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CAPÍTULO UM

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O sol brilhava forte no céu e o vento soprava levemente no rosto de Lady Charlotte Rossington. O jardim da casa de seu pai, o marquês de Seabrook, em Londres, começava a florescer. As flores ainda eram meros botões, mas prometiam se tornarem verdadeiras belezas quando atingissem o seu auge. Ela se abaixou e passou os dedos pelas pequenas flores e sorriu.

— Tem certeza de que esse é um plano inteligente? — Sua melhor amiga, Lady Pearyn Treedale, perguntou. Seus cabelos escuros estavam presos em um coque intrincado, mas alguns fios escaparam com a brisa. Seus olhos azuis eram da mesma cor do céu, ela era uma verdadeira beldade, e um dia seria uma duquesa, caso o seu noivo algum dia se dignasse a voltar para a Inglaterra. Pear não parecia se importar com sua ausência, pelo menos era o que ela proclamava para Charlotte com certa frequência… ela gostava de frequentar a sociedade sem ter que se preocupar em encontrar um pretendente. De certa forma, Charlotte a invejava, por ela, não participaria de forma alguma dos eventos da sociedade.

— É a única maneira de fazer minha mãe entender os meus desejos, já que o único desejo dela é me ver casada e com filhos. — Charlotte torceu o nariz em desgosto. — Minhas vontades e desejos vão muito além dos votos e anos de casamento. Ela pode ter encontrado a felicidade com meu pai, mas eu preferiria ter muito mais do que o amor para sustentar meu futuro.

Talvez um dia ela não se importasse de encontrar um homem a quem entregaria o seu coração, mas isso ainda levaria muito tempo. Charlotte queria um tempo para ficar sozinha, explorar quem ela realmente era, e escrever. Ela tinha tantas ideias e queria ter tempo para passar as histórias que tinha dentro de sua cabeça para o papel. Compartilhá-las com o mundo era seu maior sonho e ela não seria capaz de fazer nada disso se sua mãe a obrigasse a participar da Temporada de Bailes.

Pear respirou fundo. — Eu entendo, de verdade, mas não posso deixar de desejar que houvesse uma maneira melhor. — Ela torceu a boca em uma carranca, o que não era uma visão muito bonita em um rosto tão adorável. — O escândalo…

— É a razão pela qual estou fazendo isso, — Charlotte lembrou à sua amiga. — Minha mãe não terá escolha, terá que me deixar voltar para Seabrook. Lá, poderei resistir ao escândalo e ficarei em paz para escrever o meu primeiro romance. Vai funcionar, sei que vai.

Sua mãe, Rosanna, a Marquesa de Seabrook, ficaria lívida.

— Ainda não gosto nada disso. Com você em Seabrook, ficarei sozinha em Londres durante toda a Temporada. Sentirei saudades de você. — Pear suspirou. — E com você em reclusão, sua mãe não fará um baile privado como de costume. O baile da Mansão Weston também estará fora dos limites para você. Tudo isso me parece extremo. — Ela colocou uma mão no quadril e inclinou a cabeça para o lado. — Vale mesmo a pena ficar sem nenhuma interação social por meses para escrever o seu livro?

Charlotte acenou com a cabeça vigorosamente. — Sim, sim e sim, — respondeu. A simples ideia de ficar sozinha para escrever… enchia seu coração de felicidade. — Não vai ser tão terrível, ainda podemos trocar cartas e terei minha família. Bem, minha mãe e meu pai. Não tenho certeza do que Rhys decidirá fazer, ele pode querer passar um tempo em Londres com a esposa.

Antes de seu irmão Rhys, o Conde de Carrick, se casar com Lady Hyacinth, Charlotte era encantada com a ideia de ir a bailes, saraus, musicais ou qualquer coisa que envolvesse a sociedade. Seu coração jovem via isso como uma oportunidade e, de certa forma, tinha sido. O primeiro ano foi maravilhoso, até que ela pensou que tinha se apaixonado e o patife partiu seu coração. Desde então, ela desistiu de encontrar alguém, doeu muito quando o cavalheiro de seus sonhos esmagou seu frágil coração. Agora ela preferia assumir o controle de sua vida, e este escândalo era o primeiro passo.

Pear tamborilou os dedos no banco em que estava sentada, enquanto Charlotte caminhava pelo jardim perto dela. — Suponho que você deseje que eu a acompanhe nesta sua empreitada.

— Adoraria, se você puder, — ela parou de andar, encontrou o olhar de Pear e disse. — Isso dará crédito à minha declaração.

A Nobreza notaria Charlotte de qualquer maneira, mas com Pear, elas também atrairiam a atenção de qualquer cavalheiro que estivesse por perto. Considerando sua condição de noiva, todos os cavalheiros se aproximavam dela, achavam que poderiam persuadi-la a romper o noivado. O que eles não entendiam é que ela gostava de estar noiva. Entretanto, Pear não desejava realmente se casar, ela dispensava o amor tanto quanto a Charlotte.

— Muito bem, — ela concordou. — Ficarei feliz em ajudá-la a se arruinar. — Ela soltou um longo suspirou. — É tudo tão dramático. Espero que o resultado final seja o que você espera, odiaria que um esquema tão elaborado fosse em vão.

— Você já mencionou isso várias vezes. — Charlotte sorriu. — Você realmente é a melhor amiga que uma dama poderia ter. — ela disse e bateu palmas com entusiasmo. — Mal posso esperar.

— Eu posso, — Pear disse secamente. — Depois que fizer isso, provavelmente não vou vê-la até o Natal.

— Não seja tão amarga, — Charlotte a repreendeu. — É impróprio da sua parte.

— Agora você até soa como sua mãe, — disse Pear com desagrado. — Não acho que você seja tão diferente quanto afirma.

Elas poderiam ter algumas semelhanças, mas não eram muitas.

— Nós nem nos parecemos muito, meus tons são mais parecidos com os do meu pai, — Charlotte retrucou.

Seu cabelo tinha o mesmo tom dourado do pai, mas seus olhos eram de uma tonalidade azul que ficavam em algum lugar entre os de sua mãe e de seu pai. Até mesmo seu irmão favorecia o seu pai na aparência. — Minha mãe já se queixou disso com frequência suficiente. Certa vez, ela disse que, se não nos tivesse dado à luz, não acreditaria que éramos seus filhos. O que foi muito grosseiro da parte dela dizer isso em voz alta. — Ela riu. — Embora, para ser justa, estávamos sendo atrevidas uma com a outra na época.

— Não tenho dúvidas disso, — disse Pear a ela. — Você pode ser bastante diabólica de vez em quando. — Ela estreitou o olhar. — Depois desse escândalo então… eles vão te considerar mais como uma raposa. Você está preparada para todas as más fofocas que surgirão?

Ela havia pensado muito sobre isso, Charlotte não apreciaria o que alguns da alta sociedade diriam abertamente sobre ela. Alguns boatos poderiam até… machucar. — Não direi que será divertido, mas creio que posso suportar até as mais duras críticas.

A maior parte sairia da língua afiada de sua própria mãe.

— Assim que estiver de volta a Seabrook, não estarei mais sujeita a isso. Então, posso fingir que eles não estão dizendo nada. Escreverei em paz e esquecerei o escândalo, vou ficar bem. — Ela sorriu para Pear. — Mas agradeço sua preocupação com meu bem-estar.

— Já que está resignada, — Pear começou, — então devemos nos preparar para este seu escândalo. Darei ordens para que preparem nossos cavalos, encontre-me lá depois de fazer os ajustes em sua vestimenta.

— Perfeito, — Charlotte disse. — Te encontro no estábulo em vinte minutos, não demorarei muito. Precisamos estar longe de casa e no Hyde Park antes que meus pais voltem do almoço com o Duque e a Duquesa de Weston.

— Xô, — Pear respondeu, acenando com as mãos para ela. — Não há um momento a perder.

Charlotte correu para a casa e até o seu quarto. Uma vez lá, ela tirou o vestido, a anágua e a camisola. Então, ela começou a vestir um par de calças velhas, camisa de linho, colete e a jaqueta de seu irmão. Ela teve a sorte de encontrar um velho par de botas de montaria dele também. Charlotte soltou o coque do cabelo e o trançou, em seguida, torceu em um nó na nuca. Uma vez que seu cabelo estava preso, ela deslizou um chapéu de cavalheiro no topo da cabeça. Se não fosse por seus seios e curvas, poderiam confundi-la com um homem à primeira vista. Satisfeita com o resultado, ela desceu correndo as escadas, tomando cuidado para que ninguém a notasse, e então foi para o estábulo.

Pear já estava montada em seu cavalo, e um criado segurava as rédeas da égua de Charlotte. Ela não pediu ajuda para montar. Tinha instruído Pear a solicitar uma sela regular para ela e ficou feliz em ver que o criado havia seguido as instruções. Charlotte caminhou até a baia e montou sozinha no cavalo. Calças eram tão libertadoras! Teria que descobrir maneiras de usá-las com mais frequência, ela poderia cavalgar como um homem e não se preocupar com uma sela lateral. Ela se virou para Pear e perguntou: — Você está pronta?

— Vamos levar uma dama de companhia?

— Isso iria contra o propósito, você não acha? — Ela mordiscou o lábio inferior. — Você está preocupada com sua reputação? — Charlotte não queria causar nenhum mal a sua amiga.

— Eu vou ficar bem de qualquer maneira, — Pear disse a ela. — Não tenho mesmo que me preocupar em garantir um bom partido. Possuo mais dinheiro do que preciso e até tenho um noivo, isso se um dia ele decidir que cansou de viajar pelo continente e enfim voltar para a Inglaterra. Eu só não estava certa de quanto escândalo você desejava causar, só isso.

— Bem, se você não se importar…

— Nem um pouco, — Pear assegurou Charlotte, então pressionou um joelho na lateral de seu cavalo e guiou a égua para um passeio. Charlotte fez o mesmo, e elas começaram seu caminho para o Hyde Park.

Elas não conversaram durante a maior parte da caminhada até o parque. Charlotte estava nervosa demais para encontrar as palavras. Até agora, tudo corria como planejado, o resto do plano se encaixaria. Caso contrário, todo o esquema teria sido em vão. Ela apertou os lábios enquanto cavalgava ansiosamente ao lado de Pear. Finalmente, elas chegaram ao parque e conduziram os cavalos para o trajeto planejado. Hyde Park era o lugar para ser visto, e grande parte da Nobreza aparecia para caminhar ou cavalgar no final da tarde. Talvez não houvesse tantas pessoas no parque como de costume, mas isso se devia, em grande parte, ao fato da Temporada de Bailes ainda não ter começado. O início da primavera ainda era considerado cedo, já que a pequena nobreza não voltaria totalmente à cidade até maio. Ainda assim, havia o suficiente da alta sociedade no Hyde Park para que o propósito de Charlotte desse certo.

— Estão olhando para nós? — ela disse em um sussurro alto para Pear.

— Ah, sim, — ela a tranquilizou. — Há algumas discussões, algumas pessoas encarando e dedos apontados em sua direção.

Ela odiava ser o centro das atenções, Charlotte nunca quis ser a bela do baile, seria muito mais do seu agrado se pudesse dançar algumas vezes e depois se retirar para a biblioteca. Ocasionalmente, um baile pode ser divertido, mas na maioria das vezes, ela os odiava. Bom, o fluxo de boquirrotos garantiria que ela estaria em Seabrook até o final da semana… talvez antes.

— Você estava certa, — disse Pear. — Vestir roupas de homem certamente chamou a atenção deles, provavelmente mais do que você esperava. — Havia um pouco de admiração em sua voz enquanto ela olhava ao redor do parque. — Você ainda quer dar uma volta completa ao pelo parque?

— Sim — respondeu ela. — Tenho que ir até o fim.

Ela estava começando a se perguntar se tinha perdido a cabeça, quanto mais elas se moviam pelo parque, mais os membros da nobreza começavam a falar… e alto. Ela ouviu várias palavras indelicadas que desejou não ter ouvido. Charlotte lembrou a si mesma que isso era o que ela queria, mas isso não fez com que doesse menos…

Eles chegaram ao fim do caminho e a saída para o parque finalmente estava à vista. Ela congelou. Seus pais estavam passeando no parque com o Duque e a Duquesa de Weston. Charlotte não havia previsto isso, tinha pensado que teria tempo de ir para casa e se trocar, então deixaria que os boatos chegassem até eles. Os olhos de sua mãe se arregalaram e seu pai se virou para ela, seus olhos brilharam de decepção. Isso doeu mais do que as palavras duras, ela odiava desagradar a seu pai…

Charlotte engoliu em seco e manteve a cabeça erguida. A hora de desistir havia passado no momento em que ela deixou a casa com calça de homem. Ela tinha feito isso de propósito, e agora ela teria que pagar o preço… seja ele qual for.

A Raposa De Vermelho

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