Читать книгу A Raposa De Vermelho - Dawn Brower - Страница 8
CAPÍTULO DOIS
ОглавлениеA comoção no parque deveria ter chamado a atenção de Collin, o Conde de Frossly. Normalmente teria, mas ele tinha muita coisa na cabeça. Ele tinha entrado no parque mais por hábito do que por vontade própria. Seu garanhão relinchou e ergueu a cabeça como se acenasse para um cavalo próximo. Aquilo o surpreendeu, os dois estavam trocando algum tipo de saudação?
Collin puxou as rédeas e parou seu cavalo. Seu bom amigo, Cameron, o Duque de Partridgdon, parou ao seu lado. Eles estavam cavalgando juntos em um silêncio amigável. Nenhum deles tinha muito a dizer e parecia ter encontrado conforto em não ter que levar uma conversa. O Duque tinha retornado à Inglaterra para uma curta viagem, Cameron estava ficando mais tempo fora do país do que de costume, sua maneira de evitar o casamento que sua família forçou a aceitar. Se não tivesse, o ducado estaria em ruínas. O noivado tinha garantido fundos antecipados do dote da mocinha para sustentá-los. Cameron odiava o contrato e a ideia de se casar com uma mulher com quem ele estava prometido há quase duas décadas. Ela era apenas uma criança quando o acordo foi assinado.
A situação do Collin não parecia estar muito melhor…
— Do que você acha que se trata tudo isso? — Cameron quebrou o silêncio.
Ele deu de ombros. — Decerto que não queremos saber. Provavelmente algum drama que nenhum de nós precisa se envolver.
— Certamente, — Cameron concordou. Ele estreitou os olhos e olhou para o outro lado do parque. — Uma das jovens parece familiar.
Collin virou-se para olhar na direção da comoção. Ele não reconheceu as duas damas. Ele franziu a testa. — A jovem loira está usando calças?
O que aquela dama estava pensando? Ele não podia achar uma razão para uma mulher se vestir tão descaradamente. Embora, ele teve que admitir que estava bastante curioso sobre ela agora. Tinha sido este o propósito dela? Ela esperava atrair a atenção de um cavalheiro? Ainda assim, não era a maneira correta de se comportar. Se ela esperava ser notada, decerto conseguiu, mas ele duvidava que fosse o tipo de atenção que ela queria. Ela atrairia todos os libertinos e patifes que a nobreza ostentava.
— Ela está, — Cameron respondeu. — Você as conhece?
Ele balançou a cabeça. — Tento ficar longe da sociedade civilizada. Minha irmã provavelmente as reconheceria. Se ela estivesse aqui, eu perguntaria. — Sua irmã, Kaitlin, tinha um casamento feliz com o Conde de Shelby há mais de quinze anos. Ela teve três filhos que a mantinham ocupada… dois filhos e uma filha precoce. — Mas como ela não está disponível, não me atrevo a adivinhar. — Ele se virou para Cameron. — Porque está interessado?
Cameron franziu a testa. — A outra senhora, — ele começou. — Não aquela de calças, — ele esclareceu. — Creio que é a minha noiva.
— Ah… — Collin disse, de repente compreendendo. — Devemos nos apressar então. Não seria bom se ela descobrisse que você está na Inglaterra, não é?
— Não, — ele concordou, franzindo a testa novamente. — Ela é mais adorável do que me lembrava. — A última parte foi dita em um mero murmúrio, porém Collin tinha ouvido.
Será que este pequeno passeio acabou por dar à Cameron algo a considerar? A dama de cabelos escuros era realmente bonita. Pelo menos o que ele podia ver dela. Já a loira… a audaciosa… algo nela o fascinava. Além disso, o fato de que ele podia ver cada uma de suas curvas delineadas naqueles calções, não deixava muito para a imaginação. Pelo visto, ela não tinha pensado muito nesse esquema dela. Qualquer homem de sangue quente acharia seus atributos atraentes, e Collin estava longe de ser santo.
— Oh, não, — Collin disse enquanto o Duque e a Duquesa de Weston, junto com o Marquês e a Marquesa de Seabrook, entravam no parque. Só então ele percebeu exatamente quem era a garota loira, ou mais importante, quem eram seus pais. — A comoção está prestes a piorar.
Cameron ergueu uma sobrancelha. — Não entendi.
Ele gesticulou em direção à frente do parque. — Creio que a Marquesa de Seabrook está prestes a estrangular sua única filha. — Cameron olhou para os dois casais e depois para as duas raposas que estavam causando o alvoroço.
— Ah… — seu amigo disse, e então sorriu. — Pode valer a pena sentar e testemunhar o desenrolar da cena. — Ele balançou a cabeça. — Porém, não tenho certeza se quero correr o risco. É uma pena que não possamos ficar.
— Certamente, — Collin concordou. — Provavelmente a Duquesa de Weston desempenhará o papel da voz da razão e isso não resultará em sangue. Ela está ensinando algumas práticas medicinais para minha prima, Marian, e ela não é o que se poderia considerar uma típica dama da nobreza. Ela possui ideias mais… progressistas.
Cameron suspirou. — É melhor nos apressarmos. Aproveitar que a tal nobreza está ocupada demais fofocando sobre o que está diante deles, e podemos fazer uma saída rápida.
— Vá em frente, — Collin disse a ele.
Ele preferia voltar para a casa de seu tio Charles, o Conde de Coventry, de qualquer maneira. Ele tinha que discernir a melhor maneira de lidar com sua situação atual. Se Cameron não tivesse aparecido inesperadamente, ele teria permanecido no escritório examinando os livros de sua propriedade. Seu Administrador de Bens havia se demitido e, pelo que ele sabia, o homem havia deixado tudo em ruínas. Ele desviou fundos dos cofres da propriedade e não fez nenhum dos reparos necessários. Collin poderia ter que ir para Peacehaven e viver em sua mansão até que tudo fosse feito de acordo com seu gosto. Ele não confiava em deixar outra pessoa ao cargo disso.
Collin ainda precisava falar com as autoridades para que localizassem o homem. Ele odiava ter ficado em Londres, vivendo uma vida volúvel, enquanto era roubado às cegas. Que tolo ele tinha sido, deveria ter ido para sua propriedade há muito tempo. Se não houvesse tanta dor envolvida em relação a sua casa ancestral, estaria morando lá agora. Ele não tinha voltado para Peacehaven desde a morte de seus pais. Ele não tinha certeza se poderia ir sem que seu coração se despedaçasse, mas parecia que ele tinha pouca escolha. Ninguém mais poderia fazer isso por ele, e era hora de crescer e parar de evitar suas responsabilidades.
Eles saíram do parque sem ninguém perceber. Collin olhou para trás uma última vez para a dama de calças. Parte dele esperava que eles se cruzassem novamente. Ele queria perguntar sobre sua aventura e a razão para tudo aquilo. Seria uma história interessante… Contudo, seria improvável que a visse novamente. Logo, ele estaria no campo, enterrado em consertos domésticos e trabalhos agrícolas. Uma dama pouco convencional, que se atreveu a andar a cavalo no parque usando roupas masculinas, não se encaixaria neste mundo…
Charlotte andou de um lado para o outro em seu quarto, para onde foi banida ao voltar para casa. Uma vez lá, ela tirou as roupas masculinas emprestadas e se vestiu com suas próprias roupas íntimas e vestido. Sua mãe teria um ataque se ela descesse ainda de calças. Por um momento, ela pensou que sua mãe poderia estrangulá-la no parque. Ela não conseguia se lembrar de alguma vez ter visto a Marquesa de Seabrook com tanta raiva antes. Seu rosto estava tão vermelho que rivalizava com a cor de uma maçã vermelha brilhante.
Seus pais ficaram extremamente zangados. Muito mais lívidos do que ela esperava… o esquema que ela tinha tramado parecia uma boa maneira de conseguir o que queria. Agora, ela questionava a veracidade da sua lógica. Ela odiava desapontar seus pais. Especialmente seu pai… ela sempre o idolatrou, e admirava o quão corajoso ele foi durante a guerra. Se ela algum dia se casasse, ela esperava que o cavalheiro a quem ela entregasse seu coração pudesse ser igualmente corajoso. Não que ela esperasse que o país vivesse algo parecido com uma guerra novamente, mas ela queria que esta qualidade estivesse na essência de seu amor fictício antes de lhe dar seu coração. Não parecia que isto era pedir muito…
A porta de seus aposentos se abriu. Uma criada entrou e fez uma reverência. — Perdoe-me, milady, — ela disse. — Sua mãe e seu pai pedem a sua presença no salão.
Seu coração batia forte em seu peito… era isso. O apocalipse que ela causou lhe daria permissão para viajar de volta para Seabrook. Ela teria a liberdade para trabalhar em seu romance e não se preocuparia com nenhum compromisso social. Charlotte engoliu em seco e respirou fundo. — Obrigada, Mildred — ela disse à empregada. Ela estava orgulhosa de como sua voz soou firme, sua voz não demonstrava o nervosismo que fazia seu corpo inteiro tremer. Era um milagre que ela não estivesse tremendo incontrolavelmente. De alguma forma, ela duvidava que pedir sua presença tivesse sido o tom que seus pais usaram, estava mais para ordenar ou exigir que ela fosse até eles. Pedir implicava que ela tinha uma escolha. Charlotte tinha certeza de que exigem sua presença era a frase correta para descrever o que seus pais desejavam dela.
Ela parou um pouco antes de entrar no salão e respirou fundo. De alguma forma, ela pensou que precisaria dessa respiração a mais para o confronto que se aproximava. Charlotte deu um passo hesitante e então entrou no salão. Ela manteve a cabeça erguida, não faria nenhum bem para ela demonstrar fraqueza. Seus pais, por mais que ela os amasse, eram impiedosos. Eles a fariam chorar e correr de volta para seus aposentos se ela permitisse que eles a destruíssem com suas palavras. Isso não queria dizer que eles eram rudes. Seus pais sempre foram amorosos e cuidadosos enquanto ela crescia de uma criança para uma jovem mulher, mas eles também não toleravam tolices. Charlotte apostaria que consideravam seus feitos mais do que tolos.
Sua mãe parecia serena, sem um fio de seus cachos noturnos fora do lugar. Não havia muita cor em sua pele, apenas um toque de rosa. As manchas vermelhas escuras se foram, restando nada além da pele cremosa.
— Vocês pediram minha presença? — Não era realmente uma pergunta, mas de alguma forma escapou como uma…
— Sente-se, por favor, — disse o seu pai, apontando para uma cadeira perto do sofá em que já estavam sentados. A mãe dela serviu calmamente uma xícara de chá e colocou dois torrões de açúcar. Ela então tomou seu chá como se não estivesse prestes a punir a filha. Impiedosa…
— Não vamos discutir suas ações, — seu pai começou. Seu cabelo loiro dourado estava desgrenhado. Ele deve ter passado a mão pelas mechas várias vezes em frustração. — É inútil repetir os detalhes do incidente. O que aconteceu, aconteceu. — Ele ergueu um copo cheio de um líquido âmbar e tomou um gole. Nada de chá para o seu pai… era conhaque que ele tinha no copo. Ela levou seu querido pai a beber. Ela não tinha certeza de como se sentia sobre isso. Talvez devesse estar envergonhada, e talvez estivesse, mas havia alcançado seu objetivo, então ela deveria continuar neste caminho caso quisesse colher os frutos esperados. — O que vamos discutir é o que decidimos fazer quanto à situação.
Sua mãe pegou um bolinho, untou-o com geleia e deu uma mordida. Será que ela ignoraria Charlotte durante toda a conversa? De alguma forma, isso era pior… doeu.
— Entendo, — ela respondeu. De alguma forma, ela conseguiu manter seu tom de voz livre de emoção. Até agora, ela estava lidando com tudo sem problemas. Ela poderia fazer isso.
— Você tem algo a dizer em sua defesa?
Charlotte balançou a cabeça lentamente. Não adiantaria em nada defender suas ações. Ela havia se vestido de homem e cavalgado pelo Hyde Park… propositalmente. Não havia desculpa que fosse aceitável. — Não desejo agregar qualquer defesa de minhas ações. Aceitarei o que decidirem. — Havia apenas um lugar para onde ela poderia ser enviada. Ela rezou para que sua pequena peripécia no parque não fosse em vão, eles tinham que mandá-la para casa. Não tinham outra escolha. Charlotte odiava ser a causa de qualquer ansiedade ou desconforto de seus pais, mas causar um escândalo era a única maneira de garantir que eles a mandariam para casa. Ela não mudaria nada do que tinha feito. Isso daria a ela o que ela mais queria… voltar para Seabrook. Por isso, ela não podia se permitir se sentir culpada ou desistir dos seus objetivos. Seus pais não entendiam os seus desejos, portanto, ela tinha que fazer com que eles fizessem o que ela precisava. Mesmo que acabassem desapontados com ela.
— Isso é sábio da sua parte, — seu pai disse a ela. — Especialmente porque você não tem escolha.
Isso não soou muito… bom. Um mau pressentimento se instalou profundamente em seu estômago. — Tudo bem… — ela engoliu em seco. — O que decidiram?
— Avaliamos algumas opções, — seu pai começou. Algumas? Só havia uma: Seabrook… O que ele quis dizer com isso? — Seabrook é sempre uma opção, mas se nós mandássemos você para casa, você não aprenderia nenhuma lição de verdade. Então, não seria o certo.
Seu coração afundou e seu estômago começou a doer. O que estava acontecendo? Para onde eles iriam mandá-la? Isso estava errado, totalmente errado. — Se eu não for para casa, para onde irei? — Ela tinha feito tudo isso por nada? Ela nunca considerou que eles poderiam não mandá-la para Seabrook. Isso… ela não tinha palavras para descrever como isso a fazia se sentir. Ela tinha que permanecer forte. Talvez ela ainda pudesse atingir seus objetivos, mesmo que não tivesse saído exatamente como ela queria.
Um sorriso se formou no rosto de sua mãe. Era quase… ameaçador. — Pensei que era exatamente isso que você queria. — Ela pousou o chá e encontrou o olhar de Charlotte. — Você ficará com sua tia-avó Seraphina. Ela mora sozinha e será um benefício para ela ter sua companhia nos próximos meses.
A mente dela ficou em branco por alguns momentos enquanto a informação se acomodava. Ela estava desapontada por não ir para casa, e eles a estavam mandando para um lugar que ela estava fadada a odiar. Eles a estavam punindo, como ela esperava, mas tão severamente que ela começou a se arrepender do que tinha feito.
Tia Seraphina… era extremamente velha, uma anciã. Tudo bem, talvez estivesse exagerando, mas Charlotte não queria passar os próximos meses com sua tia como companhia. Ela gostava de conversar e ter compromissos sociais, todas as coisas que Charlotte queria evitar. Não tinha saído como planejado, mas ela não podia voltar no tempo. Ela tinha feito isso a si mesma e teria que se conformar com a situação. O quão ruim poderia ser?