Читать книгу A amante do italiano - Diana Hamilton - Страница 5

Capítulo 1

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– Queridos, já sabem a última? Henry Croft está a divorciar-se da terceira mulher e vai a caminho da quarta!

Bianca Jay notou um brilho de prazer dissimulado, acentuado pela luz das velas, nos olhos escuros de Claudia Neil, e um arrepio percorreu lentamente as suas costas. A irmã mais nova de Cesare acrescentou, com um sorriso condescendente, mas incompatível com o tom perverso da sua voz:

– Amanda está completamente destroçada. A pobre esteve à beira de uma crise, desde que fotografaram Henry nos Óscares, com essa exuberante actrizinha de cinema, da qual agora não recordo o nome, mas que certamente sabem de quem estou a falar. Uma que só fez papéis sem importância, com cabelo ruivo até à cintura e que antes cantava num grupo pop. Para dizer a verdade, Amanda vai ficar com uma boa pensão – Claudia encolheu languidamente os ombros sensuais, que o justo vestido negro deixava a descoberto. – Claro que nenhum acordo, por generoso que seja, compensa o facto de te trocarem por uma modelo, mais jovem e mais atraente, pois não? Mas do que é que a pobre Amanda estava à espera? Quem se casa com um homem de olhar inquieto, um físico impressionante e mais dinheiro do que se pode imaginar, pode considerar-se com sorte se a relação durar mais do que um par de anos!

«É suposto ter de responder a isto?», pensou Bianca, incomodada, enquanto tentava ignorar o repentino abanão do seu estômago. Pela centésima vez, arrependeu-se da sua fraqueza ao aceitar o convite de Cesare.

– A sério que sinto – dissera ele, – especialmente porque é a minha primeira noite em Londres, mas é o aniversário da minha irmã, e prometi-lhe um jantar em casa. Só seremos nós os quatro: tu, eu, Claudia e Alan; além disso, não vamos acabar tarde, porque acho que a ama só fica até às onze horas, depois ficamos os dois sozinhos. Conseguir que os dois monstrinhos vão para a cama, deve ser esgotante!

Como sempre, tornava-se perigosamente impossível resistir-lhe.

Durante toda a noite estivera a dar voltas ao mesmo, mais propriamente durante as últimas semanas, mas tinha de tomar uma decisão. Devia dizer-lhe que a relação que mantinham há seis meses tinha de terminar… antes de se envolver demasiado, mesmo que isso lhe destroçasse o coração. Ou continuar como estavam, sabendo que, inevitavelmente, um dia seria ele a dizer que o romance deles chegara ao fim.

– Claro – continuou Claudia, com um suave ronronar e um sorriso galanteador ao seu devoto marido, enquanto remexia com uma colher de prata o gelado de morango e brincava com o colar de safiras que Cesare lhe ofereceu como presente de aniversário – Alan não tem dinheiro suficiente para me trocar por outra, por isso acho que estou a salvo – acrescentou com um riso agudo, tão falso como ouropel, cravando os olhos negros na repentina palidez de Bianca. – Pelo menos, tu e Cesare, sabem o que fazem, não é? Toda a diversão de um idílio, sem a carga do casamento.

– Carga – Alan levantou uma sobrancelha ruiva, como se acusasse uma dolorosa ofensa, ao que Claudia respondeu revirando os olhos:

– Como sabes, querido. Discutir sobre o orçamento para o meu guarda-roupa, aguentar as cavalarias dos gémeos, organizar as amas…

Mas Bianca já não a estava a ouvir, o comentário fora um golpe directo à sua condição de amante, e não se orgulhava dessa situação. Sentia-se como o trofeu de um milionário, porque ele costumava fazer alarde dela quando se proporcionava, apresentava-a despreocupadamente no seu círculo de amigos vaidosos e deixava-a com idêntica despreocupação quando alguém novo despertava o seu interesse.

Conhecera Cesare Andriotti graças ao seu trabalho de relações públicas, quando organizou a festa de inauguração de um dos hotéis, da luxuosa cadeia de complexos hoteleiros, balneares e centros de congressos, da família Andriotti.

Foi desejo à primeira vista, recordou, ignorando a afectuosa discussão de Claudia e do marido.

Sabia que era uma relação perigosa e não era de maneira nenhuma o que procurava. Ela era uma mulher vocacionada para a sua carreira, independente e não tinha tempo para ter uma relação estável. Um marido e uma família, eram incompatíveis com as longas e inconvenientes horas a que tinha de trabalhar, bem como, com os esgotantes compromissos emocionais que tinha.

Quantas vezes disse a si própria que Cesare Andriotti era o género de homem que lhe dava os maiores motivos para não se interessar por ele?

Inumeráveis.

Com mais dinheiro do que um avarento poderia sonhar, atraente de morrer, transbordando de charme italiano e com um indefinível toque de arrogância que fazia vibrar de prazer qualquer mulher. O género de homem que tem tudo, que procura uma amante e a enche de prendas, e que acha que tem o direito de a abandonar, com muita educação e delicadeza, quando se cansa.

Bianca tentara mantê-lo à distância, pelo menos pensava que sim, mas ao fim de um mês de se conhecerem, já eram amantes, não conseguiram evitá-lo. Ele tinha-a esmagado, recusara com titânica resistência cada uma das suas objecções morais, práticas e pessoais.

Sentiu o peso do olhar de Cesare e estremeceu. Sabia que ele a observava, desde que a irmã fez o comentário mordaz, sobre o caracter temporário do romance deles.

Bianca recusou-se a virar a cabeça e a devolver-lhe o olhar Não queria enfrentar aquele olhos de um caprichoso cinzento ardósia, nem contemplar a sua boca ardente, muito menos admirar o ar natural que o fato elegante dava ao seu musculoso corpo. Se o fizesse estaria perdida e a determinação para pôr fim àquela relação ficaria feita em cinzas, perante o desejo que ele lhe despertava.

– Posso pedir-lhe um favor, senhor…? – perguntou Alan, com alguma precipitação, ruborizando por ter de se dirigir a Cesare.

Alan Neil, era o contabilista responsável do enorme império financeiro na Grã Bretanha e apaixonara-se por Claudia Andriotti numa ocasião em que se encontraram no apartamento de Cesare em Londres, e não fazia ideia de que o seu chefe pudesse ser seu cunhado.

Bianca simpatizava com ele.

Cesare era, com trinta e quatro anos e desde que o pai se reformou há quatro anos atrás, director do império empresarial dos Andriotti. Inevitavelmente inspirava temor no coração e na mente de todos os que o conheciam e Alan não estava no seu território. Era realmente encantador, demasiado calmo e leal, para pensar sequer em trair a sua linda e temperamental mulher… Claudia não precisava de se preocupar com a possibilidade dele a trocar por outra.

Vendo a mulher franzir ligeiramente as suas sobrancelhas finas e escuras, Alan continuou aos tropeções.

– Podemos usar o jacto da companhia no princípio de Agosto? Sei que parece um pedido absurdo, mas os gémeos são um pesadelo num voo comercial. Não estão quietos um segundo, e como sabes, as crianças de três anos quando são contrariadas tornam-se impertinentes – passou a mão pelos cabelos ruivos, tentando, sem êxito, um sorriso descontraído – Não é justo para os passageiros que pagam para andar de avião, que tenham de os aguentar!

– Querido – disse Claudia, apoiando a delicada mão de unhas vermelhas no braço do marido, – deixa-te de divagações. Claro que Cesare não se importa – sorriu ao irmão, enquanto agitava as suas pestanas espessas. – A mamã e o papá insistem para levarmos os meninos à Calábria em Agosto, para o aniversário de casamento, e suponho que tu também tenhas instruções! Assim, podíamos ir e vir contigo, mas se não puderes ir – acrescentou com um gracioso suspiro, – podemos utilizar o Lear?

Bianca cobriu o copo com os seus finos dedos, quando Cesare tentou enchê-lo, mas não olhou para ele, limitou-se a manter um ligeiro sorriso e uma expressão de interesse cortês.

Mas não ouvia uma só palavra da afectuosa conversa familiar. Provavelmente, Claudia aproveitava-se do irmão mais velho desde antes de saber falar!

Estava claro que qualquer acordo a que ele chegasse sobre a reunião familiar não a incluía a ela.

Era inevitável encontrar-se com a irmã e com o cunhado de Cesare em certas ocasiões sociais, daí estar presente nesta celebração privada. Ele considerava-as importantes por causa das noites que lhes permitia ficarem juntos, mas apenas, porque não era suficientemente importante para ser incluída numa visita aos pais.

Não conhecia os sobrinhos de Cesare, cujas aventuras precoces se discutiam com tanto carinho, mas já ouvira falar deles.

Quando ainda estavam juntos há pouco tempo, ele dissera-lhe, respondendo a um comentário estúpido sobre ela não querer um compromisso a longo prazo:

– Eu também não, para que é que preciso de me casar? A minha irmã já cumpriu com a sua obrigação e deu à família os gémeos – descontraído, com um copo na mão, um sorriso inquietante e sedutor nos lábios e percorrendo lentamente as feições de Bianca com os olhos. – O nosso acordo parece-me perfeito.

Pelo menos era sincero, pensou ela aborrecida, enquanto o empregado da empresa de catering, que ele costumava contratar quando tinha convidados, se aproximava com uma bandeja de café. Bianca sabia que muitos homens na sua posição financeira se casavam e divorciavam com uma regularidade monótona.

Esta conversa teve início no princípio da relação deles, recordou, enquanto o empregado colocava delicadamente na mesa as finas taças de porcelana, mas as coisas estavam a mudar e Cesare começava a desejar coisas que ela não se atrevia a dar-lhe.

Tinha chegado o momento de cortar de forma clara e definitiva, antes de ficar com o coração destroçado, arrependida e desesperada. Desejou algo que não sucederia, algo que não desejara no início e que nem sequer se devia perguntar se desejava nesse momento.

Pousando o guardanapo de linho entre o lindo prato e os copos venezianos, murmurou:

– Foi uma noite maravilhosa, mas tenho de ir. Um resto de dia de aniversário feliz, Claudia.

Bianca levantou-se com um sorriso educado. A enormidade do passo que estava a dar fazia-a tremer por dentro, mas não o deixava transparecer.

Nos olhos de Claudia brilhava uma gélida perspicácia e as sua palavras reflectiam o seu inegável falso pesar.

– A sério, querida? Espero que Alan e eu não vos tenhamos estragado os planos!

– De maneira nenhuma – conseguiu responder Bianca, com um tom natural e voltando-se para Alan, que acabara de se levantar rudemente, acrescentou: – Por favor, continuem a apreciar o serão.

Cesare seguiu-a e Bianca, com um nó no estômago, ouviu a cadeira a arrastar e a desculpa murmurada com a sua suave voz.

Na enorme sala do lado, tirou o telemóvel do bolso e ligou, com dedos trémulos, o número do serviço de taxis que costumava utilizar. Terminou a chamada com a respiração acelerada e Cesare, que se aproximara dela, perguntou:

– Minha querida, o que é que se passa? Estava combinado passarmos a noite juntos, não te vás embora. Ando a sonhar contigo há três semanas.

Bianca sentiu a tensão crescer no seu interior. O tom lento e profundo das palavras dele, inundou-a de desejo. A possessiva pressão das mãos dele nos seus ombros, atravessava a seda dourada que lhe cobria os ombros, acentuando a irracional necessidade de se fundir nos braços dele. Desejava acariciar-lhe a nuca, a orgulhosa cabeça, envolver os dedos no seu cabelo de ébano e afogar-se na paixão dos seus beijos.

Bianca afastou-se dele, negando-se a ceder à tentação, pestanejando furiosamente para evitar as lágrimas. O que é que se estava a passar? Passava-se tudo. Aquela relação sem compromissos, nem vínculos, estava a tornar-se algo muito mais profundo e sombrio, pelo menos para ela.

Começava a depender demasiado dele e sentia-se irracionalmente furiosa e ferida quando ele cancelava um encontro. Não conseguia parar de pensar nele quando ia de viagem e ficava obcecada a aguardar os seus telefonemas.

Estava irremediavelmente apaixonada por ele! Era isso que se estava a passar! Mas claro que não o iria confessar!

O acordo deles não falava de nada sobre amor.

Com uma longa e ágil passada, Cesare ficou em frente a ela e o seu cheiro a ervas envolveu-a. As palavras que devia dizer negaram-se a sair da sua boca, porque não conseguia organizá-las.

– Fica – pediu ele com suavidade, – preciso de ti. Se tiveres algum problema com o trabalho ou com o que quer que seja, eu resolvo.

Com uma ligeira pressão, quase imperceptível, ele obrigou Amanda a olhá-lo nos olhos, misteriosos e de cinzento ardósia, rodeados de pestanas escuras. Os pómulos orgulhosos e o distinto nariz, não muito em conformidade com a erotismo selvagem da sua boca, tornavam-no tão atraente que o coração de Bianca estremeceu.

A afirmação de Cesare, de que podia resolver sem esforço os problemas dos simples mortais, provocou em Bianca uma reacção quase histérica, acentuando o nó que tinha na garganta. Não se tratava do seu dinheiro ou posição, mas sim da sua virilidade absoluta, do dinamismo da sua personalidade.

– Não posso – conseguiu responder Bianda. Sentia os lábios secos e os olhos ainda presos no encanto do seu olhar.

– Porquê? Pensei que estava tudo resolvido – acariciou-lhe o queixo com ternura. Inclinando ligeiramente a cabeça.

O prelúdio de um beijo? Não estava disposta a correr esse risco.

Retirou a cabeça, respirando angustiada. Não podia negar que desejava ficar, ele atraía-a como a chama atrai as borboletas, que apesar de sentirem o calor nas antenas, não compreendem o perigo até ser demasiado tarde.

Cravando as unhas na pele suave da sua mala, organizou a frase que, uma vez pronunciada, seria definitiva.

Ele aceitaria as suas palavras com um certo ar de cortesia, porque era demasiado orgulhoso para lhe pedir para reconsiderar e quando falasse tudo estaria terminado, não haveria retorno.

Bianca inspirou para acalmar, endireitou os ombros e humedeceu ligeiramente os lábios, que estavam frios e secos.

– Acabou, Cesare, não quero que nos vejamos mais e é tudo – esta frase concisa, permitia-lhe conservar algum amor próprio, e evitava que terminasse com o coração despedaçado mas precisou de toda a sua determinação para a pronunciar. Foi como se lhe tivessem arrancado as palavras, que caíram como pedras, num ambiente ainda mais carregado.

Agora, a tensão provinha dele. O seu queixo robusto endureceu subtilmente e algo tremeu na profundidade dos seus enigmáticos olhos. Levantou a cabeça, acentuando o seu poderoso metro e noventa e Bianca não conseguiu evitar um ligeiro calafrio.

Cesare cerrou os dentes, tentando deter o violento enjoo que o destroçava por dentro. Precisou de toda a sua força para não a abraçar e beijar até ela retirar as suas palavras.

Não o podia abandonar. Ele não a deixaria fazê-lo!

Respirou profundamente. Fechou os olhos um instante antes de se absorver no rosto dela. Linda, tudo nela tinha um toque exótico: a pele suave, o cabelo sedoso, boca suculenta e enormes olhos cor de âmbar…. e aquele corpo esbelto de curvas perfeitas, que se desenhavam por baixo da seda dourada.

Bianca não conseguia esconder o tremor dos seus lábios, mas nos seus olhos brilhava a determinação. Cesare podia beijar e acariciar os seus ombros, os seus redondos e tentadores seios… acender uma paixão inevitável, mas não havia nada que a fizesse mudar de ideias.

Durante as últimas semanas, teve uma estranha sensação de intranquilidade, pelo rumo que a relação deles estava a tomar. Bianca recusava mudar-se e ir para junto dele, recusava com um olhar ferido os presentes que lhe deveriam proporcionar prazer, não o convidou para ir a casa dela uma só vez, e respondia com evasivas quando lhe fazia perguntas sobre a família, a infância ou sobre os seus planos de futuro.

Conhecia-a tão pouco como no primeiro dia em que a viu ou quando soube, com uma urgência avassaladora, de que a queria ter na sua cama.

Contrariamente ao que as pessoas murmuravam, não tivera tantas amantes como lhe atribuíam, e quando o inevitável momento da separação chegava, tudo se passava sem rancor nem dor para ambos.

– Era o seu mistério que a tornava diferente? Não sabia, apenas sabia que nunca antes se sentira assim, inseguro, indeciso e invadido por um doloroso desejo.

Venceu a tentação de se aproximar dela e de lhe tocar, de evocar a magia que tornaria a fazê-la sua uma vez mais e, enfiando as mãos nos bolsos das estreitas calças pretas, disse num impulso:

– Casa comigo, Bianca.

A amante do italiano

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