Читать книгу O segredo da donzela - Эбби Грин - Страница 5
Capítulo 1
ОглавлениеMargaret Taggart sentia-se inquieta. Acabara de lavar os pratos no lava-loiça e olhou para a cozinha enorme e reluzente, na cave de uma casa ainda maior. Para ser exata, uma casa de campo linda e antiga numa propriedade de quatro hectares a uma hora de carro de Dublin.
Tinha uns jardins impecáveis por trás e uma horta murada ao lado da cozinha. Um lago pequeno e um bosque. Também tinha uns estábulos, mas estavam vazios. Aparentemente, o dono, um magnata multimilionário, comprara a casa como um capricho quando teve um interesse fugaz em investir em cavalos de corridas e essa zona da Irlanda era famosa por eles.
No entanto, não comprara nenhum cavalo e também não visitara a casa, que continuava vazia, intacta e luxuosamente decorada, segundo as suas instruções. Nem sequer contratara a empregada doméstica, isso fora feito por um dos seus assistentes.
Essa empregada doméstica fora a mãe de Maggie, que tivera muito medo de perder o emprego quando ficara doente. Por isso, deixara o seu próprio emprego como ajudante do chefe num restaurante de Dublin e fora para lá para cuidar dela. Deixar o restaurante não fora um sacrifício graças ao chefe, que incomodava todas as empregadas.
Então, de repente, a mãe morrera e, quando informara os escritórios do dono, tinham-lhe perguntado se queria tomar conta da casa até encontrarem alguém fixo.
Sentira-se emocionada… desconsolada… e dera por si a aceitar, contente com a ideia de ter um sítio tranquilo onde pudesse lamber as feridas e aliviar a dor.
Isso fora há três meses, três meses que tinham passado numa neblina de tristeza e, nesse momento, estava a sair dessa fase de angústia.
Começava a ter vontade de fazer alguma coisa que não se limitasse apenas a cuidar da casa.
A impressão que tinha do dono, um homem que lhe interessava tão pouco que não se incomodara em procurá-lo na Internet, era a de alguém tremendamente presunçoso, alguém que comprara uma casa de campo luxuosa e que nem sequer fora vê-la, um desses homens ricos e poderosos com mais dinheiro do que sensatez.
Fora o que a mãe lhe dissera e conhecia muito bem os homens ricos e poderosos porque o pai de Maggie era um deles. Era um empresário escocês rico do setor imobiliário que tivera uma aventura com a mãe de Maggie. Quando ficara grávida, recusara-se a reconhecê-la. Tivera medo de que a mãe de Maggie e a filha ilegítima pusessem as mãos na sua fortuna imensa.
Não lhe oferecera apoio nem compromisso, só a ameaçara e intimidara. A mãe era demasiado orgulhosa, sentira-se demasiado despeitada para pedir ajuda e tinham saído da Escócia. Tinham acabado na Irlanda, onde o trabalho da mãe como empregada doméstica as levara de um lado para o outro e nunca ficaram muito tempo no mesmo sítio.
Dizer que tinha um conceito muito baixo dos homens ricos e da sua forma de agir era dizer muito pouco. Suspirou. No entanto, um homem rico pagava-lhe muito bem para tomar conta de uma casa vazia e não podia queixar-se.
Então, essa tranquilidade que tanto desejara viu-se bruscamente alterada por um barulho. Estavam a bater à porta principal? Era tão estranho ouvir um barulho assim naquela casa que quase não o reconheceu.
Subiu a correr e chegou ao vestíbulo quando a aldraba voltou a cair na porta.
– Calma, um instante…
Acendeu a luz do exterior, abriu a porta… e ficou com falta de ar.
Um homem alto e moreno ocupava a porta com uma mão levantada como se fosse bater outra vez. Tinha o outro braço levantado e apoiado na ombreira. O céu do fim do verão já tinha um tom ligeiramente arroxeado e fazia com que aquele homem, à contraluz, parecesse ainda mais sombrio.
Continuava sem conseguir respirar. Usava um smoking preto e era o homem mais impressionante que alguma vez vira. Tinha o cabelo encaracolado e umas sobrancelhas escuras num rosto cinzelado em pedra com umas maçãs do rosto maravilhosas. Os olhos também eram escuros, mas não castanhos, dourados. Era moreno de pele e uma barba incipiente cobria-lhe as faces. A sua estatura e a largura das suas costas eram imponentes… e despertava um formigueiro por dentro.
Sentiu-o numa milésima de segundo e foi uma reação biológica muito elementar a tanta virilidade.
O laço preto pendia do colarinho da camisa com um botão aberto. Aqueles olhos escuros observaram-na com descaramento e arrogância.
Então, apercebeu-se de que tinha o cabelo apanhado num coque malfeito e usava calções e uma t-shirt sem mangas, o que costumava usar quando limpava a casa.
– É a mansão Kildare? – perguntou ele, com um sotaque estrangeiro leve.
Tinha uma voz grave e rouca e sentiu umas palpitações inoportunas entre as pernas.
– Sim, efetivamente…
O homem endireitou-se e parou de se apoiar na porta. Parecia ligeiramente embriagado, mas os seus olhos observavam-na com demasiada firmeza para que estivesse bêbado. Parecia um descuido profundo.
Virou-se e ela pôde ver o táxi que o esperava ao fundo da escada. O homem dirigiu-se ao motorista.
– É aqui, obrigado.
Maggie ficou pasmada enquanto o motorista se despedia com a mão, entrava outra vez no táxi e se afastava pelo caminho da entrada.
– Desculpe, mas quem é? – perguntou ela.
O homem virou-se e observou-a.
– Sou o dono desta casa, o Nikos Marchetti. Acho que seria melhor perguntar-lhe quem é. Vi uma fotografia da empregada doméstica e não se parece nada consigo.
Nikos Marchetti… Imaginara-o como um homem de meia-idade, com barriga e presunçoso. Aquele homem, no entanto, parecia um guerreiro espartano com um fato moderno.
Os seus olhos estudavam-na outra vez, algo que devia tê-la ofendido.
Nikos Marchetti não se parecia com o que esperara, nem fisicamente nem na sua forma de se comportar.
– Sou a Maggie Taggart, a filha da Edith. A minha mãe morreu há três meses e um empregado seu pediu-me para ficar até contratarem outra empregada doméstica, algo que, evidentemente, desconhecia.
Olhou para ela sem se alterar.
– Certamente, não me informaram. Os meus empregados têm instruções para não me incomodarem, a não ser que seja algo muito urgente, e está claro que decidiram que podia levar o emprego a cabo. No entanto, lamento a sua perda. Agora, acha que poderia entrar em minha casa?
A sua despreocupação ao dar-lhe as condolências pela morte da sua mãe, um dos acontecimentos mais traumáticos da sua vida, fez com que se mantivesse firme.
– Como sei que é quem diz ser?
Nikos Marchetti olhou para ela e percebeu que a surpresa e a confusão se apoderavam dele, para além de algo muito mais potente, a excitação mais instantânea que alguma vez sentira.
Acabara de chegar de um evento de etiqueta no palácio de Dublin. Saíra de uma sala cheia de algumas das mulheres mais bonitas do mundo e nenhuma o atraíra como aquele… duendezinho tão fogoso.
Embora fosse demasiado alta para ser um duendezinho. Também era forte e fibrosa. A t-shirt que usava realçava os seus seios abundantes e tinha umas ancas largas e umas pernas muito brancas e intermináveis. Era como uma rainha viquingue e o cérebro estava a derreter-se só de a ver.
Certamente, era por isso que continuava ali parado. Normalmente, não teria permitido semelhante rabugice.
No entanto, não era apenas o seu corpo. Tinha o cabelo ruivo apanhado num coque, umas maçãs do rosto proeminentes, um queixo firme e um nariz reto. Uns olhos azuis imensos e uma boca ampla com lábios carnudos. Também tinha os braços cruzados e impedia-o de entrar na sua própria casa.
– Nunca veio cá, pois não?
– Não sabia que tinha de a manter a par do que faço – replicou ele –, mas não, não tinha vindo.
– Porque veio esta noite? Não me tinham avisado de que viria.
– Dado que é a minha casa e devia estar em perfeito estado para que possa vir quando quiser, não me pareceu necessário avisá-la.
– É tarde… Podia estar deitada.
Nikos não pôde evitar imaginá-la nua na cama, com o cabelo espalhado à volta dela e desejosa de que explorasse o seu corpo sensual. Sentiu que o sangue se acumulava na ereção incipiente… algo que costumava controlar muito melhor.
– A sério? – perguntou ele, com indignação. – Está a impedir-me de entrar?
– Sim, até me mostrar alguma identificação. Se for quem diz ser, compreenderá e agradecerá que não permita que um desconhecido entre em sua casa.
Nikos quis resmungar. Obedeciam-lhe sempre imediatamente, embora ela tivesse razão. Além disso, também era novidade que não o conhecesse, mas tornava-a mais atraente. Normalmente, perseguiam-no por ser quem era, o herdeiro de uma fortuna mais do que considerável.
No entanto, não queria pensar nisso nesse momento, pois só lhe recordaria a sensação de claustrofobia e tédio que o levara lá, embora quase se tivesse esquecido das suas posses na Irlanda.
Rebuscou no bolso enquanto murmurava que não conseguia acreditar no que fazia. Pegou no passaporte e entregou-o à empregada doméstica.
– Quantos anos tem? – perguntou ele, antes de conseguir morder a língua.
– Vinte e três. – Parou de olhar para o passaporte. – É um passaporte grego. Achava que era italiano.
– Sou meio grego e meio italiano, mas, desta vez, decidi adotar a minha parte grega. – Recuperou o passaporte. – Mais alguma pergunta ou já posso entrar em minha casa?
Maggie não conseguia acreditar que estava a ser tão conflituosa com o dono da casa… porque era o dono da casa. Era Nikos Marchetti.
Tentou recordar a pouca informação sobre ele que a mãe lhe dera. Era o herdeiro de uma fortuna enorme, o Grupo Marchetti. Era o maior grupo de marcas de luxo do mundo. Também tinham imensas propriedades imobiliárias: hotéis, clubes noturnos e quarteirões de prédios em sítios como Nova Iorque.
Recuou e afastou-se para o deixar entrar.
– Entre, senhor Marchetti. É um prazer recebê-lo na mansão Kildare.
Ele soprou com raiva enquanto entrava e deixava uma mala de viagem numa cadeira. Era mais impressionante e ainda maior à luz do vestíbulo. Olhou à volta e foi a uma das salas.
Ela continuava atordoada com o seu cheiro. Não tinha nada de artificial ou era tão caro que não cheirava a sintético, cheirava a almíscar, a madeira, a essência de homem…
Fechou a porta da entrada e foi até à porta da sala. Viu que deixara o casaco nas costas de uma poltrona e que estava a servir-se de um copo de uísque.
– Quer que lhe mostre a casa? – perguntou Maggie, tentando parecer profissional e despreocupada quando sentia exatamente o contrário.
Aquele homem causava-lhe um formigueiro no corpo, de excitação e de algo muito mais volátil.
– Claro – afirmou, virando-se.
Aproximou-se dela com o copo na mão. Pareceu-lhe perigoso e desavergonhado e sentiu um calafrio nas costas.
Sentia-o atrás dela enquanto lhe mostrava as salas, mais ou menos informais, que davam para o vestíbulo e a sala principal. Na parte de trás, com vista para os jardins, havia um escritório com computadores de última geração em que ninguém tocara. Do outro lado do corredor, havia uma sala de estar com um ecrã para projetar filmes e estantes desde o chão até ao teto cheias de livros que, certamente, teriam escolhido por causa das aparências. Obras de Shakespeare… Dickens… Era a sala favorita de Maggie.
– Continua! – ordenou Nikos.
Quase tropeçou enquanto voltava pelo corredor e descia as escadas para a cozinha. Não olhou para ela, pois estava muito mais interessado no ginásio e na piscina coberta que havia no mesmo andar. Também havia salas para massagens e hidromassagens, uma sauna e um banho turco.
Não podia parecer mais despreocupado com a camisa desabotoada, o laço solto e o copo de uísque na mão. Estava a fiscalizar uma casa que nunca vira e, até ao momento, estava a confirmar tudo o que ela pensara sobre os homens ricos e poderosos.
Virou-se para ela e acabou a bebida. Teria sido imaginação dela ou vira um brilho muito fugaz nesses olhos dourados e hipnóticos? Não eram completamente dourados, também tinham reflexos verdes e cor de avelã.
Para sua vergonha e aborrecimento, sentiu que uma onda ardente a dominava por dentro e teve de se virar antes de lhe chegar à cara. Era muito branca e todas as sensações se refletiam na pele.
– Os quartos são no primeiro andar – informou ela, enquanto voltava ao andar principal sem verificar se Nikos Marchetti a seguia.
No entanto, sentia a sua presença.
Nikos mal conseguia prestar atenção à casa quando estavam a subir as escadas e observava o traseiro e as ancas insinuantes da empregada doméstica, já para não falar daquelas pernas compridas e nuas.
Avançava com passo firme à frente dele enquanto abria portas.
– Estes são os quartos dos convidados, o seu é ao fundo.
Abriu a porta e afastou-se. Ele percebeu que usava sandálias e que tinha uns pés bonitos com as unhas pintadas de cor de coral.
Cerrou os dentes e entrou no quarto, mas sentiu o seu cheiro a rosas e a algo mais terrestre, a almíscar. Cerrou mais os dentes.
Quase nem reparou no quarto luxuoso com janelas que davam para os três lados da casa, embora estivesse a escurecer e o jardim estivesse na penumbra. Reconheceu-o graças às fotografias que o decorador lhe enviara.
Fora a primeira casa que comprara. As suas outras posses eram apartamentos nos hotéis da empresa. Nesse momento, sentia-se em evidência, como se aquela desconhecida estivesse a ver os motivos por que a comprara: apenas porque gostara do que vira numa fotografia.
Sentia que aquela mulher com corpo de sereia e uns olhos azuis imensos o observava.
Virou-se. Maggie Taggart tinha os braços cruzados, o que lhe elevava os seios generosos.
Desviou a atenção para ela.
– Porque se veste como se fosse a um churrasco?
– Se me tivessem dito que vinha, podia ter-me vestido adequadamente – defendeu-se, corando. – No entanto, se tivermos em conta que o meu horário acabou há muito tempo, não sei porque haveria de justificar a minha roupa. Dado que a sua presença aqui é… fora do comum, trabalho nas horas que me dão mais jeito. Não acho que possa queixar-se do estado da casa. Trabalho sete dias por semana e sempre esteve pronta para a sua chegada.
Nikos sentiu problemas de consciência, algo muito estranho nele.
– Tem a casa impecável – reconheceu. – Podemos começar de novo?
Aproximou-se dela, que não passara da porta. De repente, não parecia tão segura de si própria. Não era tão exigente como parecia ou se comportava.
– Sou o Nikos Marchetti – esticou a mão –, o dono desta casa. Lamento não a ter avisado de que vinha e agradeço que a mantenha impoluta. Evidentemente, está a fazer um trabalho incrível.
Felicitou-se por não ter usado um tom brincalhão.
A empregada olhou para ele com receio, mas acabou por lhe apertar a mão. Nikos sentiu imediatamente a pele ligeiramente áspera da palma da sua mão e o desejo transformou-se numa excitação transbordante. Uma excitação ardente que lhe percorria as veias. Instintivamente, agarrou-lhe a mão.
Maggie ficou com falta de ar. O que é que acabara de dizer? O cérebro toldara-se. Só sentia a mão enorme na dela. Diminuía-a. Era alta e habituara-se a que lhe chamassem «uma rapariga grande e forte», mas Nikos Marchetti fazia com que se sentisse delicada pela primeira vez na sua vida. Não lhe chegaria ao queixo, nem mesmo com saltos, algo que lhe parecia um pouco embriagador, mesmo que a incomodasse reconhecê-lo. Era muito estranho que tivesse de olhar para um homem assim, embora também não acontecesse muitas vezes. Passara a vida a ir de um lado para o outro com a mãe e não conseguira formar um grupo de amigos íntimos. Das poucas vezes que decidira sair com um homem, tinham acabado com um aperto de mãos, pois o homem era mais baixo do que ela todas as vezes.
Por isso e por uma infinidade de motivos, entre eles, o receio pelos homens que a mãe lhe inculcara, evitara a… intimidade. No entanto, nesse momento… sentia muita intimidade. Soltou a mão.
– Comeu alguma coisa? Há restos de um guisado de frango. Não sei se está na lista das suas comidas preferidas, mas, se quiser, posso aquecer-lhe um pouco.
Estava a falar por falar. Fazia-o quando estava nervosa e odiava. Recuou uns passos para se afastar dele.
Era o patrão dela.
– Claro. – Encolheu os ombros. – Tenho de tomar banho e mudar de roupa, mas já desço.
– O seu closet tem um guarda-roupa completo, para o caso de precisar de alguma coisa.
Desceu a escadas enquanto se amaldiçoava por se sentir tão afetada por ele. Indubitavelmente, era sensual e impressionante, mas, certamente, teria o mesmo efeito em todos, uma demonstração de que não era imune à sua ostentação potente de sexualidade.
Parou no vestíbulo e olhou para a mala de viagem. Já lhe dissera que tinha roupa no closet, mas, certamente, devia levar-lhe a mala. Não era o que se esperava de uma empregada doméstica?
Voltou a subir, mas ficou parada à frente da porta. Estava entreaberta e não sabia bem o que fazer. Não se ouvia nada. Bateu com delicadeza e pigarreou. Parecia-lhe muito estranho depois de ter estado completamente sozinha na casa.
Não responderam e abriu a porta. Viu que a porta que dava para a casa de banho também estava entreaberta. Ouvia-se a água e saía vapor. Estava no duche.
Entrou para deixar a mala na cama e sair imediatamente. No entanto, antes, olhou para a casa de banho e viu uma forma alta e morena. Já não caía água e ficou absorta enquanto o vapor se evaporava e o corpo de Nikos Marchetti ia aparecendo.
Não pôde mexer-se. Zumbia-lhe a cabeça. Estava nu e era… magnífico. Impressionante. Tinha umas extremidades compridas e um peito musculado. Cada centímetro de pele morena resplandecia, os pelos do peito desciam, formando uma linha até aos pelos frisados que tinha entre as pernas e, pensou, vermelha como um tomate, podia verificar como era potente.
Então, ele ficou imóvel.
Ela levantou o olhar e encontrou o brilho dourado e esverdeado dos seus olhos. Nikos Marchetti, sem se alterar, pegou numa toalha e pô-la ao redor das ancas estreitas. Não disse nada.
Então, como se alguém a tivesse esbofeteado, falou.
– Lamento… Achava que… A sua mala…
Depois, virou-se e saiu a correr do quarto com o rosto e o corpo a arder.
Nikos esvaziou o copo de vinho branco com que acompanhara um guisado de frango espantosamente bom.
Nesse momento, recostou-se na cadeira e pensou em como tudo fora surpreendente.
Chegara ali e descobrira que a empregada era, no mínimo, vinte anos mais jovem do que esperara. Além disso, era bonita e sensual.
Maggie reapareceu à porta. Mudara de roupa desde que a surpreendera a observá-lo fixamente, como se nunca tivesse visto um homem nu, com esses olhos enormes esbugalhados e fixos nessa parte da sua anatomia que não se apaziguara.
Tivera de voltar ao duche e ficar um bom bocado debaixo da água fria para não se deixar levar por esse desejo tão intenso. Não estava à mercê do seu corpo e das suas hormonas, por muito tentadora que a empregada doméstica fosse.
Nesse momento, usava uma camisa branca por dentro de umas calças pretas, mocassins também pretos e o cabelo apanhado num coque na nuca. Incompreensivelmente, irritou-o muitíssimo, embora fosse exatamente o que esperara de uma empregada.
Mesmo assim, não podia queixar-se. A casa estava impoluta e ele aparecera sem avisar. Trabalhava ali e não podia esperar que estivesse impecável vinte e quatro horas por dia e sete dias por semana, era impossível.
Aproximou-se sem olhar para ele e retirou o prato.
– Estava muito bom – comentou ele. – Melhor dizendo, estava excelente. Foi a menina que o fez?
Maggie estava a fazer tudo o que podia para não olhar para os olhos de Nikos Marchetti, reuniu forças e observou-o. Ainda tinha o cabelo molhado e os caracóis encaracolavam-se na cabeça. O que lhe recordou… aquele momento.
– Trabalhava como ajudante do chefe num restaurante – explicou ela. – Era o que queria ser… chefe.
– Porque o deixou? – perguntou Nikos.
Maggie teria gostado que o uniforme servisse de barreira contra ele, mas sentia-se como se pudesse atravessá-la e ver o sangue que ainda lhe bulia como a lava.
– Por causa da doença da minha mãe. Além disso, o chefe tinha as mãos demasiado compridas para o meu gosto.
– Quer dizer que lhe tocava? – perguntou ele, com uma tensão surpreendente.
Maggie surpreendeu-se com a sua reação.
– A mim e a qualquer empregada que estivesse a um metro dele. No entanto, a minha mãe adoeceu e não me custou vir ajudá-la. Achava que conseguia sobreviver sem a minha ajuda, mas a doença piorou muito depressa…
Nikos Marchetti levantou-se e pegou no prato que tinha nas mãos, antes de afastar uma cadeira da mesa.
– Sente-se…
Maggie hesitou, mas acabou por se sentar. Ele também se sentou.
– Lamento o que aconteceu antes. Alguém devia ter-lhe ligado para a avisar de que vinha. Também lamento a morte da sua mãe, embora tenha tido a sorte de poder estar sempre com ela. Parece que estavam muito unidas.
Olhou para o patrão. Se continuasse a repetir-se que era o patrão, talvez conseguisse não lhe fazer caso. Essa forma de o sentir… Essa forma de olhar para ela… Era ilicitamente excitante.
– Estávamos muito unidas. Ela era mãe solteira e eu, filha única.
– O seu pai estava… ausente?
– Sim – confirmou, antes de tentar mudar de assunto. – A sua mãe ainda está viva?
– Não. Morreu há muito e não me lembro dela.
– Lamento – replicou Maggie, embora lhe desse a sensação de que não lhe contava toda a verdade. – Perder uma mãe é muito difícil a qualquer idade. – Voltou a pegar no prato e levantou-se. – Se quiser ir para a sala, posso levar-lhe café ou chá.
Nikos Marchetti observou-a e foi como se se tivesse esquecido de que ela estava ali e se apercebesse outra vez. Perdera-se por um instante.
Teve a sensação de que a imagem que projetava, rico e despreocupado, escondia algo muito mais imponente. Estava alerta, apesar desse ar de despreocupação.
– Vou beber um uísque, mas com uma condição.
Maggie viu que Nikos Marchetti se levantava.
– Que condição? – perguntou ela, com o coração acelerado.
– Que me acompanhe e beba um copo. É o mínimo que posso fazer depois de ter aparecido de improviso.
Agarrou no prato com mais força e ficou com falta de ar.
– Não é preciso…
– Por favor. Há muito tempo que não tinha uma conversa tão interessante com ninguém como a que tive consigo durante as duas últimas horas. Conceda-me isso.