriu.

– Não sei se gostaria que a acordassem de madrugada. Será melhor que lhe telefone de manhã… supondo que o bebé tenha nascido.

– Assim o espero – sorriu Kate.

– A senhora é muito nova para ser professora, menina Dysart. É o seu primeiro trabalho?

– Não.

– Então deve ser mais velha do que parece… Bom, tenho que me ir embora. Obrigado outra vez.

Kate fechou a porta, pensativa. O tio de Abby não era o que tinha esperado. Imaginava-o mais jovem, mas parecia tão capaz de colocar azulejos e levantar cimento como qualquer um.

O telefone soou quando se ia deitar.

– Sim…? Ah! és tu, Alasdair.

– Desculpa desiludir-te. Parece que estavas à espera de outro telefonema.

– Não, não estava à espera de outro telefonema.

– A menina já se foi embora?

– O tio dela veio buscá-la há meia hora. E eu ia-me deitar.

– Tão cedo?

– Hoje foi um dia muito cansativo para os professores e depois tive que consolar uma miúda preocupada com a sua mãe – disse ela, sem a preocupação de dissimular um bocejo.

– Não queria roubar-te mais tempo, de modo que vou directo ao assunto. Que prenda compro para o bebé?

– Não tens que comprar nada. Adam não está à espera de nenhum presente.

– Disse-me que tu és a madrinha. O que é que compraste?

– Pedi-lhe que procurasse algo de prata antiga no antiquário do meu pai.

Kate esperou, sabendo que Alasdair tinha outra razão para lhe telefonar.

– Poder-nos-íamos ter encontrado depois, quando a menina se tivesse ido embora.

– A verdade é que não me dava jeito. Aliás, disseram-me que nos vamos ver no baptizado.

– Não te parece bem, não é?

– Não é assunto meu.

– Se não queres que vá…

– Porque não? Podemos falar dos velhos tempos – disse ela então.

– Eu esperava fazer isso esta noite. É verdade, estou de volta a Inglaterra definitivamente. Uma promoção.

Kate encolheu os ombros, mesmo que ele não a pudesse vê-la. Que Alasdair Drummond vivesse em Inglaterra ou nos Estados Unidos era-lhe indiferente.

– Parabéns. Descobriste alguma droga milagrosa?

– Mais ou menos. Conto-te quando nos virmos.

– Alasdair, deveria ter-te perguntado isto há mais tempo… De quem era o funeral a que foste esta tarde?

– Da minha avó.

– Ah, os meus pêsames.

– Obrigado. Podemos ver-nos amanhã, Kate?

– Não, desculpa. Vou para Stavely depois do almoço. Boa noite, Alasdair. Vemo-nos no Domingo…

– Não desligues, por favor. Se esperar até Domingo, não poderei ver-te em particular. E estou mais curioso do que nunca para resolver o mistério.

– Que mistério? – perguntou ela, apesar de saber de que é que ele estava a falar.

– Vá, Kate… tu sabes a que mistério me refiro. Eras a estudante de física mais brilhante de Cambridge. O que aconteceu para decidires desperdiçar o teu talento dando aulas numa vila isolada?

Doce rendição

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