Читать книгу Efata Abra-Se. Открой себя - Эмилия Ванди Сачитула - Страница 4
Efata Abra-se
Capítulo I
Como tudo começou
ОглавлениеÉcomo a estória que só começa, mas nunca acaba, esta da Eliana, filha de pais, cuja a família vivia no sul de África e que era temente a Deus. Senhor Ermo, como pai, era o chefe da família; Raíssa, a mãe, não se importava com os epítetos que apontavam o marido. Dera à luz a cinco filhos: Saíde, Eliana, Abias, Énos e Mateus. Senhor Ermo tinha uma outra relação antes da sua união com Raíssa, cujos frutos foram duas filhas: Bianca e Teodora. Raíssa, por ironia do destino, também tinha o mesmo número de filhas dum outro relacionamento: Isaura e Mia. Em casa, eles viviam com Chica, que era sobrinha do Senhor Ermo; e o Divany, que era seu neto. Leoa, Leonilda e Tríchina era outras irmãs queridas que se juntavam ao seio da família, apesar de que já eram casadas. Em casa, também vivia a avó Suraia, mãe do Senhor Ermo, que gostava de fazer kissángua para alegrar os netos. Gostava de um bom bate-papos. E era quase sempre com a sua queridíssima Aurélia, que falavam das aventuras vividas e das suas paixões entre bons e mal-amados.
A dona Raíssa gostava muito de cantar. Às vezes, enquanto estivesse a conversar com os filhos, enroscavase nos cantos da sua linda voz, que se esquecia totalmente da conversa. Doutras vezes, ficava a falar feito um rádio, e quando acabava, dava por conta que os filhos já estavam cansados de a ouvir, e já não omitiam opiniões, para evitar outro aborrecimento no prolongar da sueca. A chará da Eliana, que era uma das irmãs da dona Raíssa, vivia próximo e era muito amada por todos os filhos da dona Raíssa. A Eliana tia tinha mãos abertas. Os sobrinhos gostavam de frequentar a sua casa, porque no fim de cada visita, tinham sempre um presentinho vindo dela e de lá saíam com as barrigas brilhosas – empatorrados – de tanto comer.
Eliana, filha do Senhor Ermo e da dona Raíssa, era muito ousada e gostava de sonhar alto. Além disso, gostava de ir à igreja e forjar grupos onde pudesse partilhar a palavra de Deus.
Porém, era alguém muito teimosa, embora gostasse de ir atrás das coisas de que desejava e realizar seus sonhos. E por hábito, tinha pela mania de se isolar, sentar no seu cantinho, apenas observando, dos seus olhos imberbes, a vida dos outros, e de lá tirava lições.
A família sempre pareceu ser unida, abençoada e alegre. Eliana sorria para a vida. Não tinha com que se preocupar. Vivia a vida de maneira intensa, porque sentia estar a viver um conto de fada, tal como nos filmes que assistia. Em casa, família fazia oração todas às noites antes do jantar. Eram aqueles cultos familiares que chamavam de sinagoga. E tão logo depois do jantar, havia o Serão, e quem presidia era a avó. Lá se contavam de tudo – estórias de embalar, chiatas e outras. De vez em quando, Senhor Ermo era quem guiava o Serão, outras vezes, a dona Raíssa. Isso acontecia nalgumas noites, quando talvez a avó estivesse esgotada e sem forças por causa da idade. As noites eram muito traçoeiras, bem como os ventos dos tempos, mas quando não houvessem estórias para se contar, as crianças se enfiavam debaixo da árvore que ficava do lado do portão; e tudo o que faziam, junto com os amigos, era cantar e dançar ao fulgor do luar, ou sob a clareza de uma fogueira. E quando fosse noite alta, acabavam por estender um longo e vasto colchão no corpo do quintal e lá dormiam, por causa do calor que às vezes a traçoeirice das noites trazia em casa. Ao amanhecer, não folgavam os cultos que chamavam de matinal, porque abriam-se os olhos do dia. E depois do pequeno almoço – o matabicho, cada um metia o esqueleto a trabalhar – cuidavam das lides da casa. As refeições do dia – o matabicho, o almoço e o jantar – eram jibados em família, onde todos se sentavam à mesa. Nem sempre havia um lugar à mesa. E onde se sentavam os demais? Uns se enfiavam no sofá, outros aplacavam mesmo aí no chão húmido da sala. Era uma casa vasta – por isso abarcava sem problemas todos os membros da família.
O Senhor Ermo fazia questão de procurar saber das tarefas escolares dos filhos em casa. Vezes há que sentava com eles para averiguar e avaliar o trabalho de cada um. E quando um tempo livre o abraçava, virava que nem um professor caseiro, dava aulas de Matemática nos miúdos que se encontravam em casa por aquela altura. E quando com eles saísse transpirando dos cálculos que só fingiam complicação, arrebentava, em jeito de conselho:
“Vocês devem apertar na leitura. Dedicam-se mais aí… é lá que está os problemas. Números são números, mas é preciso alumiar as equações com a luz das leituras de cada caso. Mesmo um grande enginheiro se não souber ler em condições e interpretar bem os sinais, é um atoa… Vai só estragar as máquinas alheias.”, encerrava exhausto Senhor Ermo. E os miúdos meneavam as cabeças, sinal de estarem a ouvir e a catar os conselhos. Todavia, no compasso de um tempo, assim só que o Senhor Ermo dava às costas, largavam tudo, qual e tal se largam as mabangas de um mar que deixou de ser importante; e iam forjando alegrias nas brincadeiras.
Aos Sábados toda família da Eliana tinha de ir à igreja, nos ensaios, para além da limpeza geral que lá faziam e que era obrigatória. Era como se viver de um misto de emoções no seio da família, Eliana sentia toda beleza da vida dançando no seu peito. Aos Domingos, o culto era de manhã, e a família toda ia com sobras de alegria. E no regresso, espiavam sorrisos na comida de toda gente – arroz com feijão ou cachupa. E o almoço então? Tinha a companhia de umas kissanguadas e um bom filme. Todos comíam ao mesmo momento sem descompassar, até mesmo os visitantes. A casa do Senhor Ermo se abafarova de boas companhias. Quase todo mundo gostava de lá estar e ser parte daqueles convívios improvisados no humo das tardinhas dominicais. E quando já estavam todos com as barrigas inchadas – embutidas de comida —, punham tocar as músicas favoritas dos pais e também da avó Suraia que gostava de dançar caçoante. No momento do lazer, brincavam de se fazer zombarias e contar qual coisa qual é ela – anedotas. E quando na quitumba a chuva caía, a criançada brincava na chuva e transbordava de felicidade cujos céus, enfuriados e musixis, mijavam na terra. As ruas ficavam intransitáveis, cheios de lamas e águas estagnadas pelos caminhos. Apesar de que eles amavam brincar na chuva, mas depois das brincadeiras, tinham que ir à escola debaixo dos estragos da chuva no dia seguinte. Os sapatos apanhavam as lamas. Homens e mulheres punham sacos nos pés para fazerem travessias dum lado ao outro, cujos pés débis na lama outras vezes soterravam. E as águas paradas engoliam as chupas, as facilitas e as sapatilhas da criançada. A véspera do natal era um dos momentos mais mágicos. Não havia quem não se babava de suas roupas novas – novíssimas, porque até cheiravam à pai natal. Tiravam fotos, faziam bolos e partilhavam mais alegria com toda vizinhança. E no primeiro dia do ano, faziam o sacalé – todas as crianças e alguns jovens se uniam para pedir boas festas de porta a porta.
O Senhor Ermo já uma vez tinha investido o seu dinheiro no negócio de loja, onde vendiam alguns produtos, mas não teve muito sucesso, porque os filhos tiravam as coisas sem autorização – latas de leite moça, latas de sardinha—; e furando-as com pregos, chupavam às escondidas e as deixavam vazias. Nos pacotes, os chouriço acabavam paulatinamente – surripiavam um de cada vez, até já não sobrar senão pacotes esvaziados.
Um certo dia, os cabritos do Senhor Ermo foram soltos e postos a passear um pouco pelas ruas. Mas as crianças deviam manter os olhos neles para que não cometessem qualquer estragos ou fugissem. Naquele humo da tarde, visto que andavam famintos, invandiram a loja do Senhor Ermo, no descuido da petizada, abonaram-se de todo arroz que havia na loja, comendo também o saco. Depois de terem comido tudo, já não conseguiam fugir do local do crime, porque para além de que estavam tão abarrotados, o saco os embrulhava os intestinos; e no mesmo instante, caíram mortos pela congestação sufocante que os abatera. É óbvio que a petizada não ficou sem punição por aquele descuido e estragos na loja do Senhor Ermo.
A vizinhança criava muitos gatos. Isso irritava ao Senhor Ermo.
“Essa gente fica parece é doída. Toda hora criarem gatos torta à direita que tudo que sabem fazer é atropelar o sono dos outros com seus barulhos de mião, mião nas chapas de casas”, diziam ele. E decidiu fazer uma gatueira. Pensava ele que se um gato caísse na armadilha, todos os outros se dariam como avisados e lá já não circulariam mais, porque saberiam do perigo na área. Então, ele punha a gatueira de noite, e pela manhã tirava. Mas certo dia dos dias da vida, o Senhor Ermo esquecera de tirar a gatueira ao amanhecer por causa da pressa com que se preparara e fora ao trabalho. Então, um dos seus netos, o Ismael, que gostava de brincar por cima das chapas, desavisado da situação, subiu nas chapas para brincar e, por azar dele, em plena tarde como era aquela de sol escaldante, acabou caindo na gatueira e quase perdeu uma mão. Foi assim que o Senhor Ermo, embora descontente, desistiu da caça dos gatos da vizinhança, só para evitar mais tragédias.
Noutro dia, de manhã, Senhor Ermo acordou junto com a família toda. Em pé no quintal, chamou um dos filhos, o Saíde e o mandou:
«Vai ainda me comprar pão aí na esquina». Deu-lhe uma nota alta em dinheiro. Saíde saiu e foi comprar pão. Porém, enquanto regressava para casa, foi abordado por um amigo seu e que, estatelados, iam conversando. Mas enquanto seguia a conversa, um vento soprou forte e o dinheiro que pendurado já estava no bolso do Saíde – do seu calção de nganga —, onde espiava de olhos fora, foi abatido pelo vento e caiu sem que ele se apercebesse. Havia um jovem ao lado que vira o dinheiro cair, mas se manteve calado que nem o silêncio tímido das águas, porque tencionava apanhá-lo em momento oportuno. Esperou que eles terminassem a conversa que parecia adoçicada e, quando Saíde e o seu amigo se despediram, sem terem dado conta do dinheiro aí no chão caído, se aproximou e apanhou. Porém, também sem dar conta, foi visto por algumas pessoas que lá estavam, mas nada disseram, porque julgavam que ele mesmo foi quem o fizera cair. Saíde chegou em casa e entregou o pão. E quando pensou em dar o troco, tendo enfiado a mão no bolso, afinal, deu conta que o dinheiro já lá não estava – o bolso estava vazio. Quase desvaneceu. Assustou-se sobremaneira. Sentir te nem guar-te, saiu disparado aos brados de leão até ao sítio por todos os caminhos em que passara. Claro, quando chegou no encalço, pôs-se a procurar com quem busca caçar uma formiguinha do chão. E como não achava, pensou em perguntar aos que jaziam ao lado.
“Fiz perder dinheiro por aqui. Não viram?”
“Nós vimos alguém que estava apanhar dinheiro no chão e pensamos até que era dele”, denunciaram.
“Onde ele foi?”
“Ele vivem ali naquele portão”, era um portão azul carcomido. Saíde foi para lá. Afinal, o jovem já dera o dinheiro ao pai e contado como conseguira o dinheiro. O pai do jovem não se importou de que era dinheiro apanhado e nas circunstâncias em que ele vira o dono. Era mau e muito achado em que tinha mais força. Não pensaria em devolver o dinheiro a ninguém. Prova disso, quando Saíde lá chegou, bateu o portão e pediu o dinheiro, o pai do jovem saiu com uma catana na mão ameaçando e expulsando Saíde. Mas ele mostru-se resistente, porque pensava na quantidade de dinheiro; então não queria sair dali mesmo debaixo da ameaças. Um dos moços do bairro viu a confusão e correu avisando o senhor Ermo sobre o que se passava, ouvindo ele, enviou seus outros filhos na busca de Saíde com a ordem de voltar para casa e abrir mão do dinheiro. Todos os que foram atrás de Saíde acabaram brigando, – graças a Deus não houve ferimentos – desde o primeiro até o sexto filho, até os primos que também viviam naquela casa. E viu o senhor Ermo que ficara em casa apenas sua digníssima esposa Raíssa e seu filho Abias, então disse para Abias:
“Para que você não faça o mesmo que os outros fizeram, e te poupando da minha ira, apenas me servirás de ajuda”.
Então pediu em seguida para Abias buscar um pau que serviria de chicote para todos os desobedientes e amantes de intrigas. Lá foi o pequeno Abias tomado de um espírito ruim trouxe uma grande tábua selada com pregos, o pai não rejeitou, recebeu a tábua e aguardou a chegada de todos. Quando todos entraram, mandou fechar o portão; explicou a todos os filhos e sobrinhos o que pretendia fazer e porquê faria aquilo, e todos reconheceram seus erros lacrimejando. Em seguida, o senhor Ermo perguntou quantas pauladas cada um mercia pela desobediência e todos concordaram com dez para os mais crescidos e cinco para às crianças. Eles nem tinham visto ainda o tamanho do chicote, nem seus enfeites ― tábua com pregos. Quando viram, se arrependeram; porém já era tarde. Então todos passaram pelo fio da tabuinha, depois cada um foi chorar no seu cantinho.